sexta-feira, 27 de abril de 2018

ARTIGO SOBRE HUMOR E RESISTÊNCIA DURANTE A DITADURA MILITAR


Semana curta, mas produtiva. Tive um artigo aceito para publicação na revista Pesquisa & Educação a Distância, da Universidade Salgado de Oliveira. O artigo é sobre O Pasquim e a resistência através do humor, durante a Ditadura Militar no Brasil. Eu cheguei a apresentar meu trabalho durante um congresso, mas ele não havia sido publicado. Agora apareceu a oportunidade. 

Veja o resumo e, se interessar, clique aqui para ler o texto completo, em pdf

O Pasquim e o papel do humor na resistência contra a Ditadura Militar
O presente trabalho busca analisar o humor gráfico como instrumento de resistência durante a ditadura militar no Brasil a partir de O Pasquim, periódico que circulou durante duas décadas e que nasceu sob a égide do AI-5, no ano de 1969. A partir do humor irreverente, O Pasquim conquistou público e driblou a censura imposta pela ditadura a todos os meios de comunicação. Esse periódico acabou se transformando em um modelo de jornalismo alternativo que iria ser imitado por outros periódicos. O humor como forma de resistência o nosso objeto de estudo no presente texto. Entendemos como resistência um como um processo sociocultural, conforme,definiu Pierre Laborie, uma tomada de consciência acerca de determinada situação que pode levar a ações subversivas contra o elemento opressor. A partir da análise de charges e cartuns publicados no Pasquim, desejamos demonstrar a importância dos cartunistas e da impressa alternativa em combater as imposições do regime militar. Ao mesmo tempo, o Pasquim buscava levar informações ao grande público, chamando a atenção para os abusos do regime e, desta forma, tentar promover a conscientização política que, de outra maneira, não seria possível. O humor foi apropriado e transformado, portanto, num instrumento de resistência que não pôde ser calado durante os anos da ditadura militar no Brasil.

A PRINCESA LEOPOLDINA ESTEVE REALMENTE EM LEOPOLDINA (MG)?

Princesa Dona Leopoldina (1864)
Fonte. Wikepédia
Esta semana eu fui convidada para fazer uma  pequena apresentação para os alunos do 2º ano do ensino fundamental sobre a História de Leopoldina (MG), afinal, estamos comemorando os 164 anos de emancipação do nosso município. 

Uma das perguntas que as crianças sempre fazem é se a Princesa  Dona Leopoldina Teresa Francisca Carolina Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bragança e Bourbon (1847-1871), filha caçula do Imperador D. Pedro II (neta da Imperatriz Carolina Josefa Leopoldina Francisca Fernanda de Habsburgo-Lorena, no Brasil Maria Leopoldina, a primeira esposa do imperador D. Pedro I e mãe de D. Pedro II), esteve em Leopoldina. 

A resposta para essa pergunta é não. 

Após a apresentação, uma mãe questionou isso novamente com uma das professoras, afirmando que a princesa veio sim, acompanhada de D. Pedro II, e que há fontes que comprovam isso. Chegou até a citar um memorialista famoso, que escreveu sobre a nossa cidade, para reforçar seus argumentos. Como eu tenho o livro, fui conferir e não encontrei nada. Assim como nunca esbarrei com nenhuma fonte bibliográfica ou documental que faça alusão a isso. 

Este tipo de situação acontece com frequência comigo e acredito que com professores do Ensino Fundamental, nos primeiros anos, mais anida. Resolvi apresentar, então, alguns fatos que vão ajudar os professores e professoras a responder a esta pergunta com facilidade e segurança.

No ano de 1854, por época da emancipação de Leopoldina (MG) e da elevação do arraial a vila, o novo município foi nomeado de Leopoldina para homenagear a princesinha, que naquela época tinha apenas sete anos de idade. Existe um história folclórica (passada de boca em boca) de que a princesa esteve aqui por época da emancipação e por isso o município levava seu nome.

Algo bem improvável, a começar por conta do acesso.  A ferrovia só começou a operar na nossa região em 1874. Até então a viagem da Corte (Rio de Janeiro) para Leopoldina (MG), era realizada de forma precária, por estrada. Além disso, qual seria a motivação para que Dom Pedro II submetesse sua filha caçula a uma longa viagem para uma localidade pouco conhecida e de povoamento recente? Eu não consigo encontrar nenhuma.

Por que da homenagem, então? A escolha do nome do município teve, provavelmente, motivações políticas. Nomear um recém criado município, no interior de Minas Gerais, com o nome da filha do Imperador dava à localidade  visibilidade na Corte, isso muito antes do município começar a se destacar com a produção de café. 

