quinta-feira, 23 de setembro de 2021

GUERRA FRIA EM CHARGES: A GUERRA DA COREIA NAS PÁGINAS DA GAZETA DE LEOPOLDINA

Usei charges do jornal local, a Gazeta de Leopoldina, para trabalhar com questões relacionados ao uso da imagem durante a Guerra Fria, com destaque para a Guerra da Coreia. Confira o resumo:


Nesse trabalho fez-se uma análise do discurso contido no periódico “A Gazeta de Leopoldina”, jornal do município de Leopoldina em Minas Gerais. O período analisado corresponde ao ano de 1951, quando o jornal publicou uma série de charges sobre a Guerra da Coreia, com viés anticomunista. O objetivo é demonstrar como o jornal pode ser utilizado, tanto como fonte de pesquisa, quanto como recurso didático para se estudar determinados períodos da história. Metodologicamente, optou-se pela análise do conteúdo a fim de identificar a orientação ideológica do periódico. Buscou-se conceitualizar a charge, como arte gráfica e meio de expressão, inserindo-a nos campos da política e da ideologia. Em seguida, foram apresentados, exemplos de como ela foi utilizada como forma de propaganda comunista e anticomunista ao longo do século XX. Por fim, partiu-se para o foco principal do estudo, que é a análise das charges publicadas, com a preocupação de se apresentar tanto o contexto histórico geral, quanto efetuar uma análise do conteúdo publicado neste periódico, aliado aos interesses dos grupos aos quais ele atendia”.

 

O texto possuí versão em inglês e espanhol. Para ler o texto na íntegra, clique aqui!


Sobra Revista Cajueiro

A Revista Cajueiro foi criada no âmbito das ações do PLENA - GRUPO DE PESQUISA EM LEITURA, ESCRITA E NARRATIVA: Cultura, Mediação, Apresentação Gráfica, Editoração, Manifestações. Sua missão primordial é a disseminação de pesquisas, ações, políticas, boas práticas, além do debate de ideias sobre a formação de leitores e a cultura da leitura no Brasil, com ênfase na Ciência da Informação.

 

Seu objetivo principal é agregar conhecimento à Ciência da Informação e áreas afins, contextualizando socialmente os conteúdos e também estabelecendo o debate e a aproximação da academia com a sociedade e seus segmentos, as profissões voltadas para a formação do leitor e a produção de leituras.

 

O público-alvo da Revista Cajueiro é formado pelos pesquisadores acadêmicos, docentes, bibliotecários, documentalistas, arquivistas, profissionais da informação, gestores e dirigentes de sistemas e unidades de informação (Bibliotecas, Gibitecas, Arquivos, Pontos de Leitura, Centros Culturais), editores, assim como professores, educadores, terapeutas da leitura, contadores de histórias, e lideranças sociais e políticas vinculadas a disseminação de práticas leitoras e ao fortalecimento da cultura da leitura.

 

Os temas em vista para a publicação na Revista Cajueiro são: Documentação e Gestão da Informação; Formação do Leitor e Cultura da Leitura; História e Cultura Editorial; Leitura Pública e Políticas de Leitura; Mediação de Leitura e Letramento; Narrativa Sequencial Gráfica em análise; Narrativa Sequencial Gráfica em Exposição; Temática Interdisciplinar em Ciência da Informação.

 


terça-feira, 14 de setembro de 2021

TRABALHADORAS INVISÍVEIS: MULHERES QUADRINISTAS E OS SILÊNCIOS DA HISTÓRIA


Produzi esse texto em parceria com a querida amiga Valéria Fernandes da Silva, para o 31º Simpósio Nacional de História da ANPUH. O encontro ocorreu em julho deste ano (2021) e foi publicado  este mês, em formato eletrônico. Nele estamos falando sobre a história de mulheres quadrinistas, cuja memória vem sendo revisitada. Os desafios, os obstáculos que muitas delas encontraram ao longo da profissão, não apenas por serem mulheres mais, também, pelo fato de ser quadrinista nem sempre foi considerada uma atividade digna de status. Segue o resumo do artigo.

