Este grupo de mulheres, cada uma em seu próprio estilo e abordando temas diversos, trazem-nos um olhar crítico e bem humorado da realidade da geração dos millenials, também conhecida como "Geração Y", formada por pessoas que nasceram entre os anos 1981 e 1996. A exposição faz um raio x da sociedade espanhola, por meio do olhar de mulheres, que colocam em seus quadrinhos uma carga intensa de emoção, autocrítica, crítica social e, acima de tudo, expressando expectativas e desilusões.
O
panorama cultural e profissional dos quadrinhos espanhóis passou por uma série
de mudanças a partir da década de 1980, com o aumento da demanda pelo produto,
o que levou ao surgimento de novos títulos e possibilitou a profissionalização
de toda uma geração de autores oriundos no underground. O mercado se ampliou,
como a abertura de lojas especializadas e com os primeiros festivais. As nove
quadrinistas que foram escolhidas para ter sua obra exposta na exposição
“Constellation Graphique” representam a geração nasceu no bojo do boom dos
quadrinhos espanhóis, marcado pela dissidência estética, assim como pelo
questionamento de lugares-comuns e formas canônicas de expressão, embora a
estabilidade profissional permaneça um horizonte distante.
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Roberta Vázquez possui um estilo que se inspira nas fontes da tradição underground, mas canibaliza ícones pop de seu contexto geracional na forma de fan art. Vázquez tem no humor corrosivo uma marca registrada, que lhe permite realizar uma leitura implacável da sociedade líquida e da precariedade econômica que condicionam a vida dos millennials.
Marta Cartu, possui um trabalho que se aproxima com o
de Jeffrey Brown, gradualmente abordando os desafios de uma história em
quadrinhos conceitual, com um olhar sobre os códigos e formas da arte
contemporânea. Sua obra é intimista e reflexiva, e nela a pesquisa formal é
inseparável de uma meditação sobre noções e questões contemporâneas, como
identidade, competitividade e autoexigência, a arbitrariedade dos papeis de
gênero, aspectos utópicos, o potencial distópico das novas tecnologias e a
servidão de múltiplos empregos.
Ana Galvan é a mais experiente do grupo de quadrinistas da exposição e se destaca dentro da vanguarda dos quadrinhos espanhois pela influência de seu corpus oratório e por seu papel impulsionador nas redes de difusão de artistas de vanguarda. Galvan construiu um universo pessoal no qual a influência composicional e cromática do construtivismo russo e uma narração fria e desinteressada foram colocadas a serviço de uma leitura distópica da realidade.
O trabalho de Maria Medem tende à abstração e parte de elementos mais poéticos do que narrativos, aprofundando o que ela mesma chama de estética conelse, uma abordagem formal que exige um tratamento muito específico e essencialista da linha, da cor e do texto. O artista busca a ambiguidade, refletindo a sensação de distância que o leitor percebe em personagens deslocados em meio a paisagens que amplificam a força dos elementos naturais.
Nadia Hafid trabalha junto com Marta Cartu a partir da experimentação formal por meio da composição da página é uma das características das obras de Nadia Hafid e Marta Cartu. A obra conjunta das duas autoras, exposta na exposição, são obras cerebrais e sintéticas nas quais nenhum dos elementos presentes é acidental. Hafid se afasta dos códigos hegemônicos do realismo para se aproximar da estética de um pós-modernismo seduzido pelo potencial expressivo das geometrias fractais e suas infinitas fragmentações. O resultado são quadrinhos estimulantes e vibrantes.
Bárbara Alca em sua obra retrata uma geração (a sua) perdida, decepcionada e às vezes considerada frívola e superficial. Suas histórias hilárias exalam um componente autobiográfico misturado à cultura pop que a torna única em sua geração. Seu trabalho foi publicado nas revistas El País, El Jueves e Ruby Star.
Miriam Persand um dos aspectos mais marcantes da sua obra é ahabilidade de dar vida a criaturas antropomorfizadas. Seu fascínio por animais como corujas, pombos, ratos e jacarés – especialmente jacarés devido aos nossos "cérebros ansiosos reptilianos" – serve como ponto de partida para abordar emoções complexas. Com seu estilo vibrante trata de problemas cotidianos usando abusando das metáforas. Temas como ansiedade fazem parte dos seus quadrinhos, assim como uma busca para o próprio sentido da vida. Persand cria histórias que evocam uma sensação de admiração, expandindo os limites do que é esperado no mundo real.
FOTOS DA EXPOSIÇÃO (29/01/2025)
As informações do texto
foram retiradas do material fornecido pela exposição, complementado por dados
retirados de sites das autoras.
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