sexta-feira, 26 de julho de 2019

A DITADURA DA BELEZA: MINHA IDENTIDADE É BELEZA GANGNEN (내 아이디는 강남미인)


Estou na minha fase de assistir doramas (séries produzidas em países como Coréia do Sul, Japão e China), de todos os tipos. Mas não comento nem pretendo comentar todos. Fiz, creio eu, duas resenhas até agora. A primeira empolgada por ter descoberto as séries chinesas e coreanas, a segunda por ter me impressionado com uma série da qual, a princípio, eu não esperava muito. De lá para cá assisti muitas outras e até montei uma playlist com músicas chinesas e coreanas que me agradaram, às vezes até mais do que as séries.

Mas não sou uma fã daquelas de ir a fóruns e discutir sobre cada dorama que eu assisti.  Mas tal qual acontece com os quadrinhos, que eu estudo e leio por prazer, o contato com os doramas, assim como outros produtos da cultura pop, desperta em mim certas inquietações quando alguns temas são abordados. Isso aconteceu recentemente quanto assisti o dorama sul-coreano "Minha Identidade É Beleza Gangnam" (내 아이디는 강남미인), lançado em 2018 e baseado em um webtoon (termo usado para descrever webcomics ou manhwas sul-coreanos que são publicados online) publicado em 2016, pelo Naver Webtoon

O dorama envolve várias questões, inclusive de gênero. Ela conta a Kang Mi Rae (Im Soo Hyang), uma garota que desde a infância sofreu  bullying por causa da sua aparência. Isolada de todos, e mergulhada numa grande tristeza, ela faz uma cirurgia plástica radical e ganha um novo rosto.  Mi Rae pretende, com isso começar uma nova vida, agora na universidade. 

De outro lado, temos Do Kyung Suk (Cha Eun Woo) que foi colega de escola Kang Mi Rae. O rapaz, sisudo, triste e introspectivo, é antissocial e tem uma história familiar complicada. Ele é extremamente bonito,  cobiçado pelas mulheres e invejado pelos homens, mas não se importa com a aparência física. A distância, ele nutria simpatia por Mi Rae, embora não tenha interagido muitas vezes com ela enquanto estavam no ensino regular.

A série apresenta cenários nos quais a beleza é opressora tanto na sua ausência quando no seu excesso.  Este é um dos pontos que me encantou. Veja bem, Mi Rae, a partir das experiências traumáticas de sua infância e adolescência, acredita que a aparência externa é mais importante, e que ter um rosto bonito fará com que ela seja socialmente aceita. Já Do Kyung Suk, muito perspicaz, é capaz de enxergar para além das aparências e, no decorrer da história, ele vai ajudando Mi Rae a fazer o mesmo. 

O dorama demonstra que o bullying sofrido por Mi Rae é reflexo de um excesso de valorização da beleza física pela sociedade sul-coreana e,  neste caso específico, mas busca a razão para esse comportamento. O comportamento agressivo e mesquinho possuí uma razão e quem comete este tipo de violência pode estar sofrendo tanto quando quem é vitimada por ela. 

Pessoas bonitas são felizes? A beleza externa é tão importante assim? O que é beleza afinal? Estas questões afloram o tempo todo. E são respondidas ao longo da série de forma sutil explorando o clichê de que "o que importa é a beleza interior" de forma sensível e em um nível superior ao que já pude observar em produções que assisti anteriormente nas quais o tema é debatido.

As alunas "bonitas" da universidade são constantemente vítimas de assédio e de atitudes sexistas. As que são diferentes, seja pela forma física ou pela despreocupação com a aparência, dão um exemplo de empoderamento e autoaceitação comovente. Durante os 16 episódios da série isso é exposto, denunciado e combatido.  Isso me surpreendeu muito. 

O relacionamento que vai se desenvolver entre Mi Rae e  Do Kyung Suk acaba sendo o pano de fundo para se debater justamente sobre isso. Sobre tabus e preconceitos socais, como gordofobia, violência doméstica contra a mulher, sexismo e assédio moral e sexual. Tudo feito de forma bem madura e até didática. 