E aqui temos uma informação que talvez seja mais preciosa para os professores de Leopoldina. A Princesa Leopoldina, dez anos depois,  casou-se no dia 15 de dezembro de 1864 com Luís Augusto Maria Eudes de Saxe-Coburgo-Gota, Duque de Saxe e Coburgo, tendo partido do Brasil para  viver com o marido na Áustria, onde veio a falecer ainda muito jovem, em 1871. 

Muitos leopoldinenses afirmam categoricamente que a Princesa Leopoldina teria visitado o nosso município em 1881, juntamente com seu pai, Dom Pedro II, algo improvável pois, como vimos, a princesa já havia falecido há mais de uma década. Quem acompanhou o Imperador na viagem que fez durante 36 dias pelo interior de Minas Gerais foi a Imperatriz Dona Tereza Cristina. Citanto o memorialista Barroso Junior:

"(...) no dia 30 de abril, Leopoldina marcava nos seus faustos a visita altamente desvanecedora das Suas Majestades Imperiais D. Pedro II e D. Cristina que em sua pequena comitiva, concluíram naquela cidade, sua longa peregrinação pela província de Minas."
JUNIOR, Barroso. Leopoldina e seus primórdios. Leopoldina, 1943, p. 51.

Situações assim, acredito eu, reforçam a necessidade de se ensinar e estudar História Local nas escolas. Os professores precisam estar informados e instruídos sobre o tema para que possam ter mais segurança ao discorrerem sobre ele. E quando digo isso não estou de forma alguma desqualificando o trabalho docente, mas chamando a atenção para o fato de que há necessidade de investir na formação, na produção de material didático e na atualização dos nossos profissionais. 

Afinal, não se pode exigir dos nossos professores e professoras  um conhecimento ao qual eles e elas não se têm o devido acesso.

*****
Para saber mais sobre a Princesa Leopoldina, clique aqui.

sábado, 7 de abril de 2018

AVENTURAS EM CASABLANCA

Mesquita Hassan II.
Encerro minhas postagens sobre minhas férias com Casablanca, Marrocos. Mas o que eu fui fazer em Casablanca, no noroeste da África? Acontece que, em busca de passagens mais baratas, eu experimentei viajar este ano pela Royal Air Maroc, com escala em Casablanca. No voo de ida a escala durou cerca de duas horas e meia, mas no retorno foram vinte e uma horas, o que permitiu que eu conhecesse um pouquinho de Casablanca. 

Vou começar falando da Royal Air Maroc. O preço das passagens foi bem mais baixo, comparado à outras companhias. A companhia foi pontual, não posso reclamar. O atendimento em terra foi o melhor possível. Por exemplo, em Casablanca, na volta, eu cheguei e fui conduzida para um hotel, onde fiquei muito bem instalada, com direito a jantar de café da manhã por conta da companhia. 

Já a aeronave, deixou um pouco a desejar em dois sentido: os banheiros não são bons e meus sapatos pareciam estar grudando no chão. A tripulação, por outro lado, foi atenciosa. Não foi a melhor aeronave na qual voei, em termos de limpeza, mas foi um voo tranquilo e relativamente confortável. 

Mininécessaire de plástico com máscara para os olhos e meias que a empresa oferece aos passageiros da classe econômica.
Na classe econômica recebi um um cobertor, um travesseiro e uma mininécessaire de plástico com máscara para os olhos e meias. Gostei da mininécessaire, nunca tinha ganhado nada mais do que fones de ouvido e cobertores durante a viagem. Aliás, ganhamos fones, também, por sinal de ótima qualidade. As  refeições estavam muito boas, também, e havia bebidas a vontade, como vinho, café, chá e refrigerantes. Achei interessante que a sobremesa sempre vinha acompanhada de uma barra de chocolate. Eu guardei as minhas e ainda ganhei as dos meus colegas de viagem. 

Eu confesso que meu maior medo era em relação à minha bagagem. Casablanca não tem uma fama muito boa, sendo famosa pelos extravios. Mas correu tudo bem. E ainda posso dizer que foi a empresa que melhor cuidou da minha bagagem: minhas malas foram embaladas e chegaram sem um arranhão e com o conteúdo intacto, o que não posso falar de outras empresas aéreas: todo ano eu tenho uma mala quebrada ou rasgada quando viajo para a Europa. 

Com as amigas Ana Cristina e Hanna (ao fundo) numa loja que vende artigos típicos marroquinos no aeroporto de Casablanca, durante a primeira escala, indo para Portugal. 

Se me perguntarem se eu viajaria de novo pela Royal Air Maroc, eu diria que sim. Somando prós e contras, é uma companhia confiável. Mas deixo um alerta: apesar de eu não ter tido problemas no aeroporto, não aconselho muitos sorrisos com os funcionários, principalmente da imigração, e especialmente se você for mulher. Eu ouvi relatos de várias brasileiras que encontrei por lá que não foram nada animadores. A polícia de fronteira de Casablanca não é muito simpática com mulheres, principalmente as que viajam sozinhas. 

