quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

ANGOULÊME ESTÁ FAZENDO AS PAZES COM AS MULHERES?

Quem não se lembra da polêmica surgida em torno do Festival Internacional de Angoulême, ano passado, quando as mulheres foram praticamente expurgadas do processo de seleção para o Grand Prix?*  O assunto ganhou o mundo, principalmente após a organização declarar, em nota oficial, que não podia mudar a "História" das Histórias em Quadrinhos, marcada pela ausência das mulheres, ou pelo seu número reduzido.

Durante todo o ano de 2016 muitas foram as vozes, entre homens e mulheres, que se levantaram contra estes argumentos. Ao que parece eles foram ouvidos. O Festival percebeu que a História pode mudar, sim. A prova disso é o maior destaque dado às mulheres que fazem quadrinhos no Festival  de 2017. 

Na lista de indicados da seleção oficial, de onde saem vários prêmio, inclusive o de melhor álbum, aparecem, por exemplo, nomes como o de  Brigitte Findakly, Anne-Caroline Pandolfo, Kelly Sue Deconnick, Fiona Staples e Sophie Guerrive. Não apenas na lista de indicados como, também, em exposições e homenagens. Por exemplo, entre os 11 autores homenageados no "Espace le Monde des Bulles" (Espaço o Mundo dos Balões) estão  nomes como Marguerite Abouet e Pénélope Bagieu.

Ao que tudo indica, o Festival de 2017 está acolhendo melhor as mulheres. Porque elas sempre estiveram lá e, justiça seja feita, foram premiadas em diversas categorias, embora o Grand Prix ainda seja uma espaço dominado pelos homens. Não se trata aqui de contabilizar quantas mulheres participaram ou foram premiadas pelo festival em seu todo, mas do reconhecimento do valor destas mulheres, tão competentes quanto seus pares masculinos, caso contrário não seriam indicadas para nada. Esta talvez seja a palavra que resume tudo o que se debateu discutiu em 2016: reconhecimento.




O que se reivindica é justamente isso: o reconhecimento tanto pelo talento quando pela constante luta feminina em marcar conquistar espaço profissional. Não se trata de uma disputa homens e mulheres, mas de condições justas de se conquistar reconhecimento como profissional, independentemente do gênero. Por mais que se premie mulheres em festivais como Angoulême, fica a sensação de que ainda há uma barreira invisível que separa homens e mulheres. A sensação que a organização do Festival de 2017 passa é de que há um real esforço em se quebrar  esta barreira.

Por um longo tempo as mulheres foram colocadas à margem da indústria dos quadrinhos. Não são muitas as editoras, pelo menos na França, que publicam material feito por mulheres. Mesmo dentro do movimento underground, que a princípio deveria acolher aqueles que não se encaixavam dentro dos modelos impostos pelas grandes editoras, sempre foi difícil para as quadrinistas conquistarem seu espaço.

É verdade que esta realidade muda e país para país. Países como a Suécia, por exemplo, têm acolhido um número cada vez maior de mulheres quadrinistas. Por outro lado, França, Bélgica e Estados Unidos são modelos para o resto do mundo e, em mais de um século da indústria dos quadrinhos, a presença feminina no quadrinhos, nestes países, foi marcada por avanços e retrocessos. 

Cabe ao século XXI tentar romper as barreiras de gênero que e mudar esta História. Afinal, como os organizadores do Festival estão aprendendo, a História muda sim, até porque os agentes da mudança somos nós.

*Quem tiver interesse fiz uma postagem sobre o assunto, início do ano. Clique aqui para conferir.

Para saber mais sobre os álbuns indicados este ano, eu aconselho consultar os apontamentos do Pedro Bouça, com comentários sobre cada obra, clicando aqui!

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

O QUE EU ACHEI DE 2016, SEM MEIAS PALAVRAS

Pensei em um monte de imagens para colocar aqui, mas Carrie Fisher se destacou. A morte dela me marcou muito. Tudo bem, eu não a conheci, mas a personagem que ela encarnou nos anos de 1970 foi por muito tempo o padrão feminino que eu almejei: uma princesa que não precisava ser salva. Um ícone da minha infância que 2016 tirou de mim. Há um certo simbolismo aqui.
É muito comum a gente chegar final de um ano ansiando pelo começo de outro, mas o ano de 2016 foi excepcionalmente tenso. Do pior para o melhor, tudo aconteceu. Ano em que perdi ídolos que ainda tinham muito a oferecer ao mundo. Pessoas queridas faleceram e pessoas que eu admirava deixei de admirar. Sabe quando você procura algo bom numa pessoa e não consegue achar nada, onde antes havia tanta coisa? É uma sensação tão ruim, não recomendo. 

Por outro lado, pessoas maravilhosas entraram na minha vida ou se tornaram mais presentes. Assim, para cada pessoa que me decepcionou acho que encontrei pelo menos mais duas que me fizeram sentir melhor comigo mesma.

Se por um lado vieram tantas notícias ruins, como aumento da violência, das guerras, das bandalheiras políticas difíceis de engolir, por outro lado foi um ano bom para mim no ambiente de trabalho. Reforcei relações de amizade com colegas de trabalho, com alunos e pais de alunos. Diria que tive em 2016 o melhor ambiente de trabalho da última década e os alunos mais carinhosos, também. Pena que me despedi da maioria deles. Mas acredito que eles não vão sair da minha vida, ainda.

Mas meu lado pesquisadora deixou muito a desejar. Escrevi pouco e protelei meu ingresso no doutorado. Tive um bloqueio criativo, por assim dizer. Talvez porque eu estivesse envolvida em problemas pessoais desastrosos, mas que foram se solucionando no decorrer do ano.   Mas o ano de 2016 também foi um ano de autoconhecimento, de reconhecimento dos meus limites, de ampliação dos meus horizontes.

