sexta-feira, 21 de abril de 2017

SEMANA INTERNACIONAL DE QUADRINHOS (SIQ)

Entre 02 e 05 de maio vai acontecer na Universidade Federal do Rio de Janeiro - ECO campus Praia Vermelha -  a Semana Internacional de Quadrinhos. A programação está fantástica. Parabéns para Octavio Aragão e toda a equipe que está realizando o evento. Tenho certeza que vai ser um grande sucesso.

A Semana Internacional vai contar com a presença de duas feras dos quadrinhos:Trina Robbins e Chantal Montellier. Trina Robbins já veio ao Brasil, há dois anos, para as Jornadas Internacionais de Quadrinhos da USP. Agora ela está retornando para participar de duas mesas. Uma com Sonia Luyten e outra com Chantal Montellier, sobre a revista Ah! Nana!, da qual as duas participaram nos anos de 1970, na França. Chantal Montellier também vai participar de um debate, na Maison de France.

Eu estou lá no meio,  infiltrada entre essas duas feras, e participando de uma mesa com Waldomiro Vergueiro. E já é minha segunda mesa, com ele. A primeira foi lá pelos idos de 2009, em Belo Horizonte. Waldomiro também já participou de dois encontros que fizemos aqui em Leopoldina (MG) e foi um dos membros da minha banca de mestrado. É um prazer poder estar com ele novamente. 

Ah, e farei um pré-lançamento do meu livro sobre quadrinhos e educação lá, também. Um aquecimento. Tanta coisa né?

Segue a programação! Espero vocês lá.


sexta-feira, 14 de abril de 2017

A PEC 287 E O FIM DO PAÍS DO FUTURO

Na quarta, dia 12 de abril, às 19h e 30min, esteve na Escola Municipal Judith Lintz Guedes Machado, de Leopoldina (MG), a senhora Maria Aparecida N.L. e Meloni, Auditora Fiscal, Diretora Financeira Adjunta da Associação dos Funcionários Fiscais do Estado de Minas Gerais, para falar sobre a  PEC 287 que trata da reforma da Previdência.

A palestra foi dirigida a toda a comunidade e contou com a presença de professores, alunos do EJA e pais de alunos. O objetivo da palestra é esclarecer pontos do projeto de emenda constitucional que muda as regras da previdência. Ninguém melhor para isso do que uma auditora fiscal. 

Eu poderia ficar aqui escrevendo sobre tudo que ouvi e aprendi em várias postagens, mas vou ser direta e objetiva: o projeto é uma violência conta os trabalhadores brasileiros e contra todo o Brasil. Ele vai levar ao nosso empobrecimento como povo e como nação. Atende aos interesses de políticos e banqueiros, não aos nossos. 


A Previdência Social não dá prejuízo e o único rombo que possui é feito pelo próprio governo que, por ano, toma dela 30% das suas reservas. Empresários devem bilhões para a previdência e não são cobrados. As mudanças nas regras vão impedir as pessoas de se aposentarem, vão empobrecer os municípios e vão causar danos irreparáveis à sociedade. 

Ou seja, a reforma na previdência vai interromper o crescimento do país, aumentar ainda mais a crise econômica e a pobreza. É um cenário assustador e que é ignorado pela maioria das pessoas. E sabem aquela coisa de idade mínima para se aposentar? Que acontece em outros países desenvolvidos? Não é idade mínima, é idade limite. Ou seja, em outros países só se trabalha ATÉ os 65 anos, daí em diante a pessoa tem que se aposentar, querendo ou não. Detalhe que faz diferença, né!

Enfim, prometi não me alongar e vou encerrar dizendo que o momento em que vivemos, com um governo irresponsável, com a absoluta falência das instituições políticas, vai definir o que nós somos. 

