Hotel de Ville. |
Este
ano fui ao Festival Internacional de Quadrinhos de Angoulême. Para quem não conhece,
o Festival de Angoulême é realizado anualmente na cidade de Angoulême, na
França, e é um dos mais importantes do mundo. Eu participei pela primeira vez.
Parti
de Portugal para França na companhia de mais 15 pessoas, entre elas autores,
editores, estudiosos e fãs da nona arte. Foi minha primeira viagem longa de
comboio (trem) e eu realmente não estava preparada para ela. Duas coisas me
incomodaram: o calor que fazia dentro do comboio e a falta de espaço entre as
poltronas que fez com que eu preferisse ficar em pé ou no bar durante boa parte
da viagem. Uma viagem por sinal longa: cerca de 20 horas até o destino final,
Angoulême.Mas o sacrifício foi válido. Primeiro porque o festival foi
fantástico, segundo porque a cidade, Angoulême, por si mesma compensa o
sacrifício. É uma cidade belíssima.
Saímos
quarta a noite e chegamos em Angoulême quinta noite, a tempo de alguns de nós
fazerem seu credenciamento. Eu me credenciei como imprensa internacional, pois
eu tenho um blog sobre quadrinhos e porque colaboro com revistas como a Papiers
Nickeles e com sites como o Lady’s Comics. Fiz meu credenciamento pela Lady’s
Comics, uma vez que atualmente pesquiso e escrevo sobre as mulheres nos
quadrinhos. Como representante da imprensa eu tinha direito a uma sala super
simpática no Hotel de Ville, um castelo medieval que hoje é um tipo de
prefeitura, onde os membros da imprensa se reuniam, tinham direito a internet,
café, suco, água etc.
O
festival começou no dia 26 e seguiu até do dia 29 de janeiro. A programação foi
intensa. Não é exagero dizer que eu não consegui ver tudo. A cidade inteira
torna-se um grande palco dedicado às Histórias em Quadrinhos. Ruas, lojas, restaurantes, confeitarias e até
o mercado municipal são decorados com temas relacionados aos quadrinhos. Assim, cada esquina tem alguma novidade,
alguma coisa que chame a atenção do visitante.
Prestem atenção: entre pães, doces e vinhos colocou-se álbuns de quadrinhos nesta confeitaria. Era assim em todos os lugares praticamente. |
E
as exposições, elas estavam em todos os lugares. Havia exposições de quadrinhos
dentro das igrejas e de museus como o Museu de Angoulême (que tem uma coleção
maravilhosa de objetos e fósseis pré-históricos) e o Museu da Resistência
(dedicado à memória do movimento da resistência francesa durante a II Guerra
Mundial), teatros, galerias e prédios públicos. Os bares e restaurantes se
tornaram dia e noite o ponto de encontro de jornalistas, artistas e fãs.
Autores
estavam a todo lado, autografando seus álbuns e interagindo com o público. Tive
meus momentos, por exemplo, com Posy Simmonds, presidente de júri deste ano,
quando ela autografava um álbum (uma revista em quadrinhos) que eu comprei. Era
fácil, por exemplo, encontrar com Hermann, vencedor do Grand Prix de 2016 e
homenageado com uma linda exposição no Espaço Frnaquim ou o brasileiro Marcelo
Quintanilha, também premiado ano passado.
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Autora consagrada dos Quadrinhos, Posy Simmonds é super simpática. Enquanto autografava um álbum para mim ainda falou algumas palavras em português. |
O
público foi intenso e envolvia pessoas de todas as idades. Havia muita
visitação escolar, mas a grande massa de visitantes eram adultos acima dos
trinta anos de idade. Entre quinta e sexta-feira já haviam passado
aproximadamente de 35 mil pessoas pelo festival, segundo a organização. E
muitos mais eram esperados. Sábado a cidade foi tomada por turistas e era quase
impossível entrar nas exposições, das mais simples às mais concorridas.
Angoulême
também foi lugar para se fechar negócios e para muitos autores encontrarem
editores e mostrarem seus trabalhos. Havia estandes de grandes e pequenas
editoras, não apenas da França e da Bélgica, mas de outros países como
Argentina, Estados Unidos, Chile e Suécia. O mercado dos quadrinhos, pelo que
pude perceber está na todo o vapor. Muitos lançamentos, filas enormes para
pegar autógrafos, conferências, etc.
A
sala de imprensa estava sempre cheia, com correspondentes de todo o mundo
enviando informações para rádio, televisão, jornais, sites e blogs. Entrar nas conferências
era muito difícil. A que eu queria assistir perdi porque me atrasei cinco
minutos. Nem com a minha credencial eu consegui entrar. Vou ficar mais esperta
na próxima vez.
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Ruas lotadas no sábado pela manhã! |
Mas,
não se preocupem, eu tenho muito coisa ainda pra relatar. Conversas com
autores, com colegas pesquisadores e impressões específicas sobre exposições
ainda vão rolar, seja aqui no blog, no Lady’s Comics e em outros sítios. No
geral, o festival foi além de qualquer expectativa que eu pudesse ter. Tanto
pela receptividade das pessoas, os contatos que fiz e o muito que aprendi nos
quatro dias que fiquei na charmosa comuna de Angoulême.