segunda-feira, 27 de agosto de 2018

ALGUNS APONTAMENTOS SOBRE AS 5ªS JORNADAS INTERNACIONAIS DE QUADRINHOS DA USP

Meu crachá!
Em pouco menos de um mês eu participei de dois encontros acadêmicos sobre quadrinhos. Foi uma verdadeira maratona, ainda mais no início do doutorado. Primeiro porque existe toda aquela logística de escrever o artigo, preparar a apresentação, deixar as coisas mais ou menos encaminhadas no trabalho para poder me ausentar. Mudou toda a minha rotina e isso vem com um custo, que devo quitar nos fins de semana e feriados, só para constar. Do primeiro evento eu já falei em postagem anterior (clique aqui para conferir), para o segundo vou dedicar esta postagem. 

Entre os dias 22 e 24 de agosto eu participei das 5ªs Jornadas Internacionais de Quadrinhos da Escola de Comunicação e Artes da USP. Três dias, muitas opções e relaticamente pouco tempo. Por isso eu fiz  questão de não perder nem um minuto e aproveitar a oportunidade de conhecer o trabalho de outros pesquisadores, de interagir e criar parcerias. 
Mesa de abertura (da esquerda para a direita) com Nobu Chinen, Waldomiro Vergueiro, Roberto Elisio dos Santos, Paulo Ramos e Sônia Bibe Luyten.

Já na chegada, para a minha felicidade,  encontrei vários colegas. É estranho estar em São Paulo, uma das maiores cidades do mundo, com população equivalente à de muitos países europeus, e esbarrar com conhecidos no metrô. E mesmo na USP, eram tantas pessoas que compartilhavam dos mesmos interesses que a sensação é de estar num microcosmos acadêmico.

É, claro, um encontro muito maior do que aqueles que realizamos anualmente pela ASPAS. Se não me falha a memória, tivemos a inscrição de 38 comunicações de pesquisa este ano no IV FNPAS, um número muito bom dentro do que o encontro se propõe e a participação de cerca de 65 pessoas. Nas Jornadas foram inscritos e aprovados 264 trabalhos para 2018. E este não é número redondo. Muitos trabalhos possuem coautoria, portanto, o número de participantes é muito maior. 
Com os amigos/pesquisadores Maiara Alvim e Rubem Marcelino
Coloquemos, então, que estavam reunidos lá mais de 300 pesquisadores, de diversas áreas, para falar sobre quadrinhos. É muito mais do que eu poderia um dia sonhar que encontraria em um evento acadêmico. A convidada estrangeira, Barbara Postema, pesquisadora da Universidade Massey, Nova Zelândia, chegou a afirmar na conferência de abertura que se considerava as Jornadas o maior evento voltado à pesquisa sobre quadrinhos do qual ela já teve a oportunidade de participar. 

Os trabalhos se concentraram no segundo andar do prédio da Escola de Comunicação e Artes (ECA) e se dividiram em sessões de comunicação em dois blocos, com uma média de 3 a 5 apresentações cada. Os trabalhos iniciavam-se às 14:00 e se encerravam às 17:30. O início da noite ficava reservado às conferência, uma para cada dia.
Noite de lançamento de livros: eu estou ali no fundo, ao lado de Iuri Reblin.
Na quinta-feira, dia 23 de agosto aconteceu o lançamento de livros, onde eu e Iuri Reblin lançamos dois livros pela ASPAS. São coletâneas de artigos, referentes a pesquisas apresentadas durante o encontro da ASPAS em Leopoldina, em 2015. Para nossa alegria, as publicações foram muito bem recebidas e uma delas chegou a esgotar já no segundo dia.

Eu assisti uma média de seis comunicações por dia, não era possível assistir a todas, dado o grande número de trabalhos inscritos. E aí eu me identifico com as palavras do professor Waldomiro Vergueiro, um dos organizadores, que em uma postagem no facebook comentou que a coisa que mais lhe frustou foi justamente não ter conseguido conversar com todos, assistir a todos que estavam apresentando. Eu, como mera participante senti o mesmo. 