Se somos um povo que busca o crescimento e o bem comum, se somos um povo que vai ser escravizado por leis que nos agridem e tomam nosso direito à dignidade. É hora de esquecer esta dicotomia arcaica de direita e esquerda. Não é o caso de disputar quem está certo ou errado, mas de salvar o que ainda resta do nosso país.

quinta-feira, 13 de abril de 2017

ENTREVISTA COM A JORNALISTA E QUADRINISTA SUECA SOFIA OLSSON

Almoçando com Sofia Olsson num charmoso restaurante, em Angoulême.
Sofia Olsson é uma jornalista  e quadrinista sueca. Eu a conheci por intermédio de Ola Hummarlund. Marcamos de nos encontrar em Estocolmo, durante minhas férias, mas acabamos nos desencontrando. Remarcamos para conversar em Angoulême, durante o festival. A Suécia teve  uma representação lá. Sempre sorridente e simpática, Sofia reforçou a boa impressão que tive dos suecos. 

Tomamos café e almoçamos juntas. Ela me falou do seu trabalho e da sua família. Eu falei do meu trabalho de pesquisa (tentei) e do meu trabalho na escola. Foram duas horas de conversa muito produtiva. Marquei com ela de fazer algumas perguntas mais pontuais, por e-mail, pois eu realmente não me sentia segura para escrever sobre a nossa conversa (vai que eu entendi algo errado), mas eu ganhei uma direção e um foco. O resultado foi uma entrevista muito produtiva, respondida no dia 03 de março de 2017, que eu estou aqui disponibilizando aqui.  


Entrevista com Sofia Olsson

1. Sofia, por que você começou a fazer quadrinhos?
Eu sempre gostei de desenhar e escrever histórias curtas, mas eu nunca pensei que poderia fazê-lo profissionalmente. Estudei ciências políticas na universidade e comecei a desenhar imagens engraçadas acompanhadas de algumas palavras, durante as palestras. Esses rabiscos me divertiam e, depois de algum tempo, percebi que estava fazendo quadrinhos. A combinação de desenhos e texto me agrada.

2. Como você descreveria o momento atual nos quadrinhos suecos?
Atualmente, os quadrinhos têm uma posição bem estabelecida na Suécia. Cerca de 10 anos atrás, houve uma onda de quadrinhos feministas. Os quadrinhos mais populares hoje são os que são políticos e feministas de uma maneira franca, "Novelas gráficas". Com isso, quero dizer que quadrinhos que estão mais para literatura / ficção não são conceitos tão importantes na Suécia.

3. Qual é a relação atual entre quadrinhos comerciais e quadrinhos independentes na Suécia?
Os quadrinhos independentes são os que mais chamam a atenção, na mídia e no mundo cultural. Há muitos quadrinhos comerciais como sempre, mas não há nada muito novo acontecendo nessa área, pelo menos nada que tenha atingido uma maior audiência. Existem alguns grandes sci-fi-comics, mas poucas pessoas os conhecem.

4. Em geral, quais são as dificuldades na publicação de quadrinhos na Suécia?
A maior dificuldade é que o sueco é um idioma falado por poucos, simplesmente não há leitores suficientes para quadrinhos suecos. Se um álbum vende 3000 cópias, é considerado um resultado muito bom. 5. No Brasil, a produção feminina de quadrinhos tem crescido muito nos últimos anos. Mas esse tipo de quadrinhos, geralmente independente, encontra muita resistência porque no Brasil predomina uma cultura machista. Na Suécia, as questões de gênero parecem estar bem resolvidas.

5. Você pode me explicar o que significa fazer quadrinhos em um contexto em que o machismo é menor?
A Suécia pode não ser um país machista, mas ainda é uma sociedade patriarcal. As experiências das mulheres não são consideradas geralmente interessantes. Os homens conseguem ainda os melhores trabalhos e salários mais elevados. Nos últimos anos, os nacionalistas democratas suecos cresceram enormemente, e sua visão sobre a cultura e os papéis de gênero é extremamente conservadora. Há, por exemplo, uma discussão sobre o aborto na Suécia atualmente. O direito ao aborto tem sido dado como garantido por pelo menos 30 anos e tem havido pouca discussão sobre isso. Existem tendências de direita, nacionalistas e conservadoras na Suécia e em toda a Europa.

