Este
ano praticamente todos os sites e revistas especializadas em HQs, e até mesmo a
ONU, estão comemorando os 75 anos da Mulher Maravilha. Mas ela não está
apagando as velinhas sozinha. O ano de
1941 foi também o do nascimento de outras heroínas e super-heroínas dos
quadrinhos, muitas delas desconhecidas do grande público. Vamos falar de algumas delas, que também estão
completando seus 75 anos em 2016.
Para
começar, a Miss Fury, considerada a primeira super-heroína criada por uma mulher: June Tarpé Miles.
Ela estreou nas páginas do Sunday Comic, em 06 de abril de 1941. Também teve suas aventuras publicadas
em revistas em quadrinhos, que chegaram a vender mais do as da Mulher
Maravilha. Ela representa a mulher que se liberta dos padrões de vida exigidos
pela sociedade burguesa e se torna independente. Ela é a mulher que toma as rédeas da sua vida,
assim como muitas outras nos anos de 1940.
Miss Fury foi, também, uma inspiração para a criação da própria Mulher Maravilha. Segundo Jill Lepore, em seu livro The Secret History of Wonder Woman, Marston pediu ao desenhista Harry G. Peter que criasse a personagem forte como o Superman, patriota como o Capitão América e sexy como a Miss Fury.
Miss Fury foi, também, uma inspiração para a criação da própria Mulher Maravilha. Segundo Jill Lepore, em seu livro The Secret History of Wonder Woman, Marston pediu ao desenhista Harry G. Peter que criasse a personagem forte como o Superman, patriota como o Capitão América e sexy como a Miss Fury.
War Nurse - maio de 1941. |
O que acham de uma enfermeira britânica que coloca uma máscara e luta junto com outras
mulheres durante a guerra contra nazistas? Esta é a War Nurse, personagem criada
pela ilustradora Jill Elgin. Ela fez sua primeira aparição na Speed Comics
#13, em maio de 1941, revista publicada pela Harvey Publications. Em 1942, passou para as mãos de outra
cartunista, Barbara Hall, e tornou-se líder de um grupo internacional de
combatentes chamado Girl Commandos. Acredito que tenha sido o primeiro grupo de mulheres combatentes do crime, no caso combatentes de nazistas. Havia ainda uma coisa interessante no Girl Commandos: dele participavam mulheres de várias nacionalidades. A ideia realmente era muito original.
Miss Victory - Agosto de 1941. |
Também sem poderes, mas com muita
atitude, temos uma heroína que de simples secretária se transforma em uma ás da aviação: a
Miss Victory. Criada pela quadrinista Nina Albright, em agosto de 1941, Miss Victory tirava o sono
de muitos nazistas durante a II Guerra Mundial, pelo menos nos
quadrinhos. Ela representa aquelas mulheres fortes que, munidas de patriotismo,
deixaram sua vida pacata para ingressar ajudar no esforço de guerra e até pilotar aviões. Ela não está ali para ser salva, mas para salvar
soldados e civis e vencer uma guerra.
E falando de patriotismo, talvez
ninguém tenha sido mais
patriótica do que Pat
Patriot. De operária a uma heroína, Patrícia Patrios, a Joana D’ Arc Americana,
estreou em agosto de 1941, nas páginas da Daredevil
Comics. Seus criadores foram Charles Biro e Bob Wood. Suas aventuras, num
total de dez, foram publicadas até junho de 1942. A personagem não tem aparentemente poderes
especiais. Mas, suas histórias levam o leitor a concluir que suas ações eram
guiadas pelo espírito da liberdade. Em 1941, "Pat Patriot" tornou-se
um símbolo do espírito de luta estadunidense.
Pat Patriot - Agosto de 1941. |
Black Cat - Agosto de 1941. |
A
Black Cat foi uma personagem publicada pela Harvey Comics, de 1941 a 1951. Estreou na Pocket Comics # 1, em agosto 1941. Foi desenhada, dentre
outros, por Al Gabrielle e por Jill Elgin. Linda Turner é uma atriz e
dublê de cinema que acaba se tornando uma combatente do crime. Começou
perseguindo espiões nazistas nos Estados Unidos. Além de ser uma excelente
lutadora ela sabe, também, pilotar todo tipo de veículo. Assim como muitas outras
personagens, Linda entrou para o mundo da aventura por acaso. A Black Cat chegou
a ser eleita uma das 100 mulheres mais sexy em HQs, pelo Comics Buyer's Guide's.
Madame Strange - novembro de 1941. |
Misteriosa
e bonita, a Madame Strange foi publicada pela primeira vez na Great Comics #1, em novembro de 1941. Foi uma super-heroína
que lutou para proteger a América contra a ameaça nazista. Extremamente ágil e
habilidosa com armas, ela também era uma piloto de perícia impressionante.
