Quem
não se lembra da polêmica
surgida em torno do Festival Internacional de Angoulême, ano passado, quando as
mulheres foram praticamente expurgadas do processo de seleção para o Grand
Prix?* O
assunto ganhou o mundo, principalmente após a organização declarar, em nota
oficial, que não podia mudar a "História" das Histórias em
Quadrinhos, marcada pela ausência das mulheres, ou pelo seu número reduzido.
Durante todo o ano de 2016 muitas foram as vozes, entre homens e
mulheres, que se levantaram contra estes argumentos. Ao que parece eles foram
ouvidos. O Festival percebeu que a História pode mudar,
sim. A
prova disso é o maior destaque dado às mulheres que fazem quadrinhos no Festival de
2017.
Na lista de indicados da seleção oficial, de onde saem vários prêmio, inclusive o de melhor álbum, aparecem, por exemplo, nomes como o de Brigitte Findakly, Anne-Caroline
Pandolfo, Kelly Sue Deconnick, Fiona Staples e Sophie
Guerrive. Não apenas na lista de indicados como, também, em exposições e
homenagens. Por exemplo, entre os 11 autores homenageados no "Espace le
Monde des Bulles" (Espaço o Mundo dos Balões) estão nomes como
Marguerite Abouet e Pénélope Bagieu.
Ao que tudo indica, o Festival de 2017 está acolhendo melhor as mulheres. Porque elas sempre estiveram lá e, justiça seja feita, foram premiadas em diversas categorias, embora o Grand Prix ainda seja uma espaço dominado pelos homens. Não se trata aqui de contabilizar quantas mulheres participaram ou foram premiadas pelo festival em seu todo, mas do reconhecimento do valor destas mulheres, tão competentes quanto seus pares masculinos, caso contrário não seriam indicadas para nada. Esta talvez seja a palavra que resume tudo o que se debateu discutiu em 2016: reconhecimento.
O
que se reivindica é justamente isso: o reconhecimento tanto pelo talento quando
pela constante luta feminina em marcar conquistar espaço profissional. Não se
trata de uma disputa homens e mulheres, mas de condições justas de se
conquistar reconhecimento como profissional, independentemente do gênero. Por mais que se premie mulheres em festivais como Angoulême, fica a sensação de que ainda há uma barreira invisível que separa homens e mulheres. A sensação que a organização do Festival de 2017 passa é de que há um real esforço em se quebrar esta barreira.
Por
um longo tempo as mulheres foram colocadas à margem da indústria dos
quadrinhos. Não são muitas as editoras, pelo menos na França, que publicam
material feito por mulheres. Mesmo dentro do movimento underground, que a princípio deveria acolher aqueles que não se
encaixavam dentro dos modelos impostos pelas grandes editoras, sempre foi
difícil para as quadrinistas conquistarem seu espaço.
É
verdade que esta realidade muda e país para país. Países como a Suécia, por
exemplo, têm acolhido um número cada vez maior de mulheres quadrinistas. Por
outro lado, França, Bélgica e Estados Unidos são modelos para o resto do mundo
e, em mais de um século da indústria dos quadrinhos, a presença feminina no
quadrinhos, nestes países, foi marcada por avanços e retrocessos.
Cabe ao
século XXI tentar romper as barreiras de gênero que e mudar esta História.
Afinal, como os organizadores do Festival estão aprendendo, a História muda
sim, até porque os agentes da mudança somos nós.
*Quem tiver interesse fiz uma postagem sobre o assunto, início do ano. Clique aqui para conferir.
Para saber mais sobre os álbuns indicados este ano, eu aconselho consultar os apontamentos do Pedro Bouça, com comentários sobre cada obra, clicando aqui!
4 comentários:
Wonderful! I'm so happy to learn this! So, despite Trump, we are making progress.
Do you have Trump, we have Temer and the world tem much to learn about real democracy.
I will not take off my Hillary button, and I'm brining a bunch of Hillary buttons to Brazil to give out.
No Japão, as mulheres autoras de mangá tem espaço formidável!
Várias foram premiadas!!! Curioso que o Japão tem fama de ser machista!
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