domingo, 29 de novembro de 2015

O MACHISMO E OPRESSÃO

Propaganda das calças "Dragon", veiculada nos anos de 1960.

Eu fui convidada por um colega a participar de um programa de rádio sobre "Igualdade de Gêneros e a não Violencia contra as Mulheres". Havia outros convidados, como advogado e professor de Direito João Fernando (Doctum/ Leopoldina). Aprendi muito, por sinal, com ele. Já eu não acho que contribuí com muita coisa, mas me disseram que é normal a gente pensar que não foi bem. 

De toda forma, a experiência foi muito boa no sentido de me fazer refletir sobre alguns assuntos.  Num determinado momento eu, não sei de onde, desenterrei e comentei rapidamente uma memória. Um episódio que aconteceu na sala de aula já algum tempo. De tudo que eu falei durante o programa, este episódio ficou se repetindo na minha mente. E com ele vieram muitas outras lembranças. Abri minha "caixa de Pandora" particular.

Era como se eu estive agora, depois de tanto tempo, finalmente conseguindo entender o real significado daquele episódio. O ocorrido foi o seguinte: um certo dia estava na sala de aula, com alunos do fundamental, contando a história de Anita Garibaldi, de como ela rompeu com o controle que a sociedade tinha sobre as mulheres, abandonou o marido e foi viver uma vida de aventuras ao lado de Garibaldi. Um aluno prontamente deu sua opinião sobre a heroína: ela chamou de "vagabunda" (ou um termo semelhante, minha memória não é tão boa assim). 

Eu fiquei chocada, a turma ficou chocada e ele levou um tempo para perceber o que tinha feito. O fato é que o menino não era um menino mau, nem vinha de uma família preconceituosa. 

Mas, então, por que ele reagiu daquela forma?

Refletindo sobre isso eu cheguei à conclusão de que ele foi uma vítima do machismo que se impõe sobre homens e mulheres. Ele reproduziu um discurso que ele achava que era senso comum, mas não era. Durante meus mais de 20 anos de magistério eu vi isso acontecendo inúmeras vezes. Bons meninos e meninas apresentando um comportamento machista.

E não se apressem para culpar a família. Nem sempre ela tem controle sobre este tipo de comportamento. Quando as crianças são inseridas no convívio social passam a ter outras influências e, também, a assumirem outro tipo de comportamento para se sentirem aceitas em determinados grupos. Já tive experiência com famílias que se assustaram com o comportamento que seus filhos tinham fora de casa. Some-se a isso a influência e os exemplos nem sempre edificantes que temos nas mídias, que reforçam o machismo, o sexismo e ainda a discriminação contra gays e negros, por exemplo.

O machismo imposto há séculos pela sociedade é uma violência tanto ao homem quanto à mulher. Ele cria homens inseguros, que precisam se sentir superiores ao agredirem com gestos ou palavras as mulheres. Ele cria homens presos a modelos que não lhes permitem viver e agir de acordo com sua natureza. O homem oprimido acaba oprimindo a mulher e o ciclo de violência se perpetua.

Acho que episódios como o que eu descrevi têm algo positivo. Quando ocorre na escola o comportamento machista sinaliza para a necessidade de se esquecer todo o resto e se abrir para o debate. Dizer que algo é certo ou errado não basta. É preciso aproveitar a oportunidade para trabalhar o conceito de preconceito junto aos alunos e, a partir daí, argumentar, trocar opiniões e construir um conhecimento conjunto. 

No contexto atual, vejo jovens bombardeados de informações, mas presos a antigos preconceitos. Eu vejo muito potencial na nossa juventude, mas vejo também muita carência, dúvida e incerteza. Não que isso não estivesse presente na minha adolescência, assim como na de tantas outras pessoas. Vejo uma juventude conservadora que precisa aprender a falar e a ouvir.  

Debater o machismo não é apenas falar sobre mulheres que têm dificuldade em se sobressair no mercado de trabalho, ou falar sobre violência física e moral que elas sofrem. É, sobretudo, falar dos homens que precisam provar sua masculinidade reproduzindo um discurso que, na realidade, nada mais é do que uma construção social que vai contra a natureza humana. 

