domingo, 29 de junho de 2014

QUEM QUER SE PROFESSOR NO BRASIL?

Eu li esta semana uma reportagem falando sobre a carga horária de professores brasileiros, comparando-a com a de outros países. A pesquisa compara os índices de professores que trabalham em apenas uma escola, com dedicação exclusiva. Segundo a pesquisa “apenas 40% dos docentes brasileiros que atuam nos primeiros anos do ensino têm dedicação exclusiva, contra 82% na média das nações pesquisadas” (clique aqui para ler a reportagem na íntegra). Nós estamos piores até que o México (não desfazendo aqui dos mexicanos, mas levando em consideração o índice de desenvolvimento econômico). 

Eu li a matéria e me questionei: Quem vai querer ser professor num contexto como esse?

Basicamente tudo que foi dito ali procede. Baixos salários fazem com que os professores tenham que se revezar em mais de um emprego, até mais de dois. A rotina diária é extenuante: uma jornada que pode começar às 07:00 e se estender até as 22:30. E não tem essa de que as professoras casadas trabalham menos do que as solteiras: eu conheço muitas professoras casas que tem que trabalhar em pelo menos duas escolas para poder ajudar a pagar as contas e a criar os filhos com algum conforto.

Em muitas áreas faltam professores habilitados e em todas faltam professores capacitados, preparados para exercer o magistério. Ter diploma não significar estar preparado. eu me lembro que na minha época de faculdade o estágio era obrigatório mas muitos colegas conseguiam um professor quer assinassem os relatórios sem nunca terem assistido a uma aula. E eu sei que as coisas ainda funciona assim hoje, se não para todos, mas para muitos estudantes do último ano.

Muitos dos jovens professores assumem aulas por falta de outra oportunidade. Eu mesma conheço muitos assim. Ex-alunos, por exemplo, que declaravam ódio aos professores e à escola e que estão dando aula hoje, porque não tinham outras opções de trabalho.

E falando em ex-alunos, enquanto lia a reportagem, recordei-me de uma passagem, de quando eu estava bem no início da minha carreira, quando um aluno levantou o seguinte argumento: "Professor dá aula porque não tem outra opção" e ainda me disse "Quando você tiver oportunidade, vai deixar de dar aula e arrumar uma coisa que seja melhor para vocês".

Engraçado, nunca pensei em mudar de emprego. Já mudei de escola, exonerei do Estado porque não suportava o ambiente de trabalho e as políticas do governo de Minas com relação ao ensino e aos professores, mas nunca abandonei o magistério. Nunca deixei de me atualizar, nunca deixei de procurar uma forma de me motivar para o trabalho. Claro, a gente passa por momentos difíceis, mas quem não passa?

Mas veja bem, há cerca de duas décadas atrás um aluno me disse essas palavras. Há cerca de duas décadas atrás a situação do magistério já não era boa. Há duas décadas atrás os jovens já não queriam ser professores. 

Outro dia eu ouvi uma menina de uns 9 anos dizendo que queria ser professora. Eu ouvi a mãe dela respondendo: "Deus me livre! Você vai ter uma profissão que dê futuro".

Pois é ser professor é não ter futuro num país que depende cada vez mais da educação de qualidade para ter um futuro. É assustador! 

Um comentário:

Lucas Pimenta disse...

Lei 9.394 - Título II

Dos Princípios e Fins da Educação Nacional

Art. 3º O Ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:

VII - valorização do profissional da educação escolar;

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Brasil, o país das leis bonitas e nunca posta em prática!