segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

PROFESSOR(A) TAMBÉM PODE VIAJAR PARA A EUROPA

Coimbra, Portugal 2019.

Desde 2016 eu passei a visitar anualmente a Europa. É um luxo que eu me dou depois de um ano inteiro de trabalho: minhas férias são na Europa. E a coisa que eu mais escuto das pessoas é elas relacionarem minhas férias ao meu poder aquisitivo. Você é rica!

Até ouvi certa vez uma pessoa dizer que eu era um “mal exemplo” para a minha categoria. Imagino que, para essa pessoa em particular, uma professora de educação básica não possa  fazer uma viagem ao exterior porque ganha um salário inferior ao de brasileiros de classe média alta.

Pois bem, posso não pertencer à classe média alta mas também não estou na classe C, o que me permite, uma vez ao ano me dar ao luxo de sair de férias no lugar que meu dinheiro permitir. Para isso eu poupo durante o ano, calculo as despesas que terei durante a viagem e busco me organizar da melhor forma possível. Foi assim que descobri que a Europa não é um destino tão caro quanto muitas pessoas pensam e que, se comparado a alguns lugares no Brasil, fica bem mais em conta. Pra dizer a verdade, a cada ano gasto menos dinheiro, sem me privar de nada.
 
Em Oslo, Noruega, 2019.
Busco, por exemplo, lugares com preço aprazível para fazer minhas refeições. Procuro restaurantes populares ou intermediários.  Em Coimbra, recentemente, paguei cerca de 7 euros para comer bacalhau ao Brás e incluso a este valor estava meia jarra de vinho, uma cesta de pães, sopa, o café e a sobremesa. Restaurantes sempre oferecem o prato do dia com um preço melhor e sem deixar de servir bem. Quando a programação é mais intensa eu me satisfaço com um bom sanduíche ou com uma salada pronta. Na Europa as pessoas comem seu lanche tranquilamente num banco de praça, sem nenhum constrangimento. 

No que diz respeito à hospedagem, nunca fiquei em hostels, geralmente fico em hotéis, pois eu viajo sozinha e gosto de ter privacidade no meu quarto nos momentos de descanso. Este ano tive minha primeira experiência hospedando-me no Albergue da Juventude, em Paris, com mais dois amigos. Fiquei encantada! O lugar é muito confortável, os quartos modernos e limpos, com banheiro privado e com café da manhã. Sem falar na localização privilegiada: mais ou menos uma quadra da Champs Elysses, no coração de Paris. Tudo isso por 36 euros a diária, uma pechincha! Clique aqui para conferir!

Em Örebro, na Suécia.
No geral, eu busco por promoções e estabeleço um teto de gastos por hospedagem. Já fiquei em hotéis 2 estrelas a 4 estrelas. Não faço muito questão de luxo, pois fico pouco tempo no quarto. Basta-me que seja limpo, aconchegante e tenha um banheiro. Na Europa há a opção dos banheiros compartilhados, não gosto. Outra coisa é o café da manhã. Há uma diferença muito grande de país para pais. Muitos hotéis oferecem o café da manhã a parte (não está incluso na reserva do quarto), e geralmente é o chamado café continental, no qual há um tipo de pão, manteiga, uma geleia, café, leite, chocolate ou suco. 

Dependendo de quanto o hotel cobra por este café básico vale mais a pena ir a uma padaria (e em Portugal e Paris, por exemplo, elas abundam) e tomar um café da manhã mais reforçado, que nem chega a 3 euros em muitos casos. Os melhores cafés da manhã que tomei na Europa foram em Roma e em Estocolmo, mas eram também hotéis de melhor qualidade.

Com relação ao transporte, eu costumo procurar os melhores preços. Minhas passagens ficaram entre 2.500 e 3.200 reais, eu começo a pagar cerca de seis meses antes. Eu normalmente fujo para o inverno europeu, pois não gosto do verão brasileiro. Mas se eu quisesse ir em uma estação mais quente também poderia encontrar preços bons. É apenas uma questão de paciência. Nas últimas viagens eu usei o Skyscanner para pesquisar os melhores preços. Também pesquiso as passagens de trem. Chego com tudo pago e não tenho basicamente despesas com transporte, exceto o transporte urbano, como metrô, ônibus e taxi.
Em Angoulême, na França, 2019.