6. Como funciona o coletivo Dotterbolaget?
Dotterbolaget é para as mulheres que fazem quadrinhos, principalmente para trabalharem juntas em vez de trabalharem umas contra as outras. O Dotterbolaget organiza oficinas, exposições e, por vezes, faz antologias. Ultimamente, o Dotterbolaget também tem trabalhado junto a organizações que trabalham com imigração e direitos de asilo.

7. Em seu primeiro livro, você cobriu a imigração. Por que você escolheu esse tema?
Na época em que fiz meu primeiro livro, havia muita discussão política sobre como os imigrantes precisavam se integrar à sociedade sueca. Eu senti que como uma "sueca nativa", não estava integrada nessa nova sociedade multicultural. Eu simplesmente não tinha amigos imigrantes. No meu livro, encontro-me com cinco mulheres que imigraram para a Suécia. Deixei-as contar a sua história e, também, queria conhecer pessoas de outros países.

8. Ao fazer Hetero i Hägersten, você se inspirou em suas próprias experiências? Conte-nos sobre o livro, por favor.
"Hetero i Hägersten" é uma história em quadrinhos engraçada e política sobre estar em uma relação heterossexual muito normal. Ao nomeá-lo "Hetero", eu queria apontar a norma, não tomar isso como certo. Trata-se de um jovem casal que conversa, debate e luta sobre como viver suas vidas. É tanto sobre coisas simples como "quem lava a louça" quanto sobre discussões políticas mais avançadas. Os personagens em "Hetero i Hägersten" são baseados em mim e meu namorado, nossas falhas, nossa força, nossas lutas, nosso amor e as conversas que tivemos.

9. Você tem algum novo projeto em andamento?
Sim, depois de alguns anos sendo jornalista em tempo integral, estou finalmente começando um novo projeto de quadrinhos. Será uma história semiautobiográfica, um pouco como "Hetero i Hägersten", mas com um enredo mais ambicioso. Eu, provavelmente, não serei capaz de ficar longe do humor, pois gosto de uma boa piada, mas minhas intenções são de ser, desta vez, um pouco mais séria.
 
Desenho que Sofia fez para mim durante o café.

Se você quiser saber um pouco mais sobre Sofia Olsson eu publiquei um texto sobre ela no Ladys Comics, que pode ser acessado clicando aqui.

domingo, 9 de abril de 2017

GRUPO ANTIQUE DÁ UMA AULA SOBRE VILLA LOBOS

A Academia Leopoldinense de Letras e Artes de Leopoldina (ALLA) promove mensalmente um sarau de poesias e música, que é realizado no Museu Espaço dos Anjos. Este ano o sarau mudou um pouco seu formato dando espaço para que cada acadêmico apresente um autor ou autora na abertura do encontro. 

No sábado, dia 8 de abril, o maestro e acadêmico José Gabriel Viveiros levou o grupo Antique, do qual ele faz parte, para apresentar ao público o compositor brasileiro Heitor Villa Lobos. Assista o vídeo e conheça um pouco mais deste ilustre representante da nosso música e, claro, o grupo Antique.


O próximo sarau será no dia 20 de maio, das 10hs às 12hs e é aberto ao público geral.

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O FILME "ESTRELAS ALÉM DO TEMPO"

Não encontrei ainda terapia melhor para uma mente cansada do que assistir a um bom filme. E o que é um bom filme? Para mim, particularmente, é aquele que além de me divertir me faz pensar. Aquele cujas cenas eu repasso mentalmente. Assim como um bom livro, um bom filme acrescenta algo que a gente nem sabia que faltava.

Recentemente eu assisti “Estrelas Além do Tempo” (Hidden Figures). Eu não sou dada a dramas e confesso que as tais “histórias baseadas em fatos reais” não são meu tipo preferido de filme. Mas ao assistir ao trailler pela primeira vez eu pensei: esse filme vai ser maravilhoso. E foi.

