segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

IMPRESSÕES GERAIS SOBRE DO FESTIVAL DE ANGOULÊME

Hotel de Ville.
Este ano fui ao Festival Internacional de Quadrinhos de Angoulême. Para quem não conhece, o Festival de Angoulême é realizado anualmente na cidade de Angoulême, na França, e é um dos mais importantes do mundo. Eu participei pela primeira vez.

Parti de Portugal para França na companhia de mais 15 pessoas, entre elas autores, editores, estudiosos e fãs da nona arte. Foi minha primeira viagem longa de comboio (trem) e eu realmente não estava preparada para ela. Duas coisas me incomodaram: o calor que fazia dentro do comboio e a falta de espaço entre as poltronas que fez com que eu preferisse ficar em pé ou no bar durante boa parte da viagem. Uma viagem por sinal longa: cerca de 20 horas até o destino final, Angoulême.Mas o sacrifício foi válido. Primeiro porque o festival foi fantástico, segundo porque a cidade, Angoulême, por si mesma compensa o sacrifício. É uma cidade belíssima.
 
Minha Credencial.
Saímos quarta a noite e chegamos em Angoulême quinta noite, a tempo de alguns de nós fazerem seu credenciamento. Eu me credenciei como imprensa internacional, pois eu tenho um blog sobre quadrinhos e porque colaboro com revistas como a Papiers Nickeles e com sites como o Lady’s Comics. Fiz meu credenciamento pela Lady’s Comics, uma vez que atualmente pesquiso e escrevo sobre as mulheres nos quadrinhos. Como representante da imprensa eu tinha direito a uma sala super simpática no Hotel de Ville, um castelo medieval que hoje é um tipo de prefeitura, onde os membros da imprensa se reuniam, tinham direito a internet, café, suco, água etc.

O festival começou no dia 26 e seguiu até do dia 29 de janeiro. A programação foi intensa. Não é exagero dizer que eu não consegui ver tudo. A cidade inteira torna-se um grande palco dedicado às Histórias em Quadrinhos.  Ruas, lojas, restaurantes, confeitarias e até o mercado municipal são decorados com temas relacionados aos quadrinhos. Assim, cada esquina tem alguma novidade, alguma coisa que chame a atenção do visitante.

Prestem atenção: entre pães, doces e vinhos
colocou-se álbuns de quadrinhos nesta confeitaria.
Era assim em todos os lugares praticamente.
E as exposições, elas estavam em todos os lugares. Havia exposições de quadrinhos dentro das igrejas e de museus como o Museu de Angoulême (que tem uma coleção maravilhosa de objetos e fósseis pré-históricos) e o Museu da Resistência (dedicado à memória do movimento da resistência francesa durante a II Guerra Mundial), teatros, galerias e prédios públicos. Os bares e restaurantes se tornaram dia e noite o ponto de encontro de jornalistas, artistas e fãs.

Autores estavam a todo lado, autografando seus álbuns e interagindo com o público. Tive meus momentos, por exemplo, com Posy Simmonds, presidente de júri deste ano, quando ela autografava um álbum (uma revista em quadrinhos) que eu comprei. Era fácil, por exemplo, encontrar com Hermann, vencedor do Grand Prix de 2016 e homenageado com uma linda exposição no Espaço Frnaquim ou o brasileiro Marcelo Quintanilha, também premiado ano passado.

Autora consagrada dos Quadrinhos,
Posy Simmonds é super simpática.
Enquanto autografava um álbum
para mim ainda falou algumas
palavras em português.
O público foi intenso e envolvia pessoas de todas as idades. Havia muita visitação escolar, mas a grande massa de visitantes eram adultos acima dos trinta anos de idade. Entre quinta e sexta-feira já haviam passado aproximadamente de 35 mil pessoas pelo festival, segundo a organização. E muitos mais eram esperados. Sábado a cidade foi tomada por turistas e era quase impossível entrar nas exposições, das mais simples às mais concorridas.