Sobre o aeroporto de Casablanca, uma coisa que me chamou a atenção é a diversidade étnica. Pessoas vestidas com trajes típicos, exóticos e lindos. Minha vontade era fotografar cada um, principalmente as mulheres, mas eu me contive, pois não sabia qual seria a reação dos fotografados. E eu não estava errada! Em Casablanca passamos por um incidente justamente porque uma colega de viagem brasileira achou que seria interessante fotografar um policial: vai por mim, NUNCA FAÇA ISSO.

Vista da janela do meu quarto de hotel, em Casablanca, onde fiquei hospedada por uma noite, cortesia da companhia aérea para os passageiros com longas escalas.

Outra coisa foram os preços dos produtos que eram todos em euro. Aliás, todas as transações que eu fiz foram em euro. A moeda oficial do país, o Dirrã marroquino, não é muito usada pelos estrangeiros. Nem vale a pena ir a uma loja de câmbio se você for fazer como eu e ficar apenas um dia. No entanto, se sua viagem for durar mais tempo, sempre é bom ter um pouco da moeda local em mãos. Se for esse o caso, o mais seguro é fazer o câmbio no aeroporto, pois lá eles não cobram taxa de serviço.

É surpreendente a quantidade de brasileiros que viaja via Marrocos para a Portugal e outros países africanos. No hotel eu encontrei brasileiros de todas as partes. Desisti de falar em francês, porque praticamente só se ouvia pessoas conversando em português. E não foi difícil fazer amizades e ter companhia para passear em Casablanca. 

Eu, Laís e Lívia (ou seria Lívia e Laís?)

Eu conheci, entre outras pessoas, duas gêmeas, Laís e Lívia, que estavam retornando de Portugal, depois de passarem uma temporada por lá, fazendo trabalho social com idosos. Não apenas elas, na viagem eu encontrei vários estudantes que passaram as férias se dedicando a ajudar os outros, em missões religiosas ou participando de programas humanitários. Espero que, voltando ao Brasil, eles continuem fazendo isso, pois Deus sabe quantos brasileiros precisam de quem lhes estenda a mão.

Uma curiosidade: uma das gêmeas vai ser aluna este ano de um ex-aluno meu aqui de Leopoldina (MG), que é professor na UFOP. Loucura, né? Mundinho pequeno esse! As duas foram minhas companheiras de aventuras em Marrocos.  

Pedacinho da Mesquita Hassan II, porque nem filmando dá pra mostrar ela toda. É uma construção monumental.

Como nosso voo só iria sair a tarde, nós tomamos o café da manhã e combinamos com um taxista de nos levar para conhecer a cidade. Na porta do hotel havia vários taxista que, por cinquenta euros, levam os turistas para conhecer a cidade. O passeio dura três horas e é suficiente para ir conhecer a principal atração de Casablanca: a Mesquita Hassan II. 

Do hotel até a Mesquita foram mais ou menos uma meia hora de carro, só que nós saímos um pouco tarde, então não pudemos ficar muito tempo passeando. No caminho, passamos pela orla, muito bonita por sinal. O taxista até insistiu que parássemos para passear na praia mas, como eu disse, o tempo era curto.

A Mesquita Hassan II foi  inaugurada em 1993 é o mais alto templo do mundo e a segunda maior mesquita do mundo, perdendo só para Meca. Ela tem uma sala de orações com capacidade para acolher 25 mil fiéis. É uma das poucas mesquitas do mundo que permite a entrada de não muçulmanos, pena que eu não tinha tempo suficiente para fazer o passeio completo. Aliás, só andar do lado de fora da mesquita já foi um desafio. 


O passeio em Casablanca, no final das contas foi um bônus. Eu gostei muito, apesar de ter ficado apreensiva em alguns momentos, até por conta das histórias que eu ouvi de outras brasileiros. Mas, no final deu tudo certo e chegamos ainda a tempo de pegar o transfer para o aeroporto. 

Uma curiosidade: só entra no aeroporto quem vai viajar. Há uma fila enorme na entrada principal, onde os passageiros mostram obrigatoriamente a passagem e o passaporte. A bagagem também passa por inspeção. O policiamento é intenso e chega até a assustar um pouco. Acho que nunca tive que mostrar meu passaporte tantas vezes durante toda a viagem.  O resto da viagem foi super tranquila.  O avião saiu na hora e eu tive ótimos colegas de viagem, com quem conversei bastante. 

Agora é começar a juntar os trocados para as férias de 2019!