quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Minha apresentação no Seminário Fazendo Gênero 8

Fiz minha apresentação ontem, no simpósio temático O UNIVERSO INFANTO JUVENIL: GÊNERO, PODER E VIOLÊNCIA. Segue a introdução do meu trabalho, cuja versão integral está disponível nos anais do evento.

REPRESENTAÇÕES FEMININAS NAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS:
DA FICÇÃO À REALIDADE
Natania A. S. Nogueira[i]

Introdução

Um meio de comunicação em massa que está presente entre nós há mais de um século, as histórias em quadrinhos têm uma proposta democrática e se propõe a tingir públicos diferenciados, econômica e socialmente. Ao trabalhar com texto e imagem, os quadrinhos (ou HQs), podem ser entendidas por todos os tipos de leitores, independentemente de sua faixa etária, grupo sócio-econômico ou origem étnica. Esta virtude torna este tipo de leitura um espaço privilegiado de representações sociais. Dos cenários aos enredos, passando pelos personagens, tudo nas histórias em quadrinhos pode ser visto como uma apropriação imaginativa de conceitos, valores e elementos que foram, são ou podem vir a ser aceitos como reais.[ii]

Nas linhas que se seguem iremos analisar os quadrinhos norte-americanos, produzidos nas décadas de 1950-1960 e publicados no Brasil na década de 1960, pela Editora Brasil América (EBAL), uma das mais importantes editoras de quadrinhos do Brasil. Nestes quadrinhos iremos tentar entender como se construíam os papéis e gênero, cujo conceito para Scott significa,

(...) saber a respeito das diferenças sexuais. Uso saber, seguindo Michel Foucault, com o significado de compreensão produzida pelas culturas e sociedades sobre as relações humanas, no caso, relações entre homens e mulheres. Tal saber não é absoluto ou verdadeiro, mas sempre relativo. (...) O saber não se relaciona apenas a idéias, mas a instituições e estruturas, práticas cotidianas e rituais específicos, já que todos constituem relações sociais. O saber é um modo de ordenar o mundo e, como tal, não antecede a organização social, mas é inseparável dela.[iii]

Desde que surgiram, as histórias em quadrinhos se adaptaram e se integraram ao contexto histórico no qual estavam inseridas, sendo que os personagens e os enredos se tornam expressões dos anseios, valores, preconceito e mesmo das frustrações de seus criadores, eles mesmo produtos de sua época. Nos quadrinhos estão as representações do real, ou daquilo em que se deseja transformar a realidade.

“Protegidos pela tinta e pelo papel, os personagens das histórias em quadrinhos materializam representações que são constantemente retomadas, reatualizadas e normatizadas sob a forma de um simples exercício de leitura; do jogo lúdico entre palavra e imagem, que aparentemente desvinculado do mundo real, retoma, recria e fundamenta modelos e saberes.” (23)[iv]

O mundo das histórias em quadrinhos (HQs) norte-americanas é um mundo de supremacia masculina. Mesmo as personagens femininas sofreram nos quadrinhos de super-heróis. Por anos, elas foram quase que sempre retratadas ora como mocinhas indefesas que precisavam de heróis para salvá-las, ora como vilãs sem moral, que provocam os heróis virtuosos. Nos dois casos, elas sempre saem perdendo, seja pela dependência que desenvolvem em relação ao homem, seja por suas ações imorais, suas roupas decotadas, sua falta de pudor ao desfilar sua feminilidade – ou pelo menos aquilo que os autores transformaram em feminilidade.

Mas, mesmo precisando dos homens, as mulheres dos quadrinhos foram aos poucos ganhando sua autonomia, conquistando seu espaço. Dois exemplos são Diana Palmer, esposa do Fantasma, e Lois Lane, eterna namorada do Superman. Elas são mulheres decididas e arrojadas, que quando surgiram (entre as décadas de 30 e 40) apresentavam uma independência e determinação incomuns para a época. Diana era uma voluntária da ONU, quase uma diplomata, que viajava o mundo tentando corrigir injustiças. Já Lois Lane era uma repórter que se metia em diversas encrencas para que os seus leitores pudessem saber a verdade.[v]

Heroínas sem super-poderes, sempre dispostas a encarar o perigo, mas sempre esperando serem salvas pelos verdadeiros heróis, as mulheres dos quadrinhos assumiram modelos diversos, que foram se modificando à medida em que as mulheres reais iam conquistando seu espaço na sociedade. De simples heroínas românticas, elas ganharam poderes. No entanto, o poder maior, de se igualar aos homens nos quadrinhos, ainda está para ser conquistado.

[i] E-mail: nogueira.natania@gmail.com
[ii] BARCELLOS, Janice Primo O feminino nas histórias em quadrinhos. Parte I: A mulher pelos olhos dos homens. Disponível em http://www.eca.usp.br/agaque/agaque/ano2/numero4/artigosn4_1v2.htm, acesso em 18/05/2008
[iii] SCOTT, Joan Wallach. Prefácio a Gender and Politics of History. Cadernos Pagu (3) 1994, p. 12.
[iv] OLIVEIRA, Selma Regina Nunes. Mulher ao Quadrado - as representações femininas nos quadrinhos norte-americanos: permanências e ressonâncias (1895-1990). – Brasília: Editora Universidade de Brasília: Finatec, 2007, 23
[v] DOMINGUES, Guilherme Kroll. Mulheres nos Quadrinhos. Disponível em: http://www.homemnerd.com/coluna.php?sessao=COM&id=0, acesso em 23/03/2008

4 comentários:

Roseli Venancio Pedroso disse...

Oi Nathy!!! Passei para visitar e ler seu relato. Muito bom e parabéns pela apresentação.
Bjs

Tati Martins disse...

Olá, Natania!
Entrei em seu blog através do blogs educativos e gostei muito. Há algumas semanas, foram divulgados na Revista O Globo, que sai aos domingos aqui no RJ, alguns endereços na internet, com livre acesso.
Há um que talvez lhe interesse. É o da Editora Nona Arte. Tive a oportunidade de trocar um e-mail com o desenhista André Diniz e gostei do desejo dele de divulgar suas HQs para que sejam utilizadas gratuitamente nas escolas públicas.
Os endereços apresntados sobre esse assunto na Revista O Globo são: www.acervohq.com.br e www.nonaarte.com.br . Este é o que contém HQs com conteúdo educativo para download.
É isso!
Beijinhos,
Tati

Natania A S Nogueira disse...

Valeu pela visita e pelos comentários, Roseli!
Está sendo tudo ótimo. Uma pena que vai acabar hj. Mas tenho muita coisa para relatar ainda, aguardem!
:-)

Natania A S Nogueira disse...

Oi, Tati! Valeu pelas dicas! Eu conheço o site e o André, tb. Ele é super-legal e pessoa muito comprometida com seu trabalho e em voltar este trabalho para a educação. Obrigada pela visita e volte sempre :-)