Nesta obra, Keum Suk Gendry-Kim escreve sobre a guerra da Coreia a partir dos relatos de pessoas que foram separadas de suas famílias, no início da década de 1950. A autora faz um levantamento histórico que permite a nós, leigos na história do leste asiático, contextualizarmos o período que vai da Segunda Guerra à guerra da Coreia. Ela faz essa contextualização ao introduzir o testemunho de quem vivenciou esses eventos, por meio de personagens ficcionais baseados em pessoas reais. Uma ficção se que se constrói a partir da memória individual e coletiva.
É uma obra que traz uma fluidez da narrativa que permite ao leitor uma leitura prazerosa, ao mesmo tempo que aborda com sensibilidade tema delicados, como o caso da separação das famílias. Outro ponto que me agrada muito, é o fato da autora se auto representar, na forma de Jina, filha caçula da protagonista, Gwija, uma senhora de 90 anos que foi separada do marido e do filho quando fugiam da guerra. Ao se colocar na narrativa a autora faz o papel de mediadora e cria uma dinâmica única na qual histórias são introduzidas e contadas.
Keum Suk Gendry-Kim dá oportunidade para mulheres contarem a história a partir de um ponto de vista diferente dos homens, assim como fez em Grama. Elas falam do casamento, da maternidade e das dificuldades de ser mulher numa sociedade na qual elas não possuíam espaço para expressão. A obra traz um raio-x do patriarcado coreano, nas décadas de 1940 e 1950, que em muitos pontos se assemelha à realidade das mulheres do Ocidente, que só veio a conhecer mudanças significativas a partir do movimento feminina.
Eu poderia escrever várias páginas sobre essa HQ, e pretendo fazê-lo em breve, mas vou finalizar recomendando fortemente a obra para quem gosta de um quadrinho de ficção que trata de temas sensíveis e que revisita e conta a história de forma clara e comprometida.
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