Angoulême também foi lugar para se fechar negócios e para muitos autores encontrarem editores e mostrarem seus trabalhos. Havia estandes de grandes e pequenas editoras, não apenas da França e da Bélgica, mas de outros países como Argentina, Estados Unidos, Chile e Suécia. O mercado dos quadrinhos, pelo que pude perceber está na todo o vapor. Muitos lançamentos, filas enormes para pegar autógrafos, conferências, etc.

A sala de imprensa estava sempre cheia, com correspondentes de todo o mundo enviando informações para rádio, televisão, jornais, sites e blogs. Entrar nas conferências era muito difícil. A que eu queria assistir perdi porque me atrasei cinco minutos. Nem com a minha credencial eu consegui entrar. Vou ficar mais esperta na próxima vez.
Ruas lotadas no sábado pela manhã!

Mas, não se preocupem, eu tenho muito coisa ainda pra relatar. Conversas com autores, com colegas pesquisadores e impressões específicas sobre exposições ainda vão rolar, seja aqui no blog, no Lady’s Comics e em outros sítios. No geral, o festival foi além de qualquer expectativa que eu pudesse ter. Tanto pela receptividade das pessoas, os contatos que fiz e o muito que aprendi nos quatro dias que fiquei na charmosa comuna de Angoulême.

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

NA SUÉCIA, SEM NEVE MAS COM MUITO CALOR HUMANO

Kulturhuset, em Estocolmo.
Acho que bati meu recorde de distância: fui parar na Suécia. Não estava nos meus planos iniciais. Já haviam me sugerido, mas eu não cheguei a levar a sério. Porém, eu comecei a conhecer um pouco da História dos Quadrinhos suecos e fiquei muito interessada. Em especial a participação feminina no mercado de quadrinhos. Imagine um país onde a participação das mulheres no setor é de 50% e onde as questões de gênero não geram conflitos, pelo menos não como no Brasil (35%) ou na França (12%).

O país, claro, também foi me atraindo aos poucos à medida em que eu pesquisava. Sempre quis ter aquelas férias de inverno onde as pessoas fazem bonecos de neve e deitam na neve para fazer anjos. Não que eu nunca tenha visto neve. Uma vez, há muitos anos atrás, nos Alpes Suíços. Mas foi muito rápido e era a primeira neve, poucos centímetros apenas. 
Serieteket do Kulturhuset, em Estocolmo.
Por tudo isso eu resolvi incluir Estocolmo em quatro dias da minha viagem. Destes quatro dias, dois efetivamente foram produtivos. Os outros envolveram traslados de aeroporto, táxi, enfim, não deu para dizer que foram quatro dias. Coloque aí dois e meio. Este foi meu maior erro.

Deveria ter pensando no tempo que perderia em aeroportos e aumentado pelo menos mais dois dias de viagem. Mas, como já comentei em postagens anteriores, minhas férias estão sendo um aprendizado. Estou aprendendo o que NÃO fazer. Mas isso eu vou detalhar em uma postagem específica sobre viajar sozinha pela Europa. Agora quero falar daquilo que me motivou ir parar na terra dos vikings: conhecer pessoas que produzem e/ou fazem Histórias em Quadrinhos.

Com Gabriel Winnberg, que me ajudou
a fazer contatos em Estocolmo.
Pra começar eu procurei um suporte em Estocolmo. Com pessoas conhecidas não consegui nada. Ou seja, com brasileiros eu não poderia contar, pelo menos com os que eu conhecia. Então fiz o que faço melhor: procurei contatos ligados à área dos quadrinhos. No início eu não consegui nada. Quando estava quase desistindo eu pensei: por que não tentar contato pelo facebook?

Eu busquei alguma coisa relacionada à Academia Sueca de Quadrinhos e achei uma página comemorativa dos 50 anos da Academia. Lá havia vários comentários. Fui diretamente aos autores destes comentários e enviei a eles uma mensagem pedindo informações sobre quadrinhos na Suécia.

Eis que fui respondida por um artista plástico, Gabriel Winnberg. Ele me introduziu na comunidade dos quadrinhos suecos através de um amigo quadrinista, Knut Larsson. O que se seguiu, então, foi uma reviravolta: para quem não tinha ninguém, conheci cerca de oito pessoas envolvidas diretamente com quadrinhos. Destas, encontrei com seis em Estocolmo, no dia 20 de janeiro.
Knut, autografando Cidade dos
Crocodilos para mim!

