sábado, 30 de agosto de 2008

Quarto dia de Seminário

No último dia de seminário eu fui assistir à mesa redonda sobre os 120 anos da abolição. Confesso que eu tinha me esquecido completamente da data. Aliás, foi o que chamou a atenção de todos a palestrante e ex-ministra da Igualdade Racial Matilde Ribeiro, que iniciou a mesa falando sobre as políticas de igualdade social e racial no Brasil. Senti falta de inserção do gênero nos tópicos apresentados por ela, mas os 120 anos da abolição foram bem explorados.

Em seguida veio a fala de Giselda Melo, da UEL, que atua na área de literatura e teoria literária. A pesquisadora está trabalhando com antologias de escritoras afro-brasileiras e com confecção de material didático sobre estudos africanos, voltado para escolas de ensino regular.

A terceira, e confesso que a que mais me agradou, foi de Jurema Werneck, que trabalha mulheres negras na cultura brasileira. No caso, ela estuda a trajetória de mulheres sambistas. Apresentou três casos: Alcione, Leci Brandão e Jovelina Perola Negra. Ela as considera Ialodês (representante das mulheres, algumas mulheres emblemáticas, lideranças políticas femininas. aquela fala por todas as mulheres e participa das instâncias do poder.

Adorei uma frase que ele disse, com um tom de humor: "Na neutralidade científica, a gente pesquisa o que gosta".

A tarde eu fui para meu simpósio - consequi entrar desta vez - onde o tema do dia foi a violência e o mundo infanto -juvenil. Todas as falas foram ótimas, com destaque para uma pesquisadora (cujo nome me falha agora) que tratou da questão da violência física no início do século XX. No geral, foi um dia muito produtivo pena que foi o último.


sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Fazendo Gênero: terceiro dia

Dia 27 de agosto de 2008.

Assisti à mesa redonda Corpo Violência e Discurso. Foi, no mínimo, inusitada. Desde 1995, quando fui à ANPUH Nacional de Recife, quando assisti a uma mesa com Luis Mott, não tinha tido oportunidade de ouvir conferências sobre homossexualismo e história. Chamou-se a atenção a palestra do prof. Durval Muniz de Alburqueque Jr, sobre escritor, poeta e dramaturgo Reinaldo Arenas, perseguido pela ditadura cubana, tanto pelas suas idéias quanto pela sua opção sexual.

Reinaldo Arenas era assumidamente homossexual e passou grande parte da sua vida combatendo o regime comunista e a política de Fidel Castro. Apesar de ter apoiado a revolução cubana nos seus primeiros anos, devido à extrema miséria em que vivia com a sua família nos anos de Fulgêncio Batista, acabou por ser vítima de censura e de repressão, tendo sido várias vezes perseguido, preso e torturado e forçado a abandonar mesmo diversos trabalhos (como conta na obra autobiográfica Antes que anoiteça), mostrando que o governo de Fidel Castro não havia trazido mais democracia à ilha.

Durante a década de 1970, tentou, por vário meios, abandonar a ilha, mas não obteve sucesso. Mais tarde, devido a uma autorização de saída de todos os homossexuais e de outras persona non grata e depois de ter mudado de nome, Arenas pôde deixar o país e passou a se estabelecer em New York, onde diagnosticaram o vírus da Aids. Nessa época, escreveu "Antes que anoiteça" (no original "Antes que anochezca"). Em 1990, terminada a obra, Arenas suicidou com uma dose excessiva de álcool e droga.

Na mesma mesa, estava a pesquisadora argentina Adriana Maria Valobra, que tratou da questão do corpo e da sexualidade nas escolas. Adorei. As experiências dela quanto pesquisadora e suas aflições em relação ao tema me vez refletir sobre minha própria realidade, como professora. Aceitar e entender as diferenças é um processo muito difícil, mas necessário para se construir uma escola e uma sociedade mais justa.

Por fim, houve a fala do sociólogo Richard Miskolci (UFSCa), que coordena o grupo de pesquisa Corpo, Identidade Social e Estética da Existência e orienta estudos que exploram intersecções dos marcadores sociais das diferenças (classe, gênero, raça e sexualidade) por meio de produtos culturais. Seu tema também foi a questão do homossexualismo. Leia um texto de Miskolci sobre o tema, clicando aqui.

Para minha tristeza, tive um probleminha de estômago na hora do almoço e me atrasei para o simpósio temático do qual estava participando e acabei ficando fora. Aliás, esta é minha única reclamação: uma professora da pedagogia levou todos os alunos para assistir o simpósio (sem terem feito/pago inscrição) e pessoas que estavam participando não puderam entrar, porque a sala estava cheia. Foi o meu caso e de outras pessoas.

