segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

ENCONTROS EM PORTUGAL OU COMO TRANSFORMAR FÉRIAS EM UMA FORMA PRAZEROSA DE AMPLIAR SEU CAPITAL CULTURAL

Café Tintin, em Lisboa.
Eu havia imaginado que faria uma narrativa sequenciada da minha viagem à Europa. Eu pretendia escrever um pouquinho todo dia, para não perder os detalhes. Mas, ao cair da noite eu estava cansada ou distraída conversando com os amigos do Brasil, aí o relato ficava pra o dia seguinte. Assim, talvez muitos detalhes se percam ou alguns nomes sejam esquecidos, mas espero poder tirar da memória recente a maior quantidade de referências possíveis.

Como no meu primeiro texto eu falei do meu encontro com Cecília Capuana, nada mais justo que neste eu fale do meu encontro com outros autores e artistas. Para isso vou retornar ao início, à minha primeira parada, e base apoio logístico, Portugal.

No dia 12 de janeiro eu tinha uma missão: ir à Bedeteca de Amadora e lá deixar alguns exemplares de fanzines, livros e Histórias em Quadrinhos. O material me foi dado, em sua maioria, por colegas da Associação de Pesquisadores em Arte Sequencial (ASPAS) para fazer parte do acervo da Bedeteca de Amadora. O material teórico, inclusive, foi muito festejado. Livros sobre quadrinhos ainda são poucos, mas a produção acadêmica tem crescido muito e cada adição serve tanto para valorizar os quadrinhos enquanto produto cultural quando para mostrar como a pesquisa neste campo tem avançado.

Geraldes Lino e José Ruy.
Fui recebida por Cândida, a responsável pela Bedeteca. Pessoa maravilhosa. Recebi em troca alguns livros produzidos em Amadora, que pretendo usar em breve para novas pesquisas. Aliás, acho que 2017 vai ser o ano de pesquisa para mim. Longe do marasmo de 2016, sinto-me inspirada e animada a finalizar antigos projetos e emplacar novos. Inclusive já tenho um artigo encomendo para fevereiro, mas este é um assunto para outra postagem.

Passei praticamente uma manhã inteira e parte da tarde em Amadora e, detalhe, eu fui sozinha. Eu me virei, claro. Quando decidi que viajaria completamente sozinha para o exterior sabia que ia precisar de jogo de cintura em muitos momentos. Vou dizer uma coisa, passei uns bons apertos, coisa que nunca vivenciei no Brasil, mas não reclamo. Como sabiamente disse meu amigo filósofo Gabriel “o que não me mata, me fortalece.” E foi isso mesmo.

Mas voltando a Portugal, eu reencontrei meu querido amigo e especialista em fanzines Geraldes Lino, isso ainda no dia 12 de janeiro, no Café Tintin, na Avenida de Roma, em Lisboa. Conversamos bastante sobre assuntos relacionados a quadrinhos, política e, claro, sobre os Festivais de Angoulême e Amadora. Depois fui apresentada a um restaurante português, "O Prego da Peixaria", que possui um cardápio especial de Hambúrgueres.
Hambúrguer de salmão com choco.

Eu pedi um hambúrguêr de Salmão com choco. Uma delícia, eu recomendo. Ele vem acompanhado de batata doce frita em forma de palitinhos. É muito gostoso. Claro, tudo acompanhado de vinho. Vou dizer que, até agora, acho que só não tomei vinho quatro dias durante a minha viagem (estou no 12º dia). Eu brinquei com muita gente dizendo que tomaria vinho todo dia. Não é que isso quase foi verdade? Na casa de amigos, em restaurante e no avião. Sempre tinha vinho.

Fechando a parte de Portugal, pelo menos esta primeira parte, no sábado, dia 14 de janeiro eu fui convidada para participar do “Almoço do Mosquito”. O Mosquito foi um importante periódico que circulou em Portugal que surgiu em 1936 e circulou até o final da década de 1980. A revista abriu espaço para revelar vários talentos dos quadrinhos em Portugal.

Há alguns anos tem sido realizado um almoço de confraternização entre antigos colaboradores, editores e leitores do periódico. E lá estava eu, entre eles. Pude rever o famoso quadrinista português José Ruy, de que sou fã, e conheci jovens talentos como Luiz Simões. Eu me encantei com um professor aposentado e pesquisador Antônio Miguel, com quem fiquei  conversando durante quase todo o almoço. Foi muito interessante, muito enriquecedor.
Luiz Simões desenhando José Ruy.

Uma curiosidade: o almoço foi em um restaurante de comida mineira, olham só! A ideia que os portugueses têm de comida mineira é bem diferente da minha. Eu sou mineira, né gente! Mas eles tentaram. Eu me lembrei de Trina Robbins, que ficou apaixonada por picanha, quando esteve no Rio de Janeiro. Ela achou um restaurante brasileiro em São Francisco e, claro, pediu picanha. Como ela reclamou! Aparentemente a picanha nos Estados Unidos não é tão boa quanto à do Brasil.

Após o almoço fomos a Amadora. Pois é, voltei à bedeteca. Era a inauguração da exposição que homenageia a obra de Fernando Relvas. Muito bonita, por sinal. Eu conheci o autor quando fui a Portugal pela primeira vez. Aliás, ele foi uma simpatia comigo e até me enviou sua última História em Quadrinhos em pdf. Uma gentileza e tanto. Uma merecida homenagem, para um autor talentoso que vem superando muitas dificuldades para continuar produzindo.
Exposição sobre Fernando Relvas,
na Bedeca de Amadora
.

Por fim, neste mesmo dia, fiz minha já tradicional visita à casa do amigo André Diniz, que se mudou para Portugal no início do ano passado. André é um dos meus quadrinistas brasileiros preferidos. E já era antes de eu o conhecer pessoalmente. Eu gosto muito do trabalho que ele faz com quadrinhos didáticos. Todo ano eu coloco meus alunos para lerem pelo menos um. Ano passado foi a Guerra de Canudos. Roteirista e desenhista, André tem ganhado espaço no cenário internacional. Sua História em Quadrinhos além de receber prêmios no Brasil, já foi publicada em Francês.

Fechou-se assim, minha primeira etapa da viagem, pelo menos a profissional. Depois eu devo falar sobre a parte turística, igualmente importante. Afinal, eu estou de férias!

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