quarta-feira, 29 de março de 2017

ENTREVISTA COM A QUADRINISTA SUECA MALIN BILLER

Imagem disponível em: https://www.tanum.no/_skjonnlitteratur/tegneserier-og-grafiske-romaner/lycko-biller-malin-biller-9789174053050, acesso em 28 mar. 2017.

Malin Biller é uma quadrinista sueca que transita entre o humor e o drama. Artista versátil, ela consegue nos brindar com um humor “sério” onde, por exemplo, satiriza a sociedade consumista e a superficialidade feminina ou denuncia a destruição do meio ambiente. Apaixonada por poesia consegue trazer para os quadrinhos os versos e a vida de seus autores favoritos. Ela ainda encontra tempo para se envolver em projetos voltados para a educação. Malin Biller nunca teve seus quadrinhos publicados no Brasil mas, se os tivesse, certamente fariam sucesso.

Malin foi a primeira quadrinista sueca com quem eu tive contato e foi a partir dela que eu realmente me interessei pelos quadrinhos suecos. Atualmente já tenho até alguns ídolos, como Knut Larsson, Sofia Olsson e, claro, a própria Malin. Nada mais justo que compartilhar um pouco daquilo que nós conversamos nos últimos quatro meses. 

Por isso, estou disponibilizando uma série de questões que foram levantadas em duas entrevistas realizadas com ela por e-mail. A primeira em 02 de dezembro de 2016 e a segunda em 28 de março de 2017. A partir destas duas intervenções podemos saber mais sobre a autora e, também, mais sobre a Suécia, este pequeno país gelado de onde saem autores talentosos.

ENTREVISTA COM MALIN BILLER

1) Como você começou a trabalhar com quadrinhos?
Eu sempre gostei de desenhar e eu aprendi a escrever com a ajuda de quadrinhos, quando tinha cerca de  4 a 5 anos. Acho que tinha uns 13 anos quando comecei a fazer quadrinhos. Mas como minhas histórias em quadrinhos não pareciam com as outras histórias em quadrinhos eu pensava que elas não eram quadrinhos “reais”. Foi só quando comecei na Escola de Quadrinhos de Malmö, aos 22 anos, foi que eu percebi que era isso que eu queria fazer! Desde então, tem sido "minha voz" e minha ocupação. É trabalho um duro. Eu trabalho muito para poder pagar minhas despesas, mas vale a pena!

2) Como você diria que a escola de quadrinhos de Malmö influenciou a produção de quadrinhos na Suécia?
Muito, eu diria. Existem outras escolas de quadrinhos na Suécia, mas a de Malmö é realmente especial. Eu só posso falar por mim, mas os professores lá me fizeram acreditar em mim mesma, na minha capacidade de ganhar a vida com os quadrinhos. Lá temos uma educação completa.  Tudo, da escrita do roteiro, da tinta e a como fazer o marketing dos seus quadrinhos.

3) O que é ser cartunista na Suécia? Há algum problema como o sexismo?
Boa pergunta! Eu acho que, em comparação com muitos outros países, é mais fácil ser uma cartunista aqui. A Suécia é um país muito bom para viver na medida em que a igualdade de gênero acontece. Embora ainda tenhamos algum caminho a percorrer! Há sexismo, sim, mas eu tenho sorte, eu acho. A maioria das pessoas com quem trabalho é legal, tanto homens como mulheres. Embora eu já tenha recebido algumas mensagens irritadas de homens mais velhos, que não gostam de mulheres cartunistas com opinião forte.

4) Você disse anteriormente que apesar da igualdade de gênero ainda há obstáculos para as mulheres na Suécia. Você poderia falar mais um pouco sobre isso?
É uma pergunta complicada. E não há uma resposta fácil. As mulheres na Suécia ainda não ganham tanto dinheiro quanto seus colegas do sexo masculino para trabalhar exatamente as mesmas horas, por exemplo. Ainda há um problema com o assédio sexual. Especialmente para as mulheres jovens que escrevem colunas ou blogs políticos. Como em todo o resto do mundo, infelizmente. Mas estamos trabalhando nisso! O movimento feminista na Suécia é forte!

5) Como está atualmente, a participação feminina nos quadrinhos suecos?
 Na Suécia, cerca de 50% das pessoas que trabalham em quadrinhos são mulheres! Portanto, há um grande equilíbrio. E a presença de quadrinhos feministas é realmente grande! Há um monte de nomes importantes, como Liv Strömqvist, Sara Granér, Nanna Johansson e Åsa Grennvall. Elas são realmente talentosas. Nós temos, igualmente, uma grande rede chamada "Dotterbolaget", para mulheres quadrinistas, onde nos ajudamos e às vezes publicamos material juntas.

6) De uma forma geral, quais são as dificuldades enfrentadas por um quadrinista,  homem ou mulher, para publicar na Suécia?
Principalmente publicar e conseguir permanecer publicando em uma revista ou jornal. As vendas de revistas de papel caíram dramaticamente nos últimos anos. E a concorrência é dura. É difícil ganhar bastante dinheiro com apenas quadrinhos, em comparação com a fotografia. Se você não tem sorte, pode começar somente 700 SEK (certa de R$ 245,00) para uma página inteira colorida! No entanto, revistas ligadas a diferentes sindicatos pagam muito melhor.

7) Como é a relação entre os quadrinhos comerciais e a produção independente na Suécia?
Eu acho que é muito boa. Pelo menos para mim. Eu sou um dos poucos que trabalha com ambos durante os anos, tanto material super comercial e quanto artístico. A maioria dos cartunistas suecos se conhece e nos ajudamos mutuamente. Nós sempre nos divertimos quando nos encontramos, apesar de algumas vezes trabalharmos em diferentes gêneros.

8) Qual é o perfil do leitor de quadrinhos na Suécia?
Eu acho que a maioria dos leitores hoje em dia são adultos, entre, digamos, 20-60 anos. Tanto homens quanto mulheres. Para ser honesta, eu não tenho certeza.

9) Você já produziu obras biográficas e adaptações literárias. A partir desta experiência como você enxerga potencial educativo dos quadrinhos?
É enorme! Quando eu era pequena, professores e bibliotecários achavam que era prejudicial ler histórias em quadrinhos. Mas hoje em dia muitos estudos mostraram o oposto:  é benéfico para a compreensão de uma história e ajuda os alunos a aprenderem a ler e a escrever mais facilmente. Eu trabalho muito com o ensino de quadrinhos. Nos últimos meses ensinei quadrinhos para crianças que imigraram para a Suécia recentemente e algumas ainda não têm as habilidades de linguagem para escrever sueco. Mas através de quadrinhos eles podem entender uma história mais fácil e podem se expressar fazendo quadrinhos, usando apenas alguns palavras combinadas com imagens. É ótimo!

10) Entre todas as suas obras, há alguém que você considera ser especial? Qual é a sua favorita?
 É realmente difícil escolher um favorito, mas talvez seja um livro que fiz há cerca de dois anos atrás, que foi uma coleção de adaptações de meu poeta favorito do poeta sueco Gustaf Fröding. O livro foi chamado "I varje droppe är en ädelsten" ("Há uma pedra preciosa em cada gota").
Imagem disponível em: https://www.lambiek.net/artists/b/biller_malin.htm,
acesso em 28 mar. 2017.
Se você gostou da entrevista e quer conhecer um pouco mais sobre a autora, eu publiquei um texto sobre ela no Lady’s Comics, que pode ser visualizado clicando aqui!


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