domingo, 7 de setembro de 2014

A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL, CIVISMO E FALTA DE NOÇÃO



Acho que estou ficando velha. 

Velha no sentido de estar sendo implicante, porque cronologicamente eu já não posso mesmo ser considerada uma mocinha. 

Mas sério, eu tenho me sentindo incomodada com muitas coisas de um tempo para cá. Hoje, por exemplo, durante o desfile da Independência eu senti novamente aquele incômodo.  Eu tive a sensação de que os poucos alunos presentes, dos quase oitocentos da escola pública onde eu leciono, não faziam a ideia do que estavam fazendo no centro da cidade, uniformizados em um domingo ensolarado.

Vou ser mais clara. Todos sabiam que hoje, sete de setembro, se comemora o dia da Independência do Brasil, mas o que aparentemente eles não sabiam é o que isso significa ou deveria significar para cada um deles. E não sabem porque são alunos de periferia e com baixa renda em sua maioria, mas porque atualmente não se trabalha mais isso. Sei disso porque recentemente fui questionada por alunos de uma outra escola, de classe média, onde leciono  "por que eles tinham que comparecer ao momento cívico da escola". Eles não sabiam. 

E a gente percebe essa “falta de noção” dos jovens quando a escola os reúne para os momentos cívicos. Se um aluno em cem estiver cantando o hino nacional com entusiasmo o diretor da escola pode comemorar. Geralmente a música toca e se faz silêncio (ou pelo menos se espera que faça). A bandeira é hasteada, alguma palavras são ditas, mas não há significado.  Não se vê no semblante dos alunos aquele orgulho, aquele respeito e entusiasmo que deveriam ser característicos de um momento cívico. E isso está me incomodando.

Assista a um jogo da seleção brasileira e você verá 50 mil pessoas se acabando ao cantar o hino nacional. É só nesses momentos que somos brasileiros? 

Não sei se o que eu vou dizer faz algum sentido, mas eu tenho relacionado essa falta de civismo com uma crescente apatia com relação a normas, leis, direitos e deveres que regulam as relações entre as pessoas. Outro dia ouvi uma aluna dizendo na sala de aula “Se o professor me mandar copiar a matéria atrasada eu saio da escola”. “Não aceito que me mandem fazer nada!”. Pois é, foi uma menina de 13 anos que disse isso e seus colegas concordaram. Uma coisa completamente sem noção.

Os jovens parecem entender hoje que TUDO é permitido e que qualquer cobrança é punitiva. Ouço muito falar de perda de valores, em abandono da família (No sentido dos pais não passarem para os filhos as regras básicas de respeito ao outro, ao patrimônio a normas de convivência social. Aquela educação que a gente sempre diz que vem de casa). Veja bem, um jovem de 15 anos acha que é normal ir desfilar de boné e fone de ouvido. Outro acha que se tem alguém que é pago para limpar as ruas e os prédios públicos que ele pode jogar o lixo no chão. Uma moça acha que pode ser grosseira com uma pessoa mais velha porque ela só deve respeito ao pai a mãe.

Esses são uns exemplos que eu tenho visto e que têm me incomodado. Sei que entender esse comportamento requer uma longa e profunda análise psicossocial que eu realmente não tenho capacidade de fazer. Mas sei que nada disso é novo. Eu falo aqui de adolescentes, mas a falta de limites está entre os adultos, também. Basta ligar a televisão nesses programas policiais que a gente encontra casos arrepiantes envolvendo pessoas com mais de 35 anos de idade. O comportamento de muitas figuras públicas também está longe de ser exemplar.

Isso  me incomoda e me assusta. Assusta porque atualmente uma pessoa fala “vou matar você” com a mesma naturalidade que se diz “vou pegar um ônibus.” E com a mesma facilidade que se pega o ônibus no ponto se mata uma pessoa hoje.

E o que isso tem a ver com o Sete de setembro e os momentos cívicos? 

O desenvolvimento do sentimento cívico, de pertencimento à nação, de cumprimento do dever, longe de ser ufanista, é formador de caráter. E isso está fazendo falta. Se não há uma relação direta pelo menos indireta existe entre uma coisa e outra.

Temos uma lei que determina a obrigatoriedade de execução semanal do Hino Nacional nos estabelecimentos de ensino fundamental. É o tal momento cívico. No entanto, ele não dever ser apenas mais uma norma a ser cumprida. O momento cívico deve estar na sala de aula, onde o professor deve tirar um pouquinho do tempo para trabalhar certas noções, como as de pertencimento, participação, engajamento, solidariedade e civismo, independentemente do conteúdo com o qual leciona. É preciso dar sentido e significado às coisas, pois a vida para ser bem vivida precisa disso.

Acho que estou ficando velha, mas acho também que “coisas velhas” podem ser boas. A gente tem a mania de achar que práticas e tradições antigas estão desgastadas e desatualizadas. Podem até estar, mas algumas coisas precisam permanecer, para que a sociedade não entre em conflito consigo mesma, para que possa alcançar uma certa estabilidade no convívio social.



Veja a  Lei no 12.03, de 21 de setembro de 2009, que estabelece os momentos cívicos nas escolas.

Presidência da República
Casa Civil
Subchefia para Assuntos Jurídicos

Altera a Lei no 5.700, de 1o de setembro de 1971, para determinar a obrigatoriedade de execução semanal do Hino Nacional nos estabelecimentos de ensino fundamental.
O VICE – PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no exercício do cargo de PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1o .  O art. 39 da Lei no 5.700, de 1o de setembro de 1971, passa a vigorar acrescido do seguinte parágrafo único:
“Art. 39.  ………………………………………………..
Parágrafo único:  Nos estabelecimentos públicos e privados de ensino fundamental, é obrigatória a execução do Hino Nacional uma vez por semana.” (NR)
Art. 2o  Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília,  21  de setembro de 2009; 188o da Independência e 121o da República.

JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA
Fernando Haddad


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