Sinceramente, eu nem sabia o que ia fazer. Meu inglês é muito ruim e meu francês ficou no passado. A sorte é que eu entendo boa parte do que me falam, tanto num idioma quanto no outro. O problema é dizer o que eu penso. Mas acabei descobrindo uma coisa muito importante. Quando as pessoas querem te entender elas te acolhem de tal forma que o idioma é uma barreira que se ultrapassa com algum esforço.

Eu fui super nervosa me encontrar com meus novos amigos e fui muito bem acolhida. Eles me apresentaram o centro cultural de Estocolmo o Kulturhuset, onde inclusive há uma gibiteca, que lá se chama Serieteket. Estou aprendendo aos poucos algumas palavras em sueco. Por exemplo, pesquisador(a) em quadrinhos lá se chama serieforskaren.

Depois saímos para conversar, falar sobre quadrinhos na Suécia e tudo mais. Ganhei presentes: um livro sobre a História dos Quadrinhos na Suécia, escrito por Fredrik Strömberg, com quem, aliás, vou encontrar em Angoulême e a História em Quadrinhos do Knut, Cidade dos Crocodilos, sobre a qual já falei aqui. Eu tinha a versão em pdf, recebi a versão impressa com direito a dedicatória.
Com Ola Hammarlund, Ola Hellsten, Linda Gustafsson, Thomas Karlsson e Knut Larsson.
Eu me senti um tanto perdida, em alguns momentos, sem saber como dizer o que eu queria, mas todos foram muito pacientes comigo. O que eu não consegui falar lá, eu posso compensar por mensagens, e-mails, etc. O importante foi ter esse contato, mostrar meu interesse em conhecer mais e, principalmente, levar para lá um pouco dos quadrinhos do Brasil. Deixei na Serieteket, que me foram dados por quadrinistas brasileiros que agora fazem parte do acervo do Kulturhuset. Espero que, em breve, haja quadrinhos brasileiros em terras nórdicas.

Sei que esta viagem e estes contatos ainda vão render muitas páginas de pesquisa, ainda este ano. E já tenho planos de retornar, com um inglês muito melhor eu garanto.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

ENCONTROS EM PORTUGAL OU COMO TRANSFORMAR FÉRIAS EM UMA FORMA PRAZEROSA DE AMPLIAR SEU CAPITAL CULTURAL

Café Tintin, em Lisboa.
Eu havia imaginado que faria uma narrativa sequenciada da minha viagem à Europa. Eu pretendia escrever um pouquinho todo dia, para não perder os detalhes. Mas, ao cair da noite eu estava cansada ou distraída conversando com os amigos do Brasil, aí o relato ficava pra o dia seguinte. Assim, talvez muitos detalhes se percam ou alguns nomes sejam esquecidos, mas espero poder tirar da memória recente a maior quantidade de referências possíveis.

Como no meu primeiro texto eu falei do meu encontro com Cecília Capuana, nada mais justo que neste eu fale do meu encontro com outros autores e artistas. Para isso vou retornar ao início, à minha primeira parada, e base apoio logístico, Portugal.

No dia 12 de janeiro eu tinha uma missão: ir à Bedeteca de Amadora e lá deixar alguns exemplares de fanzines, livros e Histórias em Quadrinhos. O material me foi dado, em sua maioria, por colegas da Associação de Pesquisadores em Arte Sequencial (ASPAS) para fazer parte do acervo da Bedeteca de Amadora. O material teórico, inclusive, foi muito festejado. Livros sobre quadrinhos ainda são poucos, mas a produção acadêmica tem crescido muito e cada adição serve tanto para valorizar os quadrinhos enquanto produto cultural quando para mostrar como a pesquisa neste campo tem avançado.

