segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

ALGUMAS PALAVRAS SOBRE MARY POPPINS - O FILME ORIGINAL


Assisti este fim de semana Mary Poppins, a produção original de 1964, disponível para os assinantes do Netflix. Eu nunca havia assistido ao filme, embora eu o conhecesse por fragmentos que passavam em um programa chamado Disneylândia transmitido pela TV Globo, aos domingos. Era por meio dele que eu tinha contanto com os clássicos da Disney, os quais só pude finalmente assistir na íntegra bem mais velha, quando tive condições financeiras para comprar DVDs. Imagino que com muitas outras pessoas da minha geração aconteceu o mesmo.

Eu já fui muito questionado por gastar meu dinheiro com filmes infantis. Pois bem, quando criança fui bombardeada pela propaganda da Disney e nunca tive a oportunidade de ir ao cinema em uma cidade grande para ver um desses clássicos. Muitos, aliás, foram produzidos antes que eu nascesse. Quando adulta e já trabalhando e procurei suprir este vazio da minha infância. 

Além disso eu questiono quem acha que todos os  filmes/animações produzidos pela Disney neste período e mesmo na atualidade são realmente "coisa para crianças".  Eu vejo os clássicos da Disney como filmes para toda a família, ou seja, para todas as idades. Acho, inclusive, preconceituoso querer limitar este tipo de produção apenas para o público infantil, como se todos nós não tivéssemos sido crianças um dia e este filmes não representassem nada na nossa formação cultural e até mesmo moral. 

Eu não tenho vergonha de assistir animações no cinema, por exemplo, e não preciso levar uma criança comigo para manter a aparência. Adultos presos a preconceitos tolos que estabelecem regras com relação ao que pode ou não ser divertido são adultos infelizes. Não é o meu caso.

Mas retornando a Mary Poppins, não sei se conseguirei ir ao cinema para a estreia da nova versão da produção, mas seria inconcebível não assistir ao original, até porque sempre é bom ter um parâmetro para comparação. Não sou crítica profissional de cinema, mas na minha opinião o desempenho do elenco original foi fantástico.Mais de 50 anos depois, o filme ainda conseguiu me encantar.  

Gosto da atmosfera dos filmes antigos e das animações feitas sem auxílio de recursos digitais. Os cenários dos filme são simples e teatrais, mas exatamente por isso muito encantadores. A história em si traz referências muito interessantes, como a participação da sra. Banks no movimento sufragista ou as críticas ao sistema financeiro predatório representado pelos bancos. Eu não vejo nada de infantil nisso, pelo contrário.

Mas, acima de tudo, é um filme moralista e que valoriza o amor e a família. Claro, um filme de 1964 irá trazer a família tradicional, mas creio que a mensagem vale para todas as famílias: o cuidado que se deve ter com a infância.

As crianças precisam da atenção dos pais,  por mais independentes que pareçam ser. A presença deles (ou de pelo menos um deles)  é fundamental para sua formação. É claro, os pais não devem deixar de lado seus interesses, mas devem incluir seus filhos entre as suas prioridades. 

Não acho, por exemplo, que uma mulher DEVE esquecer sua carreira para cuidar dos filhos, mas ela pode fazer as duas coisas sem que uma prejudique a outra. Também acredito que os homens devam dividir com as mulheres a criação dos filhos de forma igual. Não existe isso de separar o que é função do pai e da mãe na educação dos filhos afinal a criação dos filhos é uma parceria ou pelo menos deveria ser. 

Trabalhar o dia todo não é desculpa para não ter tempo de abraçar o filho/filha e perguntar como foi seu dia na escola. Eu não sou mãe, mas sou filha e eu sei como a atenção dos meus pais ou mesmo a falta dela, marcou minha vida.

Por fim, espero que a continuação de Mary Poppins possa trazer uma produção que faça jus à produção original, para a diversão dos mais jovens e a nostalgia dos mais velhos.

domingo, 23 de dezembro de 2018

ARTIGO SOBRE HUMOR NOS QUADRINHOS SUECOS PUBLICADO NA REVISTA ÁRTEMIS

Meu presente de Natal adiantado: saiu o v. 26, n. 01 da Revistas Àrtemis, com o dossiê: O humor das mulheres e as mulheres no humor. Publiquei um artigo na revista (o melhor texto que eu escrevi em 2018, na minha opinião) e convido a todos que se interessarem visitarem o site do periódico. E não façam isso só por mim: há excelentes artigos sobre quadrinhos e humor na publicação. A publicação pode ser acessada clicando aqui!