Resumo: Quando nos dedicamos a falar das mulheres quadrinistas, normalmente, nos deparamos com grandes silêncios que sugerem que elas não existiam, ou não produziram nada que merecesse figurar nos livros de História. Este tipo de discurso foi produzido e reproduzido ao longo dos anos e reforçada tanto por intelectuais, especializados nos estudos sobre quadrinhos, quanto pelos fãs e os meios de comunicação. Vez ou outra, algumas mulheres conseguiram romper essa barreira, somente para terem sua obra celebrada como exceção ou escrutinada a partir de critérios estabelecidos para validar a obra de autores masculinos. Consideradas excepcionais, elas não podiam servir, portanto, de modelo para as outras mulheres. Dentro das narrativas sobre a História das histórias de quadrinhos, constituiu-se como uma verdade que a profissão é masculina e que as mulheres no Ocidente não seriam nem produtoras, nem consumidoras de quadrinhos. As discriminações e omissões decorrentes do gênero, isto é, dos papéis atribuídos à homens e mulheres em uma dada sociedade historicamente determinada, vem sendo muito estudadas nos últimos anos. Vários estudiosas colocaram abaixo muitas das teorias que, por exemplo, relacionavam a suposta inferioridade biológica e intelectual das mulheres com reação aos homens. Outras demostraram que os papeis sociais outrora naturalizados foram socialmente construídos. O objetivo desse trabalho é abordar, utilizando-se das discussões feministas e do campo dos estudos de gênero, este aspecto da História dos Quadrinhos, mas ir um pouco além, a partir das falas de algumas autoras e sobre elas mesmas, é possível perceber outro fator de exclusão: a carreira de quadrinista não era vista digna de ser perseguido por um artista sério, mas, especialmente, em tempos de crise econômica, ou de guerra, era um trabalho temporário que deveria ser superado tão logo fosse possível. Em nosso trabalho, pretendemos resgatar as falas de mulheres quadrinistas que enfrentaram uma barreira a mais para produzirem seus quadrinhos e como as formas de literatura vistas como populares eram consideradas inferiores e mesmo perniciosas para a juventude até por seus próprios autores. Acreditamos que os quadrinhos sejam não apenas um lugar de fala mas, também, um lugar de memória dessas mulheres e que, a partir de sua trajetória podemos compor um quadro mais amplo no qual temos não apenas a possibilidade de analisar relações de gênero mais de identificar pontos relevantes para a construção de uma história das mulheres nas artes gráficas, um campo que por muito tempo foi monopolizado pelos homens.  

Caso alguém se interesse, clique aqui para ler o texto na íntegra.

Como citar esse texto:

SILVA, Valéria Fernandes da, NOGUEIRA, Natania Aparecida da Silva. Trabalhadoras invisíveis: mulheres quadrinistas e os silêncios da História. Anais do 31° Simpósio Nacional de História [livro eletrônico] : história, verdade e tecnologia /organização Márcia Maria Menendes Motta. -- 1. ed. --São Paulo : ANPUH-Brasil, 2021.

sábado, 11 de setembro de 2021

MINHAS IMPRESSÕES SOBRE A HQ "PELE DE HOMEM"


Eu me sinto incomodada quando as pessoas falam de  forma generalizante que os homens não entendem as mulheres. Quais homens? Quais mulheres? 

Começo o meu texto com essa provocação depois de me deliciar com a leitura de "Pele de Homem"(2020), uma HQ aclamada e que tem acumulado não apenas elogios como, também, prêmios. Essa HQ foi roteirizada por Hubert Boulard, ou apenas Hubert, que nos deixou em 2020, aos 49 anos de idade. A ilustração e as cores ficaram a cargo de Zanzim, pseudônimo de Frédéric Leutelier.

Dois homens que souberam colocar em imagem e texto os dilemas enfrentados por uma mulher que vive em uma cidade italiana, no período do renascentista. A HQ levanta diversas questões, que vão dos papeis de gênero impostos a homens e mulheres ao fanatismo religioso e à homoafetividade. 

"Pele de Homem" narra a história de Bianca, uma mulher que recebe como herança de família uma pele de homem. Ao vesti-la ela realmente se torna um homem, com músculos mais forte e sendo inclusive capaz de ter um relacionamento sexual. Bianca quer entender o mundo dos homens, conhecer o seu futuro marido e, por tabela, acaba se descobrindo enquanto mulher. 