Calculado o que vou gastar com transporte, hospedagem e alimentação eu começo a reservar o dinheiro para as compras e passeios. Não me considero consumista, mas gosto de fazer compras em janeiro na Europa e, diga-se de passagem, renovo meu guarda-roupa para o ano todo. Isso porque janeiro é o mês das liquidações. Roupas de verão, inverno e meia estação. Este ano, comprei blusas e camisetas por 2 euros cada! E não apenas isso sapatos, cremes, bolsas, perfumes e maquiagens de boa qualidade, quase tudo pode ser encontrado com excelentes preços.

Aconselho, inclusive, ir com o mínimo de bagagem, porque é quase impossível não cair na tentação de comprar alguma coisa. Além disso, alguns lugares oferecem descontos de acordo com a quantidade de produtos adquiridos. Já tive uma amiga que, aproveitando esses descontos,reduziu o preço de um produto de 70 para 5 euros, aproveitando essas promoções.

Em Paris, às margens do Sena
com o Louvre ao fundo.
E além das compras, temos os passeios. Adoro conhecer pontos turísticos, visitar museus e galerias, mas gosto, principalmente, de andar pelas ruas das cidades e tirar muitas fotografias. A Europa tem uma arquitetura que é muito distinta da nossa e eu gosto de apreciá-la, desde os palácios majestosos até as ruínas e os grafites nas paredes de edifícios. A forma como a cidade ou a aldeia se organiza urbanisticamente lhe confere identidade. Embora nem tudo possa ser preservado percebe-se um esforço do europeu em conjugar o moderno e o antigo, buscando uma harmonia entre ambos.

Enfim, para uma professora do interior viajar para a Europa é apenas é uma questão de planejamento. Os hotéis, as passagens e os gastos com alimentação, resolvido isso, o resto vem de bônus. E, acreditem, foi planejando viagens que eu antes achava que não conseguiria fazer que, depois dos 40 anos, aprendi a poupar e a me organizar financeiramente e a ter minha poupança.


segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

VISITANDO A CASA DA ESCRITA EM COIMBRA

Eu tenho a mania de andar despreocupadamente pelas ruas das cidades as quais visito a turismo. Pego um mapa, marco os lugares que desejo conhecer e tomo meu rumo. O problema é que nem sempre eu sigo o mapa. Costumo tomar atalhos, que normalmente me fazem andar mais do que o necessário. 

Mas é fazendo isso que eu conheço aqueles recantos que o mapa não mostra. Paisagens lindas que se transformam em belas fotografias, becos e ruas charmosas que a maioria dos turistas não veem. Acabo encontrado lugares que me são realmente atrativos.

Recentemente, enquanto tentava chegar à parte mais alta da cidade para conhecer a Universidade de Coimbra, eu achei um espaço cultural mantido pela municipalidade dedicado ao ato de escrever: A Casa da Escrita.

Sala  para cursos, palestras e oficinas.
O espaço é descrito como um "arquivo aberto, que permite aos frequentadores visitarem as rotas da criação da escrita através dos textos que se vão produzindo na própria Casa." Instalada em uma casa charmosa de três andares, com um lindo jardim interno, localizada na parte alta de Coimbra, a Casa da Escrita pertenceu a família do poeta e ensaísta João José Cochofel, um dos representantes do Neo-Realismo português.

João José de Mello Cochofel Aires de Campos, nasceu na cidade de Coimbra em 1920. Licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas, pela Universidade de Coimbra e foi um dos organizadores da coleção de poesia do Novo Cancioneiro em 1941. Participou da fundação de várias revistas e foi colaborador de outras, das quais podemos citar  AltitudeCadernos do Meio-DiaVérticePresençaSeara Nova, Gazeta Musical e de Todas as Artes. Atuou como poeta e  crítico literário e musical, tenho sido diretor da Academia dos Amadores de Música de Lisboa e da Sociedade Portuguesa de Escritores. Morreu em 1982, deixando incompleto o Grande Dicionário da Literatura Portuguesa e de Teoria Literária, obra que começou a ser publicada em 1971. 
Sótão da Casa da Escrita, onde fica uma pequena biblioteca/arquivo
A Casa da Escrita e sua história têm tudo a ver com aquilo para o qual se propõe. Lá ocorrem regularmente lançamentos de livros, palestras, oficinas de escrita, exibição de filmes, etc, sendo um espaço de criação literária, produção cultural, livre pensamento e debate de ideias

