domingo, 20 de julho de 2025

POSY SIMMONS - HERSELF

 


Indo contra a corrente do individualismo contemporâneo, as histórias desenhadas por Posy Simmonds são fruto de um olhar meticuloso sobre o outro. Essa leitura refinada do período nos permite perceber melhor as nuances do nosso cotidiano” (Exposição Posy Simmons. Herself, Angoulême, 2025).

 

“Posy Simmons. Por ela mesma” foi uma das exposições mais concorridas durante o 52º FIBD de Angoulême, tanto pela obra e trajetória da autora, uma veterana entre as quadrinistas britânicas, quanto pelo fato de se tratar de laureada de 2024. Sim, estamos falando de um das (poucas) mulheres que recebeu o Grand Prix (o prémio máximo do festival) em duas 52 edições. E ela mereceu, certamente. Esta autora não é conhecida do público brasileiro, mas influenciou várias gerações de artistas britânicos e de outros países, nos quais sua obra foi traduzida, como a França.

Rosemary Elizabeth "Posy" Simmonds é uma cartunista de jornal britânica, escritora e ilustradora de livros infantis e graphic novels. Ela é mais conhecida por sua longa associação com o The Guardian, para o qual desenhou as séries Gemma Bovery (2000) e Tamara Drewe (2005–2006), ambas publicadas posteriormente como livros. Assim como Claire Bretecher usou da sátira e do humor para criar histórias que criticavam e expunham os vícios das classes médias francesas, Posy faz algo bem semelhante, mas com um estilo mais “gentil”.  

Ela cria retratos psicológicos precisos, zomba das deficiências da classe média e do cenário cultural, caricatura a seriedade e critica os desenvolvimentos sociais. Entre suas influencias literárias estão escritores como Gustave Flaubert e Charles Dickens. Suas personagens femininas têm como característica serem obstinadas. Elas não necessariamente terão um final feliz. Elas são "heroínas condenadas", como em romances góticos dos séculos XVIII e XIX, mas claro, dialogando com o presente, o moderno. Suas obras mais famosas são Tamara Drewe e Gemma Bovery (Denoël).

Nascida em 1945, a autora completa este ano 80 anos, sendo mais de 50 anos como cartunista. acrescentam mais camadas às histórias. Posy Simmonds ficou famosa nacionalmente por sua tira “The Silent Three of St. Botolph's”, que começou a aparecer no “The Guardian” em 1977 e era sobre três amigas de longa data. Mais tarde, ela publicou-o em livros e desenvolveu-o ainda mais para criar sua primeira história em quadrinhos, “True Love”. Suas outras publicações também começaram como tiras no “The Guardian”.

Simmons publicou ainda livros e quadrinhos infantis. Sua exposição traz essa longa trajetória, mostrando várias facetas da autora, sobretudo, sua preocupação com a memória. Em “Posy Simmons. Herself” temos uma imersão na história dos quadrinhos britânicos antes de chegarmos propriamente na produção da autora. Este detalhe, que pode até passar por despercebido por que está lá apenas pela autora, demonstra a importância dada por ela e pela curadoria do festival em trazer à tona a história dos quadrinhos da qual esta veterana, e porque não dizer, e pioneira faz parte.

Na exposição podemos conhecer mais sobre Posy Simmons. Seu engajamento em questões políticas, sua intimidade, sua visão de mundo e, suas mulheres, figuras tragicômicas que derrubam códigos sociais. Suas influencias também estão presentes, seja na arte ou na literatura. A exposição trouxe ainda desenhos inéditos da autora que, por sinal, abriu a exposição no dia 29 de janeiro, com uma visita guiada exclusivamente para profissionais.

Entre o material inédito da exposição estão os cadernos de Posy Simmons, nos quais podemos perceber como a autora faz sua leitura do cotidiano, sua sensibilidade ao representar em seus desenhos os destituídos e anônimos. Ao mesmo tempo ela denuncia as formas contemporâneas de alienação, dando voz aos anônimos. Pessoas comuns, pessoas que passam por privações e que muitas vezes ficam convenientemente invisíveis para a sociedade. Ela se posiciona conta o individualismo e lança um olhar meticuloso sobre o outro.

Cabe por fim acrescentar que Posy Simmons, além de profissional de grande estatura e que hoje represente uma das vozes mais fortes entre as autoras britânicas, é uma criatura dotada de grande gentiliza. Seu semblante suave e sua voz mansa deixam todos ao seu redor confortáveis. Mas não se deixem enganar por seu semblante sereno. Por detrás dele há uma mulher forte, capaz de colocar em suas obras representações da realidade política e social intensas que nos fazem questionar padrões normatizados de comportamento.

Imagens da exposição – 29 de janeiro de 2025













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