Se este
ano eu matei a vontade de ir a uma Olimpíada achando que seria uma das melhores
experiências da minha vida, eu não poderia estar mais enganada. Muito melhor do
que as Olimpíadas foram as Paralimpíada.
O Rio
2016 recebeu para as Paralimpíadas cerca de 4 mil atletas, de 176 países. O grande número de países e
atletas envolvidos já sinaliza para o fato de que se trata de um conjunto de
competições com um significado muito amplo. Se o esporte, em si só, representa um esforço de superação,
de teste, dos limites humanos para uma atleta paralímpico é muito mais do que
isso.
O
que eu pude observar nos dois dias em que fui ao Parque Olímpico assistir
modalidades como natação, basquete com cadeira de rodas e goalball foi aquilo
que eu sempre imaginei ser o tal “espírito olímpico”: a alegria de poder estar
competindo.
Saindo
do jogo de handball, durante as Olimpíadas, eu encontrei com alguns membros
da equipe francesa visivelmente aborrecidos por terem ficado com uma medalha de prata. Parece
que para eles participar não foi suficiente.
Já
entre os competidores das Paralimpíadas não havia tristeza em quem perdia, mas
a satisfação de poder estar ali, numa quadra ou numa piscina, praticando
esporte quando muita gente acredita que deficientes são pessoas limitadas.
Deixa
eu contar uma coisa: todos nós temos limites, mas algumas pessoas se atrevem a
superá-los. O que dizer de uma nadadora sem uma perna ou com um braço
defeituoso que faz um tempo melhor do que um jovem saudável? Ou de uma
cadeirante que, durante um jogo de basquete é derrubada e se levanta sozinha,
com cadeira e tudo, como se fosse uma ninja?
Confesso
que há um tempo atrás eu veria nestas pessoas os limites que o corpo ou a
sociedade impõe a elas. Depois das Paralimpíadas eu sinto vergonha de não ser tão
determinada quanto eles. Que Bolt nada! Estas pessoas, estes atletas, homens e
mulheres são os verdadeiros heróis olímpicos.
E
aí vem minha revolta com o tratamento que as Paralimpíadas receberam da mídia.
O Brasil parou para as Olimpíadas mas, de certa forma, virou as costas para as
paralimpíadas. A torre da Globo, por exemplo, que nos Jogos Olímpicos estava
fervendo de gente, nas Paralimpíadas estava vazia e, acredito, fechada. Não estou afirmando que não havia ninguém fazendo cobertura mas, certamente, eram poucos jornalistas. Mesmo a presença da imprensa internacional estava pequena.
Havia
poucos fotógrafos e poucos jornalistas em comparação com o evento anterior. Imagino
que mostrar atletas deficientes competindo não atraia muitos patrocinadores.
Por
outro lado, isso tem uma parte positiva. Por não ser um evento tão
glamourizado quando as Olimpíadas, as Paralimpíadas abrem espaço para a
inclusão de jovens e crianças que não teriam condições para assistirem a uma
competição internacional de alto nível. Com um preço bem acessível foram
disponibilizados ingressos para escolas, que lotaram as arenas. Crianças de
escolas públicas, muitas delas de regiões carentes do Rio de Janeiro e cidades
próximas, puderam participar dos jogos.
Isso,
minha gente, faz toda a diferença!
Alunos e professores do Colégio Imaculada Conceição, de Leopoldina (MG), no Parque Olímpico, dia 13 de setembro de 2016. |
Eu
acompanhei um grupo da escola particular na qual trabalho e, no mesmo dia e nas
mesmas competições, estava também um grupo de alunos da minha outra escola,
municipal. Duas realidades diferentes compartilhando a mesma experiência. Nem
posso dizer a alegria deles quando o nome da escola foi anunciado na Arena do
Futuro, ou de como outros alunos fizeram a alegria de atletas tietando e
tirando fotos.
Os
atletas merecem este carinho. Os jovens precisam aprender com eles e com seus
exemplos de superação.
Os
jogos tem um papel duplamente pedagógico. Eles ensinam aos jovens o significado
de inclusão, de solidariedade e de superação e, ao mesmo tempo, servem de
incentivo para os atletas. E não para por aí. Após os jogos vão ocorrer as Paralimpíadas
Escolares, em São Paulo, de 21 a 26 de novembro (clique aqui
e veja o regulamento), com o objetivo de “estimular a participação dos
estudantes com deficiência física, visual e intelectual em atividades
esportivas de todas as escolas do território nacional, promovendo ampla
mobilização em torno do esporte”.
Enfim,
por tudo isso e muito mais eu me apaixonei pelos Jogos Paralimpícos que, com
certeza, foram um sucesso e vão marcar a vida de todos que puderam assistir,
seja pessoalmente, seja pela televisão (porque, felizmente, algumas emissoras
transmitiram).
Um pouco de
História
Eles
foram idealizados foi Ludwig Guttman, neurologista alemão, que, em 1948,
resolveu organizar uma competição esportiva com veteranos da Segunda Guerra
Mundial que sofreram com lesão na medula
espinhal. Os jogos ocorreram em Stoke Mandeville, na Inglaterra. Quatro anos
mais tarde, competidores da Holanda uniram-se aos jogos e, assim, nasceu um
movimento internacional (atualmente chamado de movimento paralímpico) que
conseguiu que os primeiros jogos com atletas portadores de deficiência fossem organizados
em Roma, em 1960. No início foram 400 atletas envolvidos, atualmente o
número é dez vezes maior.
Os
Jogos Paralímpicos normalmente ocorrem no mesmo ano dos Jogos Olímpicos e,
desde as Olimpíadas de Seul, em 1988, também têm sido sediados no mesmo local.
Curiosidade: Goalball
O
Goalball é uma modalidade esportiva
criada exclusivamente para pessoas cegas ou com baixa visão. Teve início na
Alemanha, em 1946, como forma de ressocialização de ex-combatentes que haviam
perdido a visão, ou parte dela, durante a II Guerra Mundial. O esporte foi
idealizado pelos professores Hanz Lorenzen e Sepp Reindle.
O
Goalball é um esporte de equipe, disputado por dois times com três jogadores e
três atletas reservas. Todo jogador deve, obrigatoriamente, utilizar venda
oftalmológica durante as partidas, de modo que um atleta com visão parcial não
obtenha qualquer vantagem. O goalball é disputado nas categorias masculina e
feminina.
As
partidas são disputadas em dois tempos de 12 minutos, com três de intervalo.
Quando uma equipe abre dez gols de vantagem, o confronto é encerrado
imediatamente, não importando o tempo da partida.
Mesmo
que ainda pouco conhecida no Brasil, a modalidade conta com a intensa
participação de pessoas com deficiência visual. Justamente devido ao grande
número de atletas, o Brasil teve uma enorme evolução neste esporte, ganhando,
pela primeira vez, a medalha de prata nas Paralimpíadas de Londres em 2012.
Trecho
adaptado do site da AME
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