Imagem disponível em: https://www.tanum.no/_skjonnlitteratur/tegneserier-og-grafiske-romaner/lycko-biller-malin-biller-9789174053050, acesso em 28 mar. 2017. |
Malin Biller é
uma quadrinista sueca que transita entre o humor e o drama. Artista versátil,
ela consegue nos brindar com um humor “sério” onde, por exemplo, satiriza a sociedade
consumista e a superficialidade feminina ou denuncia a destruição
do meio ambiente. Apaixonada por poesia consegue trazer para os quadrinhos os
versos e a vida de seus autores favoritos. Ela ainda encontra tempo para se
envolver em projetos voltados para a educação. Malin Biller nunca teve seus
quadrinhos publicados no Brasil mas, se os tivesse, certamente fariam sucesso.
Malin foi a
primeira quadrinista sueca com quem eu tive contato e foi a partir dela que eu
realmente me interessei pelos quadrinhos suecos. Atualmente já tenho até alguns
ídolos, como Knut Larsson, Sofia Olsson e, claro, a própria Malin. Nada mais
justo que compartilhar um pouco daquilo que nós conversamos nos últimos quatro
meses.
Por isso, estou disponibilizando uma série de questões que foram
levantadas em duas entrevistas realizadas com ela por e-mail. A primeira em 02
de dezembro de 2016 e a segunda em 28 de março de 2017. A partir destas duas intervenções podemos saber mais sobre a autora e, também,
mais sobre a Suécia, este pequeno país gelado de onde saem autores talentosos.
ENTREVISTA COM MALIN BILLER
1) Como você começou a trabalhar com
quadrinhos?
Eu sempre gostei
de desenhar e eu aprendi a escrever com a ajuda de quadrinhos, quando tinha
cerca de 4 a 5 anos. Acho que tinha uns
13 anos quando comecei a fazer quadrinhos. Mas como minhas histórias em
quadrinhos não pareciam com as outras histórias em quadrinhos eu pensava que
elas não eram quadrinhos “reais”. Foi só quando comecei na Escola de Quadrinhos
de Malmö, aos 22 anos, foi que eu percebi que era isso que eu queria fazer!
Desde então, tem sido "minha voz" e minha ocupação. É trabalho um
duro. Eu trabalho muito para poder pagar minhas despesas, mas vale a pena!
2) Como você diria que a escola de
quadrinhos de Malmö influenciou a produção de quadrinhos na Suécia?
Muito,
eu diria. Existem outras escolas de quadrinhos na Suécia, mas a de Malmö é
realmente especial. Eu só posso falar por mim, mas os professores lá me fizeram
acreditar em mim mesma, na minha capacidade de ganhar a vida com os quadrinhos.
Lá temos uma educação completa. Tudo, da
escrita do roteiro, da tinta e a como fazer o marketing dos seus quadrinhos.
3) O que é ser cartunista na Suécia?
Há algum problema como o sexismo?
Boa pergunta! Eu
acho que, em comparação com muitos outros países, é mais fácil ser uma
cartunista aqui. A Suécia é um país muito bom para viver na medida em que a
igualdade de gênero acontece. Embora ainda tenhamos algum caminho a percorrer!
Há sexismo, sim, mas eu tenho sorte, eu acho. A maioria das pessoas com quem
trabalho é legal, tanto homens como mulheres. Embora eu já tenha recebido algumas
mensagens irritadas de homens mais velhos, que não gostam de mulheres
cartunistas com opinião forte.
4) Você disse anteriormente que apesar da
igualdade de gênero ainda há obstáculos para as mulheres na Suécia. Você
poderia falar mais um pouco sobre isso?
É
uma pergunta complicada. E não há uma resposta fácil. As mulheres na Suécia
ainda não ganham tanto dinheiro quanto seus colegas do sexo masculino para
trabalhar exatamente as mesmas horas, por exemplo. Ainda há um problema com o
assédio sexual. Especialmente para as mulheres jovens que escrevem colunas ou
blogs políticos. Como em todo o resto do mundo, infelizmente. Mas estamos
trabalhando nisso! O movimento feminista na Suécia é forte!
5) Como está atualmente, a
participação feminina nos quadrinhos suecos?
Na Suécia,
cerca de 50% das pessoas que trabalham em quadrinhos são mulheres! Portanto, há
um grande equilíbrio. E a presença de quadrinhos feministas é realmente grande!
Há um monte de nomes importantes, como Liv Strömqvist, Sara Granér, Nanna
Johansson e Åsa Grennvall. Elas são realmente talentosas. Nós temos, igualmente,
uma grande rede chamada "Dotterbolaget", para mulheres quadrinistas,
onde nos ajudamos e às vezes publicamos material juntas.
6) De uma forma geral, quais são as
dificuldades enfrentadas por um quadrinista,
homem ou mulher, para publicar na Suécia?
Principalmente
publicar e conseguir permanecer publicando em uma revista ou jornal. As vendas
de revistas de papel caíram dramaticamente nos últimos anos. E a concorrência é
dura. É difícil ganhar bastante dinheiro com apenas quadrinhos, em comparação
com a fotografia. Se você não tem sorte, pode começar somente 700 SEK (certa de
R$ 245,00) para uma página inteira colorida! No entanto, revistas ligadas a
diferentes sindicatos pagam muito melhor.
7) Como é a relação entre os
quadrinhos comerciais e a produção independente na Suécia?
Eu
acho que é muito boa. Pelo menos para mim. Eu sou um dos poucos que trabalha
com ambos durante os anos, tanto material super comercial e quanto artístico. A
maioria dos cartunistas suecos se conhece e nos ajudamos mutuamente. Nós sempre
nos divertimos quando nos encontramos, apesar de algumas vezes trabalharmos em
diferentes gêneros.
8) Qual é o perfil do leitor de
quadrinhos na Suécia?
Eu
acho que a maioria dos leitores hoje em dia são adultos, entre, digamos, 20-60
anos. Tanto homens quanto mulheres. Para ser honesta, eu não tenho certeza.
9) Você já produziu obras biográficas
e adaptações literárias. A partir desta experiência como você enxerga potencial
educativo dos quadrinhos?
É
enorme! Quando eu era pequena, professores e bibliotecários achavam que era
prejudicial ler histórias em quadrinhos. Mas hoje em dia muitos estudos
mostraram o oposto: é benéfico para a
compreensão de uma história e ajuda os alunos a aprenderem a ler e a escrever
mais facilmente. Eu trabalho muito com o ensino de quadrinhos. Nos últimos
meses ensinei quadrinhos para crianças que imigraram para a Suécia recentemente
e algumas ainda não têm as habilidades de linguagem para escrever sueco. Mas
através de quadrinhos eles podem entender uma história mais fácil e podem se
expressar fazendo quadrinhos, usando apenas alguns palavras combinadas com
imagens. É ótimo!
10) Entre todas as suas obras, há
alguém que você considera ser especial? Qual é a sua favorita?
É realmente
difícil escolher um favorito, mas talvez seja um livro que fiz há cerca de dois
anos atrás, que foi uma coleção de adaptações de meu poeta favorito do poeta
sueco Gustaf Fröding. O livro foi chamado "I varje droppe är en
ädelsten" ("Há uma pedra preciosa em cada gota").
Imagem disponível em: https://www.lambiek.net/artists/b/biller_malin.htm, acesso em 28 mar. 2017. |
Se você gostou da entrevista e quer conhecer um
pouco mais sobre a autora, eu publiquei um texto sobre ela no Lady’s Comics,
que pode ser visualizado clicando aqui!
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