Em tempos em que se questiona o protagonismo feminino em filmes e histórias em quadrinhos, desafio qualquer pessoa de bom senso a negar que “Estrelas Além do tempo” não seja um filme que toda menina, que toda mulher, branca ou negra deveria assistir. Aliás, um filme que todos, independentemente do sexo e da cor, deveriam assistir.

É um filme histórico, por assim dizer, uma vez que trás o de um momento crítico da história dos Estados Unidos, que está competindo com a URSS pela conquista do espaço. Os EUA não conseguem se igualar aos soviéticos na corrida espacial. Os cidadãos acreditam que estão sendo espionados por satélites soviéticos. Na mesma época o país estava em meio às lutas pelos direitos civis dos negros. Não por acaso, são mostradas manifestações públicas e discursos de personagens como Martin Luther King.

Afora o e discurso enaltecedor dos valores estadunidenses, temos um enredo pautado nos direitos civis dos negros e, especialmente, dos das mulheres. Portanto, ter três mulheres protagonistas de um filme, mulheres reais que venceram as barreiras da cor e do machismo, é muito mais do que inspirador.

E quem são essas mulheres?

Katherine Johnson - 1966
Pra começar, Katherine Johnson, interpretada por Taraji P. Henson, física, cientista espacial e matemática estadunidense. Ela deu contribuições fundamentais para a aeronáutica e exploração espacial dos Estados Unidos, ela calculava as trajetórias, janelas de lançamento e caminhos de retorno de emergência para muitos voos. Ela, inclusive, participou da missão que levou o primeiro homem à lua, em 1969. De 1958, até sua aposentadoria em 1986, ela trabalhou como técnica aeroespacial.

Dorothy Vaughn, que no filme foi interpretada por Octavia Spencer, ela foi a primeira mulher negra a ser promovida chefe de departamento na National Advisory Committee for Aeronautics- NACA (que mais tarde muda de nome para NASA). Sua trajetória é tão interessante quando a de Katherine.

Dorothy Vaughn
Embora ela não tivesse a genialidade matemática da colega de NACA, ela era uma mulher decidida, de mente afiada, capaz de aproveitar as oportunidades, que eram poucas naquela época. Ela entrou na NACA aproveitando-se da Executive Order 8802, assinada durante o governo de Franklin D. Roosevelt, em 1941, que proibia a discriminação racial na indústria de defesa.

Foi a primeira ação federal a promover igualdade de oportunidades e a proibir a discriminação no emprego, nos Estados Unidos. Mas é sempre bom lembrar que esta ordem veio de encontro ao momento vivido pelo país: os Estados Unidos estavam entrando na II Guerra Mundial e toda força de trabalho deveria ser aproveitada, fosse ela de homens ou mulheres, brancos ou negros.

Apesar do ambiente de trabalho ainda ser marcado pela segregação e os melhores postos ocupados por brancos, esta ordem possibilitou a contratação de negros para as agências do governo e foi ela que possibilitou que Dorothy trabalhasse na NACA, de 1943 a 1971. 

E falando em ambiente segregado, temos cenas em que Katherine Johnson é obrigada a andar um quilômetro para ir ao banheiro, pois só havia um banheiro para negros na NACA. Outra em que os colegas dela, brancos, colocam para ela uma cafeteira em separado escrita “pessoa de cor”, para que ela não usasse a cafeteira deles (ela era a única negra da sala). Ela basicamente consegue mudar isso no “grito”, quando chega ao limite da sua tolerância pessoal à discriminação. Aliás, uma das cenas que eu mais gostei.