Mas para chegar a isso passei por momentos ruins. Por ter sido um ano de provações, foi um ano de fortalecimento, tanto dos meus ideais quanto da minha identidade pessoal. Acho que eu não reconheceria hoje a mulher que eu era no dia primeiro de janeiro de 2016 e creio que muita gente não me reconheceria, também.

Enfim, que parta 2016 e venha 2017. Não acho que 2017 vai ser um ano fácil, mas acho que o ano de 2016 serviu para nos preparar para o que vem por aí. Podem ser coisas boas, mas certamente teremos também muitas coisas ruins. Resta encarar de cabeça erguida, não aceitar a injustiça e afastar de nós pessoas que apenas querem se aproveitar da nossa boa vontade. Dito isso, desejo que o ano de 2017 seja um ano tolerável, de tolerância e de união, porque se não for assim não vamos nunca nos despedir de 2016.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

A CIDADE DE LEOPOLDINA É CITADA NO FILME "NOTÓRIUS" DE ALFRED HITCHCOK (1946)


Imagem disponível em: https://gointothestory.blcklst.com/classic-40s-movie-notorious-30c7db34d35f#.769tszua6, acessp em 26 dez. 2016.
O filme Notorious, que no Brasil recebeu o título de Interlúdio, foi lançado em 1946, que recebeu duas indicações ao Oscar, e que foi dirigido por Alfred Hitchcock, tendo no elenco ninguém menos que Ingrid Bergman e Cary Grant. É um filme de suspense e espionagem que envolve um perigoso triângulo amoroso. 

Na trama, Devlin (Cary Grant) recruta Alicia Huberman (Ingrid Bergman), a filha americana de um criminoso de guerra alemão condenado, como um espiã. O objetivo era levar à justiça criminosos de guerra ligados a seu pai. Ela aceita e acaba se casando com um deles, enquanto secretamente alimenta uma forte paixão pelo seu contato com o governo estadunidense. A trama se desenvolve no Brasil. 

Mas o período pós-guerra é, também, o momento em que afloram as rivalidades entre Estados Unidos e União Soviética e um tema abordado no filme despertou o interesse do governo dos Estados Unidos: a menção ao uso do urânio na fabricação de bombas nucleares. 

Acontece que naquela época poucas pessoas sabiam disso, já que era considerado um segredo militar. Por essa razão os envolvidos no filme teriam sido investigados pelo FBI, segundo o próprio Hitchcock. 

O que torna o filme interessante para nós é que, em determinado momento, a atriz refere-se a Leopoldina (MG). Pois é, nossa Leopoldina , ao que parece, acabou entrando na lista do FBI, que suspeitou que aqui houvesse uma reserva de urânio. Mas esclareço que isso é especulação. Não existem dados que comprovem esta informação. Imagino, que o FBI não deve sair por aí divulgando dados de investigações.

Mas se levarmos em conta o contexto geopolítico do final dos anos de 1940 e a emergência da Guerra Fria, é uma hipótese que não pode ser totalmente descarada. Desde que os Estados Unidos deram largada na corrida armamentista, com as bombas atômicas usadas nas cidades de Hiroshima e Nagasaki, um ano antes do filme estrear, via-se o inimigo em todos os cantos. 

Veja a transcrição e assista a cena, curtinha, que tornou levou o nome de Leopoldina para as telas de Hollywood.

A cena acontece quase no final do filme (aproximadamente 01:27), em um diálogo entre Alice (Ingrid Bergman) e um amigo. Segue o diálogo:

- O que a Alicia precisa é de descanso, não de montanhismo. 
- Já ouvi falar das montanhas. 
- Já? Sério? 
- Sim. Sobre as lindas cidadezinhas locais. Diga-me, vai para Leopoldina?






Título no Brasil: Interlúdio
Título Original: Notorious
País de Origem: EUA
Gênero: Suspense
Ano de Lançamento: 1946
Direção: Alfred Hitchcock

Fontes:

Interlúdio.disponível em: http://www.planocritico.com/critica-interludio/, acesso em 26 dez. 2016.

Classic 40s Movie: “Notorious”. Disponível em: https://gointothestory.blcklst.com/classic-40s-movie-notorious-30c7db34d35f#.769tszua6, acesso em: 26 dez. 2016.


sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

RESENHANDO "MÔNICA - A FORÇA", DE BIANCA PINHEIRO

No meu primeiro dia de férias eu acordei inspirada para fazer duas coisas que eu gosto muito: ler e escrever. Então, escolhi para ler esta manhã algo que eu tenho negligenciado: minhas Histórias em Quadrinhos. Comecei com uma muito singela, embora o título possa dar a entender o contrário. Peguei no topo da minha pilha a Graphic MSP criada por Bianca Pinheiro, Mônica – A Força.

Por tudo que eu conheço do trabalho da Bianca, a leitura foi exatamente o que eu esperava. Uma HQ sensível, que trata de um tema delicado: as relações em família. Mônica aparece não como a garota valentona do bairro do Limoeiro, mas como uma menina que participa de um drama familiar e que encontra força trazer harmonia e paz para dentro da sua casa.


Como sempre digo ser uma pesquisadora não me torna uma pessoa propriamente adequada para analisar graficamente uma História em Quadrinhos. Como todo(a) leitor(a), eu me deixo levar pelas sensações que a arte o texto me transmitem. Como leitora eu dialogo com a obra. Mas alguns recursos gráficos chamam atenção e caracterizam a obra de Bianca. 

Ela usa metáforas e brinca com a imaginação. Explora a criatividade infantil de forma a transformá-la em algo quase palpável. Eu diria que seu maior valor é primar pela simplicidade, o que não necessariamente tira da obra sua complexidade, muito pelo contrário.


Acredito que falar mais sobre “Mônica – A Força”  estragaria o prazer de quem ainda não teve a oportunidade de ler esta História em Quadrinhos. Um quadrinho, por sinal, para toda a família e que, acredito, irá despertar fortes emoções.  

