quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

DOCUMENTÁRIO COMEMORA OS 60 ANOS DA SUPERGIRL


Neste ano de 2019 tivemos dois aniversariantes ilustres completando mais uma década de existência: Batman, que fez seus tenros 80 anos e a Supergirl, que completou 60 anos. Dos dois, o mais festejado foi sem dúvida o Homem Morcego, que além de várias matérias em sites especializados e jornais ganhou exposições espetaculares como a exposição "Batman 80 anos" inaugurada em janeiro durante o Festival Internacional de Bande Dessinée  de Angoulême, na França, com a presença de Frank Miller.

Mas e a Supergirl? O que se fez ou se falou sobre ela durante o ano de 2019?

Sobre seus 60 anos ocorreram nos diversas manifestações nos Estados Unidos, como a programação especial da Supergirl Radio, criada há cinco anos e que, durante ao ano de 2019 se dedicou a comemorar o "Supergirl's 60th Anniversar",  cuja última transmissão, antes desta postagem, foi dia 20 de dezembro (clique aqui para conferir).

A super heroína também esteve presente, no Atlanta Comic Con, em julho, com um painel apresentado por Rebecca Johnson (clique aqui para conferir o conteúdo em PDF). Além disso, seus 60 anos foram registrados em diversos textos, artigos, artes e vídeos feitos por fãs publicadas ao longo do ano.


As comemorações foram, em grande parte, resultado da popularidade recente da personagem com a série Supergirl, que colocou Kara Zor-El em cena, não mais como uma coadjuvante das aventuras do Superman, mas como estrela de seu próprio show.



Aqui no blog, publiquei uma postagem especial com a história da personagem (clique aqui para conferir). Mas, se comparada às comemorações do dos 80 anos do Batman o aniversário da prima do Superman não teve grande impacto na mídia especializada, resumindo-se a alguns poucos artigos ao longo do ano.

No entanto, neste dezembro festivo tivemos o prazer de poder fechar 2019 com uma surpresa para fãs: um documentário produzido pelo canal Cult de Cultura, do Grupo de Pesquisa Interdisciplinar em Arte Sequencial Mídia e Cultura Pop, sob coordenação de Iuri Andréas Reblin.

Dividido em duas partes, "A garota de Aço" e a "Garota do Amanhã", ele conta com a participação de diversos pesquisadores de cultura pop, como Iuri Andréas Reblin, Vanessa Camargo, Christian Gonzatti, Guilherme Miorando, Ruben Marcelino e esta que vos fala. O documentário faz uma análise histórica, sociológica e cultural da personagem e sua evolução, nos quadrinhos e nas telinhas ao longo dos seus 60 anos de existência. 


Confira os dois vídeos, logo a baixo, e conheça um pouco mais sobre esta personagem que, nos últimos anos, se tornou um dos símbolos de empoderamento feminino e de diversidade, no âmbito da Arte Sequencial. Se puder, deixe seus comentários aqui no blog ou diretamente no canal do Cult de Cultura, no youtube.


sábado, 14 de dezembro de 2019

O DEVER DE MEMÓRIA E O COMPROMISSO DA ESCOLA

Imagem capturada em: <https://jornalggn.com.br/opiniao/a-memoria-a-historia-e-o-esquecimento/>. Acesso em 14 dez. 2019.

Algumas das melhores reflexões que eu já fiz ocorreram em sala de aula, quando eu introduzia um tema ou respondia a um (a) aluno (a) sobre determinado assunto. Eis que durante a minha última aula do ano antes das provas finais, acabei debatendo com os alunos sobre o "dever de memória”.

O "dever de memória" é um fenômeno contemporâneo, que surgiu na França na década de 1980. Ele estava ligado originalmente aos debates relacionados à memória do holocausto judeu e tinha uma característica reivindicatória: era preciso punir aqueles que cometeram tais crimes contra a humanidade.

