Helena
Fonseca é uma roteirista de histórias em quadrinhos brasileira, muito ativa entre os anos de 1960 e 1980. Trabalhou com vários gêneros, como
aventura, superaventura e terror. Ela pode ser considerada uma das pioneiras
dos quadrinhos brasileiros, tanto pela sua versatilidade, quanto pelo fato de
ter desenvolvido roteiros para gêneros dos quadrinhos onde as mulheres nem
sempre conseguiam se destacar. Pelo menos é o que afirma o senso comum.
Entretanto,
pesquisas recentes têm mostrado que a participação feminina na indústria dos
quadrinhos é muito maior do que se pensava. No Brasil, temos exemplos de
mulheres que se destacam na produção de quadrinhos de terror, aventura
e superaventura. Algumas estão até conquistando espaço no mercado externo, como
é o caso de autoras como Erika Awano e Bilquis Evely.
Mas, no
que diz respeito à memória dos quadrinhos nacionais, muito tem sido perdido e precisa
ser recuperado para que se construa uma História dos Quadrinhos no Brasil
que possa servir de referência para as futuras gerações. No que diz respeito à produção
feminina, a construção desta memória é muito carente. Muitas quadrinistas foram
esquecidas pela história, apesar da sua ampla participação na produção
nacional.
É o
caso de Helena Fonseca. Ela, por exemplo, não possui um verbete na Enciclopédia dos Quadrinhos, de André
Kleinert, ampliada em 2014. Mesmo na internet são poucas as referências feitas
à sua produção, tendo sua biografia pouco mais de que oito linhas, na Wikiwand. A
princípio, pode-se concluir que não há informações disponíveis sobre a autora. Mas
realizando um trabalho quase arqueológico, é possível montar um perfil mais
detalhado sobre a produção desta quadrinista que,
certamente, vai ocupar mais do que oito linhas.
Publicado em outubro de 1967. |
Começando
pelos quadrinhos de superaventura, Helena Fonseca escreveu roteiros para a
revista do Capitão 7, um dos heróis nacionais mais antigos das HQs brasileiras.
O Capitão 7 surgiu no início dos anos 1950 como um personagem da TV
Record de São Paulo, em 1954. “Foi criado pelo ator e boxeador Ayres Campos,
que também o interpretava. O número sete era por causa do canal. Assim, todos
associavam o Capitão Sete, como o "herói da Record", herói do 7".[1] Em
1959 ele se tornou herói dos quadrinhos pela editora Continental/Outubro (que em 1966 trocou de nome e se tornou a Editora Taika). Os
quadrinhos eram foram desenhados por vários artistas e os roteiros ficaram por
conta de Helena Fonseca, Hélio Porto e Gedeone Malagola.
Uma referência ao personagem
Capitão 7 está no livro Esses Incríveis heróis de papel, de Ionaldo A. Cavacalti,
publicado em 1988. Nele há um breve parágrafo sobre o personagem, mas o nome de
Helena Fonseca não é citado, apenas dos desenhistas e capistas. Já o livro A
magia da nona arte, de Israel Forguel, publicado em 2016, já faz uma breve referência
aos roteiros feitos por Helena Fonseca para este personagem. O nome de Helena
Fonseca foi esquecido numa época em que ela ainda era uma autora ativa, e
resgatado em obra recente sobre quadrinhos.
Publicado em agosto de 1974. |
Helena
também foi uma das principais roteiristas das histórias em quadrinhos de Targo,
a versão brasileira de Tarzan. Talvez nenhum personagem clássico dos quadrinhos
tenha sido tão imitado quanto o rei das selvas. No Brasil, a editora Outubro
lançou o tarzanide brasileiro em
meados década de 1960[2]. O
personagem foi criado por Heli Otávio de Moura Lacerda e desenhado e roteirizado por
vários quadrinistas, principalmente Helena Fonseca.
"Seus roteiros eram quase sempre de Helena Fonseca e Francisco de Assis,
mas houve outros escritores, e todos tentavam imprimir no herói alguma
característica brasileira, visto que na época (ao contrário de hoje), os
leitores se identificavam com personagens que explorassem coisas nossas[3]".