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

AS POSTAGENS QUE MAIS SE DESTACARAM EM 2016

Comecei já há alguns anos a postar no final de cada ano uma lista com os post mais visitados no meu blog. É uma forma de me autoavaliar. Sabendo o que as pessoas mais leem eu reflito sobre o que eu escrevo. O que estou acertado, por assim dizer.

 

Este ano eu tive duas surpresas. Primeiro pelo número de visitas que cada postagem teve. Postagens anteriores a julho tiveram uma média de 200 visualizações. As que foram feitas a partir daquele mês pularam para 400 visualizações (média). Eu realmente não sei explicar esta mudança tão súbita. Por que meu blog ficou tão popular?

 

As postagens mais visitadas são justamente aquelas relacionadas às duas temáticas que eu mais trabalho: quadrinhos e educação. Além delas, as postagens onde relato alguma experiência ou que tratam de assuntos ligados à Academia Leopoldinense de Letras  Artes de Leopoldina.

 

Vejam as minhas TOP 10 de 2016 e me ajudem a descobrir onde estou acertando.

 

1. POSSE DOS MEMBROS DA ACADEMIA JOVEM DE LETRAS E ARTES DE LEOPOLDINA – 1073 visualizações

 

2. MINHAS IMPRESSÕES SOBRE OS JOGOS PARALÍMPICOS -  961 visualizações

 

3. POR QUE EU AINDA QUERO SER PROFESSORA? -  920 visualizações

     POKÉMON GO: PROBLEMA OU SOLUÇÃO920 visualizações

 

4. ANITA GARIBALDI: A REPRESENTAÇÃO HEROICA DE UMA BRASILEIRA894 visualizações

 

5. NÃO É SÓ A MULHER MARAVILHA QUE ESTÁ FAZENDO 75 ANOS! -  756 visualizações

 

6. OS 75 ANOS DA MULHER MARAVILHA – 708 visualizações

 

7. SOBRE O III FÓRUM NACIONAL DE PESQUISADORES EM ARTE SEQUENCIAL702 visualizações

    IMPRENSA ALTERNATIVA NA DITADURA - O PASQUIM -  702 visualizações

 

8. BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A AVALIAÇÃO DO ENEM DE 2016 -  701 visualizações


9. CECÍLIA CAPUANA : TALENTO ITALIANO EM AH! NANA! - 684 visualizações


10. ENSINAR É UM PROCESSO AFETIVO - 653 visualizações


 

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

SOBRE AMIZADE E ACASO

A carta número X dos Arcanos Maiores do Tarot é a carta a Roda da Fortuna, que significa que a sua sorte está em movimento. Esta carta representa a roda do destino ou da vida, que avança de acordo com os nossos pensamentos e atos.

Outro dia um amigo, que é tarólogo, examinando a data do meu aniversário me disse que a minha carta no Tarot é a "roda da fortuna", que eu sou regida pelo destino. Na hora eu não pensei muito sobre aquilo. 

Mas colocando tudo na balança, pesando as coisas que aconteceram comigo, boas ou ruins, eu acho que talvez a roda da fortuna tenha muito mais a ver comigo do que eu imaginava. Afinal, não temos controle sobre a vida. Ela nos oferece desafios, escolhemos como iremos enfrentá-los ou se iremos enfrentá-los. Ela nos oferece oportunidades, escolhemos se iremos abraçá-las ou não. Ela coloca pessoas nas nossas vidas e essas pessoas deixam suas marcas.

Muitas pessoas tiveram e têm um impacto positivo na minha vida pessoal e profissional. Acho que eu não seria quem eu sou se não fosse por elas. E a lista é grande, muito grande. Tanto que vou me limitar a citar alguns exemplos e espero que todos se identifiquem neles. E, por favor, aqueles que não foram citados, não fiquem com ciúmes! Se eu fosse colocar aqui todas as pessoas que foram e ainda são importantes na minha vida, não seria um post, seria um livro, com muitos capítulos.  

Começando com a Karla. Eu a conheci há 16 anos, durante uma viagem de trabalho ao exterior. Ela se tornou uma grande amiga. Mora no Sul do Brasil, eu no Sudeste. A família dela quase se tornou a minha. Acompanhei de longe suas filhas crescerem, ganhei a amizade do seu marido César (depois de muito doce de leite) e até a confiança do seu cachorro (saudoso Oddy). Nós nos encontramos praticamente a cada dois anos. Ela me apoia e incentiva muito, sempre. 

O mesmo acontece com a Valéria Fernandes, outra amiga querida que está longe.Apesar de sermos muito diferentes, em vários sentidos, eu a tenho como uma irmã. Mas irmãos não são assim? Diferentes? Foi junto com ela que eu montei meu primeiro minicurso e fiz minha primeira apresentação sobre quadrinhos num encontro regional da ANPUH, se não me engano em 2004.

E falando em amor fraternal, não posso deixar de mencionar aqui os amigos Amaro de Iuri. Com eles eu participei da fundação da ASPAS - Associação de Pesquisadores em Arte Sequencial. Confesso que em alguns momentos eu quero matá-los! São tranquilos demais! Mas já percebi que só vou matá-los de rir, porque acham graça quando eu fico brava, ao invés de se sentirem intimidados. Uns abusados!

E tem ainda o amigo e mentor Abdeljalil Akkari. Quando eu o conheci, em 1994, ele não falava uma só palavra em português. Isso não impediu que construíssemos uma relação de amizade e trabalho que já dura mais de vinte anos. Aliás, foi ele quem me colocou na direção da pesquisa. Foi o Jalil que me proporcionou a oportunidade de ter textos publicados em revistas acadêmicas importantes, quando eu tinha nada mais do que uma especialização. Ele me apresentou novas perspectivas e me transformou numa professora pesquisadora.

O destino, por vezes, me colocou em certas situações das quais eu pude tirar um grande proveito. O mestrado foi uma delas. Quando Rodrigo Fialho me disse que haveria uma seleção de mestrado, na UNIVERSO, ele tomou pra si a missão de me convencer a me inscrever. Acabei passando na seleção, fiz novas amizades, até fora do Brasil, tive uma orientadora maravilhosa que se tornou minha amiga e escrevi uma dissertação sobre um tema que eu amo. Foram dois anos maravilhosos.