Lugar simpático e aconchegante que me fez sentir vontade de ter algo parecido em Leopoldina. Quem sabe, talvez um dia, a Academia de Letras e Artes de Leopoldina não possa ter sua “Casa da Escrita”, como sede da organização. Já temos uma casa da leitura e uma biblioteca municipal, mas nos falta pensar na questão da escrita em si. Formar leitores e escritores. Pessoas que saibam se expressar bem não apenas pela palavra dita mas também pela palavra escrita.


Fontes de apoio:
Biografia de João José Cachofel. Disponível em: . Acesso em 13 jan. 2019.
Casa da Escrita.Disponível em: . Acesso em 13 jan. 2019.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

NO CINEMA, ASSISTINDO BUMBLEBEE

Na primeira semana de janeiro eu fui ao cinema e assisti ao filme Bumblebee, da franquia de Transformers. Normalmente não seria um filme que me levaria ao cinema. Mas a crítica havia sido muito generosa com a produção e com o desempenho dos atores, resolvi então arriscar. Bumblebee é um filme ambientado nos anos de 1980. A direção ficou a cargo de Travis Knight, que até então só havia se destacado por filmes de animação, tendo algumas indicações para o Oscar no currículo.

Bumblebee é um filme de ação mas é, também, um filme sobre relacionamentos afetivos e sobre família. O foco desta vez não está na luta entre bem e mal ou nos efeitos especiais que mostram robôs gigantescos lutando tão rápido que nem se consegue visualizar seus movimentos. O filme apresenta como protagonistas duas pessoas "quebradas": a jovem Charlie, que não consegue superar a morte do pai e que se isola da família, sempre mergulhada em uma grande tristeza, e Bumblebee, avariado quando chega a Terra, sem memória e sozinho. 

O roteiro é simples de entender: Charlie encontra Bumblebee e devolve a ele seu propósito; o robô, por sua vez, retira a menina do seu mundo triste e depressivo e a ajuda a se reconectar com a família. Acreditem, há momentos realmente dramáticos neste filme da franquia Transformers. 

Sem tirar o mérito do diretor, acredito que o sucesso do filme  deve ser creditado a duas mulheres: a protagonista Hailee Steinfeld, que interpreta Charlie, e a roteirista Christina Hodson, que usando uma narrativa simples, mas de grande sensibilidade, deu uma nova roupagem a um filme que poderia ser outro longa superficial de robôs lutando entre si. 

Aliás, a quantidade de Transformers no filme foi um elemento que fez diferença. Fora algumas passagens em que Optimus Prime apareceu, o longa só teve três Transformers em atuação constante: Bumblebee e dois Decepticons, o que foi mais do que suficiente.

Sem me estender muito, gostaria de finalizar dizendo que Bumblebee tem um ar de nostalgia, ao retratar os anos de 1980. Ele me fez lembrar os filmes daquela época, que ainda não abusavam dos efeitos especiais. Aliás, esse é outro mérito do filme: ele foca nos personagens e suas relações com sensibilidade e humor, e não nos efeitos especiais, que estão lá, são bons, mas que não são, desta vez, o suporte da produção.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

A DEMONIZAÇÃO DO MAGISTÉRIO


Nós últimos dias eu tenho lido e escutado opiniões assustadoras sobre o magistério e os profissionais da educação, seja por membros do governo ou por apoiadores. Eu fico assustada porque não me encaixo no perfil que eles traçam dos professores brasileiros. Aliás, se o profissional do ensino que vem sendo descrito, esse monstro sem ética e sem caráter que impõe aos alunos sua forma de pensar, dominasse o cenário educacional eu seria a primeira a denunciar.