Geraldes Lino e José Ruy.
Fui recebida por Cândida, a responsável pela Bedeteca. Pessoa maravilhosa. Recebi em troca alguns livros produzidos em Amadora, que pretendo usar em breve para novas pesquisas. Aliás, acho que 2017 vai ser o ano de pesquisa para mim. Longe do marasmo de 2016, sinto-me inspirada e animada a finalizar antigos projetos e emplacar novos. Inclusive já tenho um artigo encomendo para fevereiro, mas este é um assunto para outra postagem.

Passei praticamente uma manhã inteira e parte da tarde em Amadora e, detalhe, eu fui sozinha. Eu me virei, claro. Quando decidi que viajaria completamente sozinha para o exterior sabia que ia precisar de jogo de cintura em muitos momentos. Vou dizer uma coisa, passei uns bons apertos, coisa que nunca vivenciei no Brasil, mas não reclamo. Como sabiamente disse meu amigo filósofo Gabriel “o que não me mata, me fortalece.” E foi isso mesmo.

Mas voltando a Portugal, eu reencontrei meu querido amigo e especialista em fanzines Geraldes Lino, isso ainda no dia 12 de janeiro, no Café Tintin, na Avenida de Roma, em Lisboa. Conversamos bastante sobre assuntos relacionados a quadrinhos, política e, claro, sobre os Festivais de Angoulême e Amadora. Depois fui apresentada a um restaurante português, "O Prego da Peixaria", que possui um cardápio especial de Hambúrgueres.
Hambúrguer de salmão com choco.

Eu pedi um hambúrguêr de Salmão com choco. Uma delícia, eu recomendo. Ele vem acompanhado de batata doce frita em forma de palitinhos. É muito gostoso. Claro, tudo acompanhado de vinho. Vou dizer que, até agora, acho que só não tomei vinho quatro dias durante a minha viagem (estou no 12º dia). Eu brinquei com muita gente dizendo que tomaria vinho todo dia. Não é que isso quase foi verdade? Na casa de amigos, em restaurante e no avião. Sempre tinha vinho.

Fechando a parte de Portugal, pelo menos esta primeira parte, no sábado, dia 14 de janeiro eu fui convidada para participar do “Almoço do Mosquito”. O Mosquito foi um importante periódico que circulou em Portugal que surgiu em 1936 e circulou até o final da década de 1980. A revista abriu espaço para revelar vários talentos dos quadrinhos em Portugal.

Há alguns anos tem sido realizado um almoço de confraternização entre antigos colaboradores, editores e leitores do periódico. E lá estava eu, entre eles. Pude rever o famoso quadrinista português José Ruy, de que sou fã, e conheci jovens talentos como Luiz Simões. Eu me encantei com um professor aposentado e pesquisador Antônio Miguel, com quem fiquei  conversando durante quase todo o almoço. Foi muito interessante, muito enriquecedor.
Luiz Simões desenhando José Ruy.

Uma curiosidade: o almoço foi em um restaurante de comida mineira, olham só! A ideia que os portugueses têm de comida mineira é bem diferente da minha. Eu sou mineira, né gente! Mas eles tentaram. Eu me lembrei de Trina Robbins, que ficou apaixonada por picanha, quando esteve no Rio de Janeiro. Ela achou um restaurante brasileiro em São Francisco e, claro, pediu picanha. Como ela reclamou! Aparentemente a picanha nos Estados Unidos não é tão boa quanto à do Brasil.

Após o almoço fomos a Amadora. Pois é, voltei à bedeteca. Era a inauguração da exposição que homenageia a obra de Fernando Relvas. Muito bonita, por sinal. Eu conheci o autor quando fui a Portugal pela primeira vez. Aliás, ele foi uma simpatia comigo e até me enviou sua última História em Quadrinhos em pdf. Uma gentileza e tanto. Uma merecida homenagem, para um autor talentoso que vem superando muitas dificuldades para continuar produzindo.
Exposição sobre Fernando Relvas,
na Bedeca de Amadora
.

Por fim, neste mesmo dia, fiz minha já tradicional visita à casa do amigo André Diniz, que se mudou para Portugal no início do ano passado. André é um dos meus quadrinistas brasileiros preferidos. E já era antes de eu o conhecer pessoalmente. Eu gosto muito do trabalho que ele faz com quadrinhos didáticos. Todo ano eu coloco meus alunos para lerem pelo menos um. Ano passado foi a Guerra de Canudos. Roteirista e desenhista, André tem ganhado espaço no cenário internacional. Sua História em Quadrinhos além de receber prêmios no Brasil, já foi publicada em Francês.