E voltando mais no tempo, vamos falar de quando eu resolvi montar uma gibiteca numa saleta da escola. Tudo aconteceu de uma forma tão espontânea. Os alunos ajudaram, a diretora (na época a Ana) autorizou. Reuni pela primeira vez, em 2007 um grupo de pessoas para fazer um seminário sobre quadrinhos para professores do CEFET. Dali surgiram grandes amizades. Depois daquele seminário vieram outros, o grupo foi crescendo. Passamos para encontros acadêmicos, como o I Fórum de Pesquisadores e acabamos fundando uma associação, que hoje conta com mais de 60 pesquisadores. E tudo começou com um projeto em uma escola da periferia de uma pequena cidade do interior de Minas Gerais.

Recentemente comecei a estudar sobre quadrinhos na Europa. Primeiro na França. Tudo começou com o pedido de Amaro Braga, que queria que eu escrevesse um capítulo para um livro sobre as mulheres nos quadrinhos franco-belgas. Recusei duas vezes, mas ele insistiu. Para escrever o artigo eu tive que pesquisar muito e fazer contatos. Por conta disso, conheci pessoas maravilhosas como Chantal Montellier e ainda me tornei colaboradora de uma revista francesa.

Agora, em 2016, aconteceu de novo. Ganhei algumas revistas suecas. Comecei a investigar seus personagens, a conhecer sua história. Fui acumulando informações, fazendo contatos. As coisas foram simplesmente acontecendo. Fui conhecendo pessoas, fui firmando relações profissionais e, espero, de amizade. Hoje criei uma rede que me permite ter acesso a um material que eu sequer sabia que existia. Agora, em 2017, vou começar o ano conhecendo pessoalmente estes novos amigos e, imaginem só, vou parar no Festival de Angoulême! 

Se hoje eu colho frutos do meu trabalho foram essas pessoas que o destino (ou acaso) colocaram na minha vida. Sou a primeira a admitir que precisei e sempre vou precisar dos outros para chegar a qualquer lugar, porque todos que passaram pela minha vida contribuíram de alguma forma para a pessoa que eu sou hoje. E acho que sou uma boa pessoa e uma ótima profissional. 

Espero que a roda da fortuna favoreça a todos nós em 2017, com novas oportunidades profissionais, novas amizades e novos amores. Que nossas relações sejam ampliadas e que, para cada pessoa que deixe as nossas vidas, duas outras possam entrar e torná-la ainda mais completa.

domingo, 11 de dezembro de 2016

O GRITO DO POVO: A MULHER REVOLUCIONÁRIA SOB A ÓTICA DOS QUADRINHOS


Depois de 3 anos meu artigo foi publicado nos Cadernos de História da UFOP. Não me perguntem a razão de tanta demora. Mas, enfim, já que foi publicado (com data de 2013, diga-se de passagem), segue o resumo e o linque do texto para quem tiver curiosidade. Há, também, outros artigos que falam de quadrinhos.

O Grito do Povo: a mulher revolucionária sob a ótica dos quadrinhos

ResumoAs histórias em quadrinhos têm surgido como fonte e referência para estudos em diversas áreas, inclusive na História, pois são fontes culturais que carregam informações valiosas para a historiografia. Como uma expressão de um determinado contexto histórico, os quadrinhos podem ser vistos como representações e testemunhos e nos revelam práticas culturais, sociais e ideológicas. Também têm valor didático-pedagógico que lhes permitem ser, ao mesmo tempo, uma forma de lazer e um recurso de formação. Na presente pesquisa, usaremos histórias em quadrinhos, ou romance gráfico, que constroem representações de mulheres-soldado. A partir delas, pretendemos compor um estudo acerca da participação feminina em momentos decisivos da histórica ocidental, em especial francesa, culminando com o episódio da Comuna de Paris.

Palavras-Chave: Comuna de Paris, mulher, representações

Abstract: The comics have emerged as a source and reference for studies in diverse areas, including history. They are cultural sources that carry valuable information for historiography. As an expression of a particular historical context, comics can be seen as representations and statements and reveal the cultural, social and ideological practices. They also have didactic-pedagogical value that allow them to be at the same time, a form of leisure and training resource. In this research, we will be using comic books, or graphic novel, which construct representations of female soldiers. From them we intend to compose a study of female participation in decisive moments in Western history, particularly the French, culminating in the episode of the Paris Commune.

Keywords:  Paris Commune, woman, representations

Para fazer download da revista basta clicar aqui!


terça-feira, 29 de novembro de 2016

LIVRO COMEMORATIVO DOS 10 ANOS DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA DA UNIVERSO

O Programa de Pós-graduação em História do Brasil da Universidade Salgado de Oliveira (PPGHB – Universo) foi implantado em 2006, em Niterói (RJ). Dele fizeram parte inicialmente historiadores como  Maria Yedda Leite Linhares, Francisco José Calazans Falcon, Marly Vianna, Lincoln Penna, Jorge Prata de Sousa, Marcia Amantino e Célia Maria Loureiro Muniz. Mais tarde se juntaram ao corpo docente as historiadoras Cláudia Rodrigues e Mary del Priore. Atualmente o programa conseguiu a aprovação do doutorado, que deve se implantado em breve.

A fim de comemorar seus 10 anos, o PPGHB da Universo pediu a seus ex-alunos que escrevessem um capítulo para um e-book, onde apresentassem resumidamente os temas que abordaram em suas pesquisas. O lançamento do e-book ocorreu esta semana. Ele pode ser acessado clicando aqui!