Para não perder a minha tarde por completo, visitei as exposições de fotos e de porters, que estavam espalhadas pelo campus. Aliás, encontrei posters muito bons e que irão gerar ótimos trabalhos, futuramente.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Minha apresentação no Seminário Fazendo Gênero 8

Fiz minha apresentação ontem, no simpósio temático O UNIVERSO INFANTO JUVENIL: GÊNERO, PODER E VIOLÊNCIA. Segue a introdução do meu trabalho, cuja versão integral está disponível nos anais do evento.

REPRESENTAÇÕES FEMININAS NAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS:
DA FICÇÃO À REALIDADE
Natania A. S. Nogueira[i]

Introdução

Um meio de comunicação em massa que está presente entre nós há mais de um século, as histórias em quadrinhos têm uma proposta democrática e se propõe a tingir públicos diferenciados, econômica e socialmente. Ao trabalhar com texto e imagem, os quadrinhos (ou HQs), podem ser entendidas por todos os tipos de leitores, independentemente de sua faixa etária, grupo sócio-econômico ou origem étnica. Esta virtude torna este tipo de leitura um espaço privilegiado de representações sociais. Dos cenários aos enredos, passando pelos personagens, tudo nas histórias em quadrinhos pode ser visto como uma apropriação imaginativa de conceitos, valores e elementos que foram, são ou podem vir a ser aceitos como reais.[ii]

Nas linhas que se seguem iremos analisar os quadrinhos norte-americanos, produzidos nas décadas de 1950-1960 e publicados no Brasil na década de 1960, pela Editora Brasil América (EBAL), uma das mais importantes editoras de quadrinhos do Brasil. Nestes quadrinhos iremos tentar entender como se construíam os papéis e gênero, cujo conceito para Scott significa,

(...) saber a respeito das diferenças sexuais. Uso saber, seguindo Michel Foucault, com o significado de compreensão produzida pelas culturas e sociedades sobre as relações humanas, no caso, relações entre homens e mulheres. Tal saber não é absoluto ou verdadeiro, mas sempre relativo. (...) O saber não se relaciona apenas a idéias, mas a instituições e estruturas, práticas cotidianas e rituais específicos, já que todos constituem relações sociais. O saber é um modo de ordenar o mundo e, como tal, não antecede a organização social, mas é inseparável dela.[iii]

Desde que surgiram, as histórias em quadrinhos se adaptaram e se integraram ao contexto histórico no qual estavam inseridas, sendo que os personagens e os enredos se tornam expressões dos anseios, valores, preconceito e mesmo das frustrações de seus criadores, eles mesmo produtos de sua época. Nos quadrinhos estão as representações do real, ou daquilo em que se deseja transformar a realidade.

“Protegidos pela tinta e pelo papel, os personagens das histórias em quadrinhos materializam representações que são constantemente retomadas, reatualizadas e normatizadas sob a forma de um simples exercício de leitura; do jogo lúdico entre palavra e imagem, que aparentemente desvinculado do mundo real, retoma, recria e fundamenta modelos e saberes.” (23)[iv]

O mundo das histórias em quadrinhos (HQs) norte-americanas é um mundo de supremacia masculina. Mesmo as personagens femininas sofreram nos quadrinhos de super-heróis. Por anos, elas foram quase que sempre retratadas ora como mocinhas indefesas que precisavam de heróis para salvá-las, ora como vilãs sem moral, que provocam os heróis virtuosos. Nos dois casos, elas sempre saem perdendo, seja pela dependência que desenvolvem em relação ao homem, seja por suas ações imorais, suas roupas decotadas, sua falta de pudor ao desfilar sua feminilidade – ou pelo menos aquilo que os autores transformaram em feminilidade.

Mas, mesmo precisando dos homens, as mulheres dos quadrinhos foram aos poucos ganhando sua autonomia, conquistando seu espaço. Dois exemplos são Diana Palmer, esposa do Fantasma, e Lois Lane, eterna namorada do Superman. Elas são mulheres decididas e arrojadas, que quando surgiram (entre as décadas de 30 e 40) apresentavam uma independência e determinação incomuns para a época. Diana era uma voluntária da ONU, quase uma diplomata, que viajava o mundo tentando corrigir injustiças. Já Lois Lane era uma repórter que se metia em diversas encrencas para que os seus leitores pudessem saber a verdade.[v]

Heroínas sem super-poderes, sempre dispostas a encarar o perigo, mas sempre esperando serem salvas pelos verdadeiros heróis, as mulheres dos quadrinhos assumiram modelos diversos, que foram se modificando à medida em que as mulheres reais iam conquistando seu espaço na sociedade. De simples heroínas românticas, elas ganharam poderes. No entanto, o poder maior, de se igualar aos homens nos quadrinhos, ainda está para ser conquistado.