Fechou-se assim, minha primeira etapa da viagem, pelo menos a profissional. Depois eu devo falar sobre a parte turística, igualmente importante. Afinal, eu estou de férias!

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

TOMANDO CHOCOLATE NO LOUVRE COM CECÍLIA CAPUANA

Tomando chocolate quente com Cecília Capuaba no Louvre.
Eu Não gosto de resumos. Eles tendem a simplificar as coisas e a beleza, pelo menos pra mim, está nos detalhes. Eu me irrito quando pergunto animadamente a uma pessoa “E aí, como foi?” e ela simplesmente responde “Foi bom!” Ora, se uma pessoa tem interesse em saber o que aconteceu, ela não perguntaria. Então, detalhes, por favor.

Por isso eu fiz esta postagem, eu quero dar detalhes sobre um dos momentos mais incríveis da minha vida: eu conheci pessoalmente Cecília Capuana.

Cecília Capuana é uma pintora, desenhista e quadrinista italiana. Eu conheci o trabalho dela primeiro pela indicação de Chantal Montellier, uma quadrinista francesa. Depois através dos quadrinhos dela, que eu tive a oportunidade prazer de ler quando comprei meus exemplares da revista francesa da década de 1970, Ah! Nana!, da qual Cecília, Chantal, Trina Robbins e muitas outras quadrinistas participaram, entre os anos de 1976 e 1978. Ah! Nana! tem sido meu objeto de estudo desde o final do meu mestrado, há quase dois anos e, possivelmente, será o tema do meu doutorado se eu me animar a fazer.

Voltando a Cecília Capuana, como fui conhecer meu objeto de pesquisa pessoalmente?
 
Self de despedida!
Há alguns anos eu planejo fazer uma viagem longa ao exterior. No roteiro eu queria incluir duas coisas: Paris e Angoulême. Juntando meu suado dinheirinho eu consegui realizar meu desejo (darei detalhes separados em outras postagens) e fiz algo que eu não tinha planejado: passei algumas horas com Cecília. O local não poderia ser melhor, em um café super chique, no Louvre.  É, o Louvre, aquele museu onde está aquele quadro famoso, a Monalisa. Aliás, tirei retrato com elas: a Monalisa e a Cecília, claro.

Mas vamos aos detalhes. Eu fui a Paris, obviamente. Alguns dias antes eu recebi uma mensagem de Cecília perguntando quando eu estaria lá. Acabamos marcando um encontro, para o dia 17 de janeiro. Para a minha surpresa ela está residindo em Paris, pois, se entendi bem, o marido dela está trabalhando na França. Daí, fui eu alegremente caminhando pela Champs-Elysées em direção ao Louvre, numa terça-feira, com temperatura abaixo de zero.
 
Eu e a Monalisa!
O encontro foi ótimo. Marcamos na frente da grande pirâmide e fomos para o Café Marly. Tomamos chocolate quente. Caiu bem naquele dia frio. E conversamos, misturando francês e italiano. Vou uma doideira, mas conseguimos nos comunicar. Eu fiquei morta de vergonha no início, mas depois fiquei a vontade. Ela é uma pessoa maravilhosa, muito alegre e gentil. Ficamos lá cerca de uma hora e meia e depois eu me despedi.

Ah, por coincidência naquele mesmo dia eu soube que meu texto sobre Cecília havia sido publicado na revista Papiers Nickelés # 51, a última de 2016.  Fui a uma reunião na revista e a recebi em mãos. Acho que não tem como dizer que o dia 17 de janeiro possivelmente foi um dos melhores dias da minha vida.

sábado, 7 de janeiro de 2017

A OLÍVIA PALITO QUE POUCA GENTE CONHECE

"Thimble Theatre" (Teatro de Dedal) foi uma série em quadrinhos criada por Elzie Segar, em 1919.  A série foi inicialmente formada por histórias curtas que ocupavam quatro a seis quadrinhos. Logo depois, com a entrada de outros personagens, as histórias acabaram ganhando continuidade. Originalmente a série girava em torno da família de Olivia Palito (Olive Oyl, cuja tradução seria Óleo de Oliva). 

