domingo, 4 de dezembro de 2022

COMENTANDO A HQ BERTHA LUTZ E A CARTA DA ONU

Não tenho lido tantos quadrinhos quanto eu gostaria, mas estou muito satisfeita com aqueles que eu decidi  priorizar a leitura. Um deles é a HQ Bertha Lutz e a Carta da ONU, de Angélica Kalil, Mariamma Fonseca, com cores Faw Carvalho  e mentoria da quadrinista Ana Luiza Koehler. E já começo elogiando essa HQ por ser resultado de um trabalho conjunto que, acredito eu, resultou da troca de ideias entre todas as envidas, Um trabalho de história de memória em forma de quadrinhos que nos coloco dentro de um contexto de militância feminista num momento no qual as mulheres estão sendo incluídas de forma inédita no espaço macro político.

Mas comecei e já apontei diversos méritos da obra.

Quem acompanha as postagens que faço no meu blog sabe que tenho uma predileção por quadrinhos que trazem conteúdo biográfico ou autobiográfico. Da mesma forma gosto de obras que tem na história sua principal referência e que se preocupam em utilizar fontes e contextualizar, mesmo que isso não seja uma obrigatoriedade em obras de ficção.

Essa HQ sobre Bertha Lutz se encaixa dentro disso. É obra que eu chamaria de referência para quem quer trabalhar a história do feminismo mundial e brasileiro. Bertha, perdoem-me a intimidade, foi uma mulher fabulosa. Cientista, feminista, política, militante sufragista, ao longo de outras mulheres como Jerônima Mesquita foi responsável pela conquista do voto feminino.

Além disso, foi uma das poucas mulheres a participar da elaboração da Carta da ONU, em 1945. Esse documento, histórico, propunha a construção e um futuro melhor, após o flagelo de duas guerras mundiais. As mulheres estavam lá, 14 mulheres, sobre as quais acabamos tendo conhecimento não apenas da sua existência, pois confesso que além de Bertha, não conhecia nenhuma delas, como também de seus feitos e conquistas. Algumas delas nos trazem simpatia, outras nem tanto. É notável perceber que, ao contrário do que muitos pensam, as mulheres não pensam igual. As posições e ações de Bertha, por exemplo, iam de encontro a concepções mais conservadoras de algumas delas.


Mas como eu disse, trata-se de uma biografia histórica que traz à tona a memória do feminismo e não apenas a memória de uma feminista. Uma obra de ficção que dialoga com a história. Ficcção pois a Bertha que nos é apresentada e o resultado da apropriação e da visão de mundo as autoras, mas baseia-se em documentos, em relatos. Documentos de época como cartas, textos oficiais e fotografias.

Há na obra passagens muito interessantes, marcadas por uma crítica sutil, por uma ironia leve mas certeira, por informações e cenas que ajudam a enriquecer o estudo tanto da política internacional brasileira quando do que era ser mulher nos anos de 1940. Enfim, recomendo a leitura da obra, tanto pelo seu valor histórico e seu conteúdo rico quando pelo fato de ser, realmente, uma boa leitura.

E o que é uma boa leitura para mim?

Um texto leve, mas rico, um traço simples, mas marcante, uma obra despretensiosa mas que alcança tudo que propõe e muito mais.

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