É buscar uma sociedade conciliadora, que saiba lidar com a diversidade e com a diferença. Pois, por mais que muita gente não queira aceitar, as diferenças estão por toda a parte. Temos diferenças de gênero, diferenças étnicas e religiosas. Aceitar o outro, seja ele homem, mulher ou transgênero, pertença ele à religião X ou Y, é possivelmente o único caminho para se extirpar uma boa dose de ódio e violência que vêm perpassando o mundo já há um bom tempo. 

domingo, 22 de novembro de 2015

Lendo uma nova autora de ficção: Jennifer L. Armentrout

Existe aquela velha história de que o professor influencia os alunos, o professor ensina, o professor guia etc. Comigo, curiosamente, acontece o inverso, pelo menos no que diz respeito à minha leitura de lazer. Há uns três anos atrás uma aluna (Barbara Pontes) me indicou um livro para ler. Eu acabei comprando o livro e lendo. Não é que gostei? 

Era um romance da autora Cassandra Clare. Comecei com um livro e hoje acho que já li e comprei todos que ela publicou no Brasil, cheguei até a resenhá-los aqui no blog. Eu já lia livros de fantasia. Comecei com Richelle Mead e depois li Rick Riordan. Este último também foi indicação de um aluno. 

Desde então, eu  passei a prestar mais atenção aos títulos que iam aparecendo nas livrarias. São romances para adolescentes, mas são escritos por adultos e, em geral, eles possuem uma linguagem fluída, um vocabulário legal e, por exemplo, no caso da Cassandra Clare, principalmente na série Peças Infernais, certa dose de erudição.

Já recebi algumas alfinetadas por conta disso. 

- Natania! Você tem dar exemplo, lendo os clássicos.

Mas aí que tá: eu já li os clássicos. Sou leitora ávida desde a infância. Era uma rata de biblioteca. Muito antes de termos acesso a lançamentos de livros pela internet eu lia o que era indicado nos livros de literatura. Já li Machado de Assis, José de Alencar, Aluísio de Azevedo, e muitos outros autores, nacionais e estrangeiros. Agora, estou lendo o que meus alunos leem, trocando informações com eles e até lendo outros clássicos por conta de citações em livros. Por exemplo, para minha lista de leituras de férias (e vão ser muitas) está "Um Conto de Duas Cidades”, de  Charles Dickens.

Esta semana eu comecei a ler, acidentalmente, uma nova série. Estou viciada em séries.  Quando gosto de um personagem quero vê-lo em outras aventuras, em outras situações. Séries satisfazem esta necessidade, embora eu deva reconhecer que, depois de um tempo, as histórias ficam um tanto previsíveis.

Mas enfim, vamos ao ponto. Minha autora do momento é Jennifer L. Armentrout, autora da "Saga Lux", cujo primeiro livro foi lançado no Brasil este ano "Obsidiana".

É o primeiro de cinco livros, mas há outro, um prelúdio, chamado Shadown. Minhas impressões do livro foram boas ,de forma geral. Final de ano uma leitura leve e divertida sempre é bem-vinda. O roteiro tem uns furos, verdade, mas nada que atrapalhe e, de repente, pode ha ver explicação para algumas dúvidas que eu tive no próximo livro. 

Não é um romance sobrenatural, mas com aliens. Lembra um pouco Os legados de Lorien, por causa da temática, mas as semelhanças não são tantas assim. O primeiro livro me agradou. Imagino que a editora vá publicar mais uns dois anos que vem. É uma boa leitura para as férias. Livro para se ler no final do dia, depois de pegar uma praia ou uma piscina.

Depois que li o primeiro livro, procurei resenhas e comentários sobre os demais. Não achei nada negativo, o que me deixou mais incentivada a ler os outros cinco. A autora tem outras séries, mas não verifiquei ainda se foram publicados no Brasil. A editora Valentina eu não conhecia, mas estou interessada em outros livros do catálogo. Fica a dica para as férias.

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

COLEÇÃO DE MEMÓRIAS

Coleção de Memórias foi a primeira HQ que eu li, das muitas que comprei no FIQ. Li ali mesmo, sentada no chão, com as bolsas cheias de revistas ao meu lado. Simples mas muito bem acabada, de autoria de Theodore Guilherme (arte/roteiro) e publicada pelo Velociraptor Pirata, coletivo de ilustradores e quadrinista de Ponta Grossa/PR. 