Por fim, e não menos importante, temos Mary Jackson, interpretada por Janelle Monáe.  Mary Winston Jackson foi matemática e engenheira aeroespacial. Para conseguir o diploma em engenharia, Mary, assim como muitos negros, teve que pleitear na justiça o direito de frequentar aulas. Ela começou trabalhando com engenheiro polonês Kazimierz Czarnecki, no Túnel de Pressão Supersônico de 4 pés por 4 pés, que acabou sugerindo que ela entrasse em um programa de treinamento que lhe permitiria ganhar uma promoção de matemática para engenheira. 
 
Mary Jackson
Os estagiários tiveram que fazer cursos de pós-graduação em matemática e física nos cursos de pós-graduação administrados pela Universidade da Virgínia. Mas as aulas eram realizadas em uma escola segregada, ou seja, apenas para brancos. E ela conseguiu. Para mim uma das cenas mais espetaculares do filme é justamente aquela em que ela, armada de argumentos sólidos, convence o juiz permitir que ela frequente as aulas, que na época eram a noite. 


Mary Jackson começou sua carreira de engenheira em uma época em que as engenheiras de qualquer tipo, brancas ou negras, eram muito raras. Aposentou-se em 1985.


Embora o foco maior estivesse em Katherine Johnson, estas três mulheres foram igualmente inspiradoras e muito bem interpretadas pelas atrizes que assumiram seus papeis. Eu recomento assistir ao filme, recomendo buscar saber mais sobre elas, principalmente se você, homem ou mulher, branco ou negro, tem alguma dúvida sobre se vale a pena investir numa carreira, por mais difícil que ela pareça ser.

Fontes:
https://www.nasa.gov/, acesso em 08 abr. 2017.

sábado, 1 de abril de 2017

HELENA FONSECA: DA SUPERAVENTURA AOS QUADRINHOS DE TERROR

Helena Fonseca é uma roteirista de histórias em quadrinhos brasileira, muito ativa entre os anos de 1960 e 1980. Trabalhou com vários gêneros, como aventura, superaventura e terror. Ela pode ser considerada uma das pioneiras dos quadrinhos brasileiros, tanto pela sua versatilidade, quanto pelo fato de ter desenvolvido roteiros para gêneros dos quadrinhos onde as mulheres nem sempre conseguiam se destacar. Pelo menos é o que afirma o senso comum.

Entretanto, pesquisas recentes têm mostrado que a participação feminina na indústria dos quadrinhos é muito maior do que se pensava. No Brasil, temos exemplos de mulheres que se destacam na produção de quadrinhos de terror, aventura e superaventura. Algumas estão até conquistando espaço no mercado externo, como é o caso de autoras como Erika Awano e Bilquis Evely.

Mas, no que diz respeito à memória dos quadrinhos nacionais, muito tem sido perdido e precisa ser recuperado para que se construa uma História dos Quadrinhos no Brasil que possa servir de referência para as futuras gerações. No que diz respeito à produção feminina, a construção desta memória é muito carente. Muitas quadrinistas foram esquecidas pela história, apesar da sua ampla participação na produção nacional.

É o caso de Helena Fonseca. Ela, por exemplo, não possui um verbete na Enciclopédia dos Quadrinhos, de André Kleinert, ampliada em 2014. Mesmo na internet são poucas as referências feitas à sua produção, tendo sua biografia pouco mais de que oito linhas, na Wikiwand. A princípio, pode-se concluir que não há informações disponíveis sobre a autora. Mas realizando um trabalho quase arqueológico, é possível montar um perfil mais detalhado sobre a produção desta quadrinista que, certamente, vai ocupar mais do que oito linhas.

Publicado em outubro de 1967.
Começando pelos quadrinhos de superaventura, Helena Fonseca escreveu roteiros para a revista do Capitão 7, um dos heróis nacionais mais antigos das HQs brasileiras. O Capitão 7 surgiu no início dos anos 1950 como um personagem da TV Record de São Paulo, em 1954. “Foi criado pelo ator e boxeador Ayres Campos, que também o interpretava. O número sete era por causa do canal. Assim, todos associavam o Capitão Sete, como o "herói da Record", herói do 7".[1] Em 1959 ele se tornou herói dos quadrinhos pela editora Continental/Outubro (que em 1966 trocou de nome e se tornou a Editora Taika). Os quadrinhos eram foram desenhados por vários artistas e os roteiros ficaram por conta de Helena Fonseca, Hélio Porto e Gedeone Malagola.