Seguem o resumo e o abstract do meu artigo!

Um breve panorama do humor nos quadrinhos feministas suecos a partir da obra de Nina Hemmingsson, Malin Biller e Liv Stronquist 
A brief overview of the humor in Swedish feminist comics from the work of Nina Hemmingsson, Malin Biller and Liv Stronquist


RESUMO 
A Suécia é um país que possui tradição tanto na produção quanto na participação das mulheres na cena dos quadrinhos. Mas, no início do século XXI estas mulheres passaram a ter um papel ainda maior graças a todo um contexto sócio-político que conduziu a Suécia a grandes mudanças. Foi importante nesse processo o movimento feminista e a disposição da sociedade em debater acerca da equidade de gênero. Os quadrinhos tiverem seu lugar nesse debate através de produções com um viés feminista, no qual o humor teve uma presença marcante. Para o presente artigo, utilizamos, como exemplo dessa produção, os quadrinhos de três autoras pertencentes a essa nova geração: Nina Hemmingsson, Malin Biller e Liv Strönquist. Por meio desses quadrinhos, notadamente satíricos, é possível notar a construção e descontração dos papéis de gênero assim como do próprio discurso feminista, que dá aos quadrinhos a qualidade de tecnologias de gênero. Palavras-chave: Suécia, Histórias em Quadrinhos, gênero. 

ABSTRACT 
Sweden is a country where we can see traditions both in production and in women’s participation in comic books scene. However, in the early 21st century these women started to have a bigger role thanks to the socio-political context that led Sweden to great changes. The feminist movement and the society will to discuss about gender equality were important in this process. Comic books had their place in this discussion through feminist productions where humor had a strong presence. In this article, we had comics of three authors belonging to this new generation as examples of these productions: Nina Hemmingsson, Malin Biller and Liv Stronguist. By means of these comics, clearly satirical, it is possible to notice the construction and informality of the gender role as well as the feminist discourse itself which offers gender technology quality to the comics. Keywords: Sweden, Comics, genre.

A Revista Ártemis é um periódico semestral, interdisciplinar, vinculada aos Programas de Pós Graduação em Sociologia e Programa de Pós Graduação em Letras da UFPB, dos quais recebe financiamento para editoração. Seu conteúdo é voltado para a "divulgação da produção científica no campo dos estudos de gênero, feminismos e sexualidades, dentro de uma perspectiva interdisciplinar, aborda fenômenos socioculturais a partir de análises históricas, literárias, culturais, psicológicas, etc. Os objetivos são: contribuir para a construção de novas abordagens teóricas e metodológicas de investigação e reflexão; e, difundir artigos nacionais e internacionais, pesquisas originais, resenhas e traduções" (*). 

Aproveito a postagem para divulgar a chamada para publicação de artigos da revista Tempo & Argumento - revista de história do tempo presente, para o dossiê: Mulheres, Humor e Cultura de Massa. Mais informação, clique aqui!

(*) Dados retirados do site do periódico.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

A MEMÓRIA DAS MULHERES E AS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS - IV FÓRUM DISCENTE UNIVERSO


Estará acontecendo entre os dias 04 e 05 de dezembro o IV Fórum Discente Universo, na Universidade Salgado de Oliveira - UNIVERSO, em Niterói (RJ). Os trabalhos terão início no dia 04 de dezembro às 14 horas. A programação completa do evento pode ser acessada clicando aqui.

É o encerramento oficial do ano letivo para a pós-graduação em História (mestrado e doutorado). Na oportunidade, estarei fazendo uma apresentação sobre a memória das mulheres nas histórias em quadrinhos. 

Mais do que divulgar o evento e a minha apresentação, gostaria de agradecer a todos, colegas de pós-graduação, professores, ex-professores e amigos, pelo suporte me deram durante o ano de 2018. Sem o apoio e a confiança de vocês em mim, eu não seria o sou e não teria as oportunidades que tenho. Muito obrigada.

sábado, 1 de dezembro de 2018

YÔKAIDÔ: ARTE. MEMÓRIA E CULTURA POPULAR JAPONESA

Yôkaidô de Shigeru Mizuki & Utagawa Hiroshige é o 16º licro da coleção Blaise, publicado pelas éditions Cornélius.