Uma HQ que valoriza as mulheres, reivindica respeito e explora o mundo dos homens a partir de uma perspectiva feminina. Pois é, e essa HQ foi escrita por dois homens. Intrigante, não? Talvez não tanto. Há homens plurais, assim como mulheres plurais, por isso sempre evitamos usar o singular para nos referirmos a um e outro. 

Há homens que conseguem se colocar no lugar das mulheres e o fazem muito bem. É o caso dessa HQ que, surpreendentemente nos brinda com uma história de empoderamento, quando uma mulher se torna um homem numa sociedade fechada para as mulheres e a revoluciona. 

Mas se a pele é de homem, a mente, as ações e as ideias são de Bianca, se descobre como mulher. Isso não porque pode se disfarçar de homem, mas porque é capaz de identificar os mecanismos de dominação que colocam as mulheres como seres inferiores e se recusa a se curvar a eles.

Enfim, uma obra muito bonita, tanto pelo traço delicado quando pela profundidade do texto.  Pele de Homem foi publicada em português e é um excelente leitura, tanto para homens quando para mulheres.

domingo, 5 de setembro de 2021

QUADRINHOS E MEMÓRIA: OUVINDO A VOZ DAS MULHERES

Tornei-me admiradora dos quadrinhos de Keum Suk Gendry-Kim quando li “Grama”, primeira HQ da autora sul-coreana a ser publicado no Brasil Agora reafirmo minha admiração após ler "A Espera", HQ publicada recentemente no Brasil. Keum Suk Gendry-Kim trabalha com memórias, a partir das quais cria obras de ficção. Uma ficção que traz uma base sólida, pois é criada a partir de entrevistas e de pesquisas. Umberto Eco afirma que a ficção só se constrói a partir da realidade, nada mais certo e que pode ser comprovado em "A Espera". 

Nesta obra, Keum Suk Gendry-Kim escreve sobre a guerra da Coreia a partir dos relatos de pessoas que foram separadas de suas famílias, no início da década de 1950. A autora faz um levantamento histórico que permite a nós, leigos na história do leste asiático, contextualizarmos o período que vai da Segunda Guerra à guerra da Coreia. Ela faz essa contextualização ao introduzir o testemunho de quem vivenciou esses eventos, por meio de personagens ficcionais baseados em pessoas reais. Uma ficção se que se constrói a partir da memória individual e coletiva.

É uma obra que traz uma fluidez da narrativa que permite ao leitor uma leitura prazerosa, ao mesmo tempo que aborda com sensibilidade tema delicados, como o caso da separação das famílias. Outro ponto que me agrada muito, é o fato da autora se auto representar, na forma de Jina, filha caçula da protagonista, Gwija, uma senhora de 90 anos que foi separada do marido e do filho quando fugiam da guerra. Ao se colocar na narrativa a autora faz o papel de mediadora e cria uma dinâmica única na qual histórias são introduzidas e contadas. 

Ao contrário de “Grama”, quando ela não está apenas pesquisando e colhendo informações e memórias de sobreviventes. Em “A Espera” a autora está também contando a própria história, uma vez que sua mãe também passou pela mesma situação. A autora é parte de uma das famílias que foram separadas e coloca na HQ relatos que colheu no seio familiar. Sendo assim, “A Espera” traz também a escrita de si, uma vez que a autora também vivenciou a questão central, que a separação das famílias e a espera pelo reencontro.

Keum Suk Gendry-Kim dá oportunidade para mulheres contarem a história a partir de um ponto de vista diferente dos homens, assim como fez em Grama. Elas falam do casamento, da maternidade e das dificuldades de ser mulher numa sociedade na qual elas não possuíam espaço para expressão. A obra traz um raio-x do patriarcado coreano, nas décadas de 1940 e 1950, que em muitos pontos se assemelha à realidade das mulheres do Ocidente, que só veio a conhecer mudanças significativas a partir do movimento feminina.

Eu poderia escrever várias páginas sobre essa HQ, e pretendo fazê-lo em breve, mas vou finalizar recomendando fortemente a obra para quem gosta de um quadrinho de ficção que trata de temas sensíveis e que revisita e conta a história de forma clara e comprometida.