segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Dilermando Cruz por Pedro Nava

Estou relendo algumas anotações e pesquisas para aproveitar as férias escolares e desencalhar alguns artigos inacabados, que tiveram que passar a vez para as prioridades de trabalho. Pois é nas férias eu descanso, passeio e aproveito para tocar meus projetos pessoais. Numa destas anotações, realizadas há alguns anos atrás, encontrei uma passagem do livro de Pedro Nava - Baú de ossos - , onde ele dedica toda uma página a Dilermando Cruz. Além de uma descrição do personagem, ele ainda fala da casa onde Dilermando morava, em Juiz de Fora.

Para quem não conhece, Pedro Nava foi um médico memorialista de Juiz de Fora, considerado um dos grandes memorialistas brasileiros. Através de sua premiada obra, ele reabilitou o gênero e mostrou que é possível dar a uma narrativa de memória sentimento, coerência e até um pouco de poesia.

Seguem alguns fragmentos:

O Dr. Dilermando (Martins da Costa) Cruz era um leopoldinense fixado em Juiz de Fora. Fino, elegante, calvo desde muito moço e usando bigode e barbicha que disfarçavam seu ligeiro prognatismo superior. Tinha uma dentadura esplendida e era dono do sorriso mais contagioso que se possa imaginar. Eu adora ir com meu pai à sua casa, por causa dele, dos seus filhos e sobretudo do ambiente de que conservei uma impressão veludosa e colorida. Vastos claros de paredes brancas, pardos de mobílias lustrosas, verde musgo de cortinas e panos de mesa, compondo natureza morta onde as cores eram surdas e sem estridência como nos quadros de Bracque. (...) Estudei sua lembrança, a de seus filhos, a de sua esposa e afinal a de sua residência. Era esta que me levava a liga-lo a Georges Bracque – porque ele morava, sem mais nem menos, dentro de uma natureza morta do mestre. Obrigado, Dr Dilermando, obrigado! Por suas salas cuja arrumação e cujas tintas me prepararam para entender as guitarras, violinos, facas, jarros e travessas de beleza mitológica e de cor abafada do pintor fovista e cubista. Depois soube que o Dr. Dilermando era poeta.[1]



[1] NAVA, Pedro. Baú de Ossos. – 6ª ed – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1983, p. 317.

Um comentário:

Natania A S Nogueira disse...

Obrigada pela mensagem, Luiz!
:-)
Abraço!