Centro de Cultura e Eventos da UFSC |
Esta semana tivemos o XXVIII Simpósio
Nacional de História, realizado na UFSC, em Florianópolis, organizado pela
ANPUH. Eu participei de quase todas as atividades (e ainda sobrou um tempinho
para relaxar). Gosto dos encontros
realizados na UFSC. Eu acho que a universidade tem uma boa estrutura e consegue,
apesar do tamanho, reunir milhares de historiadores em locais específicos, como
o Centro de Cultura e Eventos, onde aconteceram conferências e ficaram instaladas
as livrarias.
Algumas coisas mudaram. Por exemplo,
geralmente a abertura era realizada no domingo à noite, desta vez foi na segunda-feira.
Eu achei estranha, também, a forma como a programação foi distribuída, ainda
mais a concentração de Simpósios Temáticos (ST) na sexta. Mas acho teve sua
lógica, pois permitiu que mais pessoas pudessem participar das reuniões dos
GTs. Outra coisa que estranhei foi trocar o termo "mesa-redonda" por
"diálogos contemporâneos". Continuou sendo mesa-redonda, mas com um
nome diferente.
Mas nem tudo é perfeito. Não tenho
escondido de ninguém meu desânimo com relação à ANPUH (Associação de Nacional
de História), à qual sou associada desde 1994. Acho que ela tem se distanciado muitos
professores de História da educação básica. Muitos não são filiados por duas
razões: ou não conhecem a ANPUH ou a consideram espaço apenas para professores
universitários.
Por exemplo, no grupo do qual participei,
apenas eu não estava diretamente ligada a algum programa de pesquisa em pós-graduação.
Sinto falta da experiência do professor, a partir da sua vivência, sendo
compartilhada. Imagino que eu os encontraria em STs sobre ensino de História,
mas estes foram uma minúscula porcentagem dentro da miríade de temas que foram
debatidos em 108 salas!
Eu acho isso uma pena, porque a educação
básica é transformadora. É dali que vão sair futuros historiadores e leitores
de livros de História.
Este é outro ponto, a leitura. Acho que a
ANPUH deveria investir em um público leitor de História (se este investimento
existe, eu desconheço) e os historiares devem parar de escrever apenas para seus
pares. O conhecimento produzido na academia não deve ficar confinado à
academia. Veja o sucesso que fazem livros de História que são escritos por
jornalistas! Oras, não teriam que ser os Historiadores a escreverem sobre a
História para o público geral?
Um exemplo de como a História pode ganhar
os mais diversos espaços e leitores são os livros da Mary Del Priore. Vendidos
aos milhares, estão em todas as livrarias e lidos por um público eclético. São
frutos de toda uma vida destinada à pesquisa. Não seguem o formato do livro
acadêmico, possuem uma linguagem menos rebuscada e nem por isso são menos
valiosos. Ao contrário!
Mas apesar destas ressalvas, temos lá a
parte boa, que foram os STs. A cada encontro eles têm ficado melhores e permitindo
uma troca de conhecimentos enorme.
ST "Gênero, feminismos e identidades: novos luares e desafios" |
Eu participei do ST "Gênero,
feminismos e identidades: novos luares e desafios", coordenado pelas
professoras Lídia Maria Vianna Possas e Alcileide Cabral do Nascimento e gostei
muito. Não houve, em minha opinião, nenhuma apresentação que não tenha
acrescentado alguma coisa a todos que estavam presentes. Sem dúvida, foram três
dias produtivos e poderiam até ter sido mais.
Gostei muito da diversidade. Muitos
trabalhos interessantíssimos, realizados por pesquisadores e pesquisadoras de
norte a sul do Brasil e todos, de alguma forma, dialogavam entre si.
Ah, e não podemos esquecer dos livros! Comprei muitos, mais do que eu poderia, menos do que eu gostaria, e ganhei outros. Ganhar livro é sempre bom, ainda mais sobre temas que a gente gosta.
Em resumo, foi uma semana muito
proveitosa. Muitos contatos, muita informação e mais ânimo para encarar o final
das férias, que já está batendo na minha porta.
Um comentário:
Concordo irrefutavelmente com diversos pontos tocados. Principalmente a função da escrita do historiador.
Hoje vivemos os espaços com demasiada pompa e trabalhos rasos. Textos masturbatórios que felam outros autores, citando-os indiscriminadamente, mas que não fazem reflexão.
Dois trabalhos na mesa que fiz parte não apenas superaram as expectativas como serviram, pra mim, de gofadas de ar num afogamento:
Osifekunde, informante Ijebu em paris (1836-1841) de Aderivaldo Ramos de Santana.
12 anos de história e cultura afro-brasileira africana nas escolas brasileiras, de Maria Luzinete Dantas Lima.
O primeiro deu uma aula de trato com as fontes e investigação histórica.
O segundo deu uma aula sobre a aplicabilidade dos conhecimentos produzidos sobre história da África e estudos imaginário da influência africana na realidade brasileira.
No mais, entristeci-me com as brigas de egos, as picuinhas, e toda natureza de ignorância que parece sorver dos espaços que hoje se dizem ocupar historiadores e seus trabalhos que mais fazem grupos fechados que diálogos abertos.
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