Escola particular não é privilégio apenas da elite, e isso não é uma bravata, é um fato. Venho notando, já há algum tempo, que a clientela das escolas tradicionalmente reservadas a alunos da classe média alta estão recebendo cada vez mais um número maior de alunos cujos pais possuem profissões simples, como balconista, motorista pequeno agricultor, professor, vendedor, etc. Foi-se o tempo em que as escolas particulares eram espaço de dominação das elites.
Filhos de trabalhadores assalariados em escolas particulares não é necessariamente uma novidade, pois desde finais do século XIX muitas escolas recebiam subsídios para oferecerem bolsas para alunos com poucos recursos. Mas o caso agora nem é esse. Não há bolsas integrais, embora exista a possibilidade de se conseguir descontos. Pais assalariados estão custeando a educação de seus filhos, abrindo mão do ensino público gratuito.
Refletindo sobre o assunto eu não consegui deixar de relacionar essa demanda pela educação paga com o conceito de Capital Cultural de Pierre Bourdieu. Para o sociólogo o investimento na educação dos filhos, empreendido pela burguesia no século XIX, era uma forma de distinção social, de diferencial tão poderoso quanto o capital econômico. Era a burguesia conquistando espaço social, formando uma elite que ditaria as regras em uma sociedade cada vez mais capitalizada. Formava-se uma elite intelectual alinhada com os interesses econômicos burgueses.
O que temos atualmente é um movimento muito semelhante, quando as famílias de classe média e classe média baixa investem na educação dos filhos também como forma de distinção, mas tendo em vista ainda ascensão econômica. É a formação de uma nova elite, vinda de grupos que até então davam preferência à escola pública e gratuita.
Refletindo sobre o assunto eu não consegui deixar de relacionar essa demanda pela educação paga com o conceito de Capital Cultural de Pierre Bourdieu. Para o sociólogo o investimento na educação dos filhos, empreendido pela burguesia no século XIX, era uma forma de distinção social, de diferencial tão poderoso quanto o capital econômico. Era a burguesia conquistando espaço social, formando uma elite que ditaria as regras em uma sociedade cada vez mais capitalizada. Formava-se uma elite intelectual alinhada com os interesses econômicos burgueses.
O que temos atualmente é um movimento muito semelhante, quando as famílias de classe média e classe média baixa investem na educação dos filhos também como forma de distinção, mas tendo em vista ainda ascensão econômica. É a formação de uma nova elite, vinda de grupos que até então davam preferência à escola pública e gratuita.
Tal fato me leva a desconfiar de duas coisas. A primeira é que os pais estão investindo mais no futuro dos filhos (através do capital cultural), querendo uma educação melhor, um ambiente mais seletivo. A segunda é que existe uma falta de confiança da população na educação pública.
É sabido que o sistema educacional do nosso país está precário. Por mais que os políticos gritem nos palanques:
É sabido que o sistema educacional do nosso país está precário. Por mais que os políticos gritem nos palanques:
- Minha prioridade é a educação!
- No meu governo eu transformei a educação do meu Estado na melhor do Brasil!
É balela! Como professora eu sei que a educação vai muito mal, em todos os sentidos. Sei também que há escolas boas e más, independentemente de serem públicas ou privadas. Uma série de fatores irá determinar a qualidade do ensino em uma escola. Eu, particularmente, gostaria de ter uma escola onde pudesse, durante as minhas aulas, alternar teoria e prática, ensinar história por meio da pesquisa.
Mas o sistema determina que temos que dar notas e que notas só podem se obtidas por provas. Mas prova não tem provado nada. Na verdade, tem provado sim, que o estudante consegue nota mas não tem conhecimento; que o estudante não tem nota e não tem oportunidade de desenvolver as tais habilidades das quais tanto se fala, porque está preso e um sistema que não impulsiona, mas que ancora o conhecimento a um saber pré-estabelecido, pré-fabricado.
Não estou dizendo que se deva facilitar as coisas. Pelo contrário. Acho que estamos é fazendo isso, e demais, e perpetuando um sistema pseudo-inclusivo que cria profissionais com dificuldade em desenvolverem sua autonomia, de serem criativo e empreendedores.
Os pais buscam uma escola melhor, mas não aceitam o fracasso dos filhos. Estranho como uma sociedade que estimula o fracasso ao mascarar a realidade do sistema de ensino, tem tanto medo de que ele seja exposto. A reprovação parece um bicho de sete cabeças, uma coisa hedionda. Eu já vi casos em que a reprovação foi necessária e que o aluno pôde amadurecer e conquistar o êxito sem que ninguém "ajudasse", se erguendo e caminhando com as próprias pernas.
Porque a vida é assim!
A gente cai e levanta. Mas se não dermos a oportunidade à criança e ao adolescente de aprender com os erros, estamos formando gerações inaptas, incapazes de enfrentarem seus problemas, de agirem como adultos responsáveis. Daí, não importa de a escola é pública ou privada, o resultado vai ser igualmente decepcionante.
Um comentário:
Ah, mas o que me chamou atenção foi o fato de que está prevalecendo o n. de pessoas da classe média baixa nas escolas que antes eram de elite. Como eu disse na postagem, não é novidade ter filhos de assalariados em escola particular, mas agora está aumentando. Possivelmente porque as pessoas não estão confiando na escola pública. Mas o que importa mesmo nem é se a escola é particular ou pública, mas o fato da qualidade do ensino estar condicionada à necessidade de se renovar o sistema em seu todo.
Postar um comentário