quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

PRÊMIO ARTÉMISIA 2021 - OBRAS SELECIONADAS

O Prix Artémisia  anualmente premia as melhores autoras de quadrinhos publicados em idioma francês  e é oferecido pela Associação Artémisia, que leva o nome da artista italiana do século XVII Artémisia Gentileschi. A cada ano, a associação estabelece uma lista de prêmios e entrega seus prêmios a vários laureados.

As obras  selecionadas para a edição de 2021 foram publicadas em 2020 e sua escolha tive como critérios, sua qualidade, originalidade e criatividade. As vencedoras serão anunciadas dia 07 de janeiro de 2021 durante a abertura de uma exposição dedicada às obras de algumas das autoras premiadas em edições anteriores, na livraria Espace des Femmes-Antoinette Fouque, localizada na rue Jacob 35, em Paris, no 6º arrondissement.

A exposição  "Artemisia, du 15e  siècle  à  l’année de la BD" homenageará Artémisia Gentileschi, que nos brindou com obras maravilhosas até sua morte, em 1656. Artémisia Gentileschi foi umas primeiras mulheres a se destacar na história da arte. Na exposição serão expostas obras de Chantal Montellier, Catel, Laureline Mattiussi, Claire Mallary, Una e Jacky Flemming, assim como uma mostra de vídeos gravados durante a entrega dos prêmios anteriores, por Line Scheibling.

As obras selecionadas para a edição de 2021 são:

1 -  Anaïs Nin de Léonie Bischoff (Casterman)

2 - Baume du tigre de Lucie Quéméner (Delcourt)

3 - Corps en grève de Valentine Boucq et Amandine Puntous (Steinkis)

4 - Les Croques de Léa Mazé (Éditions de la Gouttière)

5 - La déesse requin de Lison Ferné (CFC éditions)

6 -  Hippie Trail de Séverine Laliberté et Elléa Bird (Steinkis)

- La mécanique du sage de Gabrielle Piquet (Atrabile)

8 - Melvina de Rachele Aragno (Dargaud)

9 - Moi Mikko et Annikki de Tiitu Takalo (Rue de l’Échiquier)

10 - Sauf imprévu de Lorena Canottiere (Ici même)

11 - Sourvilo d’Olga Lavrentieva (Actes Sud)

12 - Vent Mauvais de Cati Baur (Rue de Sèvres)


O júri deste ano é composto pela quadrinista, escritora e co-fundadora do Prêmio Artemísa, Chantal Montellier , pela professora de história e geografia Julie Scheibling, pela jornalista Laure Garcia , pelo teórico do cinema Gilles Ciment , ex-diretor da Cité Internationale de la comic et l’image Patrick Gaumer e o escritor, jornalista, autor do World Comic Book Dictionary (Larousse) , Pascal Guichard. O presidente do júri é Laurent Gervereau , artista visual, escritor, diretor de instituições de patrimônio (Musée du vivant) e redes internacionais, presidente do Institut des images. Escritor Gilles Ratier, autor do relatório anual sobre a situação econômica e editorial dos quadrinhos.


Na edição de 2020, o Grande Prêmio foi concedido a Barbara Baldi por seu romance gráfico Ada, publicado pelas edições Ici Even.

QUANDO OUVIR GANHOU OUTRO SIGNIFICADO


Em tempos de pandemia a maioria de nós deixou de ver para ouvir e o som se tornou um dos grandes refúgios para os corações cada vez mais solitários. Nós passamos a ouvir amigos, colegas e desconhecidos, em podcasts, lives e reportagens. O isolamento fez com que ouvíssemos com mais atenção e tornou mais forte nossa memória auditiva. Quantos professores, por exemplo, que depois de quase um ano de aulas remotas não passaram a reconhecer seus alunos pelo som, da sua voz?

Quantos familiares não passaram a interagir mais por chamadas telefônicas ou de vídeo com outros familiares com os quais raramente conversava? Amigos distantes ficaram mais próximos e novas amizades foram nascendo de inteirações entre pessoas por meio digital. Mas mesmo que houvesse imagem, o som se tornou mais representativo. Fechar os olhos e ouvira a voz de outra pessoa passou a preencher um espaço n’alma de muitas pessoas. O som fez revistar antigas memórias e levantas novas questões.

Será que é assim com os astronautas, que ficam meses isolados em estações espaciais? Será que eles também criaram uma memória auditiva em meio ao silencia do espaço, onde o som não propaga? Contrariando muitas das projeções, 2020 foi um ano de encontros. Nos encontramos conosco e com outras pessoas, mas de forma diferente. Criamos memórias singulares que dificilmente serão esquecidas. Superamos grandes dificuldades embalados pelos sons mais diversos. Se carecemos de contato físico, nossas almas nunca estiveram tão próximas. Contrariando as leis da física o som ultrapassou a luz.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

OS 50 ANOS DO I CONGRESSO INTERNACIONAL DE QUADRINHOS


I Congresso Internacional de Quadrinhos - MASP - 1970. Imagem retirada do livro "50 anos: edição Comemorativa da Primeira Exposição Internacional de Histórias em Quadrinhos (2001)", de Álvaro de Moya.

