Imagem meramente ilustrativa, captura no site do EL Paíz, disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2017/03/09/eps/1489066869_454079.html, acesso em 13 mar. 2018. |
Nas minhas férias eu passei um
dia em uma escola pública de educação infantil em Örebro, Suécia. Foi uma
experiência tão enriquecedora que eu não poderia deixar de falar sobre ela de forma
detalhada. Eu, antes de me formar em História, fiz o curso de magistério. Na época eu já estava na faculdade, mas para conseguir meu
primeiro emprego na área de educação eu teria que ter o diploma de magistério. Mas
nunca dei aulas para crianças.
Convivo com elas na escola, são
alunos e alunas dos meus colegas que trabalham com educação infantil e com as primeiras
séries do ensino fundamental, mas apenas isso. Foi uma experiência nova para
mim. Primeiro, por ser a primeira vez que eu passei quase um dia todo com
crianças pequenas em uma escola. Segundo, porque isso aconteceu em um país onde
eu nem falo o idioma. Loucura, né?
Devo confessar que me deu medo.
Mas, quem me conhece sabe que medo não me segura. Afinal, eu não poderia perder a oportunidade de conferir porque os suecos são considerados modelo para a educação infantil na Escandinávia. Então, lá fui eu, no meu
segundo dia em Örebro, para o trabalho. A escola é uma creche, na verdade. As crianças
que se encontram lá possuem de um a cinco anos, e convivem em turmas mistas
onde há um professor (a), um (a) cuidador (a) e um (a) estagiário (a).
Na classe onde eu fiquei são dezoito crianças com idades variadas. A escola é nova, foi inaugurada há pouco menos de um ano. Ao lado dela está sendo construída uma nova escola, que irá receber alunos mais velhos, equivalente ao nosso ensino fundamental. A escola nova tinha previsão para ser entregue no final do ano, mas em agosto próximo já poderá começar a funcionar.
Na Suécia as empreiteiras não somente cumprem os prazos como costumam entregar as obras antes do previsto. Outra coisa digna de nota: a escola vai precisar de cerca de vinte professores, mas a oferta de profissionais é pequena. Então, estão sobrando vagas de emprego. Que tal aprender sueco e ser professor (a) na Suécia? As condições de trabalho lá são ótimas.
Na classe onde eu fiquei são dezoito crianças com idades variadas. A escola é nova, foi inaugurada há pouco menos de um ano. Ao lado dela está sendo construída uma nova escola, que irá receber alunos mais velhos, equivalente ao nosso ensino fundamental. A escola nova tinha previsão para ser entregue no final do ano, mas em agosto próximo já poderá começar a funcionar.
Na Suécia as empreiteiras não somente cumprem os prazos como costumam entregar as obras antes do previsto. Outra coisa digna de nota: a escola vai precisar de cerca de vinte professores, mas a oferta de profissionais é pequena. Então, estão sobrando vagas de emprego. Que tal aprender sueco e ser professor (a) na Suécia? As condições de trabalho lá são ótimas.
Mas não se iluda: trabalha-se
muito para fazer jus aos bons salários que são pagos na educação. E com boa
remuneração o professor só precisa se dedicar a uma só escola. E quanto à remuneração,
ela não segue uma tabela, é negociada diretamente com o diretor da escola. Se o
professor quiser um aumento tem que negociar diretamente com o chefe.
O currículo da educação infantil
na Suécia é voltado para o desenvolvimento da criança a partir das suas
necessidades. Ela se baseia nos valores democráticos e nos direitos humanos. Na escola é a criança que escolhe o que quer fazer. Por exemplo, na classe onde
eu fiquei as crianças vão ao quarto de brinquedos e lá elas pegavam o que elas
queriam. Eu brinquei com elas de massinha,
com jogos educativos e até de boneca. O professor deixa a criança à vontade
para fazer a atividade que ela achar mais apropriada naquele dia. Ele(a) não
prepara as aulas, mas observa, registra e analisa o desenvolvimento de cada
criança.
As atividades comuns a todos, as
que têm horário específico, são basicamente a hora das refeições e de sair para
brincar na parte externa da escola. Os pais sabem exatamente o que seus filhos
estão fazendo. A escola documenta e coloca disponível no site da instituição tudo
que é realizado durante as aulas, que são em tempo integral: manhã e tarde. Eu,
por exemplo, cheguei às 7 horas da manhã e saí às 17 horas.
