Princesa Leopoldina (SCHWARCZ, 1998: 443) |
Para quem mora no
município de Leopoldina é muito comum se repetir que o nome da cidade é uma homenagem
à princesa Leopoldina. Mas quem é essa princesa?
Muita gente confunde
a nossa princesa Leopoldina com a Dona Maria Leopoldina de Habsburgo,
arquiduquesa da Áustria, filha do Imperador Francisco I, que ao se casar com o
Imperador do Brasil, Dom Pedro I, foi nossa primeira Imperatriz.
A Princesa Dona Leopoldina Teresa Francisca Carolina Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de
Bragança e Bourbon, foi, na verdade, a filha caçula
do Imperador Dom Pedro II, nascida em 13 de julho 1847. No dia 07 de setembro de 1847, uma parada militar comemorou o batizado da princesinha. Ainda em início do ano de 1848 o Imperador ainda recebia felicitações pelo nascimento da filha, publicadas em jornais.
Correio Mercantil e Instructivo, Político, Universal. Rio de Janeiro, 11 de janeiro de 1848, n. 10, ano V, p. 03 (Arquivo da Hemeroteca Digital Brasileira - Fundação Biblioteca Nacional) |
Apesar de ser uma personagem pouco citada nos
livros didáticos de história, Dona Leopoldina foi uma figura chave na
trajetória da família Imperial. Seu filho mais velho, Pedro Augusto, chegou a
ser cotado como possível sucessor de Dom Pedro II. Criada e educada no Brasil, teve como preceptora a
Condessa de Barral, Luísa Margarida de Barros Portugal, oriunda de uma
tradicional família de senhores de engenho do Recôncavo Baiano.
Condessa de Barral, aos 49 anos de idade (Fonte: DEL PRIORI. A Condessa de Barral: a paixão do Imperador. Rio de Janeiro, Objetiva, 2008) |
Casada com Eugène de
Barral, Conde de Barral e 4.° Marquês de Montferrat, a Condessa de Barral foi
educada e morou por muitos anos na Europa, onde era dama prestigiada na corte
do rei Luiz Filipe I. Inteligente, instruída e muito culta, preparou Leopoldina
para se tornar enfrentar as cortes europeias, por onde circulou depois de seu
casamento. A Condessa foi, também, uma das mulheres mais influentes do II
Reinado, tendo ficado famosa pelo seu relacionamento amoroso com o Imperador,
Dom Pedro II.
Dona Leopoldina e Luis Augusto, 1865 (Fonte: Wikipédia) |
Dona Leopoldina casou-se no dia 15 de dezembro de 1864 com o Luís Augusto, Duque de Saxe e Coburgo, tendo partido do Brasil para viver com o marido na Áustria. A união de Leopoldina e Luís Augusto foi acertada através de uma convenção matrimonial. O contrato previa que, enquanto Dom Pedro II não considerasse assegurada a sucessão da princesa Isabel, o casal deveria, entre outras coisas, residir parte do ano no Brasil e ter seus filhos em território brasileiro Foi assim com dom Augusto Leopoldo e dom José Fernando - nascidos em 1867 e 1869. Ao contrário do que acontecia com outras princesas, Leopoldina parece ter encontrado o seu “príncipe encantado”.
A Família Imperial: (em pé) dona Isabel, Conde d'Eu, dona Leopoldina e dom Luís Augusto; (sentados) dom Pedro II e dona Teresa Cristina (Fonte: Wikipédia) |
Dona Leopoldina teve
uma vida muito diferente da irmã. Morou na Europa e frequentava ambientes
restritos e refinados. Em suas correspondências, relatou o dia a dia de sua
família, o desenvolvimento dos filhos e uma felicidade conjugal incomum para a
época (DEL PRIORE, 2007). Era muito amada e querida pela família do marido.