Um pedacinho a turma reunida!
De fato, foram tantos os estímulos, tantas pessoas com quem eu queria conversar e outras tantas que queriam conversar comigo, que ficou a sensação de que foi pouco tempo para muita coisa. Mas não acho que isso deva ser visto como algo negativo, muito pelo contrário. Significa que o evento foi um sucesso. 

E para além do capital cultural que se adquire nestes eventos, a possibilidade de reforçar laços de amizade, fazer novos contatos e confraternizar com colegas permite não apenas o amadurecimento profissional como o pessoal. Enfim, eu fui feliz em poder estar num ambiente acolhedor, criativo e democrático, onde havia espaço para que todo tipo de pesquisa, nas mais diversas áreas do conhecimento, encontrasse seus interlocutores.


Enquanto isso...
Na hamburgueria "Taverna Medieval", com Amaro Braga e Nildo Viana.
As Jornadas não se resumem apenas a trabalho. Eu tive ótimos momentos com os amigos fora da USP. Vou falar rapidinho deles aqui. 

Na quinta-feira, após o lançamento de livro, fomos todos para a Taverna Medieval, uma hamburgueria localizada em Vila Clementino, cuja decoração é inspirada na idade média, com capacetes, espadas, bebidas servidas em frascos de porção mágica e toda aquela atmosfera bem característica de filmes medievais. Foi muito divertido, levamos até a convidada estrangeira, Barbara Postema, que parece ter se divertido bastante.
Detalhe da decoração
do "Leôncio"

No dia 24 de agosto, sexta-feira, passei uma manhã agradável, antes de ir para a USP, com Conceição Azevedo, da Editora Peirópolis. Conceição tem sido nossa parceira já a algum tempo, enviando para nossas gibitecas quadrinhos produzidos pela Peirópolis e brindes para os encontros da ASPAS. Eu ainda não a havia encontrado pessoalmente e fiquei encantada com o convite para conhecer a editora. Um lugar muito agradável e aconchegante, em Vila Madalena. Ela me convidou para almoçar em um restaurante muito acolhedor, o Leôncio, onde eu comi uma deliciosa carne argentina. A conversa agradável serviu para me deixar mais relaxada antes da minha apresentação, que seria naquele dia.
Com minhas tias Marli e Eni no Mercado Municipal de São Paulo.
A noite eu fiz um programa de família, com meu afilhado, sua esposa e filha. Eles me levaram a um restaurante japonês, em São Bernardo, chamado Nakoo Shushi. Eu adoro comida japonesa, e aquele restaurante é fora de série. A melhor comida japonesa que eu já experimentei. E, por fim, passei uma tarde agradável, no sábado, com minhas tias, antes de retornar a noite para Leopoldina. Fomos ao Mercado Municipal de São Paulo. Fiz um turismo culinário bem ao estilo do amigo Amaro Braga. 

domingo, 26 de agosto de 2018

MINHAS IMPRESSÕES SOBRE O IV FNPAS

Este ano foi realizado, entre os dias 25 e 27 de julho, o IV Fórum Nacional e Pesquisadores em Arte Sequencial (FNPAS), no Instituto Federal Fluminense, de Macaé (RJ). O evento teve como coordenador o fanzineiro e pesquisador da ASPAS (Associação de Pesquisadores em Arte Sequencial), Alberto de Souza, que possuí uma projeto de fanzinoteca no IFF Macaé. O tema do encontro foi “Quadrinhos e diversidade”.

