terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

O TERREMOTO DE LISBOA DE 1755

O texto abaixo foi feito para reforçar o estudo do Período Pombalino, tendo como eixo de referência o terremoto de Lisboa, ocorrido em 1755. Não trata-se de uma pesquisa ou texto científico, mas de uma síntese feita a partir da leitura dos textos abaixo referenciados. O texto é para alunos do oitava ano do Ensino Fundamental II.
Gravura representando a destruição de Lisboa em 1755
Disponível em http://goo.gl/mYzzbH
Em 1 de Novembro de 1755, por volta das 9:30 da manhã, Lisboa foi atingida por um violento Terremoto. Estudos realizados por geólogos concluíram que o terremoto alcançou a intensidade de 9 graus na escala de Richter, cujo o grau máximo é 10. Um terremoto dessa magnitude pode devastar uma área de milhares de quilômetros.
Esse evento geológico foi acompanhado de um Maremoto e de um incêndio que, segundo relatos de testemunhas, durou 6 dias, provocou a destruição de grande parte da cidade. O número total de vítimas calcula-se entre os dez e os trinta mil mortos. É considerado um dos maiores desastres da história da Europa e do mundo.
O terremoto teve grande repercussão dentro e fora do Império Português. Já nas primeiras semanas começaram a circular descrições do desastre, que foi considerado como um dos acontecimentos com maior impacto mediático na época. Voltaire escreveu o poema Le Désastre de Lisbonne (1756).
Poème sur le désastre de Lisbonne (1756)

Ô malheureux mortels ! ô terre déplorable !
Ô de tous les mortels assemblage effroyable!
D'inutiles douleurs éternel entretien !
Philosophes trompés qui criez: "Tout est bien",
Accourez, contemplez ces ruines affreuses,
Ces débris, ces lambeaux, ces cendres malheureuses,
Ces femmes, ces enfants l'un sur l'autre entassés,
Sous ces marbres rompus ces membres dispersés ;
Cent mille infortunés que la terre dévore,
Qui, sanglants, déchirés, et palpitants encore,
Enterrés sous leurs toits, terminent sans secours
Dans l'horreur des tourments leurs lamentables jours!
Aux cris demi-formés de leurs voix expirantes,
Au spectacle effrayant de leurs cendres fumantes,
Direz-vous: "C'est l'effet des éternelles lois
Qui d'un Dieu libre et bon nécessitent le choix"?
Direz-vous, en voyant cet amas de victimes :
"Dieu s'est vengé, leur mort est le prix de leurs crimes"?
Quel crime, quelle faute ont commis ces enfants
Sur le sein maternel écrasés et sanglants?
Lisbonne, qui n'est plus, eut-elle plus de vices
Que Londres, que Paris, plongés dans les délices ?
Lisbonne est abîmée, et l'on danse à Paris.
Tranquilles spectateurs, intrépides esprits,
De vos frères mourants contemplant les naufrages,
Vous recherchez en paix les causes des orages :
Mais du sort ennemi quand vous sentez les coups,
Devenus plus humains, vous pleurez comme nous.
Croyez-moi, quand la terre entrouvre ses abîmes
Ma plainte est innocente et mes cris légitimes. [...]

D. José I, rei de Portugal, e sua família não estavam na cidade, portanto, não sofreram diretamente os efeitos da tragédia. Mas nem por isso deixaram de serem atingidos pelas consequências do desastre. Conta-se que o rei ficou tão impressionado com a destruição causada pelo terremoto que, durante anos, recusou-se a morar em edifícios de pedra. Teria pensando até em abdicar do trono, temendo não ser capaz de reconstruir a capital e lidar com a crise que se formou após o terremoto.
D. José I, foi, inclusive, abandonado por alguns de seus Secretários de Estado que, ao invés de ir ao encontro do rei para traçar planos e contornar a crise, fugiram para suas propriedades no interior ou mesmo deixaram Portugal. A exceção foram Carvalho e Melo e Sebastião José de Carvalho e Melo (Marquês de Pombal).
Lisboa  havia passado por outros abalos sísmicos registrados em 1724 e em 1750, no dia da morte do rei D. João V, mas ambos não provocaram grandes estragos. Mas o de 1755 foi catastrófico. Dos 69 conventos que existiam na cidade, apenas 11 deles resistiram e mais de 30 palácios foram destruídos.[1] Edifícios importantes como o Teatro da Ópera, o palácio do Duque de Cadaval e o Arquivo da Torre do Tombo sofreram sérios damos ou foram praticamente destruídos. Bibliotecas antigas, como as dos Dominicanos e dos Franciscanos foram perdidas.  Ao todo, estima-se que foram destruídos cerca de 10 000 edifícios. Um duro golpe ao patrimônio histórico e cultural europeu, uma vez que Lisboa era uma das cidades mais antigas da Europa, remontando à época do Império Romano.
Foi em meio a esse caos que Sebastião José de Carvalho e Melo, então Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra, tornou-se um dos responsáveis pelo gerenciamento da crise e a reconstrução da capital portuguesa, revelando naquele momento suas habilidades de liderança e organização. 
Enquanto boa parte da nobreza fugia da cidade, Pombal se encarregou de enterrar os mortos e dar assistência aos sobreviventes da tragédia. Socorrer feridos e mutilados era um desafio. Hospitais importantes como o Hospital Real de Todos os Santos foram destruídos, faltavam médicos. Não havia nem mesmo cemitérios para enterrar os mortos, pois os mortos eram normalmente enterrados nas Igrejas[2]. Logo em seguida, vieram as doenças. 
A segurança pública foi um dos aspectos com que o Marquês de Pombal mais se preocupou. Responsáveis por roubos e saques foram punidos e deu-se início ao planos de reconstrução. Pombal recebeu toda autonomia para lidar com a crise, crescendo em influência e poder. O Marquês de Pombal torna-se Primeiro Ministro de Portugal e o segundo homem mais influente e poderoso de todo o Império.
Liderada pelo Marquês de Pombal, a reconstrução de Lisboa tornou-se uma prioridade. O engenheiro Dom Manuel da Maia foi responsável por coordenar o processo de reconstrução. Já em 4 de Dezembro de 1755, foram apresentados os seis projetos para a reedificação da cidade. De um total de seis plantas analisadas foi escolhida a de Eugênio dos Santos, arquiteto do Senado da Cidade. O novo modelo urbanístico previa a reconstrução da cidade com base em ideias iluministas. Foram previstas praças, prédios mais baixos, ruas mais largas.
O projeto urbanístico obedecia a traçados de eixos onde se destacavam monumentos  ou estátuas. Por exemplo, a Rua Augusta com o arco triunfal, através do qual, no seu eixo, se colocou a estátua de D. José. O Marques de Pombal ainda criou incentivos de interesse à nova classe da burguesia comercial. Ao norte do Rossio foi criado o "Passeio Público"(1764),  área de lazer da burguesia. Foram abertas novas avenidas e bairros, onde passaram a residir burgueses enriquecidos. A partir de 1780 aparece a iluminação pública da cidade e em 1801 as ruas passam a ter o nome afixado.[3]
 

