Carnaval de 2016. |
Recordei do meu primeiro baile no Clube do Moinho, aos meus doze anos, acompanhando minha tia. A primeira pessoa que reconheci no meio da multidão de foliões foi meu professor de matemática, o rígido professor Waldir. Ele estava com um copo de cerveja na mão (ele só tinha um braço), um bermudão, uma camiseta e vários colares havaianos pendurados no pescoço.
Eu fiquei chocada! Era como se eu nunca o tivesse visto na minha vida. Era outra pessoa. Ou não era?
Para mim, a estudante de 12 anos, ver meu professor num baile de carnaval, fantasiado, bebendo e sambando era algo extremamente escandaloso. Foi a primeira vez que eu percebi que a imagem que construímos de alguém nem sempre representa o que ela é na realidade.
O professor Waldir foi meu exemplo e meu libertador. Todos os anos, no carnaval, eu saio como eu quero: com shorts curtos, camisetas, fantasias extravagantes ou simples. Às vezes escandalizo meus alunos mais jovens, às vezes participo das brincadeiras com meus alunos mais velhos.
Mas não é pra isso que serve o Carnaval? Para que as pessoas possam se libertar das suas inibições, deixar suas emoções aflorarem livremente sem a preocupação de censurado ou mesmo condenado socialmente pelas suas ações?
Afinal, no carnaval tudo pode. Era assim na Idade Média, com a Festa dos Loucos, quando se colocava de lado as regras rígidas do cristianismo por três dias e se abraçava sem medo a subversão. Da mesma forma o entrudo no Brasil, no século XIX, oferecia aos seus participantes a oportunidade de extravasar toda a tensão acumulada durante o ano. Os bailes de máscaras, à moda veneziana, introduzidos mais tarde, permitiam que homens e mulheres, protegidos pelo suposto anonimato oferecido pelas mascaras, deixassem aflorar suas paixões.
Carnaval é tempo de libertação. Homens se vestem como mulheres, mulheres usam fantasias extravagantes, crianças correm e brincam, atirando confetes e serpentinas. É época de uma transgressão saudável e libertadora.
Talvez meus carnavais não sejam mais como eram na época do saudoso professor Waldir. Mas sempre é bom ver a alegria das crianças e dos jovens e achar graça de quando me veem com uma fantasia ou uma roupa menos comportada, como se aquilo fosse à coisa mais impressionante do mundo.
E embora talvez algumas possam pensar que isso causa problemas no meu trabalho, se enganam. Eu aprendi que o professor Waldir era ao mesmo tempo o folião e o professor, mas sabia que na sala de aula prevalecia o professor. Mas havia uma admiração muito grande por esta dicotomia. Eu tinha um ótimo professor, que se tornava uma pessoa alegre e festiva na qual me inspiro até hoje.
* Postagem feita em memória do professor Waldir, um grande matemático e um excelente folião.
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