A escolha do local respeitou a principal diretriz do FNPAS, que é a de evitar grandes centros como Rio de Janeiro e São Paulo, que já sediam anualmente encontros acadêmicos sobre quadrinhos. A ideia é levar a pesquisa e os debates sobre quadrinhos para a periferia. Tanto que, em 2012, o primeiro encontro ocorreu em Leopoldina (MG), em 2014, em São Leopoldo (RS); em 2016, em Goiânia (GO).  Daí, a proposta de se fazer o encontro de 2018 no Instituto Federal Fluminense, na cidade de Macaé, no interior do Estado do Rio de Janeiro, foi muito bem-vinda e rendeu um dos mais proveitos encontros acadêmicos realizados pela ASPAS.
Estudantes e professores do IFF Macaé assistindo à Palestra do abertura, realizada por Valéria Fernandes
 E foi um encontro especial, pois resgatou a memória do FNPAS ao ser realizado em uma escola técnica. Foi muito agradável e recompensador poder estar entre alunos  e professores do ensino médio. Eles não apenas participaram de palestras, oficinas e comunicações, como também protagonizaram exposições e apresentações culturais. E falando de exposição, os alunos do IFF Macaé, juntamente com os professores de língua portuguesa, prepararam um exposição de quadrinhos que deixou muita gente de queixo caído. 

Exposição de quadrinhos dos alunos do IFF Macaé
É importante, especialmente nos dias de hoje, que os jovens tenham contato com o meio acadêmico de forma a desmistificá-lo. Do mesmo modo, os pesquisadores precisam ser lembrados da sua função social que é justamente possibilitar o acesso ao conhecimento, por professores e alunos da educação básica.

Portanto, eu gostaria de colocar como ponto alto desta quarta edição do IV FNPAS justamente a participação de estudantes do ensino médio e tecnológico do IFF, dos professores e dos funcionários técnico-administrativos, que se desdobraram para que os trabalhos pudessem transcorrer da melhor forma possível e se tornaram nossos parceiros no evento.


Lançamento de livros e Fanzines durante o IV FNPAS
Um evento acadêmico onde se podia assistir um debate intenso entre uma estudante do ensino médio com um doutor, dono de uma cadeira universitária. Onde jovens pesquisadores apresentavam suas experiências em sessões de comunicação que surpreenderam pela originalidade de muitos dos trabalhos. Um ambiente intimista, bem característico dos encontros da ASPAS, contagiado pela dinâmica da rotina escolar.

É claro, eu tive meus momentos preferidos. Poderia falar sobre os trabalhos que eu mais gostei ou sobre como foi importante para a ASPAS o lançamento de dois novos livros este ano. Mas achei por bem não ser tão específica. 

Sessão de comunicação, durante o IV FNPAS.
Prefiro falar do que senti a partir do que vi. Eu senti um novo ânimo para continuar meu trabalho com pesquisa e uma necessidade maior de contribuir mais ainda com a formação escolar dos meus alunos. Foi gratificante ver tantas caras novas este ano e poder reencontrar velhos camaradas, que estão junto conosco desde o primeiro FNPAS.

Eu senti que, apesar de tudo que vem acontecendo no nosso país nos últimos anos, a ASPAS se fortaleceu não apenas como grupo, como associação, mas como espaço de resistência acadêmica e cultural, onde ainda podemos debater de forma democrática, deixar de fora as vaidades e mostrar que tudo pode ser convertido em conhecimento legítimo, desde que feito com seriedade. E é isso que a ASPAS faz.

Oficina com Edgar Franco e Danielle Barros na Fanzinoteca do IFF para a comunidade escolar.
Aproveitando, gostaria de agradecer a recepção que recebemos do diretor do IFF Macaé Netto Severino e o apoio da editora Peirópolis, que todos os anos nos envia brindes para serem distribuídos para os participantes. Agradeço especialmente a Alberto que nos convidou para sediar o IV FNPAS no IFF Macaé.

Foram publicados outros relatos mais objetivos do que o meu, como o da pesquisadora Valéria Fernandes, no blog Shoujo Café (clique aqui) e do quadrinista e youtuber Rapha Pinheiro (clique aqui), caso alguém queria saber mais sobre o IV FNPAS, a partir de outros pontos de vista. 