E eu não fiquei só observando. Eu
conversei com professores, procurei me informar de como a escola funcionava e
passei horas brincando com crianças. Aliás, acho que nem com as sobrinhas,
quando pequenas, eu brinquei tanto. E quase todos os brinquedos são educativos.
As crianças na Suécia, desde pequenas gostam muito de brincar com Lego. E
brincam mesmo. O filho do meu amigo, de quatro anos, praticamente constrói
cidades com Lego. Esse tipo de brinquedo ajuda a desenvolver o raciocínio da
criança.
Também havia brinquedos que dependiam do conhecimento de cores, de
formas geométricas e até matemáticas. Fiz amizade com uma menina de cinco anos
que escolheu um desses jogos e me ensinou a jogar falando o nome das cores em
inglês. Pois é, ela se comunicava comigo assim, sabia algumas palavras em
inglês e usava comigo durante as brincadeiras. Surpreendentemente fofo.
A estrutura física da escola é
incrível. Desde as áreas de convivência dos professores, que oferecem todo o
conforto possível, com sofás, poltronas e espaços para leitura e descanso, até
às salas de aula que, possuem vários ambientes. O refeitório é muito funcional
e espaçoso. As crianças têm várias
opções de alimentos, fazem uma fila e vão ser servidas uma a uma. No dia que eu
fui havia penne com azeitonas, salmão gratinado, batatas cozidas acompanhadas
de molho tártaro, salada e ainda um prato vegetariano. As crianças se servem de
água e de leite. O leite é retirado de uma máquina.
E as crianças literalmente se
servem!
Modelo de babador que as crianças suecas usam na escola, de silicone e nylon. Nada de roupa ou refeitório sujos. |
A educação sueca é voltada para a
autonomia do individuo desde a infância. Assim, as crianças que já conseguem,
servem-se sozinhas. E esqueça os pratos e copos de metal ou plástico: é tudo de
vidro. Os talheres são de metal: colher, garfo e faca. E elas estão tão
acostumadas, que se levantam com aquele prato enorme nas mãos, e se servem
novamente. Depois, cada uma recolhe seu prato, seus talheres e seu copo da mesa
e coloca para lavar. E acreditem: eu vi
uma criança com dois anos incompletos fazendo tudo isso sozinha. Crianças
pequenas usam um babador especial de silicone que não permite que elas sujem
suas roupas enquanto comem.
Aliás, foi na hora de uma das
refeições que eu tive a minha experiência mais cativante. À tarde as crianças
já estavam acostumadas comigo e até já me incluíam nas suas brincadeiras. Fui
até disputada por três delas, que se apossaram de mim na hora do lanche da
tarde. No refeitório elas me conduziram para a mesa onde queriam que eu
sentasse e, pasmem, um menino de quatro anos puxou a cadeira, fazendo cara de
sério, para que eu sentasse. Derreti, é claro. Conto nos dedos as vezes que um
homem foi tão delicado assim comigo. Pois é, aquele menino sapeca de cinco anos
dá um banho em muito marmanjo.
Na classe em que eu fiquei havia
uma sala ampla, onde as crianças brincavam, equipada com uma pequena cozinha,
um quarto usando para brincadeiras, mas, especialmente, para o repouso dos
menores após o almoço, um quarto para guardar os brinquedos e um ateliê, onde
elas podem brincar com tintas. Ainda há um fraldário, todo equipado, e um
banheiro, adaptado para crianças pequenas.
Caso uma criança acidentalmente suje a sua roupa, há uma lavanderia onde
a roupa é lavada e colocada em um secador. Em questão de minutos tudo está
resolvido.
A escola ainda é responsável pelo
bem-estar da criança e deve manter o poder público informado caso note algo
diferente em seu comportamento ou ela apresente marcas físicas de violência. Naquela
semana, por exemplo, os professores tiveram uma palestra sobre abuso infantil,
como forma de estarem preparados para lidar com este tipo de coisa, caso haja
alguma desconfiança. Na Suécia o bem estar da criança deve ser garantido a todo
custo.
Existe muito sigilo em
torno das escolas e das crianças. As escolas não divulgam fotos das crianças e
não permitem fotos no interior dos estabelecimentos, pelo menos não para visitantes.
Uma das condições para que eu passasse o dia lá foi a promessa de que não
divulgaria o nome da escola nem dos alunos, caso escrevesse sobre ela. A
privacidade da criança é preservada. Mesmo no site da escola, fotos com
crianças não mostram seus rostos e não trazem seus nomes, mesmo o acesso sendo
permitido apenas para os pais dos alunos.
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