Novembro passado o I Congresso internacional de Quadrinhos, que ocorreu no Museu de Arte de São Paulo (MASP), entre os dias 23 e 29 de novembro, de 1970, completou 50 anos. O evento teve como instituição de fomento a Escola Panamericana de Arte, fundada em 1963 pelo artista plástico Enrique Lipszyc, um dos idealizadores do congresso.  O acontecimento representou um marco para a pesquisa acadêmica sobre quadrinhos e uma mostra da crescente valorização dessa mídia, que, ao longo dos anos de 1950, sofreu um forte preconceito por parte de setores conservadores da sociedade.

Se ainda havia aqueles que ainda consideravam a leitura de quadrinhos nociva, crescia e se fortalecia um grupo de intelectuais, artistas e educadores que percebiam os quadrinhos como algo além de uma forma de entretenimento barata. Isso pode ser observado tanto em âmbito local quanto nacional. Naquele ano de 1970, escolas da educação básica receberam cartilhas educativas na forma de quadrinhos e os correios, em benefício da Federação das Entidades na Luta Antituberculose do Estado de São Paulo (FELASP), promoveram uma campanha para venda de seloscom os personagens da Turma da Mônica.[1]

São Paulo se destacava não apenas como um polo produtor de quadrinhos mas, também, como irradiador de pesquisas. Nada mais natural que partisse de lá a iniciativa para se colocarem os quadrinhos em debate, a partir de um evento acadêmico, reunindo não apenas autores como pesquisadores. No âmbito local, o I Congresso Internacional de Quadrinhos recebeu atenção de jornais da capital e do interior do Estado de São Paulo, tanto pelo tema abordado quanto pelos convidados, brasileiros e estrangeiros.

A Tribuna, jornal de Santos, no litoral, dedicou quase meia página para noticiar o evento no MASP, destacando a presença estrangeira[2]. Nomes consagrados da indústria dos quadrinhos, representando gêneros e tendências diferentes.

Tabela

* Dados biográficos retirados da wikipedia e da Enciclopédia dos Quadrinhos.

Paralelamente, Pietro Bardi (criador do MASP) e Enrique Lipszy foram responsáveis pela curadoria de uma Exposição Internacional de Quadrinhos, narrando a história da mídia a partir de 1900. A exposição ficou aberta ao público até 15 de dezembro daquele ano. Um dos colaboradores da exposição foi escritor e ilustrador santista Diamantino Silva. 

No dia 23 de novembro, a Folha de S. Paulo colocou os quadrinhos ao lado de Cândido Portinari e de Mário Gruber em uma matéria sobre o início da Exposição Internacional de Quadrinhos, no dia 23 de novembro. [...] “No museu de arte a manifestação das histórias [sic] em quadrinhos com cerca de 400 trabalhos de autores nacionais e do exterior abre-se hoje, às 19 horas, o que poderá ser vista até janeiro: esta [sic]montada no primeiro pavilhão da instituição.”[3]

I Congresso Internacional de Quadrinhos - MASP - 1970. Imagem retirada do livro "50 anos: edição Comemorativa da Primeira Exposição Internacional de Histórias em Quadrinhos (2001)", de Álvaro de Moya.

A imprensa fluminense também cedeu espaço para o I Congresso Internacional de Histórias em quadrinhos. O Jornal do Brasil e o Diario da Noite, por exemplo, publicaram matérias detalhadas sobre o evento e seus participantes, até mais completas do que os jornais paulistas. Numa delas, destacou-se um dos temas que foram debatidos durante o evento: a questão dos direitos autorais. 

O Jornal do Brasil ainda trouxe a toma uma questão relevante: as dificuldades que o evento encontrou, sendo a maior delas a falta de verba para trazer especialistas. Enrique Lipszyc de ao Jornal do Brasil o seguinte depoimento:  “Não tivemos apoio de ninguém [...] ficaremos sem a participação de grandes psicólogos, sociólogos, estudiosos dêsse [sic] meio de comunicação. A verba não deu. Apesar disso, conseguimos trazer grandes desenhistas do gênero, façanha que nem o Congresso de Lucca, na Itália, conseguiu até hoje.”[4]

A década de 1970 foi marcada por outras iniciativas de cunho acadêmico com o objetivo de valorar os quadrinhos, tanto como objeto de estudo quando arte. Livros de autores como Umberto Eco foram traduzidos para o português. Um exemplo é “Apocalípticos e Integrados", um clássico do semiótico italiano,  publicado em maio de 1970[5]. Ainda neste ano, Álvaro de Moya, um dos organizadores da I Exposição Internacional de Quadrinhos de 1951, publicou o libro teórico Shazam!  Aos olhos de muitos, os quadrinhos nas escolas e na academia apareciam como sendo uma tendência.