Comecei gostando da revista pela contracapa, onde uma resenha começa com a seguinte frase "Poucas coisas possuem o valor de uma boa memória". Só esta frase já meu deixou empolgada e comecei a ter um monte de ideias. Pra quem não sabe, eu gosto de trabalhar com educação patrimonial e memória. 

A HQ é uma autobiografia, que reúne lembranças do autor na sua infância. Seus medos, sua inocência, seu apego à família. Ele conta estas memórias de forma quase poética. Elas têm forma e se apoiam na imagem saudosa da sua avó.

Simples e bonito. Um quadrinho que eu pretendo usar em breve nas minhas aulas de História e que, espero, possa resultar em outros quadrinhos, em outras "Coleções de Memórias".


PARTICIPANDO DO 9º FESTIVAL INTERNACIONAL DE QUADRINHOS DE BELO HORIZONTE


Finalmente eu consegui participar do Festival Internacional de Quadrinhos (FIQ), que aconteceu em Belo Horizonte, semana passada. Vejam bem, é a nona edição! Uma vergonha ter demorado tanto para ir, eu sei. Mas sempre tinha algo que me impedia: trabalho falta dinheiro ou compromisso familiar. 

E teve gente que reclamou que estava vazio!
Vamos começar com as impressões sobre o local.

De cara eu já me vi dentro da exposição da Turma do Xaxado, organizada por Lucas Pimenta, em homenagem ao saudoso Antônio Cedraz, criador da Turma do Xaxado. Muito linda e de muito bom gosto. O curador está de parabéns. Gosto muito da Turma do Xaxado. São quadrinhos divertidos e com um grande potencial pedagógico. Ao lado, havia uma exposição de super-heróis e outra com croquis e roupas de personagens de quadrinhos.

Trechinho da exposição em homenagem a Antônio Cedraz com ilustrações feitas por vários artistas.
Achei tudo muito bem organizado e as pessoas muito receptivas. Lá estavam desde quadrinistas conhecidos, consolidados na profissão, até iniciantes, jovens que estavam ali para mostrar seus fanzines ou suas primeiras publicações independentes. Havia desde livrarias e editoras conhecidas até aquelas mais simples, com material alternativo.

Trechinho da exposição de Super-heróis.
Eu me lembrei de uma passagem na biografia de Will Eisner, quando ele visita um festival de quadrinhos e conhece a produção underground nos Estados Unidos. Eu me senti quase que como ele, estando no meio de novos talentos. Ao lado deles autores como André Diniz, quadrinista consagrado, vendia seus quadrinhos, na maior descontração. Ali eram todos iguais e todos queriam mostrar o que haviam produzido.

Com Sabrina Paixão e o sempre simpático André Diniz.
Eu fui com o objetivo de comprar apenas material para meu uso profissional, mas, claro, não resisti em adquirir obras de autores desconhecidos. E havia muitas meninas lá! Não vou dizer que foi uma surpresa. Eu sei que o mercado tem acolhido as jovens quadrinistas e elas têm se destacado tanto pela qualidade da sua produção quanto pela quantidade. A cada ano temos mais mulheres perdendo a timidez e se aventurando no mercado de quadrinhos. Algumas estão recebendo ofertas de editoras e crescendo na profissão. Outras estão usando quadrinhos como uma forma de expressão e até de militância.
Com Ana Luíza e Germana
Quadrinhos já são há algum tempo vêm sendo um espaço para as mais diversas manifestações, afinal é ao mesmo tempo uma forma de arte e um meio de comunicação. Nada mais natural que se tornassem um espaço para expressão. Quadrinhos, para muitas pessoas são quase que uma forma de terapia, de autoconhecimento. E eu vi muito disso por ali, tanto por parte das meninas, quanto por parte dos rapazes. Havia de tudo e para todos os gostos.

Com Marguerite e meu exemplar autografado de Aya.
O ponto alto foi poder conhecer e falar (engasgar com meu pobre francês, que um dia já foi bom, hoje é uma vergonha), com a autora Marguerite Abouet, natural da Costa do Marfim. Ela é autora de Aya de Youpogon, que teve dois volumes publicados no Brasil. Ela estava lá, sozinha, dando sopa na mesa de autógrafos. Eu imediatamente usei minha famosa "cara de pau", me apresentei, peguei autógrafo, tirei foto e até dei a ela meu cartão (nem eu acredito que fiz isso, que vergonha).