Sem data exata de publicação. |
Sua
participação nos quadrinhos de terror também foi marcante. Helena Fonseca,
juntamente com Nico Rosso, criou Naiara, A Filha do Drácula, uma personagem
de terror brasileira. Helena já escrevia roteiros para os quadrinhos de Drácula.
Ela ajudou a dar ao personagem clássico de terror características bem
diferentes daquelas do original do livro de Bram Stoker.
Naiara
é a filha rebelde de Drácula, bem no espírito dos anos do final dos anos de 1960. A vampira faz de tudo para contrariar o pai e fugir da sua autoridade. Ela bebia o sangue das suas vítimas em uma grande
taça de cristal[4].
O erotismo presente em suas histórias é uma das suas principais características,
o que a classificava como sendo um quadrinho para adultos.
O terror foi um gênero que se difundiu muito no Brasil, nos anos de 1970. Era marcado por cenas de violência, nudez e muito erotismo. Também foi gênero onde as mulheres se destacaram. Ainda no gênero terror ela colaborou ainda para os títulos: Almanaque Clássicos do Terror, Almanaque do Drácula e Seleções de Terror. Além de Helena Fonseca tivemos ainda os contos de terror baseados em histórias do folclore local criadas por Maria Aparecida Godoy, a Cida Godoy.
O terror foi um gênero que se difundiu muito no Brasil, nos anos de 1970. Era marcado por cenas de violência, nudez e muito erotismo. Também foi gênero onde as mulheres se destacaram. Ainda no gênero terror ela colaborou ainda para os títulos: Almanaque Clássicos do Terror, Almanaque do Drácula e Seleções de Terror. Além de Helena Fonseca tivemos ainda os contos de terror baseados em histórias do folclore local criadas por Maria Aparecida Godoy, a Cida Godoy.
Vampirella, capa de 1969. |
Curiosamente,
a personagem Naiara chegou às bancas em 1967, bem antes de Vampirella,
personagem criada por Forrest J. Ackerman em 1969, com a ajuda Trina
Robbins e Frank
Frazetta.[5] Estas duas personagens, apesar de possuírem origens diferentes, apresentam muitas semelhanças como a sensualidade, o erotismo e até a gosto por roupas que valorizam os contornos do corpo.
Helena
Fonseca também trabalhou com o gênero nordestern[6],
ou gênero cangaço. Ela roteirizou as histórias de Juvêncio, o justiceiro do sertão. O personagem foi
criado originalmente pelo jornalista
Reinaldo Santos para um programa da Rádio Piratininga, de São
Paulo, nos anos de 1960, apoiado no sucesso de outro personagem, de 1953, Jerônimo, o herói do sertão. Juvêncio era inspirado no Zorro, mas ao contrário
daquele personagem, ele era um justiceiro: ele não prendia, ele matava bandidos[7].
Sem a data de publicação da revista. |
A popularidade
da radionovela do justiceiro nordestino acabou levando ao lançamento de uma
revista em quadrinhos, em maio de 1968, pela editora Prelúdio. As
histórias em quadrinhos do personagem foram desenhadas por Rodolfo Zalla, Eugênio Colonnese, Edmundo Rodrigues e roteirizado por Gedeone Malagola, Helena Fonseca, R. F. Lucchetti, entre
outros. Seus quadrinhos foram publicados até agosto de 1969.
Helena
trabalhou ainda em vários outros títulos escrevendo roteiros para personagens
como Margarida, da Disney, e Os Trapalhões, ambas as revistas publicadas
pela Editora Abril; roteirizou Simãozinho,
quadrinho infantil publicado pela Editora Prelúdio; escreveu histórias para o Vigilante Rodoviário, publicado pela
Editora Outubro/Taika.
Helena
Fonseca esteve ativa até o final da década de 1980 e ganhou o Prêmio Angelo
Agostini na categoria Mestre, em 1995. Produzindo para várias editoras
em uma grande variedade de títulos, Helena Fonseca pode ser considerada uma
das profissionais femininas mais bem sucedidas do Brasil.
