domingo, 6 de novembro de 2016

BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A AVALIAÇÃO DO ENEM DE 2016

Este ano eu retornei, depois de muito tempo, ao 3º ano do Ensino Médio. Basicamente, quando parei de dar aulas para o 3º Ano o MEC ainda nem tinha criado o Programa Universidade para Todos (PROUNI) e o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) ainda não era vinculando a concessão de vagas em universidades públicas.  Sendo assim, analisar uma prova inteira do ENEM é uma novidade e um desafio para mim.

Pois bem. A prova de Ciências Humanas e suas Tecnologias (caderno branco) envolve questões de História, Filosofia, Sociologia e Geografia. Vou tentar dar uma opinião geral sobre ela, embora eu pretenda dar mais atenção às questões de História.

Vou começar com alguns aspectos que eu considero positivos. A questão 03 que usa a História em Quadrinhos (HQ) de Marjane Satrapi, “Persépolis”, foi bem formulada. A questão teve estrutura simples e, ao mesmo tempo, complexa. Os quadrinhos, quando bem utilizados, podem enriquecer atividades e trazer provocações. Pena que em 45 questões, apenas uma utilizou este recurso.

Senti falta do uso de charges, presentes em avaliações anteriores. Aliás, usaram-se em 45 questões poucas imagens (e não estou contando aqui gráficos e mapas): uma HQ, algumas reproduções de pinturas, fotos e anúncios. Mas é uma questão pessoal. Acho que a leitura de imagens precisa ser mais explorada. Não estou desqualificando a avaliação por conta disso.

Com relação às questões de História, achei que foram bem distribuídas, abarcando vários períodos sem privilegiar um em específico. Mas senti falta de questões referentes ao Império.  No geral, eu diria que o nível das questões estava bom, mas achei o vocabulário um tanto rebuscado. Por exemplo, na questão 33, a alternativa (c) trazia a opção “ordenar conflitos laborais” onde poderia ser “ordenar conflitos trabalhistas”. Suponho que muitos estudantes erraram esta questão simplesmente porque não sabiam o significado de “laboral”, termo que, na minha experiência de mais de 20 anos em sala de aula, não costuma ser usado nem mesmo em livros didáticos.

Foi uma avaliação que privilegiou a interpretação. Eu acho isso positivo. Mas nas questões de Filosofia e Sociologia achei que se abusou um pouco de termos acadêmicos, de autores que são desconhecidos até para professores do Ensino Médio. Vejam bem, nem todo professor de Humanas tem oportunidade de fazer um mestrado ou um doutorado, de se aprofundar em alguns estudos, em alguns autores. A maioria nem é estimulada a isso. Quanto mais formação, mais caro fica o professor e, por exemplo, em algumas escolas particulares, a pós-graduação não oferece vantagens financeiras aos docentes, que acabam se limitando a uma especialização simples. 

Minha maior crítica à avaliação do ENEM é a seguinte: utiliza-se em muitas questões um vocabulário que não condiz com a realidade dos nossos alunos e mesmo dos professores da Educação Básica.

Minha posição como professora, com experiência em escola particular e pública, é que o estudante demonstra seu conhecimento, suas habilidades, quando consegue entender o que a questão demanda. Daí eu achar importante que as provas cobrem interpretação. Mas se ele se depara com alternativas que utilizam um vocabulário muito acima da capacidade geral de entendimento de um aluno do Ensino Médio, eu me pergunto: qual é o objetivo desta avaliação?

Avaliar conhecimento, ou excluir aqueles que ainda não são dotados de maturidade e experiência necessárias para compreender um vocabulário completamente ausente na sua prática diária?

Como professora de História, eu diria que foi uma prova razoável e que não cobrou muito acima da capacidade dos alunos. No entanto, eu questiono como isso foi cobrado na questão da linguagem utilizada para avaliar o aluno. Passou-me a impressão de que o MEC não conhece a realidade da escola brasileira, do estudante brasileiro. Isso me assusta, ainda mais em tempos de reforma do Ensino Médio.

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