sábado, 21 de março de 2020

O NOVO CORONAVÍRUS NA ÁFRICA: DESAFIOS

Imagem disponível em: <https://www.liberation.fr/checknews/2020/03/21/covid-19-combien-y-a-t-il-de-cas-en-afrique_1782480>. acesso em 21 de mar. 2020

A África até recentemente não havia registrado casos de infecção pelo novo coronavírus, mas isso mudou. No princípio de março, a República Democrática do Congo (RDC) registrou seu primeiro caso de um novo coronavírus, tornando-se o décimo primeiro país africano afetado pelo COVID-19 depois do Egito, Argélia, Tunísia, Nigéria, Marrocos, África do Sul, Senegal, Togo, Camarões e Burkina Faso[1]Na sexta, dia 20 de março, somavam um total de 800 infectados, em 34 países do continente africano.[2]

Em um relatório publicado em fevereiro, Argélia, Egito e África do Sul eram apontados como os países com maior risco à importação do vírus devido ao grande o tráfego aéreo sustentado com as províncias infectadas na China. Mas eles, ao menos, têm condições de conter a epidemia. Em situação pior se encontram países como Nigéria, Etiópia, Sudão, Angola, Tanzânia, Gana e o Quênia pois estes países não possuem um sistema de combate eficiente, com poucos recursos na área da saúde para detectar o vírus, o que permite que ele se espalhe rapidamente[3].

E o isolamento dos países já começou. O Ministério das Relações Internacionais e Cooperação na África do Sul (DIRCO) estão proibindo a entrada de estrangeiros. Num primeiro momento foi proibida a emissão de vistos de estrangeiros vindos de países como a França, Itália, Espanha, Alemanha, Suíça, Reino Unido, Estados Unidos, Irã, Coréia do Sul e China,[4] mas essa proibição pode ser estendida a outras nações à medida que a pandemia se alastrar.

 Marrocos, uma das portas de entrada para a Europa Ocidental e com um dos aeroportos mais movimentados do noroeste africano, proibiu todos os voos internacionais. O primeiro país africano a ser contaminado, em fevereiro, o Egito, que já entrou em quarentena, assim como o Senegal e a Costa do Marfim, países onde as escolas foram fechadas e a aglomeração de pessoas foi proibida. A Tunísia anunciou medidas semelhantes nesta sexta, dia 20 de março[5].
Imagem disponível em: <https://www.futura-sciences.com/sante/actualites/epidemie-sont-pays-afrique-plus-vulnerables-coronavirus-79699/>. Acesso em 20 mar. 2020.
O continente africano é uma das regiões mais vulneráveis do planeta, no que diz respeito à disseminação de doenças. Esta vulnerabilidade se deve tanto aos sistemas de saúde deficitários e, em muitos casos, mesmo ausentes, quanto à situação de pobreza e miséria em que milhões de africanos estão sujeitos.

Em números atualizados, em 20 de março, o Centro Africano de Prevenção e Controle de Doenças (CDC), calculou o número de mortes pelo novo coronavírus em cinco países , Argélia (8), Egito (7), Marrocos (2) Burkina Faso e Sudão (um cada), num total de 19 vítimas. Os países africanos mais afetados até agora são Egito (256 casos), África do Sul (150), Argélia (82), Senegal (38) e Tunísia (39), segundo o CDC África[6]

Segundo o diretor do CDC África, John Nkengasong, foram criados três polares para combater a pandemia e seis efeitos no continente: "O primeiro pilar da nossa estratégia é a prevenção, o segundo pilar é evitar os mortos e o terceiro evitar danos sociais"[7]

Para combater a pandemia, os países africanos estão se unindo num esforço continental, a fim de dar suporte aos países nos quais os recursos sanitários são escassos. A China é praticamente o único país a oferecer alguma solidariedade, com apoio técnico e logístico e quem saiu na frente no combate à epidemia.

Para muitos especialistas, a África pode vir a se tornar uma das principais vítimas desta pandemia. Entre as dificuldades temos não apenas a falta de um sistema de saúde eficaz há, também, a questão política. A África do Sul, por exemplo, a principal economia do continente, está passando por sua mais grave crise econômica, política e até moral desde o fim da apartheid.[8] 

Para muitos sul-africanos, a pandemia ainda é uma abstração frente às questões mais pragmáticas enfrentadas no dia a dia. Isso pode ser dito sobre outras nações, mergulhadas na fome e na pobreza, sem acesso os meios de comunicação ou recursos básicos para sobrevivência. Por outro lado há questão da juventude da população e o fato de que epidemias como as de malária, HIV e ebola já deixaram alguma experiência acerca do combate a doenças contagiosas. O que não significa que o número de mortes será pequeno.







[1] (COVID-19) Les pays africains s'efforcent de contrôler l'épidémie du nouveau coronavirus (SYNTHESE). Disponível em: http://french.xinhuanet.com/afrique/2020-03/11/c_138866752.htm>. Acesso em 20 mar. 2020.

[2] Covid-19 : combien y a-t-il de cas en Afrique ? Disponível em: <https://www.liberation.fr/checknews/2020/03/21/covid-19-combien-y-a-t-il-de-cas-en-afrique_1782480>.  Acesso em 21 mar. 2020.
[3] Quels sont les pays d'Afrique les plus vulnérables au coronavirus ?
[4] Coronavirus - COVID-19 en Afrique du Sud. Disponível em: <https://za.ambafrance.org/Coronavirus-COVID-19-en-Afrique-du-Sud>. Acesso em 20 mar. 2020
[5] COVID-19: au tour de l’Afrique?. Disponpivel em: <https://www.lapresse.ca/international/afrique/202003/20/01-5265773-covid-19-au-tour-de-lafrique.php>. Acesso em 21 mar. 2020.
[6] L'Afrique face au coronavirus : l'Union africaine en ordre de bataille. Disponível em < https://www.lepoint.fr/afrique/l-afrique-face-au-coronavirus-l-ethiopie-sous-pression-20-03-2020-2368040_3826.php>. Acesso em 20 mar. 2020.
[7] L'Afrique face au coronavirus : l'Union africaine en ordre de bataille. Disponível em < https://www.lepoint.fr/afrique/l-afrique-face-au-coronavirus-l-ethiopie-sous-pression-20-03-2020-2368040_3826.php>. Acesso em 20 mar. 2020.
[8] HASKI, Pierre. L’Afrique se prépare au choc de l’arrivée du Covid-19. Disponível em: < https://www.franceinter.fr/emissions/geopolitique/geopolitique-20-mars-2020>. Acesso em 20 de mar. 2020.


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