domingo, 23 de novembro de 2014

ASSÉDIO MORAL NAS ESCOLAS: VIOLÊNCIA INVISÍVEL E COM EFEITOS DEVASTADORES



Esta semana, nas poucas vezes que liguei a televisão, eu me deparei, em duas delas, com reportagens falando sobre os perigos de ser professor. Sei de casos de colegas que passaram por situações complicadas envolvendo violência física nas escolas. Geralmente os autores eram alunos e, inclusive, pais de alunos. Há casos em que a violência é outra, é moral. São esses os que mais se repetem, os que são diários, envolvendo tanto direção e colegas quanto pais e alunos.

O assédio moral faz parte, infelizmente, de muitos ambientes de trabalho. Mas na escola, ele tem sido vivenciado com uma frequência cada vez maior. Este ano, eu mesmo vivi situações constrangedoras (no plural mesmo), umas fruto “mal entendido”, outras simplesmente inexplicáveis.

Acho que essa é a pior situação que um trabalhador ou trabalhadora pode enfrentar no seu dia a dia. Não somos perfeitos, fazemos o que podemos, muitas vezes erramos, mas todos temos o nosso valor.

Parece-me que atualmente está se multiplicando a cultura de “desqualificação” do profissional do ensino. Se o aluno não vai bem (e isso pode acontecer), a culpa é do professor. Outros fatores não são levados em consideração, não se procura avaliar seriamente as causas do fracasso (não gosto dessa palavra, mas não achei outra para usar), não se procura o diálogo.

O profissional do ensino é muito cobrado, por si mesmo, pelos alunos, pelos pais do alunos e pela direção. Mas existe uma diferença entre cobrar e assediar. O assédio é uma violência, pois não se baseia, na maioria das vezes, em dados reais, mas na necessidade de agredir, por meio de palavras e ações, um profissional no exercício do seu trabalho ou mesmo sua competência para o mesmo.

O assédio, por exemplo, de alunos com relação ao professor tem até uma classificação, denomina-se assédio ascendente. São características dele: desrespeito, sarcasmo, falta de atenção intencional, provocações, perturbações da ordem na sala de aula e no ambiente escolar em geral, abuso em função do poder econômico com ameaças à integridade física[1], etc.

Encontrei outros exemplos de assédio moral nas escolas em textos que pesquisei na internet. E são muitos, para meu espanto. Muitos textos, reportagens, artigos, enfim, pesquisas que versam sobre o tema. Seguem alguns:

“São exemplos deste tipo a atitude omissiva em relação a eventuais agressões realizadas por pais ou pelos próprios alunos; reiteradas críticas infundadas e vexatórias sobre a conduta do professor ou sobre o desenvolvimento de seu trabalho perante os demais colegas ou perante pais e alunos; determinação da realização de trabalho nos períodos de recesso escolar ou em dias de descanso, sob pena de aplicação de sanções; determinação constante de realização de outras tarefas não vinculadas à função do professor (limpeza das salas, arrumação do colégio); pressão para aprovação de alunos; gradual diminuição da autonomia do professor; ameaça constante de redução e/ou da supressão da carga horária”

Cortez e Xavier Advogados Associados (AJS)
[2]


“O assédio moral se caracteriza por atos e comportamentos agressivos que visam, sobretudo, à desqualificação, à desmoralização profissional e desestabilização emocional e moral dos assediados, tornando o ambiente de trabalho ou o local de convivência completamente desagradável, insuportável e hostil. Tal situação ocasiona, em muitos casos, até um pedido de demissão por parte do empregado, que acaba se sentindo aprisionado a uma situação desesperadora, e que muitas vezes lhe desencadeia problemas de saúde e traumas sérios.

Os casos mais comuns de assédio moral de que os educadores padecem nas escolas são:

- Serem desrespeitados, sofrerem ameaças físicas e violência verbal por parte dos alunos.
- Serem tratados como simples empregados, prestadores de serviços e não como educadores por pais e alunos.
- Serem vítimas de Bullying cibernético com situações de constrangimento em site de relacionamento e mídia eletrônica” [3].

O resultado acaba se refletindo no próprio rendimento do profissional e na sua saúde. Muitos acabam adoecendo, perdendo sua autoestima e abandonando a carreira profissional. Atitudes desrespeitosas de alunos em sala de aula são o que mais sofrem os professores e professoras. Encontrei o depoimento de um professor que me pareceu bom para exemplificar o que acontece com milhares de professores todos os dias.

“Um dia destes, a bagunça era tanta ao fundo que deixei de cortar o “T” enquanto passava um resumo de um texto para explicar. A pressão e a bagunça vinda do fundo eram intimidadores, quando ouvi um desses desalmados a meia voz gritar: “Burro!” Foi o suficiente naquele dia para acabar com meu estímulo[4]”.

Muitos professores que sofrem com essas atitudes acabam adoecendo e tendo sua saúde e qualidade de vida comprometida, sua autoestima deteriorada e sua carreira profissional comprometida e em muitos casos interrompida. O estresse e a depressão são as principais doenças que atingem o professores vítimas dessas ações.

