Lugar de fala, porque por meio de quadrinhos, muitas autoras conseguem expressar suas ideias, seus sentimentos e compartilhar suas angústias. Não invariavelmente, quadrinhos de ficção são baseados em experiências de suas autoras, algumas delas traumáticas, e se tornam espaços nos quais elas compartilham com seus leitores e leitoras sua vivência, tornando os quadrinhos uma porta para o espaço privado. Dependendo do tipo de quadrinho e da interpretação do (a) leitor (a), muitas obras assumem estas duas características.
O primeiro ponto que eu destacaria aqui
é a diversidade que caracterizou a obra, em vários sentidos. Diversidade
temporal: mulheres de diversos períodos da história foram biografadas, desde a
antiguidade até o século XXI. A autora não obedeceu uma ordem cronológica. Num
momento estávamos no século VI no outro no XVII aí voltávamos para a
antiguidade clássica. Não havia uma linha temporal estabelecida, o que pode
parecer meio caótico para aqueles que são mais metódicos, mas que não atrapalha
de forma alguma a leitura, uma vez que cada biografia independe da outra.
Temos ainda a diversidade espacial: Pénélope Bagieu nos leva a uma verdadeira viagem volta ao mundo, passando por todos os continentes. A autora teve muito cuidado em inserir o máximo possível de mulheres representando várias regiões e, também, diversas etnias. Elas são brancas, negras, ameríndias, asiáticas. São mulheres de credos orientação sexual diversos. Acima de tudo, temos na obra uma seleção de mulheres tão humanizadas que é difícil não se sentir próxima de algumas delas. Rainhas, médicas, zoólogas, xamãs, dançarinas, cientistas, exploradoras e donas de casa.
Pénélope Bagieu fez uma pesquisa
cuidadosa ao compor essas biografias. Ela
consegue trazer de forma leve e bem-humorada, a vida dessas mulheres, que nem
sempre era um mar de rosas. Muitas dessas mulheres sofreram formas de discriminação
e violência física ou simbólica, seja pela sua aparência, sua origem social, sua etnia ou
por serem diferentes de outras mulheres. Temos personagens autistas,
refugiadas, mulheres revolucionárias esposas e mães dedicadas que têm em comum
o fato de terem sido ousadas, ou seja, mesmo com todos os obstáculos elas “fizeram o
que queriam”.
Uma leitura indicada para mulheres de
todas as idades. E não apenas mulheres, homens deveriam ler, também, uma vez
que essas personagens maravilhosas em toda a sua diversidade, são universalmente inspiradoras.
Para quem quiser conferir, uma dica: eu comprei um box com os dois volumes e
achei que ficou bem em conta.
Agora o que eu não gostei. Embora o conteúdo e a qualidade do material ser muito bom, o formato que a editora escolheu, 24x17, dificulta a leitura. Isso porque a autora utiliza, também, letras cursivas nos quadrinhos, cuja leitura fica difícil e cansativa porque o tamanho da letra fez com que eu, em muitos momentos, ficasse presa a um quadro tentando enxergar o que estava escrito. A opção por um formato maior teria sido melhor para o leitor e aí, seria perfeito.
Por fim, quero abrir um parênteses para dizer que, no Brasil, este tipo de quadrinho biográfico, seguindo a mesma linha de "Ousadas", já vem sendo publicado. Temos, por exemplo, a HQ de Aline Lemos, "artistas brasileiras" (clique aqui para conferir) e "Divas brasileiras", de Eduardo Ribas e Guilherme Miorando (mais informações, aqui)
Um comentário:
Ainda não tive a oportunidade de ler, porém o artigo aguçou meu interesse.
Agradeço a indicação.
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