Não
encontrei ainda terapia melhor para uma mente cansada do que assistir a um bom
filme. E o que é um bom filme? Para mim, particularmente, é aquele que além de
me divertir me faz pensar. Aquele cujas cenas eu repasso mentalmente. Assim
como um bom livro, um bom filme acrescenta algo que a gente nem sabia que
faltava.
Recentemente
eu assisti “Estrelas Além do Tempo” (Hidden Figures). Eu não sou dada a dramas
e confesso que as tais “histórias baseadas em fatos reais” não são meu tipo
preferido de filme. Mas ao assistir ao trailler pela primeira vez eu pensei: esse
filme vai ser maravilhoso. E foi.
Em
tempos em que se questiona o protagonismo feminino em filmes e histórias em
quadrinhos, desafio qualquer pessoa de bom senso a negar que “Estrelas Além do
tempo” não seja um filme que toda menina, que toda mulher, branca ou negra deveria
assistir. Aliás, um filme que todos, independentemente do sexo e da cor, deveriam
assistir.
É
um filme histórico, por assim dizer, uma vez que trás o de um momento crítico
da história dos Estados Unidos, que está competindo com a URSS pela conquista
do espaço. Os EUA não conseguem se igualar aos soviéticos na corrida espacial. Os
cidadãos acreditam que estão sendo espionados por satélites soviéticos. Na
mesma época o país estava em meio às lutas pelos direitos civis dos negros. Não
por acaso, são mostradas manifestações públicas e discursos de personagens como
Martin Luther King.
Afora
o e discurso enaltecedor dos valores estadunidenses, temos um enredo pautado
nos direitos civis dos negros e, especialmente, dos das mulheres. Portanto, ter
três mulheres protagonistas de um filme, mulheres reais que venceram as
barreiras da cor e do machismo, é muito mais do que inspirador.
E
quem são essas mulheres?
Katherine Johnson - 1966 |
Pra
começar, Katherine Johnson, interpretada por Taraji P. Henson, física,
cientista espacial e matemática estadunidense. Ela deu contribuições
fundamentais para a aeronáutica e exploração espacial dos Estados Unidos, ela
calculava as trajetórias, janelas de lançamento e caminhos de retorno de
emergência para muitos voos. Ela, inclusive, participou da missão que levou o
primeiro homem à lua, em 1969. De 1958, até sua aposentadoria em 1986, ela
trabalhou como técnica aeroespacial.
Dorothy
Vaughn, que no filme foi interpretada por Octavia Spencer, ela foi a primeira
mulher negra a ser promovida chefe de departamento na National Advisory
Committee for Aeronautics- NACA (que mais tarde muda de nome para NASA). Sua trajetória
é tão interessante quando a de Katherine.
Dorothy Vaughn |
Embora
ela não tivesse a genialidade matemática da colega de NACA, ela era uma mulher
decidida, de mente afiada, capaz de aproveitar as oportunidades, que eram
poucas naquela época. Ela entrou na NACA aproveitando-se da Executive Order
8802, assinada durante o governo de Franklin D. Roosevelt, em 1941,
que proibia a discriminação racial na indústria de defesa.
Foi
a primeira ação federal a promover igualdade de oportunidades e a proibir a
discriminação no emprego, nos Estados Unidos. Mas é sempre bom lembrar que
esta ordem veio de encontro ao momento vivido pelo país: os Estados Unidos
estavam entrando na II Guerra Mundial e toda força de trabalho deveria ser
aproveitada, fosse ela de homens ou mulheres, brancos ou negros.
Apesar
do ambiente de trabalho ainda ser marcado pela segregação e os melhores postos
ocupados por brancos, esta ordem possibilitou a contratação de negros para as
agências do governo e foi ela que possibilitou que Dorothy trabalhasse na NACA,
de 1943 a 1971.
E
falando em ambiente segregado, temos cenas em que Katherine Johnson é obrigada
a andar um quilômetro para ir ao banheiro, pois só havia um banheiro para negros
na NACA. Outra em que os colegas dela, brancos, colocam para ela uma cafeteira
em separado escrita “pessoa de cor”, para que ela não usasse a cafeteira deles
(ela era a única negra da sala). Ela basicamente consegue mudar isso no “grito”,
quando chega ao limite da sua tolerância pessoal à discriminação. Aliás, uma
das cenas que eu mais gostei.
Por
fim, e não menos importante, temos Mary Jackson, interpretada por Janelle
Monáe. Mary Winston Jackson foi matemática
e engenheira aeroespacial. Para conseguir o diploma em engenharia, Mary, assim
como muitos negros, teve que pleitear na justiça o direito de frequentar aulas.
Ela começou trabalhando com engenheiro polonês Kazimierz Czarnecki, no Túnel de
Pressão Supersônico de 4 pés por 4 pés, que acabou sugerindo que ela entrasse
em um programa de treinamento que lhe permitiria ganhar uma promoção de
matemática para engenheira.
Os
estagiários tiveram que fazer cursos de pós-graduação em matemática e física
nos cursos de pós-graduação administrados pela Universidade da Virgínia. Mas as
aulas eram realizadas em uma escola segregada, ou seja, apenas para brancos. E ela conseguiu. Para mim uma
das cenas mais espetaculares do filme é justamente aquela em que ela, armada de
argumentos sólidos, convence o juiz permitir que ela frequente as aulas, que na
época eram a noite.
Mary Jackson começou sua carreira de engenheira em uma
época em que as engenheiras de qualquer tipo, brancas ou negras, eram muito
raras. Aposentou-se em 1985.
Embora
o foco maior estivesse em Katherine Johnson, estas três mulheres foram
igualmente inspiradoras e muito bem interpretadas pelas atrizes que assumiram
seus papeis. Eu recomento assistir ao filme, recomendo buscar saber mais sobre
elas, principalmente se você, homem ou mulher, branco ou negro, tem alguma
dúvida sobre se vale a pena investir numa carreira, por mais difícil que ela
pareça ser.
Fontes:
https://www.nasa.gov/, acesso em 08 abr. 2017.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Katherine_Johnson, acesso em 08 abr. 2017.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Dorothy_Vaughan, acesso em 08 abr. 2017.
Um comentário:
Olá, Ximena!
Vou conferir Proud Mary e ele vai ser lançado no Brasil no dia do meu aniversário, em dezembro. Acho que é destino, tenho que assistir!
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