terça-feira, 14 de setembro de 2021

TRABALHADORAS INVISÍVEIS: MULHERES QUADRINISTAS E OS SILÊNCIOS DA HISTÓRIA


Produzi esse texto em parceria com a querida amiga Valéria Fernandes da Silva, para o 31º Simpósio Nacional de História da ANPUH. O encontro ocorreu em julho deste ano (2021) e foi publicado  este mês, em formato eletrônico. Nele estamos falando sobre a história de mulheres quadrinistas, cuja memória vem sendo revisitada. Os desafios, os obstáculos que muitas delas encontraram ao longo da profissão, não apenas por serem mulheres mais, também, pelo fato de ser quadrinista nem sempre foi considerada uma atividade digna de status. Segue o resumo do artigo.

Resumo: Quando nos dedicamos a falar das mulheres quadrinistas, normalmente, nos deparamos com grandes silêncios que sugerem que elas não existiam, ou não produziram nada que merecesse figurar nos livros de História. Este tipo de discurso foi produzido e reproduzido ao longo dos anos e reforçada tanto por intelectuais, especializados nos estudos sobre quadrinhos, quanto pelos fãs e os meios de comunicação. Vez ou outra, algumas mulheres conseguiram romper essa barreira, somente para terem sua obra celebrada como exceção ou escrutinada a partir de critérios estabelecidos para validar a obra de autores masculinos. Consideradas excepcionais, elas não podiam servir, portanto, de modelo para as outras mulheres. Dentro das narrativas sobre a História das histórias de quadrinhos, constituiu-se como uma verdade que a profissão é masculina e que as mulheres no Ocidente não seriam nem produtoras, nem consumidoras de quadrinhos. As discriminações e omissões decorrentes do gênero, isto é, dos papéis atribuídos à homens e mulheres em uma dada sociedade historicamente determinada, vem sendo muito estudadas nos últimos anos. Vários estudiosas colocaram abaixo muitas das teorias que, por exemplo, relacionavam a suposta inferioridade biológica e intelectual das mulheres com reação aos homens. Outras demostraram que os papeis sociais outrora naturalizados foram socialmente construídos. O objetivo desse trabalho é abordar, utilizando-se das discussões feministas e do campo dos estudos de gênero, este aspecto da História dos Quadrinhos, mas ir um pouco além, a partir das falas de algumas autoras e sobre elas mesmas, é possível perceber outro fator de exclusão: a carreira de quadrinista não era vista digna de ser perseguido por um artista sério, mas, especialmente, em tempos de crise econômica, ou de guerra, era um trabalho temporário que deveria ser superado tão logo fosse possível. Em nosso trabalho, pretendemos resgatar as falas de mulheres quadrinistas que enfrentaram uma barreira a mais para produzirem seus quadrinhos e como as formas de literatura vistas como populares eram consideradas inferiores e mesmo perniciosas para a juventude até por seus próprios autores. Acreditamos que os quadrinhos sejam não apenas um lugar de fala mas, também, um lugar de memória dessas mulheres e que, a partir de sua trajetória podemos compor um quadro mais amplo no qual temos não apenas a possibilidade de analisar relações de gênero mais de identificar pontos relevantes para a construção de uma história das mulheres nas artes gráficas, um campo que por muito tempo foi monopolizado pelos homens.  

Caso alguém se interesse, clique aqui para ler o texto na íntegra.

Como citar esse texto:

SILVA, Valéria Fernandes da, NOGUEIRA, Natania Aparecida da Silva. Trabalhadoras invisíveis: mulheres quadrinistas e os silêncios da História. Anais do 31° Simpósio Nacional de História [livro eletrônico] : história, verdade e tecnologia /organização Márcia Maria Menendes Motta. -- 1. ed. --São Paulo : ANPUH-Brasil, 2021.

Um comentário:

Unknown disse...

Muito importante mostrar que a mulher tem que ser vista também como criadora de HQs.Eu sempre lidei com desenho/pintura/modelagem ,e me influenciei pelos "gibis" de minha época (havia mais de 30 diferentes).Entrei pra seguir a carreira de Artes Plásticas na Escola De belas Artes de SP em 68, e tive que abandona-la em 69 por implicações politicas.Exilado em Montevideo trabalhei com cartões de humor e em artesanato de couro,mas também em publicidade .Atuei em publicidade ao voltar ao brasil e acabei voltando ao artesanato (cerâmico com réplicas pré-incaicas) E comecei a lecionar Historia. Ter lido tantas HQs ,quanto ter criado em Agências de Publicidade me serviram como base pedagógica.Acho importantíssimo a mulher atuar como quadrinista,se quizermos realmente sermos democráticos .Euclides Garcia Paes de Almeida