Recebo constantemente notificações sobre publicações francesas, muitas vezes acompanhadas dos lançamentos, em versão pdf, para análise. Isso passou a acontecer nos últimos dois anos, desde que participei pela primeira vez do Festival de Quadrinhos de Angoulême.

O ano corrido que tive não me permitiu dar a eles a devida atenção, mas eu estou me organizando para poder, pelo menos uma vez por mês (quem sabe duas) reservar um espaço para falar destas obras.  

Vou começar com o trabalho Yôkaidô, que reúne a obra de Shigeru Mizuki e Utagawa Hiroshige, lançado na última quinta feita, dia 29 de novembro de 2018, pela Éditions Cornélius. Trata-se do livro ilustrações, originais. Trata-se de um livro que reúne as gravuras feitas por Utagawa Hiroshige, sob a releitura de Shigeru Mizuki, que até então eram inéditos na França.

Utagawa Hiroshige
Utagawa Hiroshige é um dos artistas japonês mais reconhecido na arte da gravura. Nascido em 1797, ele retrata a paisagem japonesa antes de sua transformação durante a era Meiji. Em 1832, depois de fazer sua primeira viagem por estrada do Tokaido, que liga a capital do shogun, Edo, e a capital imperial, Kyoto, ele criou série das gravuras mais famosa As Cinquenta e três Estações o Tokaido (1833-1834), com as paisagens dos locais por onde passou, incorporando a elas cenas da vida diária. É considerado um dos o maiores pintores do ukiyo-e (termo japonês que significa "imagem do mundo flutuante"), tendo produziu cerca de 8.000 impressões ao longo de sua vida. Sua influência na arte ocidental é enorme, tendo inspirado mestres impressionistas como Vincent Van Gogh, Claude Monet e Alfred Sisley. 

Shigeru Mizuki
Shigeru Mizuki nasceu 08 de março de 1922 em Sakai-Minato, pequena cidade costeira no sudoeste do Japão, e morreu em 30 de novembro de 2015. Ele sabe que há uma infância livre e feliz, bons tempos ele vai tirar muitas vezes em sua manga.  Durante a II Guerra Mundial participou da À Campanha da Nova Guiné, uma das maiores campanhas militares da II Guerra Mundial, quando tinha pouco mais de 20 anos de idade. As lutas começaram com o ataque japonês a Rabaul em janeiro de 1942, e perduraram até o final da guerra. Durante a guerra. Em Nova Guiné, ele contraiu malária e perdeu o braço esquerdo em bombardeamento. Em 1957, Mizuki começou sua carreira como contador de histórias, utilizando como personagens os youkai, uma classe de criaturas sobrenaturais do folclore japonês, que inclui o oni, a kitsune e a yuki-onna. Ele explorava o universo sobrenatural e demonstrava um profundo conhecimento da alma humana.

O livro é uma homenagem de Shigeru Mizuki  a Hiroshige, que une a tradição clássica do ukiyo-e (movimento artístico da gravura no período Edo) e folclore japonês. No livro, Mizuki  faz uma releitura das gravuras de Hiroshige, inserindo nelas elementos do folclore japonês, os youkai. Nas palavras do editor, as “gravuras de Hiroshige, os youkai personificam esta herança japonesa perdida. Eles são cultura vernacular em que os grandes senhores e camponeses desenharam parte de sua crença e suas férias.” Em respeito a esta herança, Shigeru Mizuki utilizou a mesma técnica de gravura tradicional, na qual cada placa foi gravada em madeira antes de ser impressa.

Na minha leitura, trata-se, ao mesmo tempo, de uma obra que se propõe a reviver uma memória e, ao mesmo tempo, enfatizar o poder da cultura popular, especialmente do folclore, sobre a arte e o imaginário oriental.

O que me levou a comentar sobre esta obra, dentre tantas outras que eu recebi da editora Cornélius foi o fato de que eu já tinha tido contato anteriormente com a obra Utagawa Hiroshige, em 1998, em uma exposição sobre a influência da arte oriental na obra de Van Gogh, em Veneza. A primeira exposição de arte que visitei na primeira vez que viajei ao exterior.

Enfim, um livro belíssimo que pretendo adquirir em sua edição impressa.