Como ex-aluna do  PPGHB, eu posso afirmar que a qualidade do curso, de seus professores especialmente, assim como sua estrutura me permitiram realizar o mestrado que eu sempre desejei, trabalhando um tema pelo qual sou apaixonada. Celebro os 10 anos do PPGHB como quem celebra o aniversário de um parente  ou amigo querido. Que venham mais 10 anos.

domingo, 20 de novembro de 2016

QUADRINHOS SUECOS: CIDADE DOS CROCODILOS

Não me considero exatamente uma pessoa qualificada para fazer a análise artística de uma obra em quadrinhos. Mas, como consumidora de cultura e com base em uma experiência sensorial e emocional eu sou capaz de construir minha própria definição de beleza. Neste ponto, eu sou muito eclética. Gosto de clássicos da mesma forma que gosto de traços inovadores, que foi a impressão que me deixaram, num primeiro instante, os quadrinhos do sueco Knut Larsson. 

No caso específico, a História em Quadrinhos Cidade do Crocodilo (City of crocodiles), editada pela www.eletrocomics.com, em 2012. O álbum narra as aventuras de um caçador de crocodilos em um mundo distópico e pós-apocalíptico.


Larsson iniciou a sua carreira em 1996 na revista Galago # 45. A Galago foi fundada em 1979 e tornou-se um fórum para cartunistas e artistas suecos. De lá pra cá o autor contribuiu com várias outras revistas, publicou álbuns de quadrinhos e expôs seus trabalhos em galerias da Suécia e outros países europeus. Seus quadrinhos e suas ilustrações têm como principal marca o estilo surrealista e filosófico. Em Cidade dos Crocodilos isso é muito evidente. 

São centenas de quadros que apresentam uma narrativa sequencial perfeita sem o uso de nenhuma palavra. Sim, é um álbum de quadrinhos onde não há diálogos, recordatórios e nem mesmo onomatopeias. No máximo, o letreiro de um estabelecimento comercial. É o que eu chamo de uma narrativa universal, onde qualquer pessoa, em qualquer idioma pode traduzir as imagens e mergulhar na história. 


Mas não é tão simples assim. A leitura de imagens pode ser muito mais complicada do que a de palavras. É preciso que o leitor esteja familiarizado com a linguagem dos quadrinhos. Cidade dos Crocodilos tem um "quê" de existencialista e, em muitas passagens, leva o leitor a fazer reflexões. É um quadrinho para adultos que fala de sentimentos e envolve dramas psicológicos.

Enfim, foi um leitura agradável, envolvente e um bom exemplo de criatividade e talento artístico. Quem sabe, futuramente, materiais como este possam vir a ser publicados no Brasil?

sábado, 19 de novembro de 2016

SOBRE QUADRINHOS NA SUÉCIA

Tira de Malin Biller.
Uma das melhores descobertas que fiz este ano foram os quadrinhos suecos. Eu tenho uma atração irresistível pela História das Histórias em Quadrinhos no mundo. Acho essencial conhecer o percurso desta mídia em outros países, justamente para poder ter uma visão mais ampla do que são e foram as HQs aqui no Brasil.

Por isso, no meu mestrado, eu estudei os quadrinhos nos Estados Unidos, pela mesma razão eu estudo atualmente os quadrinhos na França. Acho importante ter com o que comparar tanto a nossa produção nacional, assim como a trajetória de vida dos nossos (as) quadrinistas. Particularidades a parte, há muito mais em comum entre eles do que muita gente imagina.

Om någon vrålar i skogen
(Se alguém grita na floresta)
Ontem, por exemplo, tive a oportunidade de conhecer os quadrinhos de Malin Biller, uma talentosa, e muito simpática, quadrinista sueca. Como muitas quadrinistas da atualidade, começou produzindo fanzines e acabou conquistando o grande público com suas tiras bem humoradas. Possui um estilo eclético, produzindo desde quadrinhos infantis a humor pastelão.  Em 2011 ganhou o prêmio de melhor História em Quadrinhos sueca com Om någon vrålar i skogen (Se alguém grita na floresta), uma História em Quadrinhos autobiográfica onde narra o drama de crescer com um pai alcoólatra e abusivo.  

Capa de City of Crocodiles
(Cidade dos Crocodilos), de Knut Larsson.
Outro quadrinista sueco, Knut Larsson, com quem conversei recentemente, também possui um trabalho excelente, que nada deixa a desejar aos quadrinhos franco-belgas. Aliás, sua obra já foi exposta em outros países, inclusive na cidade de Angoulême, na França, onde acontece um dos mais importantes festivais de quadrinhos do mundo, o Festival de Angoulême. Pois é, Histórias em Quadrinhos também têm ganhado espaço nas galerias, no mundo todo. E não apenas em galerias especializadas, afinal, os quadrinho são uma arte, como tantas outras.

Tem ainda Pidde Andersson, jornalista, quadrinista, crítico
Edição de Åsa-Nisse de 2013
de cinema e membro da Academia Sueca de Quadrinhos. Atualmente ele é roteirista de 91:AN (clique aqui para saber mais) e de Åsa-Nisse, uma série de quadrinhos de humor, criada originalmente em 1944. Andersson também trabalhou na série Bamse (clique aqui para conhecer). 
Conversando com Andersson eu descobri que as principais editoras estão em Malmö e Estocolmo. Há ainda a Associação de Quadrinhos (Seriefrämjandet) e sua escola de quadrinhos localizam em Malmö, cidade que, ao que parecem é  o centro nervoso da produção de quadrinhos na Suécia.

O fato é que quanto mais conheço mais me interesso em conhecer quadrinhos suecos. Acho que, futuramente terei que aprender o idioma. Enquanto isso não acontece vou me virando com suas versões em francês e inglês e, claro, apelando para o Google Tradutor.

terça-feira, 15 de novembro de 2016

ACADEMIA JOVEM DE LETRAS E ARTES DE LEOPOLDINA: UM RETRATO DO JOVEM BRASILEIRO

Premiados do Concurso Literário da ALLA - junho/2016
A primeira formação da Academia Jovem de Letras e Artes de Leopoldina tomou posse no dia 25 de agosto de 2016, numa cerimônia realizada no auditório do CEFET - Leopoldina. Ocuparam as sete cadeiras os primeiros colocados do Concurso Literário da Academia Leopoldinense de Letras de 2016. De lá para cá os jovens acadêmicos têm se mostrado os membros mais ativos da ALLA, com reuniões mensais, participando e organizando eventos.