Algumas das doenças mais comuns são o estresse a e a depressão. No Rio de Janeiro, por exemplo, os sindicatos iniciaram uma campanha para combater os distúrbios da voz nos professores. Descobriu-se, então, que, em vários dos casos diagnosticados, os problemas eram de cunho emocional
.[5]

O que pouca gente parece saber, ou se importar, é com a fato de que o assédio é ilegal e as vítimas podem procurar seu sindicato e denunciar. Existem, também, formas de punição legal, cabendo processo indenizatório contra o agressor. Existem leis estaduais que criminalizam essa prática.

Os especialistas aconselham que a vítima, sempre que possível, documente o assédio. Ofensas feitas pela internet, por exemplo, podem ser copiadas e impressas. Ofensas feitas por alunos em sala de aula devem ser registradas e denunciadas, assim como comportamento ofensivo e vexatório por parte de colegas e superiores.

Muitas vezes, não passa de um mal entendido, gerado por fofocas ou pela má interpretação de algumas situações. Nesses casos, o problema pode ser resolvida através de uma conversa (mas sempre tenha uma testemunha de sua confiança por perto). Mas caso não resolva, denuncie. Seu direito à dignidade vem acima de tudo.

Clique aqui e leia um folheto publicado pela UNEB com orientações básicas de como agir em caso de assédio moral.



[1] PEREIRA, Lídia Gallindo. Assédio moral nas instituições de ensino

[2] Assédio Moral, saúde do professor. Disponível em: http://zip.net/bdqgmw, acesso em: 23 de nov. de 2014.

[3] Assédio Moral nas escolas privadas: “Todos podemos ser vítimas!” disponível em: http://www.sinprocampinas.org.br/index.php/saude-do-professor/item/25032-saude-do-professor, acesso em: 23 de nov. de 2014.

[4] MUHAMMED, Olinuap Onabra. PROFESSOR: Profissão Perigo. Disponível em: http://www.recantodasletras.com.br/artigos/2828235, , acesso em: 23 de nov. de 2014.

[5] COSTA, Raquel. Professor, profissão perigo. Disponível em: http://www.istoe.com.br/reportagens/198947_PROFESSOR+PROFISSAO+PERIGO, acesso em: 23 de nov. de 2014.

 

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

A REVOLTA DA VACINA E A REFORMA URBANA



Imagem disponível em http://www.colegioweb.com.br/trabalhos-escolares/historia/detalhes-da-revolta-da-vacina.html, acesso em 17 de nov. de 2014
A Revolta da Vacina foi uma revolta popular ocorrida na cidade do Rio de Janeiro entre os dias 10 e 16 de novembro de 1904. Ocorreram vários conflitos urbanos violentos entre populares e forças do governo (policiais e militares).

A principal causa da revolta foi a campanha de vacinação obrigatória contra a varíola, realizada pelo governo brasileiro e comandada pelo médico sanitarista Dr. Oswaldo Cruz. A grande maioria da população, formada por pessoas pobres e desinformadas, não conheciam o funcionamento de uma vacina e seus efeitos positivos. 

Havia ainda o descontentamento gerado pela reforma urbana realizada na cidade do Rio de Janeiro, capital do Brasil. Naquela época a cidade do estava crescendo desordenadamente. Sem planejamento, as favelas e cortiços estavam tomando conta do centro da cidade. A rede de esgoto e a coleta de lixo eram precários, isso quando existiam. Pra completar, a cidade estava tomada por doenças epidêmicas, das quais podemos destacar o tifo, a febre amarela e a varíola. 

O presidente da República, Rodrigues Alves, ordena que seja feita uma reforma no centro do Rio de Janeiro e que sejam implementados projetos de saneamento básico, urbanização e combate às epidemias. O biólogo e sanitarista Oswaldo Cruz é nomeado chefe do Departamento Nacional de Saúde Pública. Junto com o prefeito Pereira Passos os dois dão início à reforma urbana.

Mas a reforma tinha seu lado perverso. Ela incluía a demolição das favelas e cortiços, expulsando seus moradores para as periferias, movimento esse apelidado pela população de “bota-abaixo”. Medidas como essa causaram revolta na população, que desaprova ainda a companha da vacinação obrigatória.

Para a população negra (que representava uma grande parcela da população da capital federal), adepta das religiões de matrizes africanas, a varíola era uma doença sagrada, que não podia ser combatida da maneira como os governantes estipularam, com a vacinação. 

Quando a população ficou sabendo que a vacina era feita do próprio vírus da varíola, passou-se a acreditar que o governo queria acabar com os pobres, envenenando-a com a doença. Até intelectuais consagrados como Rui Barbosa se recusaram a tomar a vacina.

A população começou a fazer ataques à cidade, destruir bondes, prédios, trens, lojas, bases policiais, etc. Esse episódio da história brasileira ficou conhecido então como Revolta da Vacina. Os cadetes da Escola Militar da Praia Vermelha também se voltaram contra a lei da vacina. O episódio transformou, no período de 10 a 16 de novembro de 1904, a recém reconstruída cidade do Rio de Janeiro numa praça de guerra, onde foram erguidas barricadas e ocorreram confrontos generalizados. 

Em 16 de novembro de 1904, o presidente Rodrigues Alves revoga a lei da vacinação obrigatória, colocando nas ruas o exército, a marinha e a polícia para acabar com os tumultos. Cerca de 110 feridos e 30 pessoas mortas. A ação policial resultou na prisão de 945 pessoas, das quais 461 foram deportadas para o Acre.


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