Achei que não ia conseguir, mas passei o sábado inteiro lá, com uma pausa de cerca de uma hora para ir tomar banho no hotel, que ficava a 5 minutos de caminhada do local do evento. Na volta, encontrei com a colega aspiana (como chamamos carinhosamente os membros da ASPAS - Associação de Arte Sequencial) Ana Luíza Koeher, que me apresentou para a galera super simpática dos "Renegados". Fui até entrevistada, olha que legal! 

Com os amigos aspianos, prestigiando o sessão de autógrafos de Edgar Franco.
É claro, não posso deixar de registrar a satisfação de reencontrar com amigos e conhecidos e de fazer novas amizades. Saí de lá eram quase 22 horas, e tudo já estava sendo guardado. Enfim, tudo muito bom, eu não tenho reclamações (fora o calor, claro). Em outra postagem quero comentar sobre as revistas que comprei. Para agora, seria muito cansativo tanto para mim quanto para quem arriscar ler esta postagem.

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

XX ENCONTRO REGIONAL DA ANPUH - MG

 Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM)
A data já está confirmada! Vamos participar?
Tema: História em Tempos de Crise
Data: 25 a 28 de Julho de 2016
Local: Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) – Uberaba-MG
A programação e o Cronograma serão lanços  no dia 14 de dezembro de 2015 com a abertura das submissões de propostas de Simpósios Temáticos e Minicursos.

domingo, 1 de novembro de 2015

QUANDO OS NOSSOS ALUNOS SE TORNAM NOSSOS PROFESSORES

Ser professor (a) pode ser gratificante. Há momentos em que os aluno(a)s podem nos surpreender e, principalmente, nos dar lições. 

Aprendo com eles todos dos dias. Eles apontam minhas falhas e me mostram onde preciso melhorar. Às vezes isso pode ser doloroso, mas optei por ver o lado positivo de muitas coisas que acontecem numa sala de aula. Não considero, por exemplo, debater com um aluno uma coisa ruim. Pelo contrário, isso me instiga a pesquisar e a tentar encontrar mais argumentos sobre um tema. Aprendi a dar mais atenção aos alunos que não pedem a minha atenção, ou pelos menos não o fazem por palavras. 

Pessoas são difíceis de decifrar, e um professor pode passar 20 anos de sua vida profissional sem ainda conseguir entender o comportamento dos seus alunos. Isso porque cada pessoa é única e diferenciada. Então, cada ano que entra, encontramos novos desafios, com antigos ou novos alunos. Certamente, novas lições serão aprendidas.

Mas vamos para a lição da semana. 

Esta semana algumas alunas da escola, juntamente com as funcionárias da biblioteca, organizaram um chá literário. Alunas leituras que gostariam de conhecer outros alunos (as) leitores (as), compartilhar experiências e desenvolver uma atividade lúdica na escola. Não são minhas alunas, mas já foram ( e ainda continuo aprendo com elas).

Elas me deram uma lição de organização. Elas mostraram uma sensibilidade ímpar. Reuniram não apenas outros alunos, mas membros a comunidade escolar, de todas as idades, além de professores de outras escolas.

Foi lindo! Simples e inspirador. 

Meus parabéns a essas jovens leitoras, que estão chamando para junto de si outros leitores, de todas as idades. Elas têm a nos ensinar que a escola é um espaço plural, onde se aprende e se ensina o tempo todo e não apenas numa sala de aula, mas nos corredores, na biblioteca ou mesmo no pátio, nos intervalos entre as aulas.

Nossos alunos podem nos ensinar a sonhar com uma educação de qualidade. 

EDUCAÇÃO BÁSICA REVISTA LANÇA CHAMADA PARA PUBLICAÇÃO DE ARTIGOS

A Educação Básica Revista publica artigos de pesquisadores e professores da Educação Básica cujos trabalhos sejam resultados de pesquisas de especialização, mestrado ou doutorado, relatos de experiências e reflexões sobre saberes e práticas docentes nas distintas áreas do conhecimento que compõem a Educação Básica no Brasil.

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