Uma referência ao personagem Capitão 7 está no livro Esses Incríveis heróis de papel, de Ionaldo A. Cavacalti, publicado em 1988. Nele há um breve parágrafo sobre o personagem, mas o nome de Helena Fonseca não é citado, apenas dos desenhistas e capistas. Já o livro A magia da nona arte, de Israel Forguel, publicado em 2016, já faz uma breve referência aos roteiros feitos por Helena Fonseca para este personagem. O nome de Helena Fonseca foi esquecido numa época em que ela ainda era uma autora ativa, e resgatado em obra recente sobre quadrinhos.

Publicado em agosto de 1974.
Helena também foi uma das principais roteiristas das histórias em quadrinhos de Targo, a versão brasileira de Tarzan. Talvez nenhum personagem clássico dos quadrinhos tenha sido tão imitado quanto o rei das selvas. No Brasil, a editora Outubro lançou o tarzanide brasileiro em meados década de 1960[2]. O personagem foi criado por Heli Otávio de Moura Lacerda e desenhado e roteirizado por vários quadrinistas, principalmente Helena Fonseca.

"Seus roteiros eram quase sempre de Helena Fonseca e Francisco de Assis, mas houve outros escritores, e todos tentavam imprimir no herói alguma característica brasileira, visto que na época (ao contrário de hoje), os leitores se identificavam com personagens que explorassem coisas nossas[3]".

Sem data exata de publicação.
Sua participação nos quadrinhos de terror também foi marcante. Helena Fonseca, juntamente com Nico Rosso, criou Naiara, A Filha do Drácula, uma personagem de terror brasileira. Helena já escrevia roteiros para os quadrinhos de Drácula. Ela ajudou a dar ao personagem clássico de terror características bem diferentes daquelas do original do livro de Bram Stoker.

Naiara é a filha rebelde de Drácula, bem no espírito dos anos do final dos anos de 1960. A vampira faz de tudo para contrariar o pai e fugir da sua autoridade. Ela bebia o sangue das suas vítimas em uma grande taça de cristal[4]. O erotismo presente em suas histórias é uma das suas principais características, o que a classificava como sendo um quadrinho para adultos. 

O terror foi um gênero que se difundiu muito no Brasil, nos anos de 1970. Era marcado por cenas de violência, nudez e muito erotismo. Também foi gênero onde as mulheres se destacaram. Ainda no gênero terror ela colaborou ainda para os títulos: Almanaque Clássicos do Terror, Almanaque do Drácula e Seleções de Terror. Além de Helena Fonseca tivemos ainda os contos de terror baseados em histórias do folclore local criadas por Maria Aparecida Godoy, a Cida Godoy.

Vampirella, capa de 1969.
Curiosamente, a personagem Naiara chegou às bancas em 1967, bem antes de Vampirella, personagem criada por Forrest J. Ackerman em 1969, com a ajuda Trina Robbins e Frank Frazetta.[5] Estas duas personagens, apesar de possuírem origens diferentes, apresentam muitas semelhanças como a sensualidade, o erotismo e até a gosto por roupas que valorizam os contornos do corpo.

Helena Fonseca também trabalhou com o gênero nordestern[6], ou gênero cangaço. Ela roteirizou as histórias de Juvêncio, o justiceiro do sertão. O personagem foi criado originalmente pelo jornalista Reinaldo Santos para um programa da Rádio Piratininga, de São Paulo, nos anos de 1960, apoiado no sucesso de outro personagem, de 1953, Jerônimo, o herói do sertão. Juvêncio era inspirado no Zorro, mas ao contrário daquele personagem, ele era um justiceiro: ele não prendia, ele matava bandidos[7].