Minha
querida Isabel
Como vai
passando com seu maridinho? Eu estou em perfeita saúde assim como o meu. Eu
vivo muito feliz com meu Caro; Gusty é excelente para mim. Eu faço tudo o que
quero, ele quer, bem entendido, porque a vontade dele é a minha... Mon
bien assorti époux – meu marido cheio de
qualidades – tem feito lindas caças de pássaros... O tempo que passei sem Gusy
pareceu-me compridíssimo.
Adeus...
Saudades a D. Gaston e meus cumprimentos mais afetuosos aos outros.
Sua mana
muito do coração e madrinha. (DEL
PRIORE, Mary. O príncipe maldito. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007, p. 31).
Mas este
conto de fadas não teve um final feliz. A princesa Leopoldina contraiu febre
tifoide no início de 1871, possivelmente resultado de ingestão da água
contaminada que estava sendo consumida em Viena naquela época. A princesa
morreu na tarde de 7 de fevereiro de 1871, aos 23 anos de idade. O caso de
Leopoldina não foi isolado. A cidade já havia passado anteriormente, durante
a invasão de Napoleão, em 1808, por uma epidemia
de febre tifoide alastrou-se pela Europa central. No ano de 1812, aliada à
fome, ao frio e à disenteria, a febre matou 570 mil soldados franceses durante
a invasão na Rússia. Naquela época, a falta de saneamento básico e o
desconhecimento de métodos eficazes para o tratamento de doenças, as epidemias
não distinguiam camponeses da realeza.
"Escrevendo estas linhas, nos achamos sob pressão na Augusta Família Imperial um nome caro a todos os Brasileiros - pairou o anjo da morte, que não poupa palácios nem cabanas, sobre o tecto da habitação de um par afotunado e com suas azas negras tocou a excelsa Princeza D. Leopoldina, cobrindo de luto seu inconsolável esposo, a Augusta Família Imperial e todo o Brasil!" (HARING, 1871: 37)
Seus dois
filhos mais velhos foram enviados para serem criados pelos avós, no Brasil. Seu
marido permaneceu em luto, não tendo se casado novamente. Em carta à princesa
Francisca, sua sogra, Clementina, descreveu o lamentável estado do filho,
viúvo.
Que a
vontade de Deus seja feita, minha boa Chica, mas o golpe é duro e nós estamos
infelizes. O estado de meu pobre Gusty me corta o coração, soluça cada
instante, não come, nem dorme, e é uma terrível mudança. Ela o amava tanto! E
eram tão perfeitamente felizes juntos! Ver tanta felicidade destruída aos 24
anos é horrível!! (DEL PRIORE, Mary. O príncipe maldito. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007, p. 60)
Ao
contrário do que muitos pensam, Dona Leopoldina nunca esteve em nossa região.
Dom Pedro II só faria uma breve passagem aqui dez anos após a morte da filha,
em 1881. O nome dado a nosso município foi uma das homenagens que ela recebeu ainda
menina, e cuja lembrança, certamente, carregou consigo até sua morte prematura,
em 1871.
Fontes consultadas:
Correio Mercantil e Instructivo, Político, Universal. Rio de Janeiro, 11 de janeiro de 1848, n. 10, ano V (Arquivo da Hemeroteca Digital Brasileira - Fundação Biblioteca Nacional).
DEL
PRIORE, Mary. O príncipe maldito. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007.
-------------------------. A Condessa de Barral:
a paixão do Imperador. Rio de Janeiro, Objetiva, 2008.
Empire of Brazil Império do Brasil House of Orleans-Braganza. Disponível em: http://www.almanachdegotha.org/id8.html, acesso em 28/03/2014.
HARING, Almanack Adminitrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Província do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: E. & H. Laemmert, 1871.
Leopoldina de Bragança e Bourbon. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Leopoldina_de_Bragan%C3%A7a_e_Bourbon, acesso em: 19/02/2014.
SCHWARCZ,
Lilia Moritz. As barbas do Imperador : D. Pedro II, um monarca
nos
trópicos . — São Paulo : Companhia das Letras, 1998.
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