Da série lançada em 1919 participavam Olívia, seu irmão Castor Oyl, personagem pequeno e malfamado, sua mãe Nana Oyl e seu pai Cole Oyl.  Olívia, na época, já tinha um namorado, Ham Gravy. O quinteto dividiu espaço nas tiras durante cerca de 10 anos. 

"Thimble Theatre" trazia histórias ao mesmo tempo cotidianas e fantásticas. Segar vai conceber um tipo diferente de história em quadrinhos, uma que não termina apenas numa tira ou página, mas que possuí continuidade. Segundo Francis Lacassin, coube a Segar criar uma história em quadrinho cotidiana com continuidade[1].

The Olive Oyl Family. Disponível em: http://www.oliveoilsource.com/article/olive-oyl-family, acesso em 23 dez. 2016.

Foi nesta série que surgiu um dos personagens mais populares dos quadrinhos e da animação: o Marinheiro Popeye. Mas ao contrário do que muitos possam pensar o marinheiro comedor de espinafre não foi um dos personagens originais da série, tendo sido introduzido apenas em 1929. O personagem fez tanto sucesso que acabou se tornando a estrela das tiras.  

Com a inclusão de Popeye, as histórias mudaram de título, passando a se chamar "Thimble Theatre: Starring Popeye the Sailor" e , em 1936, apenas como “Popeye”. Com a entrada de Popeye as tiras ganharam outro viés, voltado para o fantástico, para a fantasia. Na década de 1930 o fantástico estava em alta, como uma forma de amenizar os efeitos da crise econômica que tomou conta de boa parte do mundo capitalista.[2]

Ham Gravy foi retirado de cena em 1930 pelo marinheiro caolho: levou uma surra de Popeye. Gravy foi para o Oeste, virou vaqueiro e ocasionalmente reaparecia em histórias "solo" curtas na revista do Popeye, nas mãos de Bud Sagendorf [3]. Fez uma participação na edição especial feita em 1999, em comemoração aos 70 anos de Popeye, assinada pelo roteirista Peter. Já nas primeiras páginas da história, Ham Gravy reaparece pedindo a Olivia que desista do seu casamento com Popeye.


Popeye & Thimble Theater. Disponível em: http://greatbutforgotten.blogspot.com.br/2014/08/popeye-thimble-theater.html, acesso em: 23 dez. 2016.


Sua revista foi publicada regularmente até o início da década de 1980, depois disso, Olívia, Popeye e Blutus retornariam apenas em edições especiais. No Brasil, a Pixel publicou em 2016 uma coletânea de histórias assinadas por Bud Sagendorf, publicadas entre 1948 e 1954, “Popeye Clássico”.

Com a entrada de Popeye a série sofreu muitas mudanças, e passou a ter como personagens principais Olívia, Popeye e Blutus. Este último foi inspirado no grande comerciante barbudo dos filmes de Charles Chapim[4]. No entanto, Segar não pode aproveitar muito o sucesso de seus novos personagens. Diagnosticado com leucemia, ele morreu em 13 de outubro de 1938, aos 43 anos de idade.

Revista O Tico-Tico. Rio de Janeiro, 06 de fev. 1935, p. 11.

Após a morte de Segar em 1938, a tira foi continuada por vários roteiristas e ilustradores, o mais notório deles é Bud Sagendorf, ex-assistente de Segar. Ao final da década de 1960, Popeye havia se tornado um ícone da cultura pop, sendo publicado em mais de 25 países. Para o cinema haviam sido produzidos 220 episódios de animação e para cinema outros 234 curtas. Além disso, haviam os licenciamentos de produtos, que iam de peças de vestuário a guarda-chuvas, totalizando na época cerca de 50 milhões de dólares[5].