Simplificando, o "dever de memória", a busca pela justiça, mesmo que tardia. Foi incentivada a criação de arquivos, datas comemorativas, debates públicos, etc. Era preciso lembrar para não repetir o erro. Era preciso lembrar para que os algozes não ficassem impunes. Era preciso lembrar para que a justiça fosse feita, notadamente dentro da esfera do uso ético e político da memória e da própria história. 

O "dever de memória" bate de frente com o esquecimento. Memória e esquecimento caminham juntos, uma vez que toda comunidade escolhe aquilo que deseja recordar e, muitas vezes, trata-se de uma memória romantizada que nem sempre condiz com o fato ocorrido.

Muitos dos eventos que marcaram a vida de nações inteiras foram violentos e traumáticos. Por exemplo, o mito da fundação de Roma, contado de forma romantizada, nada mais é do que uma história marcada pelo fratricídio. Guerras, revoluções, golpes são eventos potencialmente violentos. Mas a memória coletiva festeja os vencedores, lamenta pelos seus mortos e busca esquecer o trauma. Para que pensar no que já passou, não é mesmo?

Esquecer é mais fácil do que reparar, até porque isso demandaria um esforço de reconhecimento do fato e, junto com isso, a tomada de consciência, normalmente dolorosa. Reconhecer o erro gera a necessidade de se responsabilizar por ele, e isso é assustador. Por isso se recorre ao esquecimento.

A negação do passado  no presente é uma forma de esquecimento. E foi sobre isso que nós discutimos em sala de aula. O Brasil nunca precisou tanto reivindicar o dever de memória. Vivemos um momento de negação, de ameaça revisionista da nossa memória e da nossa história. 

A escravidão, acreditem, há quem negue veementemente que ela tenha realmente existido no Brasil. O racismo, realidade no nosso país há séculos, é dado como inexistente. Os direitos dos povos indígenas, que passam por um novo genocídio, vêm sendo arrancados à força de armas e do sacrifício de muitos que se levantam para defendê-los. O Brasil se tornou o país da negação. Nega-se a pobreza, nega-se a violência, nega-se o bom senso.

É preciso apropriarmo-nos do dever de memória para tentar salvar a memória coletiva e a história de uma violação completa dos seus sentidos. É preciso exigir justiça aos que foram escravizados, mutilados, torturados, mortos ao longo da nossa história por simplesmente defenderem seu direito à liberdade, à felicidade e a uma vida digna, o que deveria ser dever do Estado.

Pouco mais de 20 minutos de uma aula, numa turma da educação básica, e eu aprendi tanto, refleti sobre tanta coisa que nem me sentia a professora, mas uma aluna que estava ali com meus mestres, ainda adolescentes. Isso talvez seja o que nos motiva, aos professores, em tempos tão sombrios: o potencial da juventude de poder enxergar com os próprios olhos e falar com sua própria boca. 

Acredito que seja um dos compromissos da escola garantir que os jovens questionem. Que eles possam debater com professores  e entre si. Que eles entendam que são cidadãos ativos e que o "dever de memória" é o que lhes pode garantir o direito de encarar o futuro com responsabilidade. Essa responsabilidade que tanto tem faltado aos adultos, parece florescer em jovens como Greta Thunberg e tantos outros, anônimos, que não têm medo de se expressar e que sonham com um futuro melhor não apenas para si mesmos, mas para todo o planeta.


quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

CHEESE IN THE TRAP (치즈인더트): DE WEBTOON A DORAMA

Cartaz com os personagens da série - protagonistas e coadjuvantes. 

Ontem uma pessoa postou um comentário na resenha que eu fiz de "Nosso lugar secreto" pedindo outras resenhas de doramas que saíram no Netflix.  Entre as séries sugeridas estava uma que eu pretendo utilizar no futuro, em um artigo que quero escrever sobre adaptações de quadrinhos para doramas. Assim, não vejo porque não começar desde já. Não pretendo fazer uma descrição minuciosa nem dar spoilers, para não atrapalhar quem ainda não viu. Mas se isso acontecer, mesmo eu tendo todo o cuidado, peço antecipadamente desculpas.