Eles podem ser encontrados todos os meses, aos sábados, no Museu Espaço dos Anjos, onde é realizado um sarau, com música, leitura de contos e declamação de poesias. Eles também organizaram recentemente uma campanha para coleta de livros, a serem entregues a instituições que acolhem jovens e crianças. Este é um retrato da nossa ALLA Jovem, inspirada na Academia Jovem de Letras de Lavras.

É também o retrato de uma nova geração muitas vezes rotulada justamente pela sua falta de sensibilidade cultural. Estes rapazes e moças gostam de funk, mas também ouvem outros tipos de musica. Eles usam celulares freneticamente e tiram selfs, mas também leem e escrevem poesias. Eles têm metas, projetos, são curiosos e inventivos.  Alguns deles já colecionam prêmios e medalhas sem nem ainda terem deixado o Ensino Fundamental. Eles vêm de religiões diferentes e nem por isso são intolerantes.
 
Posse dos Membros da Academia Jovem de Letras da ALLA - Agosto/2016.
O retrato da ALLA Jovem é o retrato de uma significativa parcela dos jovens brasileiros que, incentivados a ler, a participar, a falar o que pensam, estão construindo os alicerces políticos e culturais do nosso país. Não consigo pensar neles e não lembrar também nos jovens que ocupam escolas e defendem a educação pública em todo o Brasil. Não consigo não pensar na forma como temos banalizado a nossa juventude, rotulando-a muitas vezes de vazia e alienada.

Sim, há muitos jovens assim, que vivem num mundo a parte, longe da realidade. Mas creio eu que isso é resultado da falta de oportunidade de conhecer coisas novas, de interagir com outras pessoas e frequentar outros ambientes. Lembro-me de um episodio em que fui com alunos do 7º ano a uma exposição cultural e, por acaso, pegamos o em ensaio de um grupo de musica antiga. Não esqueço a expressão extasiada da maioria deles que nunca tinha ouvido canto gregoriano. Algo novo, que encantou a todos, que levou a perguntas e estimulou a curiosidade.
 
Sarau de Poesias no Museu Espaço dos Anjos (Leopoldina - MG) - Outubro/2016.
Algumas pessoas dizem que a “cultura” é monopolizada pela elite. Eu digo que a elite possivelmente é mais aculturada do que a maioria de nós. Ela possui os meios e acesso, mas nem sempre faz o uso. Ademais, o conceito de cultura é muito mais amplo e transgride o espaço das galerias e dos teatros. Ela está nas rodas de capoeira, nos grupos de dança formados nas periferias, nos saraus de poesia que ocorrem num pequeno museu do interior de Minas Gerais. A cultura está em todo lugar e ela pode e deve ser apropriada por todos, independentemente da idade, da origem social e econômica.


E esta apropriação da cultura é a cara da ALLA Jovem, que reúne justamente isso: jovens de todas as idades, de origens sociais diversas e com a sua própria carga de experiências que aprendem uns com os outros e que desejam compartilhar o prazer de cada nova descoberta. É o retrato inacabado de uma juventude que emerge em tempos turbulentos e que pode sem, mudar o mundo.

domingo, 6 de novembro de 2016

BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A AVALIAÇÃO DO ENEM DE 2016

Este ano eu retornei, depois de muito tempo, ao 3º ano do Ensino Médio. Basicamente, quando parei de dar aulas para o 3º Ano o MEC ainda nem tinha criado o Programa Universidade para Todos (PROUNI) e o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) ainda não era vinculando a concessão de vagas em universidades públicas.  Sendo assim, analisar uma prova inteira do ENEM é uma novidade e um desafio para mim.

Pois bem. A prova de Ciências Humanas e suas Tecnologias (caderno branco) envolve questões de História, Filosofia, Sociologia e Geografia. Vou tentar dar uma opinião geral sobre ela, embora eu pretenda dar mais atenção às questões de História.

Vou começar com alguns aspectos que eu considero positivos. A questão 03 que usa a História em Quadrinhos (HQ) de Marjane Satrapi, “Persépolis”, foi bem formulada. A questão teve estrutura simples e, ao mesmo tempo, complexa. Os quadrinhos, quando bem utilizados, podem enriquecer atividades e trazer provocações. Pena que em 45 questões, apenas uma utilizou este recurso.

Senti falta do uso de charges, presentes em avaliações anteriores. Aliás, usaram-se em 45 questões poucas imagens (e não estou contando aqui gráficos e mapas): uma HQ, algumas reproduções de pinturas, fotos e anúncios. Mas é uma questão pessoal. Acho que a leitura de imagens precisa ser mais explorada. Não estou desqualificando a avaliação por conta disso.

Com relação às questões de História, achei que foram bem distribuídas, abarcando vários períodos sem privilegiar um em específico. Mas senti falta de questões referentes ao Império.  No geral, eu diria que o nível das questões estava bom, mas achei o vocabulário um tanto rebuscado. Por exemplo, na questão 33, a alternativa (c) trazia a opção “ordenar conflitos laborais” onde poderia ser “ordenar conflitos trabalhistas”. Suponho que muitos estudantes erraram esta questão simplesmente porque não sabiam o significado de “laboral”, termo que, na minha experiência de mais de 20 anos em sala de aula, não costuma ser usado nem mesmo em livros didáticos.

Foi uma avaliação que privilegiou a interpretação. Eu acho isso positivo. Mas nas questões de Filosofia e Sociologia achei que se abusou um pouco de termos acadêmicos, de autores que são desconhecidos até para professores do Ensino Médio. Vejam bem, nem todo professor de Humanas tem oportunidade de fazer um mestrado ou um doutorado, de se aprofundar em alguns estudos, em alguns autores. A maioria nem é estimulada a isso. Quanto mais formação, mais caro fica o professor e, por exemplo, em algumas escolas particulares, a pós-graduação não oferece vantagens financeiras aos docentes, que acabam se limitando a uma especialização simples. 