Madame Strange foi criada por Charles A. Winter (Chuck Winter), sob o pseudônimo
de "Achmed Zudella". Suas histórias foram
publicadas apenas em três revistas.
Madame Satan - Dezembro de 1941. |
Lady
Satan foi criada por George Tuska e estreou na Dynamic Comics #2, em dezembro de 1941. Ela perdeu seu noivo durante
um ataque nazista ao navio em que estavam viajando. Após o ocorrido, jurou
vingança ao III Reich. Usando uma máscara e um vestido de noite ela lutou
contra os nazistas na França ocupada. Par a isso usava seu charme e uma arma de
cloro. Em 1946 a personagem foi reformulada e ganhou poderes sobrenaturais
tornando-se uma feiticeira.
Todas
estas heroínas e super-heroínas têm duas coisas em comum: lutaram contra os
nazistas e surgiram antes da Mulher Maravilha, que só seria lançada em dezembro
de 1941. Com exceção, talvez, de Lady Satan, que sopra velinhas no mesmo mês da
princesa amazona.
Outra
coisa que elas compartilham com muitos outros heróis e super-heróis dos quadrinhos
publicados em 1941: elas já combatiam os nazistas muito antes dos Estados
Unidos entrarem na guerra, o que oficialmente só aconteceu em 11 de dezembro de
1941. Ao que parece os quadrinistas já apostavam na entrada do país na guerra. Na verdade, era uma questão de tempo, uma vez que o esforço de guerra já havia se
iniciado e o país já estava se preparando para uma possível entrada no conflito
mundial.
Muitas outras personagens femininas foram criadas neste período e a grande maioria deixou de ser publicada após o término da II Guerra Mundial. Algumas, como Madame Strange tiveram apenas algumas poucas histórias. Naquele período havia uma demanda muito grande por personagens e muitos estúdios os produziam aos montes. Infelizmente, nem todos sobreviveram às mudanças tomaram de assalto a sociedade estadunidense na década de 1950. A Mulher Maravilha pode ser considerara uma sobrevivente. Mas para sobreviver ela teve que mudar.
A personagem criada em 1941 tinha ideias, outros objetivos. É esta Mulher Maravilha que está comemorando 75 anos. Um símbolo de força e inteligência feminina. Mas ela não estava sozinha. Havia junto a ela um panteão de super-mulheres que também merecem ser lembradas. São as mulheres-soldados dos quadrinhos, que defenderam os ideais de liberdade e enfrentaram as ditaduras fascistas, assim como tantas outras mulheres, reais, que sacrificaram suas vida nos anos de guerra e que também caíram no esquecimento.
Para quem quer conhecer mais sobre assunto, recomendo os seguintes livros:
Para quem quer conhecer mais sobre assunto, recomendo os seguintes livros:
MADRID,
Mike. Divas, Damages & Daredevils:
lost heroines of Golden Age. [Minneapolis?]: Exterminating Angel Press,
2013.
------
The Supergirls: Fashion, feminism,
fantasy, and the history of comic book heroines. [Minneapolis?]:
Exterminating Angel Press, 2009.
ROBBINS, Trina. Tarpé Mills & Miss Fury: Sensational Sundays (1941-1944) - The
first female superhero created & Drawn by a woman cartoonist. San
Diego: IDW Publishing, 2013.
------. Tarpé
Mills & Miss Fury: Sensational Sundays (1944-1949) – The first female
superhero created & Drawn by a woman cartoonist. San Diego: IDW
Publishing, 2011.
------. The
Great Women Cartoonists. New York:
Watson-Guptill Publications, 2001.
5 comentários:
Acredito que o fato de muitos autores serem judeus deve ter pesado nessa decisão de criar heróis contra nazistas.
Não, era a tendência da época mesmo. Todos os estúdios faziam. Todos os personagens que puderam combater nazistas em suas aventuras o fizeram. Isso vendia, e muito. Era o que se consumia naquele momento.
Obrigada Natania! Happy birthday to them all!
Não, era propaganda judaica mesmo. Tanto é que a maioria das super heróis genéricas voltadas ao combate de alemães sumiram ao longo do tempo como a War Nurse, Pat Patriot, Miss Victory, etc.
O fim destas personagens podem ser atribuídos a uma série de fatores. Acho que seria insensato resumir isso a uma coisa apenas. Havia todo um esforço de guerra que se desenvolveu durante os anos de 1940, que estimulava todo tipo de produção cultural. Havia muito capital envolvido, tb. Muitos personagens tiveram vida curta neste período pq perderem sem sentido após a guerra, ou realmente não emplacaram. Outros desapareceram por força das perseguições nos anos de 1950. Mills parou de produzir nesta época, por exemplo, por razões pessoais. Enfim, há muitas variantes a serem consideradas.
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