Mas justiça seja feita, se o clamor dos últimos meses e os ânimos ainda acirrados pelo pleito eleitoral estão fazendo com que as pessoas se exaltem nas suas opiniões, a verdade é que não é de hoje que a imagem do profissional do ensino vem sendo atacada no Brasil. Não foi o atual governo que começou a denigrir o magistério, nem acho que com ele virá a solução para isso.

Em novembro de 2018 o resultado de uma pesquisa  realizada em 35 países revelou que o  desempenho dos alunos está ligado à forma como a sociedade vê e remunera seus professores. O Brasil ficou em último lugar. Não chegamos a este ponto apenas de um dia para  outro. Ser professor no Brasil não é exatamente a profissão almejada pela maioria dos jovens e nem todos os professores querem realmente estar na sala de aula.

Em 28 anos trabalhando como professora eu conheci bons e maus profissionais. Dei meus tropeços e acho que aprendi com a maioria deles. Já me deparei com situações de todo o tipo, nas quais pude ter a experiência de contar com o apoio de bons profissionais e também de ser desestimulada por profissionais ruins. Deixe-me falar aqui um pouco sobre isso.

No ano de 2006 eu me exonerei do meu cargo de professora do Estado, em uma escola de referência. Na época eu tinha 15 anos de magistério. A razão que me levou a isso foi um episódio envolvendo um colega de trabalho. Durante uma reunião, eu dei  uma sugestão sobre um projeto (que implantei em outra escola no ano seguinte). Um professor socou mesa e gritou as seguintes palavras: - Se você quer mais serviço, arrume um marido e um tanque para lavar roupas!

Nunca esqueci essas palavras e o fato de que ninguém, nem a diretora me defendeu. Eu literalmente adoeci e, por conta disso, perdi a vontade de trabalhar para o Estado. O ambiente de trabalho daquela escola em particular também não ajudou. Daí, eu exonerei.

Mas não abandonei o magistério, continuei na minha outra escola, onde permaneço até hoje. De lá tenho um testemunho diferente. É uma escola de periferia, que atende a uma população mais carente do que as outras nas quais eu trabalhei. Muitos dos nossos alunos e alunas estão constantemente em risco, seja pela falta de recursos ou pelo próprio ambiente que vivem. Já tive alunos com todo o tipo de problemas e de lá eu tirei as maiores lições de toda a minha vida.

Aprendi a me doar e a ser sensível ao sofrimento alheio. Eu me tornei uma pessoa melhor e, acredito, uma profissional melhor. Trabalho muito, mas recebo e dou carinho na mesma medida. Eu testemunhei a mudança de alunos que não tinham perspectivas de futuro conseguirem vencer os desafios da vida. Vi professores, diretores e especialistas amparando famílias, tanto materialmente quando psicologicamente. Eu sei de alunos que hoje são pessoas com uma profissão e uma família que, se não fosse a escola e os professores, estariam ou mortos ou na sarjeta. Perdemos alguns, mas salvamos muitos.

E sempre tivemos uma boa relação com os órgãos de segurança pública. Ao fazermos nosso trabalho na escola estamos ajudando, por exemplo, a polícia militar a fazer o dela. Quem está na escola, está longe da vida do crime. Claro, não podemos ajudar a todos, mas cada um que segue em frente é uma pequena conquista.

Existem bons e maus profissionais, seja no magistério ou em outras funções. Mas a escola ainda é um suporte fundamental para a sociedade e o professor uma peça indispensável para a formação de nossos jovens. Toda essa demonização baseia-se num processo antigo de desqualificação do professor, a partir do exemplo de péssimos profissionais e da ausência de políticas realmente comprometidas com a valorização do magistério. 

Eu acredito que investir em formação, valorização e ética é o que precisamos. Perseguir toda uma classe profissional tendo em vista uma minoria ou uma visão limitada do que é o dia a dia de uma escola só faz justificar o atraso do Brasil em relação a outras nações. Acho que é necessário largar de lado todo o preconceito e as informações deturpadas que chegam todos os dias, e muitas delas nem são verdadeiras, e refletir seriamente sobre o futuro que queremos para nosso país e papel que a escola tem na sua construção.