Minha maior crítica à avaliação do ENEM é a seguinte: utiliza-se em muitas questões um vocabulário que não condiz com a realidade dos nossos alunos e mesmo dos professores da Educação Básica.

Minha posição como professora, com experiência em escola particular e pública, é que o estudante demonstra seu conhecimento, suas habilidades, quando consegue entender o que a questão demanda. Daí eu achar importante que as provas cobrem interpretação. Mas se ele se depara com alternativas que utilizam um vocabulário muito acima da capacidade geral de entendimento de um aluno do Ensino Médio, eu me pergunto: qual é o objetivo desta avaliação?

Avaliar conhecimento, ou excluir aqueles que ainda não são dotados de maturidade e experiência necessárias para compreender um vocabulário completamente ausente na sua prática diária?

Como professora de História, eu diria que foi uma prova razoável e que não cobrou muito acima da capacidade dos alunos. No entanto, eu questiono como isso foi cobrado na questão da linguagem utilizada para avaliar o aluno. Passou-me a impressão de que o MEC não conhece a realidade da escola brasileira, do estudante brasileiro. Isso me assusta, ainda mais em tempos de reforma do Ensino Médio.

sábado, 5 de novembro de 2016

VII FESTIVAL DE ARTE E CULTURA DO CEFET


A cada ano nossa cidade tem avançado mais na área da cultura. Faça sua parte prestigiando os eventos que acontecem na cidade. Além da Semana Anjosiana temos ainda VII Festival de Arte e Cultura do CEFET! Não percam!


SEMANA ANJOSIANA 2016


Esta semana será dedicada ao poeta paraibano Augusto dos Anjos, que viveu e morreu em Leopoldina (MG). Já é uma tradição cultural da cidade! Participem!

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

O LEOPOLDINENSE: APONTAMENTOS SOBRE A ESCRAVIDÃO

Imagem disponível em: http://www.geledes.org.br/anuncios-de-escravos-os-classificados-da-epoca/#gs.6k5kNyQ, acesso em 28 out. 2016.
A Zona da Mata de Minas Gerais foi uma das principais áreas de produção de café do país e, também, uma região com uma grande concentração de escravos.  Município cafeeiro próspero era de se esperar que em Leopoldina o número de cativos fosse elevado. Segundo censo realizado em 1872, a população do município era de 41.886 habitantes, dos quais 15.253 eram escravos: um dos maiores plantéis de escravos da Zona da Mata.[1] Portanto, a escravidão é uma parte importante da nossa história e ajuda a entender nossa formação social.

Lendo o jornal O Leopoldinense, podemos encontrar em suas páginas diversas passagens que nos falam sobre a escravidão em Leopoldina e em outros municípios da Zona da Mata.  Estes relatos nos permitem ter uma noção de como era a vida dos escravos e das formas de resistência encontradas por eles para externarem sua insatisfação com o cativeiro.

As notícias mais recorrentes sobre escravos no Leopoldinense estão ligadas justamente a isso: a resistência. São os anúncios de fugas de escravos, oferecendo recompensas para a captura dos mesmos. Há casos em que, num mesmo jornal, três ou mais apareciam. As recompensas variam de acordo com o sexo e a idade. Nos periódicos analisados encontramos valores entre 50$000 e 500$000[2]. Escravos mais velhos, com mais de 40 anos, eram os que tinham recompensas de menor valor.

Veja um exemplo de anúncio de escravo fugido, do dia 15 de maio de 1881. O autor é Joaquim Gonçalves de Azevedo, residente em Palma. Ele denuncia a fuga de dois escravos jovens.
O Leopoldinense. Leopoldina, 15 de maio de 1881, n. 35, p, 04. Disponível na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.
Nem sempre se fugia sozinho e, em alguns casos, a fuga de um escravo era seguida da de outros. Foi o caso da Fazenda Morro Alto, de providência, de propriedade do tenente-coronel José Maria Manso da Costa Reis, de onde fugiram em um espaço de apenas oito dias três escravos. Um deles, tinha 55 anos. Oferecia pela captura de cada um a quantia de 50$000. [3]

E havia ainda as reincidências: escravos que fugiam por mais de uma vez, da mesma fazenda.
O Leopoldinense. Leopoldina, 29 de maio de 1881, n. 39, p, 04. Disponível na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.
Nos anúncios os escravos eram descritos destacando-se suas características físicas: o tamanho do nariz, o formato do rosto, algum defeito físico ou trejeito característico. Detalhe para o fato de que nem sempre se divulgava o valor da recompensa. 

Mas havia a consciência de que a escravidão era uma prática que tinha seus dias contatos. Na coluna “Questão do Dia”, de dia 7 de julho de 1881, o tema era a imigração. O jornal alertava quanto à escassez de mão de obra escrava e aconselhava os fazendeiros a adotarem o trabalho livre.

“Ao escravo que vai desaparecendo devemos substituir a imigração. Quanto a isso concordam as opiniões, divergem, porém, quanto aos meios práticos de levá-lo a efeito”[4].

Este era de fato o problema: como a mudança? Como se adaptar ao trabalhador livre? 

À medida que os debates acerca da abolição iam se ampliando e com a promulgação das primeiras leis abolicionistas, alguns fazendeiros foram substituindo, aos poucos, o escravo pelo imigrante. Mas muitos protelaram a decisão e acabaram amargando prejuízos quando, em 1888, a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea.

A venda de escravos também era anunciada no jornal. Por exemplo, o Leopoldinense de 15 de maio de 1881 avisa sobre a chegada de um lote de 80 escravos de "ambos os sexos, bonitas figuras" a um bom preço [5]. Preço, aliás, que não era divulgado, o que deixava a entender que poderia haver abertura para negociação entre vendedor e compradores. Anunciava-se, também, a venda unitária de escravos. Veja um exemplo. 