Por todo o país exposições sobre quadrinhos eram recebidas em espaços considerados nobres e/ou monopolizados pela elite cultural e intelectual brasileira.  Em 1970, antes do I Congresso Internacional de Quadrinhos e a Exposição Internacional de quadrinhos no MASP, em fevereiro, a Secretaria de Educação e Cultura da Prefeitura Municipal de Campinas promoveu uma exposição de quadrinhos no Museu de Arte Contemporânea daquele município. A exposição não só incentivava a leitura dos quadrinhos como, também, recomendava seu uso nas escolas. 

A Faculdade de Comunicação da UnB e a Fundação Cultural do DF realizaram uma Exposição de Histórias em Quadrinhos que, segundo o professor Francisco Araújo promovia uma [...] “ideia mais vasta de cultura [...]” porque “[...]os problemas contemporâneos estão colocados diariamente nas tiras das histórias em quadrinhos”.[6]

A ocorrência de um congresso de grande porte num espaço nobre como o MASP, fez-me entender mais profundamente o longo percurso que os quadrinhos trilharam desde o século XX até os dias atuais em busca de reconhecimento. Reconhecimento enquanto forma de leitura, como mídia, arte e também como instrumento de ensino e pesquisa. É importante pensar que, há cinquenta anos, estávamos conquistando a primeira grande vitória após uma longa caminhada. 

Cinquenta anos depois, o que temos são uma coleção de outras vitórias com a expansão do campo de estudos dos quadrinhos para além das ciências da comunicação. Atualmente são realizadas pesquisa multidisciplinares envolvendo essa mídia/arte, que é fruto da cultura material dos últimos dois séculos. Foram criados grupos de pesquisas tanto independentes como vinculados às universidades. 

Em 2012, surgiu a Associação de Pesquisadores em Arte Sequencial – ASPAS, que reúne mais de 70 pesquisadores em constante intercâmbio e com uma considerável produção anual de conteúdo acadêmico.  Para 2021 a Escola de Comunicação e Artes da USP (ECA/USP), em São Paulo, já este preparando sua 8ª Jornada Internacional de Quadrinhos, evento que reúne anualmente cerca 300 pesquisadores, das mais diversas disciplinas, numa busca constante pela valorização e reconhecimento dos quadrinhos como objeto de estudo.



[1] Campanha com selos. A Tribuna, Santos, 19 de set. de 1970, n. 162 p. 6.

[2] Tarzan, Mandrake e Fantasma em discussão neste Congresso. A Tribuna, Santos, 12 de novembro de 1970, n. 215, p. 06.

[3] Portinari, Quadrinhos, Gruber, Primitivas e de nova visão. Folha de s. Paulo 23 de novembro de 1970, p. 11, n.15135.

[4] Congresso Internacional de Quadrinhos debaterá direitos autorais. Jornal do Brasil, 17 de nov. 1970, Rio de Janeiro, nº 192, 1º Caderno, p. 15

[5] A Tribuna, Santos, 9 de maio de 1970, n. 37 p. 15.

[6] A história que os quadrinhos não contam. Fato Novo, São Paulo, editora verde Amarelo, p. 6, nº 20.

 

quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

LANÇAMENTO DE LIVROS SOBRE QUADRINHOS E CULTURA POP

Esta semana foram lançados dois livros sobre quadrinhos e cultura pop pelo "Cult de Cultura", Grupo de Pesquisa Interdisciplinar em Arte Sequencial, Mídias e Cultura Popsediado em São Leopoldo, RS, ligado à Associação de Pesquisadores em Arte Sequencial (ASPAS). O Cult de Cultura promove anualmente eventos acadêmicos sobre o tema e publica muito material de qualidade. 

A primeira publicação é o livro "sexo e gênero nos Quadrinhos", organizado por Guilherme “Smee” Sfredo Miorando, com a contribuição de diversos autores, inclusive, Trina Robbins, que publica neste livro seu segundo texto em língua portuguesa.

O segundo livro é resultado dos trabalhos apresentados pelo encontro do Cult de Cultura de 2019, "Vamos falar sobre cultura pop : episodio 4 : o pop não poupa ninguém", organizado por  Thuanny de Azevedo Bedinote, Marcelo Ávila Franco, Larissa Tamborindenguy, Becko e André Daniel Reinke. O livro esta com textos incríveis , sobre histórias em quadrinhos, temáticas e abordagens vairadas. 

As publicações do Cult de Cultura são realizadas com o selo da ASPAS e podem ser obtidas gratuitamente no site do grupo (é só clicar aqui).

Sobre o Cult de Cultura:

A proposta deste grupo de pesquisa é ser um espaço de discussão e pesquisa interdisciplinar, no qual diferentes pesquisadores, de diferentes áreas do conhecimento (especialmente das áreas das ciências humanas e das ciências sociais aplicadas) e de distintas regiões do Brasil, buscam compreender os bens culturais contemporâneos nas dinâmicas que regem seus principais veículos, as diferentes mídias, ocupando-se, em especial com a arte sequencial: filmes, animações e quadrinhos.