REFERÊNCIAS
CAVACALTI, Ionaldo A. Esses Incríveis heróis
de papel. São Paulo: Rd. Mater, 2016.
Conheça
Targo (2012). Disponível em: http://blogmaniadegibi.com/2012/03/conheca-targo/,
acesso em 1º abr. 2017.
FORGUEL,
Israel. A Magia da Nona Arte. São Paulo: Clube de Autores, 2016.
Helena
Fonseca. Disponível em: http://www.wikiwand.com/pt/Helena_Fonseca#/Refer.C3.AAncias,
acesso em 1º abr. 2017.
Juvêncio,
o justiceiro do sertão. Disponível em: http://www.wikiwand.com/pt/Juv%C3%AAncio,_o_justiceiro_do_sert%C3%A3o,
acesso em 1º de abr. 2016.
Super
heróis brasileiros de histórias em quadrinhos (2017). Disponível em: http://aminoapps.com/page/comics-portugues/1027610/super-herois-brasileiros-de-historias-em-quadrinhos,
acesso em 1º abr. 2017.
UCHOA,
Francisco. Naiara de presente (2012). Disponível em: https://planetamongo.wordpress.com/2012/01/23/naiara-de-presente/,
acesso em 1º Abr. 2016.
Vampirella.
Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Vampirella#Vampirella_no_Brasil,
acesso em 1º abr. 2016.
[1] Super-heróis
brasileiros de histórias em quadrinhos. Disponível em: http://aminoapps.com/page/comics-portugues/1027610/super-herois-brasileiros-de-historias-em-quadrinhos,
acesso em 1º abr. 2017.
[2] Não consegui encontrar a data
exata do primeiro número do personagem. As referências são vagas e fala-se de
meados de 1960. Como a revista já estava em seu n. 33 em setembro de
1967 e, supondo que era mensal e foi publicada sem interrupções, Targo deve ter
sido lançado aproximadamente em dezembro de 1964.
[3] Conheça
Targo. Disponível em: http://blogmaniadegibi.com/2012/03/conheca-targo/,
acesso em 1º abr. 2017.
[4] UCHOA,
Francisco. Naiara de presente (2012). Disponível em: https://planetamongo.wordpress.com/2012/01/23/naiara-de-presente/,
acesso em 1º Abr. 2016.
[5] Vampirella.
Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Vampirella#Vampirella_no_Brasil,
acesso em 1º abr. 2016.
[6] Como o próprio nome indica, são
quadrinhos de faroeste cuja a ambientação é o sertão nordestino brasileiro.
[7] Juvêncio, o
justiceiro do sertão. Disponível em: http://www.wikiwand.com/pt/Juv%C3%AAncio,_o_justiceiro_do_sert%C3%A3o,
acesso em 1º de abr. 2016.
3 comentários:
Targo não foi criado pelo Gedeone Malagola, ele teria sugerido o nome por conta do sobrenome de um amigo da polícia (Targa) Fonte:Franco de Rosa (2008). «Wizmania (2ª versão) #6 - Homenagem a Gedeone Malagola, uma lenda dos gibis brasileiros». São Paulo: Panini Comics. pp. 56 a 59.
O Rodolfo Zalla disse que o nome Targo era pra confundir o leitor, pensando que estaria comprando Tarzan, para ele, quem criou foi o Heli Otávio de Moura Lacerda
No site da Memo Magazine tem dossiês sobre o Rodolfo Zalla e o Nico Rosso:
http://www.memomagazine.com.br/
http://web.archive.org/web/20080214140519/http://www.operagraphica.com.br/a_entrevista/entre_rodolfozalla.htm
Um tarzanide feito pelo Malagola foi o Tambu, ele também roteirizou histórias do Tor do Kubert
http://sallesfanzineiro.blogspot.com.br/2011/12/tambu-koreme.html
Valeu, vou arrumar!
:-)
Quando o Rodolfo Zalla começou, ele já tinha algumas histórias, pode-se dizer que foi uma criação conjunta dos editores e artistas da Outubro.
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