sábado, 9 de maio de 2020

MINHAS EXPERIÊNCIAS COM AULAS REMOTAS DURANTE A QUARENTENA


Imagem capturada em: https://blog.yubb.com.br/cursos-gratuitos-sobre-investimentos/

Deixei bem claro o objetivo desta postagem no título: quero compartilhar a minha experiência recente com aulas remotas algo que, sinceramente, nunca imaginei que teria que fazer. Já de início eu registro meu respeito aos professores que trabalham com EAD. Realmente não é fácil e requer um preparo tão grande quanto uma aula presencial, dependendo do caso, ainda maior.

No momento, é o que podemos fazer para tentar não perder o ritmo do trabalho, enquanto dura a quarentena. Vou tentar não tomar partido a favor ou contra as aulas remotas. Vou me limitar a, a partir da minha experiência recente, deixar aqui o que eu tenho achado que funciona e as dificuldades que tenho enfrentado no dia a dia.

Não tem aquele ditado: se a vida lhe dá limões, faça uma limonada? Pois ele tem sido meu mantra. 

Minhas aulas remotas começaram há cerca de um mês e tenho vivenciado duas realidades diferentes: aquela da escola particular, na qual os alunos têm acesso a uma internet de melhor qualidade (pelo menos em tese); a realidade da escola pública, na qual os alunos estão usando celulares que nem sempre tem uma configuração adequada e acesso a uma boa internet.

Estou atendendo a um total de 11 turmas, com alunos entre 11 e 18 anos de idade. O formato das aulas muda de acordo com a realidade da escola, assim como as ferramentas que estão sendo utilizadas. Vou falar um pouco de cada uma delas e de como estou tentando me adequar.

Vou colocar algumas dificuldades gerais, no meu caso em particular. A primeira é a grande quantidade de informação que recebo todos os dias. Foram criados grupos no whatsapp, nas duas escolas, para comunicação entre professores e com a direção e coordenação das escolas. O volume de mensagens que chega é assustador e eu, sinceramente, não dou conta de ler e responder a tudo. Regularmente eu tenho recorrido à coordenação e supervisão, em privado, para tentar tirar dúvidas e me manter atualizada. Há ainda uma grande quantidade de e-mails, muitos com textos e tutoriais que nem sempre dou conta de ler no dia que recebo e acabo abrindo no final de semana, mas nem sempre consigo ler tudo.

Nos primeiros quinze dias eu participei de até duas reuniões por videoconferência por semana, fora treinamentos que foram realizados online para que professores pudessem usar de maneira adequada as ferramentas digitais disponíveis. Eu tenho algum conhecimento e alguma prática na área, mas muita coisa eu não sabia. Neste ponto, sou grata pelo esforço da escola e dos colegas em tentar auxiliar ao máximo possível para que meu trabalho pudesse ser realizado com menos tropeços. 

E olha, tem que ter muita paciência. Alguns colegas usavam pouco a internet e aplicativos do Google, por exemplo, e tiveram mais dificuldades em se adequar. Coisas simples, como fazer transferência de arquivos grandes ou postar um vídeo no Youtube, foram um desafio para muitas pessoas. Os professores que se disponibilizaram a ajudar, montar tutoriais e a atenderem os outros colegas individualmente mesmo nos  fins de semana, estão de parabéns, dando um show de profissionalismo. 

Eu confesso que levei uma surra para usar o drive, postar e compartilhar documentos na nuvem. Eu realmente não tinha ainda feito isso. Também nunca tinha participado ou organizado videoconferências, ainda mais com 30 pessoas participando. E vejam só, estou fazendo isso todos os dias, e com uma habilidade que eu nem imaginava que poderia ter.

Na escola particular temos parceria com o Google, então estamos usando o Google Sala de Aula e o Meet.  São ferramentas fantásticas que, particularmente, eu pretendo continuar utilizando mesmo após o final da quarentena. O Google Meet tem me possibilitado levar para as aulas professores convidados que estão ajudando a enriquecer o conteúdo das aulas. 

Por exemplo, quando terminei de dar o conteúdo sobre Renascimento Cultural, convidei um amigo do Espírito Santo para uma das aulas e ele deu uma palestra sobre outras formas de expressão artística que também marcaram o Renascimento, como o “grotesco”, complementando aquilo que já havíamos visto e acrescentando algo que não vai ser encontrado no livro didático.


