quinta-feira, 4 de março de 2021

COMENTANTO O DORAMA MR QUEEN - 철인 왕후

Depois que passe a assistir séries do leste asiático (os dramas ou doramas) eu fui várias vezes surpreendida com programas muito acima da média daqueles que eu estava acostumada a assistir. Devo muito isso ao Netflix que disponibilizou uma grade de programação muito rica, que engloba filmes e séries de todo o mundo e que ampliou meus horizontes culturais. E não me refiro aqui apenas a dramas sul-coreanos ou chineses, mas também tailandeses e também de outros países como França, Espanha, Irã, filmes africanos de ótima qualidade. Eu se desprendi das produções estadunidenses e foi como enxergar um novo mundo com novas cores.

De atores excelentes a cenários deslumbrantes, é como viajar pelo mundo sem sair de casa, conhecer outras formas de pensar, identificar formas de resistência e várias representações sociais. E como estamos vivendo uma época transmidiática, uma coisa puxa a outra. A gente começar assistindo séries e filmes, passa a se encantar pela música, a se interessar por games e a ter contato com produções literárias e outras formas de narrativas como quadrinhos que não sabíamos que existia. Junte-se a isso um profissionalismo que merece ser aplaudido de pé, de roteiristas e diretores que conseguem fazer um excelente trabalho com um orçamento muito menor do que qualquer produção média de Hollywood.

Dito tudo isso, eu gostaria de comentar a grande surpresa deste ano que foi o K-drama "Mr. Queen" (철인 왕후), com 20 episódios e mais dois episódios extras, exibidos entre 12 de dezembro e 14 de fevereiro, que eu assisti no Viki. Pois é, infelizmente não está no Netflix, quem sabe no futuro? Já vou adiantando que vou fazer comentários que podem conter spoillers, porque talvez seja difícil falar sobre a drama sem entrar em certos detalhes. Vamos começar pelo título. "Mr. Queen", que é genial e não está escrito errado. 

Baseado no drama da web chinês Go Princess Go, conta as aventuras de um renomado cozinheiro chamado Bong-hwan, que após um acidente vê sua alma sendo transportada no tempo e aprisionada no corpo da infeliz rainha Cheorin na Era Joseon (uma monarquia fundada por Taejo Yi Seong-gye que existiu entre 1392 e 1897). Ou seja, um homem preso no corpo de uma mulher. Pode até parecer que não há nada de extraordinário nisso, mas a coisa não era tão simples assim. A alma da rainha ainda estava lá, ou seja, Bong-hwan compartilha com ela memórias e sentimentos, inclusive a paixão não correspondida que ela tinha pelo rei.

Em meio a tramas políticas e muitos, mas muitos momentos de humor inteligente, temos uma narrativa que simplesmente não deixa furos e que consegue abordar de forma muito interessante questões como, por exemplo, a identidade de gênero. Isso porque Bong-hwan está sob comando do corpo da rainha, mas ela aos poucos vai se manifestando e assumindo controle em alguns momentos, chegando ao ponto de que o cozinheiro não sabe ao certo o quais são seus pensamentos/sentimentos e quais são os dela.

E imaginem a confusão e as cenas hilárias que são produzidas pelas ações de uma mulher do século XIX, que viveu toda uma vida sob rígido controle, que agora tem seu copo possuído por um homem do futuro? A rainha promove uma verdadeira revolução no palácio e na vida do rei e literalmente muda o futuro. Junte-se a isso um figurino de época muito bonito e uma fotografia esmerada.

Além disso, vários temas atuais são discutidos. Há questões políticas relevantes assim como questões culturais e geracionais. O roteiro é muito rico em referências que fazem este drama histórico muito próximo do presente. E vamos falar dos atores. Dos protagonistas Shin Hye-sun (Rainha Cheorin) e Kim Jung-hyun (O rei Cheoljong) ao elenco de apoio não há um que não tenha desempenhado bem seu papel. 

Mas não há como negar que Shin Hye-sun tenha sido o maior destaque. A atriz realmente deu vida ao personagem de uma forma que eu nunca havia visto. Atuação perfeita do início ao fim. De todos os doramas que assisti nos últimos seis meses eu acredito que esse tenha sido o melhor, de longe, em todos os quesitos. Aliás, e não sou só eu que acho. A audiência do programa foi uma das melhores do país, chegando a 17,371% dos expectadores do país, o que não é pouca coisa.

É bom lembra que se trata de uma obra de fantasia que não tem compromisso com a fidelidade histórica e dá outros rumos à vida do rei e da rainha que lá são apresentados como protagonistas. mas há um cuidado muito grande na pesquisa do figurino, na escolha dos cenários e em outros detalhes. O drama vai, por exemplo, introduzir gírias e expressões modernas que não fazem parte do contexto no qual a narrativa se desenrola (século XIX). 

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