quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

A nossa Princesa Leopoldina


Princesa Leopoldina (SCHWARCZ, 1998: 443)
Para quem mora no município de Leopoldina é muito comum se repetir que o nome da cidade é uma homenagem à princesa Leopoldina. Mas quem é essa princesa?

Muita gente confunde a nossa princesa Leopoldina com a Dona Maria Leopoldina de Habsburgo, arquiduquesa da Áustria, filha do Imperador Francisco I, que ao se casar com o Imperador do Brasil, Dom Pedro I, foi nossa primeira Imperatriz.

A Princesa Dona Leopoldina Teresa Francisca Carolina Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bragança e Bourbon, foi, na verdade, a filha caçula do Imperador Dom Pedro II, nascida em 13 de julho 1847. No dia 07 de setembro de 1847, uma parada militar comemorou o batizado da princesinha. Ainda em início do ano de 1848 o Imperador ainda recebia felicitações pelo nascimento da filha, publicadas em jornais.

Correio Mercantil e Instructivo, Político, Universal. Rio de Janeiro, 11 de janeiro de 1848, n. 10, ano V, p. 03 (Arquivo da Hemeroteca Digital Brasileira - Fundação Biblioteca Nacional)
Apesar de ser uma personagem pouco citada nos livros didáticos de história, Dona Leopoldina foi uma figura chave na trajetória da família Imperial. Seu filho mais velho, Pedro Augusto, chegou a ser cotado como possível sucessor de Dom Pedro II. Criada e educada no Brasil, teve como preceptora a Condessa de Barral, Luísa Margarida de Barros Portugal, oriunda de uma tradicional família de senhores de engenho do Recôncavo Baiano.

Condessa de Barral, aos 49 anos de idade (Fonte: DEL PRIORI. A Condessa de Barral: a paixão do Imperador. Rio de Janeiro, Objetiva, 2008)
Casada com Eugène de Barral, Conde de Barral e 4.° Marquês de Montferrat, a Condessa de Barral foi educada e morou por muitos anos na Europa, onde era dama prestigiada na corte do rei Luiz Filipe I. Inteligente, instruída e muito culta, preparou Leopoldina para se tornar enfrentar as cortes europeias, por onde circulou depois de seu casamento. A Condessa foi, também, uma das mulheres mais influentes do II Reinado, tendo ficado famosa pelo seu relacionamento amoroso com o Imperador, Dom Pedro II.
Dona Leopoldina, aos seis anos, por época da emancipação do nosso município e elevação do arraial do Feijão Cru à vila de Leopoldina (Fonte: Wikipédia).

As princesas eram joguetes políticos, destinadas a serem enviadas a países distantes para se casarem com príncipes ou reis os quais nem conheciam. Histórias de princesas que sofreram abusos em casamentos sem afeto ou amor pipocam aos montes quando se estuda biografias de famílias nobres. A própria Imperatriz Dona Leopoldina e a Imperatriz Dona Thereza Cristina, são exemplos disso.

Dona Leopoldina e Luis Augusto, 1865 (Fonte: Wikipédia)
Dona Leopoldina casou-se no dia 15 de dezembro de 1864 com o Luís Augusto, Duque de Saxe e Coburgo, tendo partido do Brasil para viver com o marido na Áustria.  A união de Leopoldina e Luís Augusto foi acertada através de uma convenção matrimonial. O contrato previa que, enquanto Dom Pedro II não considerasse assegurada a sucessão da princesa Isabel, o casal deveria, entre outras coisas, residir parte do ano no Brasil e ter seus filhos em território brasileiro Foi assim com dom Augusto Leopoldo e dom José Fernando - nascidos em 1867 e 1869. Ao contrário do que acontecia com outras princesas, Leopoldina parece ter encontrado o seu “príncipe encantado”.


Família Imperial: (em pé) dona IsabelConde d'Eu, dona Leopoldina e dom Luís Augusto; (sentados) dom Pedro II e dona Teresa Cristina (Fonte: Wikipédia)
Dona Leopoldina teve uma vida muito diferente da irmã. Morou na Europa e frequentava ambientes restritos e refinados. Em suas correspondências, relatou o dia a dia de sua família, o desenvolvimento dos filhos e uma felicidade conjugal incomum para a época (DEL PRIORE, 2007). Era muito amada e querida pela família do marido.