Sem a data de publicação da revista.
A popularidade da radionovela do justiceiro nordestino acabou levando ao lançamento de uma revista em quadrinhos, em maio de 1968, pela editora Prelúdio. As histórias em quadrinhos do personagem foram desenhadas por Rodolfo Zalla, Eugênio Colonnese, Edmundo Rodrigues e roteirizado por Gedeone Malagola, Helena Fonseca, R. F. Lucchetti, entre outros. Seus quadrinhos foram publicados até agosto de 1969.

Helena trabalhou ainda em vários outros títulos escrevendo roteiros para personagens como Margarida, da Disney, e Os Trapalhões, ambas as revistas publicadas pela Editora Abril; roteirizou Simãozinho, quadrinho infantil publicado pela Editora Prelúdio; escreveu histórias para o Vigilante Rodoviário, publicado pela Editora Outubro/Taika.

Helena Fonseca esteve ativa até o final da década de 1980 e ganhou o Prêmio Angelo Agostini na categoria Mestre, em 1995. Produzindo para várias editoras em uma grande variedade de títulos, Helena Fonseca pode ser considerada uma das profissionais femininas mais bem sucedidas do Brasil.

REFERÊNCIAS

CAVACALTI, Ionaldo A. Esses Incríveis heróis de papel. São Paulo: Rd. Mater, 2016.

Conheça Targo (2012). Disponível em: http://blogmaniadegibi.com/2012/03/conheca-targo/, acesso em 1º abr. 2017.

FORGUEL, Israel. A Magia da Nona Arte. São Paulo: Clube de Autores, 2016.

Helena Fonseca. Disponível em: http://www.wikiwand.com/pt/Helena_Fonseca#/Refer.C3.AAncias, acesso em 1º abr. 2017.

Juvêncio, o justiceiro do sertão. Disponível em: http://www.wikiwand.com/pt/Juv%C3%AAncio,_o_justiceiro_do_sert%C3%A3o, acesso em 1º de abr. 2016.

Super heróis brasileiros de histórias em quadrinhos (2017). Disponível em: http://aminoapps.com/page/comics-portugues/1027610/super-herois-brasileiros-de-historias-em-quadrinhos, acesso em 1º abr. 2017.

UCHOA, Francisco. Naiara de presente (2012). Disponível em: https://planetamongo.wordpress.com/2012/01/23/naiara-de-presente/, acesso em 1º Abr. 2016.

Vampirella. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Vampirella#Vampirella_no_Brasil, acesso em 1º abr. 2016.





[1] Super-heróis brasileiros de histórias em quadrinhos. Disponível em: http://aminoapps.com/page/comics-portugues/1027610/super-herois-brasileiros-de-historias-em-quadrinhos, acesso em 1º abr. 2017.
[2] Não consegui encontrar a data exata do primeiro número do personagem. As referências são vagas e fala-se de meados de 1960. Como a revista já estava em seu n. 33  em setembro de 1967 e, supondo que era mensal e foi publicada sem interrupções, Targo deve ter sido lançado aproximadamente em dezembro de 1964.
[3] Conheça Targo. Disponível em: http://blogmaniadegibi.com/2012/03/conheca-targo/, acesso em 1º abr. 2017.
[4] UCHOA, Francisco. Naiara de presente (2012). Disponível em: https://planetamongo.wordpress.com/2012/01/23/naiara-de-presente/, acesso em 1º Abr. 2016.
[5] Vampirella. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Vampirella#Vampirella_no_Brasil, acesso em 1º abr. 2016.
[6] Como o próprio nome indica, são quadrinhos de faroeste cuja a ambientação é o sertão nordestino brasileiro.
[7] Juvêncio, o justiceiro do sertão. Disponível em: http://www.wikiwand.com/pt/Juv%C3%AAncio,_o_justiceiro_do_sert%C3%A3o, acesso em 1º de abr. 2016.