domingo, 11 de março de 2018

TRABALHANDO A IGUALDADE DE GÊNERO NA SALA DE AULA


Cartaz feito pelas turmas dos primeiros períodos no EJA, da Escola Municipal Judith Lintz Guedes Machado, Leopoldina (MG), dia 10 de março de 2018, sábado letivo dedicado a discutir sobre questões relacionados ao dia Internacional da Mulher.

Atualmente, falar sobre gênero na escola tornou-se um assunto polêmico. Muitas pessoas possuem uma ideia distorcida do que isso significa, tanto pela falta de informação, quando pela circulação de informações incorretas sobre o assunto. Tanto que, atualmente, pesquisadores de estudos de gênero têm sido vítimas de críticas ácidas, e mesmo ofensas físicas e verbais, baseadas em repostas emocionais e preconceituosas.

Quando dizemos que vamos trabalhar a igualdade de gêneros na sala de aula significa, de forma bem resumida, que estamos falando sobre a igualdade de direitos e deveres entre homens e mulheres. Uma educação voltada para a igualdade de gênero tem por objetivo a construção de uma sociedade livre de preconceitos e discriminações. Basicamente, uma educação que busca lançar as bases para uma sociedade onde se respeite o outro e as diferença.

Em alguns países têm sido realizado um esforço muito grande para se implementar esse tipo de educação, que busca tornar homens e mulheres parceiros na construção de uma sociedade mais justa e menos violenta, baseada no respeito mútuo. Países como a Suécia que, inclusive, declara ter o primeiro governo feminista do mundo. 

Então, não há machismo lá? Não necessariamente. Não se apaga milhares de anos de patriarcado em algumas décadas, mas não significa que não seja possível mudar essa realidade à longo prazo. Na  Suécia as mulheres ainda lutam por coisas como paridade salarial, por exemplo. Mas, desde que a igualdade de gêneros passou a ser uma prioridade na educação, diminuiu-se enormemente a violência e a discriminação contra a mulher, embora ela ainda exista e ainda represente uma mácula numa sociedade que têm buscado outros caminhos. 

Para quem questionar “a Suécia é uma país desenvolvido onde não há índices elevados de analfabetismo ou de pobreza e isso, por si só, é suficiente para se construir uma sociedade mais justa”, segue um dado assustador: na Suíça (não confundam com a Suécia), 22,3% das mulheres já sofreram com violência sexual. Não basta apenas ter acesso à educação e um padrão de vida melhor, é preciso um projeto nacional voltado para a educação de gênero. 

Alunos e professores do EJA, diversos períodos, da E. M. Judith Lintz Guedes Machado, Leopoldina (MG), que participaram de debates sobre a igualdade de gênero.

Pois bem, no dia Internacional da Mulher, eu preparei uma aula para trabalhar justamente este tema, com alunos do ensino regular e do EJA. Falamos sobre a importância de se trabalhar a questão da igualdade entre homens e mulheres e sobre a violência que acomete milhões de mulheres em todo o mundo. No caso do EJA, o debate teve dois momentos . Um envolvendo, inicialmente os alunos do Ensino Fundamental II, no dia 08 de maio, e outro com alunos do ensino fundamental I, no sábado, 10 de maio.

E foi nesse segundo momento que uma aluna, do EJA, levantou a questão: deveríamos falar sobre isso todos os dias e não apenas uma vez ao ano. Ainda completou que temos que falar para mais pessoas, não apenas na escola e não apenas nas aulas de história.

Eu poderia trocar facilmente de lugar com ela, pois naquele momento eu me senti a aluna e não a professora. Foi um momento legítimo de aprendizado escolar e para a vida. E é isso que a escola deveria representar, não apenas no Brasil, mas em todo o mundo. Um espaço para refletir, questionar, criticar a sociedade. 

Um lugar para se dar voz a todos. Essa é a escola que vai ajudar a construir uma nação mais justa e que pode criar as bases para uma educação voltada para a igualdade de gêneros, afinal, devemos ser todos parceiros na construção de um mundo melhor. 

Quando se cala a voz de alunos e professores, quando se decide que a escola deve ser uma mero espaço de reprodução de conhecimento,  onde não há diálogo (afinal, o que importa é saber ler, escrever e fazer contas), ela se torna apenas um edifício sem alma. A escola não precisa de paredes e de livros, ela precisa de pessoas dispostas a trocar experiências e a dialogar. Livros são instrumentos para um fim, mas é a forma como são usados e quem os usa que faz a diferença.

No momento atual, pensar um projeto nacional de educação de gêneros talvez não seja viável. Não há interesse político e há muito desconhecimento sobre o tema. Mas podemos tentar reverter o quadro a médio prazo, fazendo justamente o que a aluna do EJA sugeriu: falar para mais pessoas. 

Daí o papel do professor na nossa sociedade: o de levar cada ano, a mais pessoas, o sonho de uma sociedade mais justa. De resistir às tentativas veladas (ou descaradas mesmo) de se calar a voz das escolas, de combater o ódio com o conhecimento. 


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