quinta-feira, 24 de abril de 2014

O ENSINO FEMININO EM LEOPOLDINA: ALGUMAS NOTAS DO LEOPOLDINENSE (1881-1882)

Leopoldina não teve o apelido de Athenas da Zona da Mata à toa. Aqui foram fundadas várias escolas particulares, para atenderem às famílias de posses. Tanto a sede da cidade quanto seus distritos possuíam escolas que funcionaram em regime de internato, semi-internato e externato. Mas que isso não ajude a criar uma imagem idílica da educação em nosso município, durante o século XIX ou mesmo na primeira metade do século XX. 

Nas páginas do jornal O Leopoldinense desfilavam anúncios de unidades e ensino que ofereciam vagas principalmente do ensino primário, na cidade, nos distritos e em municípios vizinhos. Podemos citar alguns como o Collegio Bandeira (em Madre de Deus do Angú), o Instituto Collegial de Volta Grande, o Lyceu Leopoldinense, o Externato Azeredo (em Madre de Deus do Angú), O Collegio Abílio (Barbacena) e o Collegio Oliveira (São José de Além Parahyba).

Não havia, no entanto, acesso de todos à educação. Frequentavam essas escolas apenas quem podia pagar. Mesmo no caso da existência de subsídios, estes atendiam a um número reduzido de alunos. Vale lembrar que, no período em questão, década de 1880, Leopoldina tinha aproximadamente 40 mil habitantes, quase metade era escrava, uma boa parte vivia do trabalho na lavoura e só um número reduzido podia se dar ao luxo de oferecer aos filhos a oportunidade se receber as primeiras letras.

Priorizava-se a educação dos meninos. Mas na segunda metade do século XIX conheceu uma considerável expansão na oferta de instrução para meninas em Minas Gerais. Os primeiros colégios femininos criados em Minas Gerais surgiram em 1847, por iniciativa do Bispo Dom Viçoso (MUNIZ, 2003:177). As escolas de formação de professoras surgiram na década de 1870, quando as mulheres passaram a ser direcionadas para a carreira no magistério. A Lei n. 1789 de abril de 1871, e o Regulamento n. 62, de 1872, garantiram o acesso das mulheres ao curso do magistério (MUNIZ, 2003:189).

No caso de Leopoldina, e possivelmente de outros municípios da Zona da Mata próximas, meninas poderiam ser enviadas para escolas no Rio de Janeiro. No jornal O Leopoldinense, por exemplo, pulicava em destaque propaganda do Collegio Franco-Brasileiro, escola dedicada ao ensino feminino, localizada no centro da cidade do Rio de Janeiro.

Acredito que a demanda pela educação feminina tenha impulsionado o aumento do número de escolas e a oferta de vagas pela região. Baseamos nossa hipótese no aumento gradativo da oferta deste serviço, que pode ser notada nas páginas do O Leopoldinense. Se em 1881 o Leopoldinense anunciava o início das aulas do Collegio Nossa Senhora do Amparo, com destaque, em 1882 outras duas escolas da região oferecem vagas para meninas: O Collegio Santa Margarida (Rio Pardo) e o Collegio Santa Cruz (São João Neponuceno).

Pelos valores oferecidos aos pais é possível imaginar a estrutura e o limite do ensino que era oferecido. O corpo docente variava de acordo com o tamanho da escola e da oferta de matérias. A variedade de conteúdos e de atividades era uma forma de seduzir as famílias que, no final do século XIX viam a cultura letrada de suas filhas um atrativo para bons casamentos. Com o papel da maternidade cada vez mais valorizado, a mulher deveria ser além de boa esposa e mãe a primeira educadora de seus filhos.

Observe o currículo e o detalhamento com que os diretores de colégios maiores seduziam procuravam seduzir sua clientela.

O Leopoldinense. Leopoldina, 05 de janeiro de 1882, m. 02, p. 04 

Havia, também a oferta de aulas para meninas em collegios mais modestos, que normalmente se limitavam a salas de aula na localizadas na casa de um professor ou professora, para uma clientela mais humilde que não podia pagar por um internato em outra cidade ou mesmo em Leopoldina.

A professora Maria José da Fonseca participa aos senhores paes de suas alumnas que as aulas de seu colégio abrirão no dia 1º de fevereiro próximo futuro (O Leopoldinense. Leopoldina, 12 de janeiro de 1882, m. 04, p. 03)

Estes pequenos colégios, identificados pelo nome do professor ou professora por eles responsável disputavam espaço em Leopoldina com estabelecimentos maiores, como já citado Collegio Nossa Senhora do Amparo, que chegou a receber a visita do Imperador D. Pedro II, quando aqui esteve, em 1881.

Collegio da Nossa Senhora do Amparo

Dona Maria Augusta de Freitas Malta, continúa a receber alumnas internas de instrucção primaria, sendo a pensão mensal de 25$, comprehendendo os trabalhos de agulhas, e externas, 5$. Pararão mais 10$ as do curso superior de portuguez, francez e geographia á cargo do senhor Olympiuo Clementino de Paula Corrêa, professor do collegio.

As alumnas deste curso poderão fazer exame na instrucção pública da Còrte, se seus paes o quizerem, uma vez que a freguesia comece no corrente mez de Fevereiro e não seja interrompida durante o anno lectivo.
Leopoldina, 08 de Fevereiro de 1881.

Maria Augusta de Freitas Malta (O Leopoldinense. Leopoldina, 17 de fevereiro de 1881, n.11, p.04) 

Fala-se, inclusive, no ensino superior para mulheres, que já estaria sendo colocado em prática na Corte. Em matéria de primeira página, o editor do O Leopoldinense afirma:

Já não é só aos homens que a educação superior é ministrada; á mulher também já lhe toca o seu quintão e oxalá que as piedadenses e leopoldinenses concordarão com o seu obolo, para as aulas creadas ultimamente na corte para a instucção da mulher (CHANTILY. Instrucção Publica – Le monde marché. O Leopoldinense. Leopoldina, 1º de setembro de 1881, n. 64, p. 01)

As escolas particulares tiveram um papel importante na formação da identidade regional e as mulheres, especial, destacaram-se nesse processo. Vale lembrar que algumas das instituições de ensino particular mais duradouras da sede do município foram exclusivamente dirigidas por mulheres: O Colégio Imaculada Conceição, o Colégio São José e o Colégio Santa Therezinha. Mas isso é assunto para outra postagem.

FONTES:

O Leopoldinense. Arquivo da Hemeroteca Digital Brasileira - Fundação Biblioteca Nacional

MUNIZ, Diva de Couto Gontijo. Um toque de gênero: história e educação em Minas Gerais (1835-1892). - Brasília: Editora Universidade de Brasília; FINATEC, 2003.

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