O Leopoldinense. Leopoldina, 15 de maio de 1881, n. 35, p, 04. Disponível na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.

Mas quanto valia um escravo? No final do período escravista, depois do fim do tráfico de escravos, estabelecido pela Lei Eusébio de Queirós, em 1850, o valor de mercado do escravo aumentou. Havia muita procura e pouca oferta do produto, por assim dizer. 

Pelos dados que encontramos em artigos e textos variados sobre o assunto, o valor do escravo homem, jovem, poderia variar de 1:500$000 a 800$000. Há casos, no entanto, em que um escravo pode ser adquirido por 200$000. As variações são muitas. Mas, certamente, não era um produto barato. Em 1860 1:000$000 (um conto de réis[6]) correspondia a um quilo de ouro[7]. Quem quiser ter uma ideia aproximada do valor de um escravo (em reais) pode fazer o cálculo a partir do peso do grama do ouro (por exemplo, um grama de ouro hoje equivale a R$ 130,00).

Embora não tenhamos em mãos dados precisos sobre o valor do escravo vendido em Leopoldina, podemos tirar uma média pelo que era pago em outras cidades. Por exemplo, em Guarapuava (PR), entre os anos de 1865-69, o preço do escravo adulto entre 15-40 anos era de 1:200$000 para homens e 1:066$000 para mulheres[8]. Mas tudo isso dependia das condições do mercado. Além disso, neste período tínhamos apenas o tráfico interno, o que tornava as variações de preço ainda maiores. Para ter dados mais precisos seria necessário, por exemplo, analisar as escrituras de venda de escravos em Leopoldina, pesquisa que demandaria um pouco mais de tempo, mas que pode ser realizada futuramente. 

E se a fuga de escravos era uma forma de resistência, a violência física contra seus senhores também ocorria na nossa região. O Leopoldinense do dia 29 de maio de 1881 traz a notícia da morte de um feitor por escravos, nas proximidades de Volta Grande, a 35 km de Leopoldina. Diz a notícia:

“O feitor da fazenda, Romualdo de Miranda, dispunha-se a castigar um escravo que desobedecera, quando os parceiros deste, em número de 30, lhe derrubaram a golpes de enxada.

Havia no sítio um homem livre companheiro do agredido, mas esse tratou logo de pôr-se a salvamento.

Os escravos sublevados encaminharam-se para a cidade a fim de apresentar-se a polícia mas disso foram dissuadidos pelo Sr. Lucas Soares Gouvea que os obrigou a voltar à casa do Sr. Sigaud.[9]

A notícia chama atenção por dois pontos. O primeiro é a violência empregada conta o feitor. É bem claro que ele não angariava simpatia dos cativos. Mas se isso não chega a ser algo que surpreenda, visto que sua função era vigiar e castigar os escravos, o fato de 30 deles o atacarem configura o ato como uma rebelião. Mas uma rebelião onde os revoltosos querem prestar contas à justiça dos seus atos? Este é o segundo ponto curioso: os escravos queriam se apresentar ao delegado e confessar o crime. No entanto, foram convencidos a não fazê-lo e retornaram à fazenda. Complexo, não?

O medo da violência era palpável. O jornal, no dia 21 de julho de 1881, levanta a discussão novamente sobre a questão da escravidão. Chamava a atenção para o perigo que corriam os senhores e suas famílias, apresentados como possíveis vítimas de escravos assassinos que desejavam conquistar sua liberdade a todo custo. O jornal, no entanto, não está condenando o escravo, mas, de certa forma, justifica suas ações pela privação da liberdade.

Não há que contestar: o escravo na maioria dos casos vive abandonado aos maus efeitos da escravidão, esquecendo-se quase todos de que ele é também homem, que tem alma, que tem coração (...) [10].

É curioso ler no mesmo jornal anúncios de captura de escravos e matérias abolicionistas, que defendem o emprego do trabalho imigrante a libertação de escravos. Na verdade, nada é tão simples quanto fazem parecer os livros didáticos de História e nada é mais instigante do que descobrir isso estudando a nossa História.





[1] ANDRADE, Rômulo.  Cafeicultura na Zona da Mata.  Revista Brasileira de História. São Paulo. n. 22, p. 93-131. 1992.
[2] O Leopoldinense. Leopoldina, 07 de julho de 1881, n. 50, p.01.
[3] O Leopoldinense. Leopoldina, 17 de fevereiro de 1881, n. 11, p.01.
[4]A moeda usada no Brasil, na época do Império, era o réis (1$000 = mil réis).
[5] O Leopoldinense. Leopoldina, 15 de maio de 1881, n. 35, p, 04.
[6] Conto de réis é uma expressão adotada no Brasil e em Portugal para indicar um milhão de réis. Sendo que um conto de réis correspondia a mil vezes a importância de um mil-réis que era a divisionária, grafando-se o conto por Rs. 1:000$000. FERNANDES, Aníbal de Almeida. Estudo comparativo entre 4 fortunas do império brasileiro na década 1860, sec. XIX. Disponível em: http://www.genealogiahistoria.com.br/index_historia.asp?categoria=4&categoria2=4&subcategoria=56, acesso em 28 out. 2016.
[7] FERNANDES, Aníbal de Almeida. Estudo comparativo entre 4 fortunas do império brasileiro na década 1860, sec. XIX. Disponível em: http://www.genealogiahistoria.com.br/index_historia.asp?categoria=4&categoria2=4&subcategoria=56, acesso em 28 out. 2016.
[8] SANTOS, Maciel Moraes. O preço dos escravos no tráfico atlântico: hipóteses e explicações. Disponível em: http://www.africanos.eu/ceaup/uploads/AS07_163.pdf, acesso em 28 out. 2016.
[9] O leopoldinense. Leopoldina, 29 de maio de 1881, n. 39, p. 03.
[10] O leopoldinense. Leopoldina, 21 de julho de 1881, n. 53, p. 01.