Já na escola pública é um pouco mais difícil, pois os recursos são mais limitados. As aulas estão sendo realizadas via whatsapp. Foi meio assustador no primeiro dia. O que eu deveria fazer? Bolei a seguinte estratégia. Como não posso usar videoconferência, passar slides ou coisas do tipo, eu usei meu Google Meet para gravar as aulas, com 20 a 25 minutos de duração, e disponibilizá-las no Youtube. Faço uma introdução do conteúdo, disponibilizo para os alunos e, a partir dele, tiro as dúvidas que por ventura eles tiverem.

Por exemplo, preparei um vídeo no qual eu expliquei e mostrarei slides sobre República da Espada, postei no Youtube. Os alunos assistiram, nós comentamos e, na outra aula, eu apresentei um texto sobre o conteúdos, fizemos atividades e eu as corrigi com eles em tempo real no whatsapp.  

Faço a correção das atividades de duas formas: coloco a resposta por escrito e comento por áudio. Os alunos ficam a vontade para perguntar e enviar suas próprias respostas. Não estou utilizando, neste momento, o livro didático com os alunos da escola pública, mas recebemos esta semana um plano de estudos tutorado que foi preparado pelo governo, para cada ano do Ensino Fundamental II.

Até o momento, apesar das limitações, tem dado certo. Naturalmente, as dificuldades existem. Alguns alunos não conseguiram acessar o vídeo no Youtube, pois sua internet ou seu celular não suportavam, mas como conteúdo foi revisto em forma de texto e de atividades, eles foram compensados. Foi feito o mesmo com outras turmas de outros anos do Ensino Fundamental II.

Isso me preocupou muito no início, o fato da internet de muitos estudantes não ser potente o suficiente, mas depois eu consegui ir me ajustando. As dificuldades aparecem todos os dias, mas é compensador quando funciona bem. Na minha segunda aula, por exemplo,  um aluno enviou uma mensagem privada dizendo que tinha gostado muito e que havia conseguido entender bem a matéria. Isso me deu mais segurança para as aulas seguinte. Além disso, foi possível fazer videoconferência com alunos do 9º ano, sem nenhum problema. Também recebi criticas de pais, em privado (porque agora meu whatsapp é público, praticamente), o que foi positivo, porque me permitiu repensar minha prática e repensar minha estratégia.

A princípio eu me preocupei, como muitos colegas, com a frequência dos alunos. Depois deixei isso de lado. Por quê? Ora, eles estão em casa, com suas famílias. A participação nas aulas (que seguem o horário regular da escola), e o cumprimento das tarefas propostas passaram a ser cada vez mais uma responsabilidade das famílias. Pais, mães e outros responsáveis que estão ali, ao lado deles e delas, durante a quarentena. Tendo isso em mente faço o melhor que posso com as ferramentas que tenho, mas com a consciência de que nem eu ou a escola podemos arcar sozinhos com a responsabilidade pelo ensino.

Acho que o maior desafio talvez seja a avaliação. A forma tradicional de avaliação que utilizamos até hoje vai ter mudar. Vamos ter que criar novas estratégias que , acredito, devam ter continuidade com o fim da quarentena. Quais? Aí vai depender de cada professor. Eu, por enquanto, estou experimentando incentivar debates, a produção de textos, pesquisas em arquivos digitais, etc. Ainda não tenho resultados concretos para compartilhar.


Outra coisa que tem acontecido é que eu estou ficando mais disciplinada. A quarentena tem me feito ser mais organizada e acredito que os alunos, e mesmo os pais, também estejam revendo suas rotinas. Não me surpreenderia em saber que alguns estudantes, que antes eram resistentes em fazer atividades, estejam se dedicando mais aos estudos até para combater o tédio do isolamento, assim como muitos pais e responsáveis estão conhecendo melhor suas crianças.

Acho que muita que muita coisa positiva pode vir deste momento de crise, para aqueles que estão tendo que se sujeitar ao home Office. Acho, também, que a sociedade global vai ter que reinventar as formas de socialização. A escola deve retornar fortalecida como instituição e espero que os profissionais do ensino, assim como os da saúde e de tantas outras áreas muitas vezes negligenciada possam receber o devido reconhecimento. Também acho que as famílias serão afetadas pela proximidade, e espero que os laços entre pais e filhos sejam reforçados assim como o compromisso das famílias com a escola, enquanto instituição.

Dica: o Google liberou todas as suas ferramentas para quem tem conta, tais como Google Sala de Aula e Google meet.

Um comentário:

Unknown disse...

Parabéns professora, Natanua!

Belíssimo texto que traz uma forma bem didática e dicas como realizar aulas criativas durante a pandemia.
Um abraço