Eu sei que a carreira do magistério é
muito difícil. O professor passa por momentos de desânimo, o nosso salário não
é lá grandes coisas se comparado a de outros profissionais, outras ocupações,
mas tem suas compensações. Eu tinha uma professora que falava sempre que o
magistério era uma vocação, uma entrega. Que o professor para realmente educar tem
que se envolver com os alunos e com a escola.
A gente sabe que, nos dias de hoje, esse
envolvimento tem sido cada vez menor. Muitos jovens professores estão assumindo
a carreira não por vocação, mas por falta de opção. Professores mais antigos,
desgastados de desanimados, falam em abandonar o magistério, em se aposentar,
acabam até adoecendo porque não se sentem motivados. E isso realmente é muito
ruim, porque sem motivação, entrar numa sala de aula é realmente um suplício. Eu
mesma, este ano, cheguei a deixar escapara em voz alta numa turma do oitavo ano
a seguinte frase; "Eu não queria estar aqui!".
Pois é, nós temos nossos dias ruins, faz
parte. Mas não podem ser todos. É sabido que não se consegue nada sem
persistência e esforço. Assim, da mesma forma que naquele dia eu não estava com
vontade de estar na sala de aula, vieram outros em que eu não queria estar fora
dela. O magistério é assim, uns dias são bons, outros nem tanto.
Mas não é assim que é a vida?
Hoje eu estava refletindo sobre esta
questão e comecei a pensar no que me faz feliz, como professora e como pessoa. Sim,
como pessoa, porque não entendo quem diz que depois que sai da escola, deixa
tudo para traz. O que eu faço é parte de mim, como posso simplesmente dividir
minha vida?
Lembrei de um episódio ocorrido há uns
dois ou três anos. Eu estava na minha escola municipal, estava me sentido mal
fisicamente, mas tinha que trabalhar até o início da noite. Entrei numa sala do
nono ano, eu me sentei e fiz a chamada. Um aluna veio à minha mesa e
perguntou:
- Professora, a senhora está passando mal?
Bom, não tinha como esconder, era visível,
então eu confirmei. A aluna (Ingrid) então pegou o meu livro e disse:
- Então a senhora vai descansar, porque eu
vou corrigir o dever e ninguém vai fazer bagunça.
Foram 50 minutos de silêncio numa sala que
geralmente era muito agitada. Eu me emociono com isso até hoje. É uma coisa que
me faz feliz, que eu gosto de recordar quando estou começando a me sentir
triste.
Em outro episódio, ano passado, eu estava
em casa, sozinha, num fim de semana a noite. A campainha tocou. Levei um susto,
não esperava ninguém. Eram seis ex-alunos, na faixa dos 15 anos. Eles foram me
levar um pacote de amendoim doce, às 22 horas da noite. Estavam com saudades de
mim. Resolveram ir me ver. Isso, com certeza me deixa feliz. Poder ter o
carinho incondicional dos meus alunos. Que outro profissional tem isso?
E por fim, o motivo que me levou a esta
breve reflexão. Ontem eu dei uma prova na escola onde eu leciono pela manhã. Os
resultados não têm sido muito bons. Dar aulas em algumas turmas têm sido muito difícil.
Muita conversa, falta de interesse e as notas vêm refletindo isso. Só que desta
vez, foi diferente. Eu corrigi as provas logo após tê-las aplicado. Cerca de
40% dos alunos praticamente fecharam a avaliação. No total, o êxito das minhas
três turmas foi de 95%. Quase não acreditei.
Isso me fez muito feliz. Não a nota em si,
mas saber que eles tiveram interesse em estudar, que se esforçaram para
aprender e entender uma matéria que não é lá das mais fáceis. Mas o que me fez
mesmo feliz foi a felicidade desses meninos e meninas que estão aprendendo que
se esforçar pode trazer uma satisfação muito grande. Aprenderam que não existe
o mais ou o menos inteligente, mas aqueles que estão determinados a vencer.
Isso me fez feliz, a felicidade deles.
Então, mesmo sabendo que vão haver dias em
que eu talvez pense ou fale "Não queria estar aqui", nesses dias eu
vou me recordar do pacote de amendoim que eu ganhei no meio da noite, da aluna
que se compadeceu de mim e tentou tornar meu dia menos penoso e da alegria
daqueles alunos que se encheram de felicidade com o resultado de uma avaliação
e comemoraram sua vitória como um atleta olímpico comemora uma medalha de ouro. Essas
pequenas memórias sempre vão me fazer uma professora feliz.
4 comentários:
Muito bom !
Pois é, Natania. Sempre há esse lado bom do professorado...incutir consciência nos deixa acreditar que essa profissão é mesmo nobre. Abs. Gazy Andraus
Pois é, Natania. Sempre há esse lado bom do professorado...incutir consciência nos deixa acreditar que essa profissão é mesmo nobre. Abs. Gazy Andraus
Excelente post!
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