E finalizando, gostaria de convidar a todos e todas a participarem de dois outros encontros que teremos este ano. O ASPAS Norte (clique aqui para mais informações) e o IV Colóquio Regional Sul em Arte Sequencial (clique aqui para mais informações).

domingo, 5 de agosto de 2018

A IMINENTE DESTRUIÇÃO DA PESQUISA CIENTÍFICA NO BRASIL

Imagem capturada em: encurtador.com.br/hoquU. 
Eu tenho evitado escrever sobre temas políticos atuais do nosso país, tanto por desgosto quanto para evitar linchamento por parte de pessoas que não concordam comigo e não conseguem aceitar meu direito a liberdade de expressão. Além disso, como todo profissional da área de humanas atualmente, estou sujeita a ser policiada e tolhida por aqueles que simpatizam com os ideias da Escola Sem Partido, que eu particularmente abomino. E não falo apenas de desconhecidos, incluo aqui amigos e familiares.

Mas há temas que não podem ser ignorados. Há ações que não podem deixar de ser denunciadas. Esta semana foi divulgada uma notícia alarmante acerca de um possível corte o orçamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) para 2019, organismo ligado ao MEC. A Capes,  eu acredito, é pouco conhecido pelo público geral mas é um organismo de fundamental importância para a própria existência da ciência no Brasil.  

O corte , se realmente acontecer, irá afetar centenas de milhares de bolsistas de pesquisa em todo o país, incluindo 93 mil bolsas de mestrado, doutorado e pós-doutorado, 105 mil bolsas de programas de formação de profissionais da educação básica (como PIBIC e Parfor). 

Significará ainda a interrupção do Sistema Universidade Aberta do Brasil e do Programa de Mestrado Profissional para Qualificação de Professores da Rede Pública de Educação Básica (ProEB), prejudicando cerca de 245 mil alunos e bolsistas (professores, tutores, assistentes e coordenadores) de 750 cursos (mestrados profissionais, licenciaturas, bacharelados e especializações) de 110 instituições, em mais de 600 cidades de todo o território nacional.

A interrupção das bolsas e dos programas acarretará, com certeza, o fechamento de diversos cursos de pós-graduação em todo o Brasil, bem como o fim de pesquisas importantes realizadas no país e do intercâmbio científico com pesquisadores do exterior.

Caso o corte seja aprovado estaremos assistindo ao desmantelamento da pesquisa científica no Brasil e da própria universidade pública, que já vem sofrendo com o descaso do governo nos últimos anos. Se isso realmente acontecer, a curto e médio prazo, teremos o desaparecimento de profissionais capacitados em todas as áreas e a provável fuga de intelectuais e potenciais cientistas para outro países. 

O Brasil sofrerá um esvaziamento científico e intelectual que irá colocar nosso país numa situação política e econômica ainda pior. Os estudantes de graduação também serão afetados, com a limitação da oferta de cursos de pós-graduação. E não apenas os das universidades públicas, mas das privadas, também. 

Esqueça por um momento suas simpatias ou antipatias partidárias e pense enquanto cidadão que está sendo lesado, sem poder contar no futuro com profissionais em condições para analisar o contexto político e social do país, sem profissionais capazes de poder pesquisar a cura de doenças, sem profissionais capazes de construir pontes e mesmo estradas. Pense que se você é daqueles que podem pagar por estes serviços eles ficarão muito mais caros. Pense que encontrar profissionais será mais difícil. Não é vantagem para ninguém aumentar a dependência do país, por exemplo, por tecnologia importada.

Pense num país de bestializados que não terão acesso a uma educação com o mínimo de qualidade. Não importa se seu posicionamento político é de esquerda ou direita, não é possível tolerar qualquer ação que prejudique o nosso direito a um serviço apropriado, oferecido por profissionais capacitados.

* Os dados numéricos acima citados foram fornecidos pela Associação de História do Rio Grande do Sul.