[i] E-mail: nogueira.natania@gmail.com
[ii] BARCELLOS, Janice Primo O feminino nas histórias em quadrinhos. Parte I: A mulher pelos olhos dos homens. Disponível em http://www.eca.usp.br/agaque/agaque/ano2/numero4/artigosn4_1v2.htm, acesso em 18/05/2008
[iii] SCOTT, Joan Wallach. Prefácio a Gender and Politics of History. Cadernos Pagu (3) 1994, p. 12.
[iv] OLIVEIRA, Selma Regina Nunes. Mulher ao Quadrado - as representações femininas nos quadrinhos norte-americanos: permanências e ressonâncias (1895-1990). – Brasília: Editora Universidade de Brasília: Finatec, 2007, 23
[v] DOMINGUES, Guilherme Kroll. Mulheres nos Quadrinhos. Disponível em: http://www.homemnerd.com/coluna.php?sessao=COM&id=0, acesso em 23/03/2008

Fazendo Gênero: segundo dia

No Seminário Internacional Fazendo Gênero estão sendo apresentados mais de 2400 trabalhos. Tentar assistir a todos é impossível. Resta, então, tentar selecionar algumas mesas e simpósios e aproveitar o máximo possível.

Dia 26 de agosto de 2008

Mesa redonda: Gênero e educação
Muito boa. Nesta mesa eu assisti a duas apresentações, pois tinha interesse, também, em outra mesa redonda que estava acontecendo em outro prédio (como eu disse são muitas apresentações). Voltado à mesa, nela foi focada a questão das relações de gênero na escola.

A primeira apresentação que assisti foi da pesquisadora da UNCAMP, Ana Lúcia Goulart de Faria. Para ela a escola comete uma violência contra a criança ao reproduzir o modelo de família nuclear (pai, mãe, filhos), como se fosse o único, o ideal para a sociedade. Ela afirma que há muitos tipos de família e todos são legítimos, sendo, portanto, uma questão de respeito saber reconhecer todas as formas privadas de organização familiar.

Relata uma experiência realizada em uma escola italiana, com alunos entre 5 e 6 anos de idade. Estes alunos fizeram uma “pedinovela”, uma espécie de fotonovela onde os protagonistas são os pés das crianças. Na pedinovela, as crianças falam sobre o início e o fim de uma família, descrevendo uma crise conjugal, sob seu olhar infantil e atento. A novela termina com a conclusão de que é melhor separar do que viver junto sempre brigando. Experiência muito interessante, pois dá voz às crianças.

A segunda apresentação foi feita pela pesquisadora da FURG, Paula Regina Costa Ribeiro. Ela trabalha dentro da linha de Estudos Culturais. Ela faz uma análise sobre o estudo da sexualidade nas escolas e assinala que este estudo sempre foca os órgãos reprodutores, que nunca são caracterizados como órgãos de prazer, mas apenas como uma parte qualquer do corpo. Faz um balanço das pesquisas que estão em andamento no seu núcleo:
- mulheres nas ciências
- blogs, orkut e sites (tecnologias da informação), focando questões referentes à sexualidade.

Afirma que os artefatos e pedagogias sociais usam as mídias para veicular idéias equivocadas sobre a relação entre gêneros. Acha que o debate sobre a sexualidade deve estar presente nas escolas e na legislação que a ampara.

A segunda mesa que assisti foi a mesa Memórias do Feminino. Nela eu tive o prazer que assistir a apresentação a Dra. Heleieth Saffiot (PUC/SP), que fez um resumo da sua trajetória acadêmica, iniciada no ano de 1962. Feminista e marxista, a professora afirma que sobreviveu à ditadura graças às contradições. Começou sua vida acadêmica estudando mulheres que trabalhavam fora de casa, notadamente professoras e operárias da industria têxtil.

Sua pesquisa foi inovadora, pois envolveu, também, os maridos destas mulheres. Trabalhou com Florestan Fernandes, que foi seu orientador. Venceu as barreiras sociais impostas às mulheres no meio acadêmico. Tem pavor à frase: “Gênero é socialmente construído”, ela considera esta frase um pleonasmo. Também não gosta de ações protecinistas/assistencialistas do Estado em relação às mulheres, pois “quem protege sempre pede algo em troca”

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Fazendo Gênero 8

Estou participando, esta semana, do Fazendo Gênero 8, um Seminário Internacional, que vai até o dia 28 de Agosto. A cada dia tentarei fazer no Blog um resumo sobre minha participação no evento. Hoje foi a abertura, que contou com a participação da Ministra da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, Nilcéa Freire. A fala da ministra foi muito interessante e motivadora, pois ela anunciou a abertura de um edital de pesquisa para ainda esta semana, cujo orçamento alcançou o teto de 5 milhões. Uma oportunidade para pesquisadoras e estudantes de pós-graduação que se dedicam ao tema.