Planta topográfica da cidade de Lisboa arruinada, também segundo o novo alinhamento dos arquitectos Eugénio dos Santos Carvalho e Carlos Mardel, litografia colorida, 1947. Dim.: 57mm X 83mm. Projecto escolhido para a reconstrução de Lisboa após o Terramoto de 1755, da autoria dos arquitectos Eugénio dos Santos Carvalho e Carlos Mardel e datado de 12 de Junho de 1758. Apresenta a particularidade de mostrar, a rosa, as áreas arruinadas pelo terramoto de 1755, às quais se sobrepõe o projecto de reconstrução definitivo elaborado. A planta permite verificar a área abrangida pelo plano de reconstrução: S. Paulo, pelos arquitectos Eugénio dos Santos Carvalho e Carlos Mardel (escala: 2000 palmos) - Museu da Cidade 

(disponível em Disponível em http://comjeitoearte.blogspot.com.br/2011/11/lisboa-pombalina-reconstrucao-da-cidade.html, acesso em 04/02/2014).


Desejava-se não apenas recuperar a antiga Lisboa, como também, torna-la moderna e preparada para novos abalos sísmicos. Além disso, a reconstrução serviu para os objetivos políticos de Dom José I, que se aproxima da burguesia e desfila como déspota esclarecido, ao lado de Pombal. Por outro lado, reforça também, sua posição de monarca absolutista marcando sua presença no espaço urbano com monumento como sua estátua equestre. Para reconstrução da capital usou-se, claro, o ouro que vinha das Minas Gerais, então, no auge da produção aurífera.
FONTES CONSULTADAS
ASSUNÇÃO, Paulo de. A reconstrução da cidade de Lisboa e os Tratados de Arquitetura. Revista Integração,  ano XVI, no 60, 2010, p.15-33. Disponível em ftp://ftp.usjt.br/pub/revint/15_60.pdf, acesso em 04/02/2014.
História da cidade de Lisboa. Disponível em: http://www.lisboa-cidade.com/lx/index99pt.asp?pa=ptihist.htm, acesso em 04/02/2014.

Lisboa Pombalina - Reconstrução da cidade. Disponível em http://comjeitoearte.blogspot.com.br/2011/11/lisboa-pombalina-reconstrucao-da-cidade.html, acesso em 04/02/2014.

O Terramoto de 1755 e a Reconstrução (séc. XVIII – XIX). Disponível em: http://www.museudacidade.pt/Esposicoes/Permanente/Paginas/Terramoto-de-1755-Reconstrucao-sec-XVIII%E2%80%93XIX.aspx, acesso em 04/02/2014.
Poème sur le désastre de Lisbonne (1756). Disponível em http://ginnungagap.over-blog.com/article-34528857.html, acesso em 04/02/2014.
Terramoto de 1755 e Reconstrução Pombalina. Disponível em: http://www.infopedia.pt/$terramoto-de-1755-e-reconstrucao-pombalina, , acesso em 04/02/2014.


[1] ASSUNÇÃO, Paulo de. A reconstrução da cidade de Lisboa e os Tratados de Arquitetura. Revista Integração, ano XVI, no 60, 2010, p.15-33. Disponível em ftp://ftp.usjt.br/pub/revint/15_60.pdf, acesso em 04/02/2014.

[2] ASSUNÇÃO, Paulo de. A reconstrução da cidade de Lisboa e os Tratados de Arquitetura. Revista Integração, ano XVI, no 60, 2010, p.15-33. Disponível em ftp://ftp.usjt.br/pub/revint/15_60.pdf, acesso em 04/02/2014.
[3] História da cidade de Lisboa. Disponível em: http://www.lisboa-cidade.com/lx/index99pt.asp?pa=ptihist.htm, acesso em 04/02/2014.

Para entender melhor o que aconteceu em Lisboa, assista os vídeos abaixo.








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