A Mulher Maravilha é uma personagem de História em Quadrinhos criada em
1941 pelo psicólogo William Moulton
Marston. Ele foi um
defensor dos direitos da mulher e assistiu de perto a ação do movimento
sufragista. Admirava as mulheres fortes e independentes. Foi nestas mulheres, nestas feministas, que Marstson se inspirou para criar a Mulher Maravilha.
Ela representava o ideal feminino, de Marstson: uma
mulher forte, confiante e capaz de vencer qualquer obstáculo. Uma mulher que
inspirava outras mulheres e que, em tempos de guerra, pretendia vencer o ódio e a
intolerância atrás do amor. A década de 1940 rendeu-se a esta
semideusa, que também se tornou um fetiche para muitos
homens.
Ela foi a primeira personagem tipicamente feminista. Era a mulher que se
sobressaia sobre os homens, que liderava outras mulheres. Via nelas mulheres
uma força que muitas vezes elas mesmas desconheciam. A Mulher Maravilha vai usar o amor como
uma arma, vai mostrar que a inteligência muitas vezes se sobressai sobre a
força. Marston acreditava realmente numa verdadeira revolução feminina. Para
ele, no futuro, o patriarcado seria substituído pelo matriarcado.
Capa Sensation Comics # 08 Agosto de 1942 |
Nas revistas da Mulher Maravilha,
havia uma sessão reservada a resgatar a memória das grandes mulheres da
história. Muitas delas eram desconhecidas do grande público e suas vidas foram
transformadas em HQs. São as Wonder Women
of History (Mulheres Maravilhas da História). A mensagem aos leitores e
leitoras é bem clara: toda mulher pode fazer a diferença.
As HQs das Wonder Womer of History foram assinadas por Alice Marble, que a
convite de Max Gaines, tornou-se editora associada da All American Comics. Ela mesma foi uma personalidade feminina de
destaque em sua época. Marble foi a número um do tênis feminino, entre os anos
de 1936 e 1940, e uma mulher cuja vida foi marcada pela superação. Uma editora ideal
para uma revista cuja personagem levantava a bandeira feminista.
Havia interesse dos editores em ampliar seu público
leitor feminino. Era realizada divulgação da revista da Mulher Maravilha em
escolas, utilizando-se justamente os quadrinhos com personagens históricas. As
mulheres também eram convocadas a trazerem sua experiência para as páginas da
revista da Mulher Maravilha.
Wonder Woman # 03, fev. 1943, p. 33 |
Acredita-se que Gaines usou o nome e a imagem de
Marble para promover a revista, mas a tenista não teria tido uma participação
tão ativa assim na produção dos quadrinhos sobre as mulheres da história. Marble
assinou o editorial até a revista da Wonder
Woman # 16, em 1944, quando seu marido morreu após um acidente de
automóvel.
Há uma boa chance de as Wonder Women of History terem sido escritas por Doroty Roubchek.
Ela foi uma das pioneiras nos quadrinhos nos Estados Unidos e a
primeira mulher a assumir um cargo de editora na DC, tendo tido um papel muito
importante dentro daquela editora. A ela é creditada, por exemplo, a criação da Kryptonita,
em 1943.
Lynda Cater. Imagem disponível em:http://zip.net/bmttXf, acesso em 09 de out. 2016. |
Mas, o discurso feminista assustava os editores. Se
por um lado as heroínas e super-heroínas mostraram-se um produto lucrativo, por
outro havia certos limites que não se ultrapassava. De fato, Marston pode ser
considerado um pioneiro por ter criado e mantido ativa, mesmo depois da guerra,
uma heroína que representava um discurso de liberação feminina. Mas sua morte,
em 1947, traria mudanças à personagem que abandonaria o discurso feminista que
a caracterizou nos seus seis primeiros anos de existência.
Na década de 1970 a personagem recuperou parte do
seu brilho com a série de TV estreada por Lynda Carter, no papel da Mulher Maravilha.
Carter apresentou ao público uma Mulher Maravilha inteligente, poderosa,
empoderada, o que combinava muito com o contexto histórico da época, com a emergência do
movimento feminista. A Mulher Maravilha da TV ainda serviu de inspiração para a Mulher Maravilha dos quadrinhos.
Imagem disponível em: http://multiversomulhermaravilha.blogspot.com.br/, acesso em 09 out. 2016. |
Setenta e cinco anos depois, a personagem passou por muitas mudanças. Ela foi perseguida pelos inimigos dos quadrinhos nos anos de 1950; ganhou e perdeu poderes; ela teve seu teor originalmente feminista retirado por diversos autores que assumiram o título após a morte de seu criador. Sua origem foi revisitada por diversas vezes e até sua opção sexual é questionada e polemizada.
Mesmo em meio a tantas mudanças não há como negar que a Mulher Maravilha se tornou um mito, um modelo que inspira mulheres de todo o mundo. Ela, em todas as suas fases, representou momentos em que as mulheres conquistaram e perderam espaço na sociedade. Sua história serve de termômetro para a própria História das Mulheres, suas lutas, suas vitórias, suas derrotas. Eu tenho para mim duas imagens da Mulher Maravilha.
Mesmo em meio a tantas mudanças não há como negar que a Mulher Maravilha se tornou um mito, um modelo que inspira mulheres de todo o mundo. Ela, em todas as suas fases, representou momentos em que as mulheres conquistaram e perderam espaço na sociedade. Sua história serve de termômetro para a própria História das Mulheres, suas lutas, suas vitórias, suas derrotas. Eu tenho para mim duas imagens da Mulher Maravilha.
Wonder Woman # 08, Ilustrada por Bilquis Evely (out/2016) |
E para encerrar, uma novidade: uma mulher assumiu em outubro de 2016 a revista da Mulher Maravilha, como desenhista. E não apenas uma mulher, uma brasileira: Bilquis Evely, de 26 anos, vai desenhar as edições pares, substituindo a quadrinista Nicola Scott. Antes delas poucas mulheres como Jill Thompson e Trina Robbins tiveram esta oportunidade.
Fontes
usadas para elaborar este texto:
HANLEY,
Tim. Wonder Woman Unbound: The Curious History of the World's Most Famous
Heroine. Chicago Review Press, 2014.
LEPORE,
Jill. The Secret History of Wonder Woman. New York: Alfred A
Knopf, 2014.
MADRID,
Mike. The Supergirls: Fashion, feminism, fantasy, and the history of comic book
heroines. [Minneapolis?]: Exterminating Angel Press, 2009.
SMITH,
Colin. On Wonder Woman & Miss America In The Golden Age: "If I Were
Only A Man!" (2013). Disponível em <http://zip.net/bvqkPN>, acesso
em 27. abr. 2013.
CODESPORTI,
Sérgio. Brasileira Bilquis Evely assumirá os desenhos da Mulher-Maravilha(2016).
Disponível em: < http://zip.net/bttvSS>, acesso em 12 out. 2016.
*
Partes do presente texto foram adaptadas do trabalho ainda inédito "Todas
as super-heroínas são feministas?", apresentado durante o II Entre ASPAS,
em maio de 2015.
** Texto atualizado em 12 de outubro de 2016.
** Texto atualizado em 12 de outubro de 2016.
Um comentário:
Existe um filme sobre isso. É interessante ver um filme que está baseado em fatos reais, acho que são as melhores historias, porque não necessita da ficção para fazer uma boa produção. Gostei muito de dos melhores filmes de 2017 "Professor Marston e as mulher maravilha", não conhecia a história e realmente gostei. Super recomendo. O vestuário é lindo, é o que eu mais gostei.
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