Propaganda das calças "Dragon", veiculada nos anos de 1960. |
Eu fui convidada por um colega a participar de um programa de rádio
sobre "Igualdade de Gêneros e a não Violencia contra as Mulheres". Havia outros convidados, como advogado e professor de Direito João Fernando (Doctum/ Leopoldina). Aprendi muito, por sinal, com ele. Já eu não acho que contribuí com muita
coisa, mas me disseram que é normal a gente pensar que não foi bem.
De toda forma, a experiência foi muito boa no sentido de me fazer
refletir sobre alguns assuntos. Num determinado momento eu, não sei de onde,
desenterrei e comentei rapidamente uma memória. Um episódio que aconteceu na sala de aula
já algum tempo. De tudo que eu falei durante o programa, este episódio ficou se
repetindo na minha mente. E com ele vieram muitas outras lembranças. Abri minha "caixa de Pandora" particular.
Era como se eu estive agora, depois de tanto tempo,
finalmente conseguindo entender o real significado daquele episódio. O ocorrido foi o seguinte: um certo dia estava na sala de aula, com alunos do fundamental, contando
a história de Anita Garibaldi, de como ela rompeu com o controle que a
sociedade tinha sobre as mulheres, abandonou o marido e foi viver uma vida de
aventuras ao lado de Garibaldi. Um aluno prontamente deu sua opinião sobre a
heroína: ela chamou de "vagabunda" (ou um termo semelhante, minha
memória não é tão boa assim).
Eu fiquei chocada, a turma ficou chocada e ele levou um tempo para
perceber o que tinha feito. O fato é que o menino não era um menino mau, nem
vinha de uma família preconceituosa.
Mas, então, por que ele reagiu daquela forma?
Refletindo sobre isso eu cheguei à conclusão de que ele foi uma vítima
do machismo que se impõe sobre homens e mulheres. Ele reproduziu um discurso
que ele achava que era senso comum, mas não era. Durante meus mais de 20 anos de
magistério eu vi isso acontecendo inúmeras vezes. Bons meninos e meninas apresentando um comportamento
machista.
E não se apressem para culpar a família. Nem sempre ela tem controle sobre este tipo de comportamento. Quando as crianças são inseridas no convívio social passam a ter outras influências e, também, a assumirem outro tipo de comportamento para se sentirem aceitas em determinados grupos. Já tive experiência com famílias que se assustaram com o comportamento que seus filhos tinham fora de casa. Some-se a isso a influência e os exemplos nem sempre edificantes que temos nas mídias, que reforçam o machismo, o sexismo e ainda a discriminação contra gays e negros, por exemplo.
E não se apressem para culpar a família. Nem sempre ela tem controle sobre este tipo de comportamento. Quando as crianças são inseridas no convívio social passam a ter outras influências e, também, a assumirem outro tipo de comportamento para se sentirem aceitas em determinados grupos. Já tive experiência com famílias que se assustaram com o comportamento que seus filhos tinham fora de casa. Some-se a isso a influência e os exemplos nem sempre edificantes que temos nas mídias, que reforçam o machismo, o sexismo e ainda a discriminação contra gays e negros, por exemplo.
O machismo imposto há séculos pela sociedade é uma violência tanto ao
homem quanto à mulher. Ele cria homens inseguros, que precisam se sentir superiores ao
agredirem com gestos ou palavras as mulheres. Ele cria homens presos a modelos
que não lhes permitem viver e agir de acordo com sua natureza. O homem oprimido
acaba oprimindo a mulher e o ciclo de violência se perpetua.
Acho que episódios como o que eu descrevi têm algo positivo. Quando ocorre na escola o comportamento machista sinaliza para a necessidade de se esquecer todo o resto e se abrir para o debate. Dizer que algo é certo ou errado não basta. É preciso aproveitar a oportunidade para trabalhar o conceito de preconceito junto aos alunos e, a partir daí, argumentar, trocar opiniões e
construir um conhecimento conjunto.
No contexto atual, vejo jovens bombardeados de informações, mas presos a antigos preconceitos. Eu vejo muito potencial na nossa juventude, mas vejo também muita
carência, dúvida e incerteza. Não que isso não estivesse presente na minha
adolescência, assim como na de tantas outras pessoas. Vejo uma
juventude conservadora que precisa aprender a falar e a ouvir.
Debater o machismo não é apenas falar sobre mulheres que têm dificuldade em se sobressair no mercado de trabalho, ou falar sobre violência física e moral que elas sofrem. É, sobretudo, falar dos homens que precisam provar sua masculinidade reproduzindo um discurso que, na realidade, nada mais é do que uma construção social que vai contra a natureza humana.
Debater o machismo não é apenas falar sobre mulheres que têm dificuldade em se sobressair no mercado de trabalho, ou falar sobre violência física e moral que elas sofrem. É, sobretudo, falar dos homens que precisam provar sua masculinidade reproduzindo um discurso que, na realidade, nada mais é do que uma construção social que vai contra a natureza humana.
É buscar uma sociedade conciliadora, que saiba lidar com a diversidade e com a diferença. Pois, por mais que muita gente não queira aceitar, as diferenças estão por toda a parte. Temos diferenças de gênero, diferenças étnicas e religiosas. Aceitar o outro, seja ele homem, mulher ou transgênero, pertença ele à religião X ou Y, é possivelmente o único caminho para se extirpar uma boa dose de ódio e violência que vêm perpassando o mundo já há um bom tempo.
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