A solução
para isso foi matar a menina e todos que tinham conhecimento da sua existência.
Ela deve morrer por ser mulher? Essa é a questão que é levantada ao longo de
toda a trama. A pequena e indefesa Dam-i deve
ser sacrificada para que seu irmão possa ascender ao trono. No entanto, a
princesa-herdeira desafia o neconfucionismo e salva a vida da menina que, mais
tarde, por uma reviravolta do destino, assume o lugar do irmão mais velho
e torna-se rei, durante a Dinastia Joseon, no século XV.
Dam-i
deixa de existir para que Lee Hwi possa continuar existindo e, com isso, garantir sua
própria sobrevivência. A menina se torna menino. "O Rei de Porcelana" conta a
história de uma donzela guerreira, que precisa esconder seu gênero e viver uma
vida que não é sua. A questão dos papeis de gênero perpassa toda a narrativa.
Sendo mulher, mas vivendo como homem, Dam-i
mostra que esses papeis são apenas construções. Por mais de uma década ela
mantém a farsa e acaba sendo coroada rei, e um rei muito competente. Não lhe
falta nada: sabedoria, força, habilidade de luta e carisma.
Imagem do manhwa (2011), capturada em: https://amazonesstory.tistory.com/354 |
"O Rei de
Porcelana" subverte o papel da donzela guerreira, que morre ou é sacrificada
ao final da sua trajetória. Nessa história, Lee Hwi morre para que Dam-i possa viver. O neoconfuncionismo
não é apenas criticado, mas desafiado. Ela não deve morrer por ser mulher, essa
é a mensagem final do drama. Uma mensagem que dialoga com o presente, num país
no qual mulheres e homens ainda são influenciados por valores arcaicos,
baseados numa filosofia que sobrevive ancorada no patriarcalismo.
Essa série dramática coloca em cena a questão do gênero de forma a nos levar a refletir sobre o que realmente é ser homem e ser mulher. Vale destacar a atuação de Park Eun-bin, que a protagonista, que interpreta a nossa donzela guerreira. Uma história muito bem orquestrada, uma narrativa cheia de reviravoltas do início ao fim, um elenco magistral, uma bela trilha sonora e uma cenografia de tirar o fôlego fazem de O Rei de Porcelana uma obra ímpar, que vale a pena ser assistida.