Dito isso, eu recomendo a quem tem interesse sobre o tema a conferir esse dorama, que está disponível gratuitamente no Viki (se você tiver paciência para os intervalos de propaganda), que disponibiliza uma grande quantidade de doramas,inclusive muitos que então sendo atualmente exibidos pela TV em seus respectivos países, com opção de legendas em português e em outros idiomas.

Para quem quiser saber mais há um excelente texto sobre a série no Cantinho de Tudo Blog (clique aqui para conferir), inclusive explicando o significado de Beleza Gangnem.


quarta-feira, 24 de julho de 2019

ALGUMAS PALAVRAS SOBRE O XXX SIMPÓSIO NACIONAL DA ANPUH

Composição da mesa de abertura do XXX Simpósio de História da ANPUH, no dia 15 de julho, no Teatro Gararapes, em Olinda (PE).
Retornando do XXX simpósio Nacional de História, encontro bianual promovido pela ANPUH (Associal Nacional de História), eu não poderia deixar de escrever algumas palavras.

Normalmente eu faço alguns relatos sobre as impressões que tive das mesas-redondas, das conferências e do simpósio temático do qual eu participei mas desta vez eu optei um texto mais intimista. Nele quero tentar expressar em palavras o significado que este encontro, em especial, teve para mim.

Sou filiada à ANPUH desdes 1994. São 25 anos que eu sou oficialmente membro da associação, embora eu tenha começado a frequentar os encontros da ANPUH em 1991, quando ainda estava na faculdade. Mas foi nesse XXX Simpósio  que , pela primeira vez,  eu realmente senti um grande orgulho de fazer parte da ANPUH. 

Não me entendam mal, mas houve momentos em que eu pensei em me desfiar e apenas permaneci pela necessidade de manter o vínculo com outros pesquisadores e poder me manter atualizada. No entanto, este ano, em meio a tantas dificuldades e tanta perseguição às universidades e aos profissionais ligados às ciências humanas, eu senti  pela primeira vez que a ANPUH realmente me representa. Talvez eu tenha finalmente tomando consciência da importância de fazer parte de algo maior. 

Fala inspiradora de  Joana Maria Pedro (UFSC), acompanhada de Márcio Ananias Ferreira Viana (UFPE), ao centro, e Roger Chartier, que fez uma conferência logo em seguida.

A abertura do XXX Simpósio foi emocionante. A energia no auditório, que reuniu milhares de pessoas de todos o país e do exterior foi revigorante. Tanto os convidados quanto os membros da direção e da organização do evento foram felizes em cada palavra proferida. Eu não teria como nomear a todos, pois foram tantas falas pertinentes, então eu gostaria de citar a ex-presidente da ANPUH Joana Maria Pedro cujas palavras aqueceram meu coração. Por meio dela, agradeço a todos os demais. 

A ANPUH é hoje uma força de resistência contra a ordem estabelecida, que caça direitos, distorce a história e dissemina o caos. A ANPUH representa aqueles que acreditam na educação e na pesquisa como forma de desenvolvimento humano. Ela é um oásis de sanidade em meio a tanta loucura. 

Ao retornar para casa eu me senti revigorada e determinada a continuar resistindo, continuar pesquisando. A dar o meu melhor como pesquisadora e educadora. A ANPUH me represente e eu quero representá-la da melhor forma possível, também.

E-BOOK DO II COLÓQUIO INTERNACIONAL MOVIMENTOS, TRÂNSITOS & MEMÓRIAS


Foi lançado semana passada o E-Book do II Colóquio Internacional Movimentos, Trânsitos & Memórias, que ocorreu em abril deste ano na Universidade Salgado de Oliveira. Eu apresentei um texto, que faz parte da minha pesquisa de doutorado: "O nascimento da imprensa feminista na França". Para quem tiver interesse no meu texto, em particular, basta clicar aqui! Para ter acesso aos dois volumes do E-Book, clique aqui!