terça-feira, 27 de junho de 2017

REALISMO, AUTOBIOGRAFIA E FANTASIA COM LI ÖSTERBERG

Li Österberg pertence àquela geração de mulheres que revolucionou os quadrinhos suecos, com temáticas ligadas ao feminismo, com quadrinhos mais filosóficos e politizados. Formou-se pela "Escola de Quadrinhos de Hofors", onde estudou por três anos. As escolas de quadrinhos na Suécia oferecem uma formação completa para quem deseja se profissionalizar na área. Li Österberg conta que produzia croquis uma vez por semana e que lá conheceu diferentes gêneros de quadrinhos. Havia, também, visitas de artistas veteranos que compartilhavam sua experiência Professional.

Sua profissionalização veio em 1998 quando participou da antologia “Allt för konsten" (Todas as artes), publicada pela Optimal Imprensa, e premiada pelo Prêmio Urhunden[1], em 1999.

Da mesma forma que muitos outros quadrinistas suecos da sua geração, Li Österberg produziu quadrinhos autobiográficos. Segundo ela, este tipo de quadrinhos era uma tendência na Suécia, na década de 1990, e parecia “quase impossível ser publicado com qualquer outra coisa”. Atualmente ela raramente faz este tipo de quadrinho, dedicando-se mais à ao realismo e à fantasia.

Em seus quadrinhos autobiográficos, Li Österbergs fala de suas experiências, sua timidez, neuroses, fobias sociais e de sua família. Um dos seus primeiros quadrinhos deste gênero foi “Sagan om flickan som bara ville Rita” (História sobre a garota que só queria desenhar). Mas vai ser com o fanzine “Agnosis”, que teve 15 números, iniciado por volta de 2004, que ela vai trilhar mais intensamente a autobiografia.

Li Österberg seguiu um caminho inverso com relação à produção de quadrinhos. Ela começou a produzir fanzines depois de ter se profissionalizado.

“Na época, nenhum editor parecia suficientemente interessado em meus quadrinhos. Então, para publicá-los eu tinha a mim mesma. Eu escolhi o nome Agnosis, o oposto do termo gnose (conhecimento), para o meu fanzine, já que meus quadrinhos costumavam ter pessoas confusas que tentavam entender o mundo e a elas mesmas. Eu realmente gostei de fazer fanzines. Isso diminuiu a minha ansiedade com relação ao meu desempenho e me tornou mais criativa. E eles foram bem recebidos no mundo dos quadrinhos suecos, o que eventualmente levou sua publicação. Eu diria que Agnosis foi muito importante tanto para mim pessoalmente quanto para minha carreira”.

Em 2003 ela lançou o álbum “Johanna”, também pela Optimal Imprensa. O projeto nasceu em 2000, em parceria com o escritor e quadrinista Patrik Rochling, para ser uma webcomic feminista e acabou crescendo. A protagonista, a rebelde Johanna, tem suas histórias contadas da adolescência á idade adulta e retrata diversas situações cotidianas, muitas delas divididas com outra personagem, Klara. Com o tempo “Johanna” foi dividindo seu protagonismo com outros personagens secundários. Em 2014 foi publicada uma coleção completa de “Johanna”, com o material publicado entre 2003 e 2012.

Como Li Österberg é fã de mitologia grega desenvolveu um projeto chamado “Nekyia” (2012), onde Hermes e Hades são dois dos protagonistas. O gosto pela mitologia vem do grande conhecimento que ela tem sobre da história e religião. Conta que seu interesse por mitologia surgiu ainda na infância, quando adorava mitos e contos de fadas. Na adolescência a mitologia grega se tornou uma obcessão.

“Eu gostava do fato deles serem tão falhos e humanos. E eles tinham algumas deusas realmente legais e poderosas (o que eu não percebia naquela época era que algumas dessas deusas poderosas possuíam traços bastante misóginos). Mais de dez anos depois, voltei aos mitos gregos e comecei a fazer histórias em quadrinhos sobre eles novamente, desta vez numa tentativa de misturar o gênero realista com o gênero de fantasia”.

Atualmente ela trabalha um novo projeto com Patrik Rochling, onde ele escreve o roteiro, num estilo realista com personagens fictícios. Continua sua série sobre deuses gregos, onde mistura realismo e fantasia, abordando temas como sonhos perdidos, controle de natalidade e a busca por um lugar no mundo. Dessa série já foram publicados três livros e o quarto está em produção.

Quem quiser conhecer mais sobre o trabalho de Li Österberg é só clicando aqui! 

OBS: Agradecimentos a Li Österberg, que me concedeu uma entrevista via e-mail no dia 23 de abril de 2017 e que pacientemente me tirou muitas dúvidas depois.



[1] Prêmio concedido anualmente aos melhores quadrinhos suecos.

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