Minha querida Isabel

Como vai passando com seu maridinho? Eu estou em perfeita saúde assim como o meu. Eu vivo muito feliz com meu Caro; Gusty é excelente para mim. Eu faço tudo o que quero, ele quer, bem entendido, porque a vontade dele é a minha... Mon bien  assorti époux – meu marido cheio de qualidades – tem feito lindas caças de pássaros... O tempo que passei sem Gusy pareceu-me compridíssimo.

Adeus... Saudades a D. Gaston e meus cumprimentos mais afetuosos aos outros.


Sua mana muito do coração e madrinha. (DEL PRIORE, Mary. O príncipe maldito. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007, p. 31).

Mas este conto de fadas não teve um final feliz. A princesa Leopoldina contraiu febre tifoide no início de 1871, possivelmente resultado de ingestão da água contaminada que estava sendo consumida em Viena naquela época. A princesa morreu na tarde de 7 de fevereiro de 1871, aos 23 anos de idade. O caso de Leopoldina não foi isolado. A cidade já havia passado anteriormente, durante a invasão de Napoleão, em 1808, por uma  epidemia de febre tifoide alastrou-se pela Europa central. No ano de 1812, aliada à fome, ao frio e à disenteria, a febre matou 570 mil soldados franceses durante a invasão na Rússia. Naquela época, a falta de saneamento básico e o desconhecimento de métodos eficazes para o tratamento de doenças, as epidemias não distinguiam camponeses da realeza.

"Escrevendo estas linhas, nos achamos sob pressão na Augusta Família Imperial um nome caro a todos os Brasileiros - pairou o anjo da morte, que não poupa palácios nem cabanas, sobre o tecto da habitação de um par afotunado e com suas azas negras tocou a excelsa Princeza D. Leopoldina, cobrindo de luto seu inconsolável esposo, a Augusta Família Imperial e todo o Brasil!" (HARING, 1871: 37)

Seus dois filhos mais velhos foram enviados para serem criados pelos avós, no Brasil. Seu marido permaneceu em luto, não tendo se casado novamente. Em carta à princesa Francisca, sua sogra, Clementina, descreveu o lamentável estado do filho, viúvo.

Que a vontade de Deus seja feita, minha boa Chica, mas o golpe é duro e nós estamos infelizes. O estado de meu pobre Gusty me corta o coração, soluça cada instante, não come, nem dorme, e é uma terrível mudança. Ela o amava tanto! E eram tão perfeitamente felizes juntos! Ver tanta felicidade destruída aos 24 anos é horrível!!  (DEL PRIORE, Mary. O príncipe maldito.  Rio de Janeiro: Objetiva, 2007, p. 60)


Ao contrário do que muitos pensam, Dona Leopoldina nunca esteve em nossa região. Dom Pedro II só faria uma breve passagem aqui dez anos após a morte da filha, em 1881. O nome dado a nosso município foi uma das homenagens que ela recebeu ainda menina, e cuja lembrança, certamente, carregou consigo até sua morte prematura, em 1871. 

Fontes consultadas:

Correio Mercantil e Instructivo, Político, Universal. Rio de Janeiro, 11 de janeiro de 1848,  n. 10, ano V (Arquivo da Hemeroteca Digital Brasileira - Fundação Biblioteca Nacional).

DEL PRIORE, Mary. O príncipe maldito. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007.

-------------------------. A Condessa de Barral: a paixão do Imperador. Rio de Janeiro, Objetiva, 2008.

Empire of Brazil Império do Brasil House of Orleans-Braganza. Disponível em: http://www.almanachdegotha.org/id8.html, acesso em 28/03/2014.

HARING, Almanack Adminitrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Província do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: E. & H. Laemmert, 1871.


Leopoldina de Bragança e Bourbon. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Leopoldina_de_Bragan%C3%A7a_e_Bourbon, acesso em: 19/02/2014. 

SCHWARCZ, Lilia Moritz. As barbas do Imperador : D. Pedro II, um monarca
nos trópicos . — São Paulo : Companhia das Letras, 1998.




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