quarta-feira, 27 de abril de 2022

II GUERRA MUNDIAL, QUADRINHOS E MEMÓRIA


Aproveitei os feriados de abril  para colocar algumas leituras em dia. Dentre elas a HQ "Lilly Renée, fuga do holocausto", de Trina Robbins, com ilustrações de Anne Timons e Mo Oh. O quadrinho foi publicado no Brasil início do ano, pela Excelsior book One, uma editora, aliás, que eu não conhecia. Basicamente, é um quadrinho biográfico, que conta uma parte da vida da autora de quadrinhos Lilly Rennée, refugiada austríaca, que veio com a família para os Estados Unidos, para fugir da perseguição aos judeus e da guerra, no início da década de 1940. 

É uma grande obra dos quadrinhos? Não necessariamente. É um quadrinhos biográfico que segue o mesmo estilo de quadrinhos desse gênero, traçando uma narrativa linear, pontuando alguns fatos marcantes que ajudam na contextualização da história. É uma obra comum, em muitos aspectos, mas nem por isso deixa de ter seus méritos.

O primeiro deles é o fato de ser um quadrinhos didático. A autora teve a preocupação em explicar, inclusive, os termos em alemão que foram usados, assim como esclarecer alguns fatos que foram citados ao longo da história. No final da HQ, mais do que um glossário, Trina Robbins contextualiza o período para o leitor tenha uma experiência de aprendizado, algo que muito historiadores não se preocupam em fazer, uma vez que costumam escrever muito mais para seus pares do que para o público leigo. 

Essa preocupação com a contextualização dá um diferencial à obra. Nem sempre quadrinhos biográficos trazem esse material "extra", encerrando com alguns comentários feitos pelo autor, ou acrescentando alguns dados biográficos ausentes na obra como forma de apêndice. Às vezes, nem isso.

O segundo mérito da obra é o fato de colocar como protagonista uma mulher que teve um papel importante na produção de quadrinhos nos anos de 1940, e cuja memória é desconhecida, ou pouco conhecida, por boa parte dos leitores desse gênero narrativo. Daí o fato do subtítulo da obra colocar Lilly Renée como "pioneira e símbolo de empoderamento". Esse tipo de trabalho é raro, para não dizer único, uma vez que o protagonismos das mulheres na indústria dos quadrinhos é um tema ainda pouco explorado, principalmente numa obra em quadrinhos.

Embora o monte da narrativa gire em torno das experiências que a autora teve fugindo do nazismo, e sofrendo preconceito por ser judia e refugiada, ela se encerra com um breve relato da entrada da autora na cena dos quadrinhos, ainda jovem. Nesse ponto eu senti falta de um poucos mais das experiências de Lilly Renée como quadrinista, embora eu reconheça que não era a intenção obra focar nessa parte da vida da autora. Talvez se fosse um quadrinhos autobiográfico essa lacuna fosse melhor preenchida, uma vez que partisse direto das memórias de Renée, o que não é o caso aqui. Assim, fica aquela sensação de "quero mais". 

Pagina de Señorita Rio, por Lilly Renée

Eu, particularmente, tenho intensão de num futuro próximo me debruçar sobre a obra dessa autora, principalmente Señorita Rio, uma personagem fascinante. Acho atrativo não apenas as representações das mulheres nos quadrinhos de aventura e superaventura dos anos de 1940 mas, também, as representações que se tinha dos sul-americanos. Veja o caso de Señorita Rio, uma personagem brasileira, cujo título está escrito em espanhol.

Eu recomendo o quadrinhos como leitura para jovens, então, se seu filho ou filha curte quadrinhos e você deseja que ele experimente outros tipos de HQ, fica a dica; Além disso essa HQ é um bom material para se trabalhar questões relacionadas ao nazismo, holocausto e II Guerra mundial em sala de aula. As possibilidades de exploração do conteúdo ficam a critério do/a professor/a mas, sem dúvida, ele pode e dever ser utilizado,.