Houve, também, uma homenagem especial a uma educadora de Santa Catarina, prof. Êgle Malheiros, que foi muito emocionante. O evento começou oficialmente com a conferência da pesquisadora argentina Dr. Maria Luísa Femenías, com o tema Corpo, poder e Violênia - o tema geral do seminário deste ano. Em seguida houve um lançamento coletivo de mais de 40 obras, ligadas aos estudos de gênero. Amanhã eu farei a apresentação da minha comunicação e darei mais detalhes sobre o Seminário.

domingo, 10 de agosto de 2008

Piacatuba: 3º Festival de Gastronomia e Cultura de Piacatuba


Hoje, dia dos pais, fiz um programa bem diferente: levei meu pai ao 3º Festival de Gastronomia e Cultura de Piacatuba, que começou na quarta-feira passada, dia 06 de Agosto. A pequena cidade de Piacatuba se tornou um restaurante ao ar livre, como pratos regionais e de cozinha internacional. As garagens, varandas e quintais receberam nestes últimos dias milhares de pessoas, dispostas a degustar os mais variados pratos e de apreciar o artesanato regional.

Juntamente com o Festival de Gastronomia ocorreu, também, o 6º Festviola, que contou com a participação de violeiros de várias partes do Brasil. Estes dois eventos contam com o apoio da Energisa (antiga Companhia Força e Luz Cataguases Leopoldina) e da Lei Estadual de Incentivo a Cultura. Eu não pude assistir às apresentações dos violeiros, mas fui almoçar em um dos restaurantes. Tudo muito aconchegante e um atendimento maravilhoso. Eu e meu pai comemos Picanha na Brasa ao Molho Chutney. Aprovadíssimo (e olhem que meu pai é um dos mais severos críticos culinários que eu conheço)!

Dentre os pratos que estavam sendo oferecidos nos restaurantes da cidade, estavam: Costela Autraliana ao Molho Barbecue, Tournedos ao Molho Gorgonzola, Leitoa à Pururuca com Feijão Tropeiro, Cordeiro Marroquino, Lombo com Tutu À Mineira, dentro tantos outros. Além dos restaurantes há, também, pequenos "cafés" que oferecem salgados, tortas, doces dentre os quais estava o "Bombom de cachaça", uma tentação em tempos de lei seca. Enfim, muito bom. Pena que não pude ir todos os dias. Seguem algumas fotos que fiz hoje pela manhã, quando os restaurantes estavam abrindo.

Um detalhe interessante: toda vez que vou a Piacatuba eu consigo encontrar uma casinha diferente para fotografar. Desta vez eu me encantei com uma que é toda coberta por hera.

sábado, 9 de agosto de 2008

Vida de Aleijadinho em quadrinhos e outras dicas

Ontem eu comprei na banca uma revista em quadrinhos (HQ) da Turma da Mônica Você Sabia? Aleijadinho, da Editora Globo (atualmente a Mônica está na editora Panini). É um daqueles encalhes que eles de vez em quando colocam nas bancas a um precinho bem barato (1,99). Pois bem, foi uma grata surpresa. Trata-se de um material altamente indicado para trabalhar nas salas de aula com alunos (entre 9 e 12 anos). A HQ é uma biografia em quadrinhos, voltada para crianças, mas que pode ser usada para elaborar questões para alunos até o 9º ano. Foi uma idéia muito feliz do Maurício de Sousa. Material indicadíssimo para trabalhos escolares. Ele conta a história do grande artista Barroco, Antônio Francisco Lisboa.

A revista possuí também atividades muito interessantes, além de falar das obras de Aleijadinho e trazer curiosidades. Ótimo para estudar história de Minas e período minerador. Eu recomendo. Estas revistas da série Voce Sabia? trazem muito material de história. Eu tenho muitas. Há outras, neste estilo biografia para crianças, como a que conta a história de Oswaldo Cruz e de Santos Dumond. Estas revistas vem com um selo que diz que são educativas e recomendadas para trabalhos escolares. Eu gostei realmente muito desta última que comprei, é para mim a melhor de todas.

Ah, neste meu garimpo na banca, encontrei um DVD especial lançado pela Globo News, com as reportagens sobre os 200 anos da chegada da família real no Brasil. É um encarte da revista Caras. É outra boa surpresa, pois estou preparando um material para falar sobre o tema, com o 8º ano. Já tenho a HQ Dom João Carioca, além de algumas edições especiais lançadas este ano sobre o tema. Sobre este material em quadrinhos eu fiz duas postagens no Blog da Gibiteca. Caso seja do interesse de alguém, é só clicar aqui e aqui.