O k-drama em questão chama-se Cheese in the Trap  (치즈인더트), "Queijo na ratoeira", lançado em  2016, estreado por  Park Hae-jin (como Yoo Jung), Kim Go-eun (como Hong Seol), Seo Kang-joon (como Baek In-ho). 
 
Personagens da webtoon e suas contrapartes na série de 2016.

Ele foi adaptado de uma webtoon (história em quadrinhos) de mesmo nome, produzida pela mangaká sul-coreana Soon kki e publicada online entre 2010 e 2016, com versões impressas a partir de 2012. Para quem tiver curiosidade, a webtoon está disponível para leitura (traduzida para o português, aqui!). Este k-drama se apropria da linguagem dos quadrinhos por meio de efeitos de imagem que valorizam a narrativa em seu todo.

Resumidamente, a trama envolve um triangulo amoroso do tipo clássico: João gosta de Maria que gosta de José. Clichê, né? Fórmula que vende fácil, com uma dose de tensão e conflito entre casais. Mas, veja bem, a série gira em torno das relações desses três personagens, mas ela se diferencia por explorar o lado sombrio deles. E essa é a sacada genial de Cheese in the Trap, que transita entre o romance e o suspense. 

Cheese in the Trap mostra o que há de pior e de melhor no se humano e como as relações entre as pessoas podem ser problemáticas, beirando quase à loucura. Mas também fala sobre redenção, aceitação, de tolerância e de como pode ser difícil perdoar e abandonar maus hábitos. É um k-drama intenso que deve ser assistido aos poucos, um episódio ou dois por dia.
 
Webtoon - em estilo mangá.


Como eu disse, a série expõe o que há de obscuro na alma humana. O protagonista e figura chave é Yoo Jung, uma pessoa que esconde uma personalidade tóxica. Durante a série a gente se pergunta: Yoo Jung é um psicopata? Olha, até agora estou na dúvida se ele é ou não. Rico e sofisticado, Yoo Jung entra na vida da simples e esforçada estudante Hong Seol que não é fácil.  De uma família humilde, a moça luta todos os dias para se manter na faculdade, trabalha e se dedica ao máximo aos estudos. 

O terceiro elemento introduzido na história é Baek In-ho, um desafeto de Yoo Jung, ex-membro de uma gangue, órfão e revoltada com uma série e acontecimentos do passado que mudaram sua vida e o levaram a se envolver com a marginalidade.  Baek In-ho tem uma irmã completamente pirada que vai lhe causar muitos problemas ao longo da história.

As séries sul-coreanas, via de regra, não possuem segundas temporadas. Mas no caso de Cheese in the Trap, bem que merecia, uma vez que o final deixa uma grande interrogação. Eu, particularmente, entendi que o diretor jogou para o público o conclusão final da trama. É irritante? Muito! Mas por outro lado é instigante porque quebra justamente aqueles tais clichês dos quais a gente reclama.

Eu particularmente gosto de filmes e séries que deixam uma pulga atrás da orelha quando terminam. Ela fazem a gente largar de lado aquela preguiça mental característica que de quem assiste filmes, séries e novelas. Faz o receptor pensar e dialogar com a narrativa. É claro que para isso a narrativa tem que ser bem amarrada, não pode ser apenas interrompida.
 
Adaptação para o cinema - 2018
Qual o final de Cheese in the Trap? É este mesmo que você pensou. Se outra pessoa chegou a uma conclusão diferente não significa que ela esteja errada. Que tal sentar e discutir sobre isso?

Por fim, Cheese in the Trap também foi adaptado para filme, lançado em 2018, com algumas mudanças no elenco original. Ainda não assisti, mas as avaliações foram boas. Webtoon, série e filme. Se você têm dúvidas sobre se deve assistir ou não Cheese in the Trap, pense bem: se a série não tivesse algum mérito não teria tido tantas adaptações.