Olívia Palito, criada uma década antes, teve uma carreira mais longa que Popeye e se tornou uma personagem mundialmente conhecida. Na Espanha, ela é conhecida como Rosario, na França de Huile d’ Olive, na Suécia como Olivia e na Finlândia como Olga. 

Nos anos 1930 de  chegou se tornar uma estrela de rádio e em 1980 até estrelou um filme, onde foi interpretada por Shelley Duvall.[6] A personagem teria sido inspirada em "Dora Paskel", dona de um armazém  em Chester, tanto no tipo físico quando na forma de se vestir.[7] E falando em moda, Olívia possuí produtos licenciados  que fazem sucesso entre o público feminino. No mundo da cultura pop ela ainda é um produto lucrativo.

No Brasil as aventuras de Popeye e Olívia foram publicadas pela primeira vez em 1932 no Jornal Diário de Notícias[8]. Suas histórias também foram publicadas no Suplemento Juvenil, no Tico-Tico e ganhou sua primeira revista em 1939, pela EBAL (Editora Brasil Estados Unidos), de Adolfo Aizen. Na época suas eram chamadas de “Aventuras de Brocoió: o marinheiro Popeye” e Olívia chamava-se Serafina[9].
Olívia não precisava de espinafre para mostrar a Popeye quem mandava.
Apesar de ter sido reduzida à namora do protagonista da revista, Olívia sempre foi uma personagem de destaque. No triângulo amoroso com Popeye e Blutos foi ao mesmo tempo objeto de paixão e, também, uma mulher dominadora. Há quem diga que ela foi vítima constante de violência por parte de Blutos, e de outros personagens masculinos que disputavam sua atenção com Popeye. Mas ela era geniosa e impunha suas vontades sobre o marinheiro que se batia ruidosamente com valentões como Blutos, mas também recebia sua dose de pancadas por parte da namorada. Faria um belo estudo sobre violência física e simbólica.

PS: Dedico esta postagem em memória do saudoso Carlos Engemann, que sempre me dizia que um dia iria escrever um artigo sobre Olívia Palito.




[1] LACASSIN, Francis. Pour um 9ª art la bande dessinée. Paris: Union Générale d’Éditions, 1971, p. 188.
[2] PATATI, Carlos, BRAGA, Flávio. Almanaque nos Quadrinhos: 100 anos de uma mídia popular. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006, p. 34.
[3] Informação fornecida por Pedro Bouça.
[4] LACASSIN, Francis. Pour um 9ª art la bande dessinée. Paris: Union Générale d’Éditions, 1971, p. 189.
[5] MARNY, Jaques. Le monde étonnant des bandes dessinées. Paris: Le Cebturion/Sciences Humanes, 1968, p. 16.
[6] OLIVE Oyl – History. Disponível em: http://oliveoyl.com/history/, acesso em: 23 dez. 2016.
[7] POPEYE. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Popeye, acesso em 23 dez. 2016.
[8] GONÇALO, Junior. A Guerra dos Gibis: a formação do mercado editorial brasileiro e a censura aos quadrinhos (1933-1964). - São Paulo: Companhia das Letras, 2004, p. 131.
[9] POPEYE. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Popeye, acesso em 23 dez. 2016.




segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

COMEÇAM OS PREPARATIVOS PARA O III ENTRE ASPAS


O ENTRE ASPAS é um encontro realizado a cada dois anos na cidade de Leopoldina (MG), reunindo pesquisadores de diversas áreas, e de todo o Brasil, dedicados ao estudo de arte sequencial. Arte sequencial é um termo criado por Will Eisner  se refere à modalidade artística que usa o encadeamento de imagens em sequência para contar uma história ou transmitir uma informação. O evento reúne, portanto, pesquisadores dedicados a áreas como quadrinhos, games e animação.

O ENTRE ASPAS nasceu juntamente com a Associação de Pesquisadores em Arte Sequencial (ASPAS), fundada em Leopoldina. A ASPAS é uma associação que conta, também, com a participação de pesquisadores estrangeiros, fundada em Leopoldina, fundada oficialmente em 2013.

Em breve, mais informações sobre o evento, que ocorrerá entre 25 e 27 de maio de 2017.