Leopoldina não teve o apelido de
Athenas da Zona da Mata à toa. Aqui foram fundadas várias escolas particulares,
para atenderem às famílias de posses. Tanto a sede da cidade quanto seus
distritos possuíam escolas que funcionaram em regime de internato,
semi-internato e externato. Mas que isso não ajude a criar uma imagem idílica
da educação em nosso município, durante o século XIX ou mesmo na primeira metade
do século XX.
Nas
páginas do jornal O Leopoldinense desfilavam anúncios de unidades e ensino que
ofereciam vagas principalmente do ensino primário, na cidade, nos distritos e
em municípios vizinhos. Podemos citar alguns como o Collegio Bandeira (em Madre
de Deus do Angú), o Instituto Collegial de Volta Grande, o Lyceu Leopoldinense,
o Externato Azeredo (em Madre de Deus do Angú), O Collegio Abílio (Barbacena) e
o Collegio Oliveira (São José de Além Parahyba).
Não
havia, no entanto, acesso de todos à educação. Frequentavam essas escolas
apenas quem podia pagar. Mesmo no caso da existência de subsídios, estes
atendiam a um número reduzido de alunos. Vale lembrar que, no período em
questão, década de 1880, Leopoldina tinha aproximadamente 40 mil habitantes,
quase metade era escrava, uma boa parte vivia do trabalho na lavoura e só um
número reduzido podia se dar ao luxo de oferecer aos filhos a oportunidade se
receber as primeiras letras.
Priorizava-se
a educação dos meninos. Mas na segunda metade do século XIX conheceu uma
considerável expansão na oferta de instrução para meninas em Minas Gerais. Os
primeiros colégios femininos criados em Minas Gerais surgiram em 1847, por
iniciativa do Bispo Dom Viçoso (MUNIZ, 2003:177). As escolas de formação de professoras surgiram
na década de 1870, quando as mulheres passaram a ser direcionadas para a
carreira no magistério. A Lei n. 1789 de abril de 1871, e o Regulamento n. 62,
de 1872, garantiram o acesso das mulheres ao curso do magistério (MUNIZ,
2003:189).
No
caso de Leopoldina, e possivelmente de outros municípios da Zona da Mata
próximas, meninas poderiam ser enviadas para escolas no Rio de Janeiro. No
jornal O Leopoldinense, por exemplo, pulicava em destaque propaganda do
Collegio Franco-Brasileiro, escola dedicada ao ensino feminino, localizada no
centro da cidade do Rio de Janeiro.
Acredito que a demanda pela educação feminina tenha impulsionado o aumento do número de
escolas e a oferta de vagas pela região. Baseamos nossa hipótese no aumento
gradativo da oferta deste serviço, que pode ser notada nas páginas do O
Leopoldinense. Se em 1881 o Leopoldinense anunciava o início das aulas do
Collegio Nossa Senhora do Amparo, com destaque, em 1882 outras duas escolas da
região oferecem vagas para meninas: O Collegio Santa Margarida (Rio Pardo) e o
Collegio Santa Cruz (São João Neponuceno).
Pelos
valores oferecidos aos pais é possível imaginar a estrutura e o limite do
ensino que era oferecido. O corpo docente variava de acordo com o tamanho da
escola e da oferta de matérias. A variedade de conteúdos e de atividades era
uma forma de seduzir as famílias que, no final do século XIX viam a cultura
letrada de suas filhas um atrativo para bons casamentos. Com o papel da
maternidade cada vez mais valorizado, a mulher deveria ser além de boa esposa e
mãe a primeira educadora de seus filhos.
Observe
o currículo e o detalhamento com que os diretores de colégios maiores seduziam
procuravam seduzir sua clientela.
O Leopoldinense. Leopoldina, 05 de janeiro de 1882, m. 02, p. 04
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Havia,
também a oferta de aulas para meninas em collegios mais modestos, que
normalmente se limitavam a salas de aula na localizadas na casa de um professor
ou professora, para uma clientela mais humilde que não podia pagar por um
internato em outra cidade ou mesmo em Leopoldina.
A
professora Maria José da Fonseca participa aos senhores paes de suas alumnas
que as aulas de seu colégio abrirão no dia 1º de fevereiro próximo futuro (O Leopoldinense.
Leopoldina, 12 de janeiro de 1882, m. 04, p. 03)
Estes
pequenos colégios, identificados pelo nome do professor ou professora por eles
responsável disputavam espaço em Leopoldina com estabelecimentos maiores, como
já citado Collegio Nossa Senhora do Amparo, que chegou a receber a visita do
Imperador D. Pedro II, quando aqui esteve, em 1881.
Collegio da Nossa Senhora do Amparo
Dona Maria Augusta de Freitas Malta,
continúa a receber alumnas internas de instrucção primaria, sendo a pensão
mensal de 25$, comprehendendo os trabalhos de agulhas, e externas, 5$. Pararão
mais 10$ as do curso superior de portuguez, francez e geographia á cargo do
senhor Olympiuo Clementino de Paula Corrêa, professor do collegio.
As alumnas deste curso poderão fazer
exame na instrucção pública da Còrte, se seus paes o quizerem, uma vez que a
freguesia comece no corrente mez de Fevereiro e não seja interrompida durante o
anno lectivo.
Leopoldina, 08 de Fevereiro de 1881.
Maria Augusta de Freitas Malta (O Leopoldinense.
Leopoldina, 17 de fevereiro de 1881, n.11, p.04)
Fala-se,
inclusive, no ensino superior para mulheres, que já estaria sendo colocado em
prática na Corte. Em matéria de primeira página, o editor do O Leopoldinense
afirma:
Já
não é só aos homens que a educação superior é ministrada; á mulher também já
lhe toca o seu quintão e oxalá que as piedadenses e leopoldinenses concordarão
com o seu obolo, para as aulas creadas ultimamente na corte para a instucção da
mulher (CHANTILY. Instrucção Publica – Le
monde marché. O Leopoldinense. Leopoldina,
1º de setembro de 1881, n. 64, p. 01)
As
escolas particulares tiveram um papel importante na formação da identidade
regional e as mulheres, especial, destacaram-se nesse processo. Vale lembrar
que algumas das instituições de ensino particular mais duradouras da sede do
município foram exclusivamente dirigidas por mulheres: O Colégio Imaculada
Conceição, o Colégio São José e o Colégio Santa Therezinha. Mas isso é assunto
para outra postagem.
FONTES:
O Leopoldinense.
Arquivo da Hemeroteca Digital Brasileira - Fundação Biblioteca Nacional
MUNIZ, Diva de Couto Gontijo. Um toque de gênero: história e educação em Minas Gerais (1835-1892). - Brasília: Editora Universidade de Brasília; FINATEC, 2003.
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